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sábado, 31 de dezembro de 2016

O último post

Após pouco mais de cinco anos e 213 posts decidi pôr um termo ao Lua em Escorpião.

Esta decisão foi tomada face às perspetivas futuras de menos tempo disponível, o que tornaria a atualização do blogue em mais uma obrigação e em mais um motivo de stresse.

No início, o Lua em Escorpião não tinha uma especial orientação. Os primeiros posts são a imagem disso: a textos sobre Teosofia, sucederam-se textos sobre Astrologia, até que a certa altura o blogue tomou um rumo. Esse rumo foi o de se constituir como veículo de textos valiosos, das diferentes tradições teosóficas. 

Nesse sentido, o Lua em Escorpião foi um projeto singular em língua portuguesa. Obteve uma popularidade assinalável, particularmente em terras de Vera Cruz.

No início contou com a breve colaboração da Luísa Garcês de Lima e a certa altura do Ivan Silvestre.

Havia planos futuros para traduções de mais textos e algumas autorizações já tinham até sido concedidas.

Não ponho de lado a hipótese de o blogue ser retomado no futuro.

Em dia de despedida, deixo aqui uma das últimas traduções que fiz e que poderá ser útil para a prática dos preceitos teosóficos.

Devidamente autorizado pelos teósofos do philaletehains.co.uk, traduzi este texto para língua portuguesa.

Tenho esta folha no meu local de trabalho e também em casa. É um ótimo auxiliar em certas alturas e ajuda a relembrar o que é realmente importante.

O philaletheians.co.uk é uma página de internet com imensa e valiosa informação. O principal dinamizador deste grupo é Chris Bartzokas, um médico já retirado de origem grega e que pertence(u?) à Loja Unida de Teosofistas.

A partilha desta folha intitulada “Os verdadeiros teósofos” é uma bela maneira de encerrar este blogue.

A todos os que acompanharam o Lua em Escorpião ao longo dos últimos cinco anos, o meu muito obrigado.



sábado, 10 de dezembro de 2016

Kali-Yuga: uma idade de crescimento ou de decadência espiritual? (6.ª e última parte)

Terminamos hoje a tradução do artigo de Barend Voorham sobre o Kali Yuga. 

Naturalmente, a leitura das partes anteriores é imperativa.


A raça-raiz e o Mahâ-Yuga

Uma raça-raiz não é exatamente o mesmo que os Hindus designam por Mahâ-Yuga. Dado que mal a nova humanidade é formada, age como um grupo independente e separado e torna-se o poder dominante na Terra, ainda existirão pessoas com a velha mentalidade da quarta raça-raiz durante milhões de anos, até que a quinta raça-raiz atinja o seu Kali-Yuga e as primeiras pessoas da sexta raça-raiz se comecem a desenvolver. Só aí as pessoas da quarta raça irão desaparecer.

Elas desaparecem porque os corpos já não são adequados para a consciência expandida. O mesmo acontece com as roupas. Quando somos adolescentes, com treze ou catorze anos, já não conseguimos vestir as roupas da nossa infância. Esse tempo passou e essas roupas não mais são fabricadas, enquanto as roupas que estão à venda nas lojas são cada vez mais compradas.

Dito por outras palavras: toda a humanidade gradualmente incarna em novos veículos, os novos corpos da quinta raça-raiz. Isso aconteceu porque a mentalidade mudou, mas não acontece ao mesmo tempo para todos. Cada homem ou cada grupo tem o seu próprio andamento e determina o seu processo de desenvolvimento.

Existem líderes e retardatários. É por isso que existe sempre uma diferença no desenvolvimento entre as pessoas.


Líderes e retardatários

Levanta-se a questão de como é que são possíveis tantas diferenças individuais, enquanto as leis cósmicas ainda determinam os ciclos na Terra. Podemos comparar a totalidade da humanidade a um grupo de corredores; alguns vão à frente, existe um grande número a meio e finalmente há também os retardatários. Os líderes são já capazes de avançar para a fase seguinte da maratona (que aqui significa a quinta raça-raiz), enquanto a grande maioria não chegou ainda a essa fase.

Também podemos muito bem comparar a humanidade com uma turma de alunos. Para cada um ano letivo, existe um currículo definido. A partir de outubro aborda-se as frações, de fevereiro em diante as raízes quadradas e assim sucessivamente. Contudo, um aluno mais rápido pode já ter começado com as raízes quadradas em janeiro, enquanto outros não estão preparados para isso ainda em março. Ora, quando a determinada altura a maior parte dos alunos estão prontos para somas complicadas e é-lhes permitido usar as calculadoras, isso também terá influência nos alunos que não estejam ainda preparados para isso.

Embora as diferentes idades também apresentem o seu próprio “material de aprendizagem”, cada um determina a sua própria jornada evolutiva. A evolução da humanidade não é um processo automático, que acontece ao mesmo ritmo para todos. O indivíduo determina sempre se ele faz uso das possibilidades que se lhe apresentam. À medida que mais pessoas escolhem novas possibilidades, a certa altura a escala sobe para uma nova fase de evolução.

Então, dizemos que a humanidade está na quinta raça-raiz, porque essa nova mentalidade tornou-se o fator decisivo. Entretanto, metade da humanidade está ainda na quarta raça. Os contactos entre ambos os povos subsistem. Na verdade, a interação entre as culturas resulta em importantes lições de vida e cria uma forte atração em direção a uma nova fase evolutiva. De facto, as novas possibilidades, que a nova raça traz com ela, também têm a sua influência nos retardatários, tal como os melhores alunos de um determinado ano também influenciam os outros alunos.

No antigo épico da Índia, o Râmâyana, existem alusões a estas duas humanidades que existiram lado a lado e que a certa altura estiveram em guerra uma com a outra. De um lado, estavam Râma e os seus amigos, símbolo da nova humanidade, a quinta subfase, e do outro lado estavam os Râkshasas, liderados por Râvana, também apresentados como demónios ou gigantes. Eles representam os Atlantes, e em particular as gerações degeneradas.


Depois do Kali-Yuga

Viver no Kali-Yuga é viver dentro de uma panela de pressão. No final, a alta pressão resulta no isolamento geográfico das sementes de uma nova humanidade, enquanto a velha humanidade termina o seu percurso em números progressivamente decrescentes.

Esta nova humanidade, sendo de início uma pequena minoria está então no seu Satya-Yuga: a idade de ouro e pacífica, na qual tudo acontece quatro vezes mais devagar que no Kali-Yuga. Entretanto, milhões de pessoas estão ainda na fase antiga. A pouco e pouco, mais pessoas fluem para uma nova fase, pois embora nos influenciemos mutuamente, a evolução é sempre um processo individual.

Então, vem o momento no qual uma separação definitiva entre os dois tipos de humanidade tem lugar e que acontece em simultâneo com a alteração geográfica. Durante a transição da quarta para a quinta raça-raiz foi a água que transformou a superfície da terra; durante a transição da quinta para a sexta raça-raiz será principalmente o fogo, através dos vulcões e dos terremotos.

Embora só tenham passado 5.000 dos 432.000 anos que tem a totalidade do Kali Yuga, na Europa grandes alterações irão começar depois de cerca de 16.000 anos, de acordo com a Theosophia. Seguramente a separação não acontecerá de um dia para outro; acontecerá durante séculos. No final, grandes partes da superfície, entre outras, na Europa Ocidental, irão afundar, enquanto novas terras irão emergir.


Kali-Yuga: expetativa, esperança, desafio e progresso

Em todos estes processos, nunca deveremos esquecer que nós próprios somos aqueles que atravessamos estas fases. Nós próprios passamos de um estado autoinconsciente para um estado cada vez mais autoconsciente. Em todo este processo, o Kali-Yuga é indispensável. Esta nova sexta raça será de uma natureza mais nobre do que na fase em que estamos de momento. A sociedade será muito mais baseada na compreensão e na compaixão.

De modo a chegar a este estado mais evoluído espiritualmente temos de atravessar o Kali-Yuga. Separamos o ouro do ferro com o calor. A pressão tem que aumentar de modo a se atingir o espiritual.


Portanto, a nossa presente Era não precisa de ser uma Idade negra, pelo contrário, deve ser de expetativa, esperança, desafio e progresso. Somos capazes de escrever história. As oportunidades para crescimento, para dar impulsos espirituais aos nossos semelhantes, nunca foram tão grandes como agora. Só precisamos de fazer uso delas.

FIM

sábado, 3 de dezembro de 2016

Kali-Yuga: uma idade de crescimento ou de decadência espiritual? (5.ª parte)

Esta semana é publicada a 5.ª e penúltima parte do artigo de Barend Voorham sobre o Kali Yuga.

Continuando então a tradução...


Barend Voorham




Kali-Yuga como um ano de finalistas


É por essa razão que uma separação entre as pessoas tem lugar no Kali-Yuga.

Um grupo de pessoas com uma nova mentalidade emerge, enquanto outro grupo fica preso no passado. Este último grupo está ligado ao estatuto que tem e não está preparado para percorrer a linha ascendente. É uma mentalidade conservadora.

A nova mentalidade demonstra mais universalidade. Estas pessoas estão dispostas a pisar novos trilhos e desenvolvem novos poderes para fazê-lo.

Podemos comparar esta situação à de uma turma no seu último ano. Agora é a altura. Os alunos estudaram durante alguns anos, mas agora têm de prestar provas. A quantidade de trabalho de casa aumenta. Os testes, que não eram tão levados a sério nos primeiros anos e não pareciam muito importantes, são agora essenciais. Eles sobrecarregam o estado mental criando tensão. Alguns candidatos não conseguem lidar com essa tensão e voltam ao nível anterior. Devido à velocidade e pressão, um rápido declínio pode suceder. Espera-se que aproveitem melhor futuras oportunidades, que logo surgirão. Outras pessoas lidam melhor com a pressão e passam no exame. Então, novos desafios aguardam-nas, num nível superior. O Kali-Yuga é como o ano de finalistas. Os candidatos têm que se preparar gradualmente nos três Yugas anteriores, mas é esta idade que lhes dá a oportunidade de terminarem com sucesso os seus testes, para que possam avançar para a fase seguinte nas suas vidas.

Portanto, no Kali-Yuga o novo grande Mahâ-Yuga da nova raça-raiz começa. Contudo, uma nova raça não é exatamente a mesma coisa que o Mahâ-Yuga.


Períodos globais e raças-raiz

De acordo com a Theosophia, a evolução da humanidade tem lugar em sete grandes movimentos cíclicos, chamados de períodos globais. Em cada período global as pessoas têm a possibilidade de desenvolver um dos sete princípios de consciência (ver esquema dos “Sete Períodos Globais”). Por sua vez, cada um dos aspetos da consciência é também setenário. O pequeno imita o grande. 



Portanto, podemos por exemplo dividir novamente o aspeto do desejo em sete sub-aspetos. Também podemos subdividir cada período global em sete sub-períodos, que são chamados de raças-raiz no jargão teosófico (neste diagrama mostramos as sete raças-raiz no quarto período global).

Presentemente, a maior parte da humanidade está no quarto período global e na quinta raça-raiz. No quarto período global, o desejo (Kâma) está em desenvolvimento e, dado que estamos na quinta raça-raiz, o aspeto intelectual do desejo em particular desabrocha. Se olharmos para a mentalidade geral de hoje, também reconheceremos muito facilmente esta caraterística. Não vivemos num tempo no qual muitas pessoas tentam satisfazer o seus desejos através do intelecto? Não é este enorme desenvolvimento de tecnologia atribuível a isto?

A meio de cada raça-raiz – quando a raça raiz está no seu Kali-Yuga – a raça seguinte vem à existência: veja-se a figura abaixo.

Contudo, essa nova raça não aparece de um momento para o outro. Muda a noite imediatamente para o dia, ou há um crepúsculo? Da mesma forma, a nova raça vem gradualmente à existência. À medida que os milénios passam, vai gradualmente aumentar a sua influência e tornar-se-á o fator dominante no planeta.


A transição de uma raça-raiz para outra

Vamos ilustrar isto com a transição da quarta para a quinta – a atual raça-raiz.

A quinta raça-raiz surgiu no ápice da quarta raça-raiz, a que – usando uma designação moderna – se chama de Atlante e viveu na Atlântida, que foi mencionada por Platão em dois dos seus diálogos. Naquele tempo, e muito mais do que hoje, fizemos do aspeto do desejo o poder dominante nas nossas vidas. Era a época em que a humanidade estava mais afundada na matéria e dependia do poder do desejo de modo mais acentuado do que hoje. O desejo é a ponte entre os aspetos espirituais e os mais materiais. Sempre que se está na quarta fase – quer seja o ciclo grande ou pequeno – existe um ponto de viragem.

O poder do desejo, primeiro dirigido à matéria, inclina-se para os aspetos espirituais. Isto significa que durante a fase da Atlântida algumas pessoas começaram a ter outra mentalidade diferente da habitual. Sem dúvida que eram consideradas esquisitas a princípio. Eram pessoas estranhas, que se afastavam do padrão geral. Eram pessoas que tinham desenvolvido mais o aspeto intelectual da sua consciência e portanto identificavam-se menos com o desejo puro.

A certa altura, estas pessoas começaram a formar uma comunidade. Isto não significa que se reuniram numa espécie de clube, mas que seguiram orientações semelhantes, demonstrando formas de pensar semelhantes.

 De facto, cada mudança na mentalidade começa com um ser humano, ou com um pequeno grupo de pessoas. Alguém vive de acordo com um certo conceito, uma certa ideia. As pessoas são atraídas e desenvolvem a mesma mentalidade. Ao início, esse pequeno grupo afasta-se da grande maioria. Contudo, o seu número aumenta e a certa altura estas pessoas são tão numerosas como aquelas que ainda não vivem de acordo com esta nova ideia. Portanto, durante um certo tempo existem duas mentalidades diferentes, uma ao lado da outra.

Os ciclos entrecruzam-se. Podemos ver isso em todo o lado. Não é como se o ciclo terminasse completamente e logo outro se iniciasse imediatamente. Da mesma forma uma nova geração não toma o lugar de outra quando esta desaparece. Habitualmente, um casal tem filhos quando está entre os vinte e os quarenta anos de idade, ou seja, quando estão a meio do seu ciclo de vida. Apenas quando a velha geração tem cinquenta, sessenta ou ainda mais anos, é que a nova geração tornar-se-á o fator decisivo no mundo. Portanto, durante muito tempo duas ou mais gerações coexistirão e viverão em conjunto. Aprendem uma com a outra através de interação contínua. O mesmo acontece em ponto grande. Quando os Atlantes estava no ápice da sua civilização – no seu Kali-Yuga – e quando quase toda a humanidade estava nessa fase de desenvolvimento, as primeiras pessoas da seguinte subfase – a quinta – na qual hoje vivemos, surgiram. A meio de uma raça raça-raiz, a outra aparece.


Esse número de pessoas também cresce, e por fim, as sementes da nova e quinta humanidade ficaram isoladas geograficamente. Agora há uma raça-raiz sui generis. Cria a sua comunidade com o seu próprio Swabhâva, a sua caraterística individual. Entretanto, a antiga humanidade termina o seu caminho em números cada vez mais pequenos e separa-se da nova humanidade. A separação destas duas humanidades anda de mão em mão com as alterações geográficas, dado que estes processos estão relacionados de modo muito próximo com a vida da própria Terra, que também muda interna e externamente. Portanto, as antigas massas de terra afundam e novas emergem. 

Continua na próxima semana.

sábado, 26 de novembro de 2016

Kali-Yuga: uma idade de crescimento ou de decadência espiritual? (4.ª parte)

É hoje publicada a 4.ª parte do artigo de Barend Voorham "Kali-Yuga: uma idade de crescimento ou de decadência espiritual?".

Voorham pertence à Sociedade Teosófica de Point Loma, cujas atividades estão centradas na Holanda e Alemanha.

Esta organização tem-se revelado com uma das mais empenhadas nas Conferências Internacionais de Teosofia (ITC). Vários dos seus membros fazem parte da Direção desta iniciativa, que não é mais do que uma plataforma onde as organizações teosóficas e dedicados estudantes de Teosofia se encontram. As ITC estão comprometidas em ligar todos os teosofistas, apoiando-os na causa comum à luz dos objetivos do ITC que são:



1. Manter os princípios do movimento teosófico moderno delineados por HPB como uma forçça viva nas mente e coração da Humanidade, encorajando a exploração à luz dos seus ensinamentos;

2. Promover a intercomunicação mútua significativa, a compreensão e o respeito entre as correntes teosóficas, estimulando assim a unidade espiritual contínua;

3. Ser uma plataforma, apoiando e patrocinando a conferência internacional anual das organizações teosóficas.

4. Unir as pessoas na partilha da Filosofia da Teosodia, estudando e explorando cada vez mais a Religião, a Filosofia e a Ciência a partir de uma perspetiva teosófica.


Seguimos agora para a tradução da 4.ª parte do artigo de Barend Voorham, não sem antes se recomendar a leitura das partes anteriores.

A Luz Astral

Contudo, a questão levanta-se sobre se estas caraterísticas que na verdade caraterizam a nossa presente era, são causadas pelo Kali-Yuga?

William Quan Judge disse que as pessoas são bastante afetadas pela Luz Astral no Kali-Yuga. (3) Uma das caraterísticas da Luz Astral é a de que todas as ações e pensamentos são aí gravados. É como se fosse uma galeria de imagens.

As pessoas são influenciadas pela Luz Astral. Claro que a influência não ocorre indiscriminadamente, mas apenas se nos identificarmos com uma certa camada desta esfera astral. Portanto, uma pessoa focada no material, que esteja sobrecarregada com fortes desejos egoístas, irá obter imagens e impulsos correspondentes da Luz Astral. Portanto, durante o Kali-Yuga as pessoas recebem impulsos de determinadas camadas da Luz Astral completamente distintas de quando se está nos outros Yugas.

Todos os desejos materiais, toda a adoração do corpo e da matéria, derivam de impressões que os nossos antepassados imprimiram na Luz Astral durante o Kali-Yuga do último Mahâ-Yuga (de que falaremos adiante). Para clarificar: nós próprios somos esses antepassados! No presente Kali-Yuga essas impressões ainda pesarão em nós.

Somos confrontados com todas as nossas inclinações materiais do passado. Portanto, estamos confrontados com causas que nós próprios criámos. Colhemos aquilo que semeámos.

Colhemos agora as causas do último Kali-Yuga. Isto também explica, por exemplo como novos desenvolvimentos, como a tecnologia de informação, são aceites e usados tão rapidamente. Apanhamos o fio do último Kali-Yuga.


Kali-Yuga: a idade intensa

Kali-Yuga é a idade mais rápida. As consequências sucedem-se quase imediatamente às causas, pelo menos em comparação com os outros Yugas. Isto conduz a pressão e tensão. Muitas coisas acontecem ao mesmo tempo. Uma nova moda ou tendência, uma revolução política ou uma invenção tecnológica mal apareceram e já algo novo acaba por surgir.

Não parece isto o nosso mundo de hoje? Os países mudam de governantes como as pessoas mudam de roupa. Em todo o lado acontecem revoluções. Novas modas e invenções sucedem-se numa velocidade incompreensível. Em poucos minutos ouvimos e vemos o que está a acontecer noutra parte do mundo. Os media informam-nos sobre o que está a acontecer noutras partes do mundo durante todo o dia. Os desenvolvimentos vão rebolando tal como fazem os cães sobre si próprios quando são pequeninos.

O Kali-Yuga é uma idade de rapidez. E, embora possa parecer contraditório, é nesta era em que o maior crescimento espiritual pode ser conseguido.

Nos Yugas mais calmos existiam chelas – estudantes dos Mestres de Sabedoria – que ansiavam pelo Kali-Yuga por essa razão. Um mais rápido crescimento é aí possível, pois os resultados das nossas tentativas são obtidos mais rapidamente. Cada ato e pensamento resulta em consequências quatro vezes mais rápidas comparativamente ao Satya-Yuga. Isto aplica-se a ações motivadas por desejos egoístas, mas também atos motivados pela compaixão. Portanto, podemos atingir uma compreensão da elevação espiritual, a maestria, mais rapidamente. Podemos contribuir mais para os nossos semelhantes.

O Kali-Yuga é o grande paradoxo. É a idade mais negra e ao mesmo tempo é a idade na qual podemos atingir a sabedoria e o discernimento espiritual mais rapidamente.


O homem faz os tempos; os tempos não fazem o homem

Portanto, com base nos conhecimentos da Theosophia, não gostaríamos de afirmar que o Kali-Yuga é uma idade maligna. Uma idade é em si própria neutra. Será um dia de inverno pior que um de outono? Será um dia de 2014 pior que um de 1914? As idades são neutras.
As pessoas é que dão o colorido às eras. O homem faz os tempos; os tempos não fazem o homem.

Evidentemente, cada idade oferece as suas próprias possibilidades. Durante o inverno fazemos coisas diferentes de quando é verão. Contudo, o recurso a essas possibilidades está dependente do próprio ser humano. Nós próprios é que fazemos a idade. Não há nenhum fado que nos traga a guerra, a violência ou o crescimento espiritual. É o homem que se encarrega disso. Cada um de nós faz as suas escolhas individualmente e decide se usará as oportunidades de uma idade para maior crescimento espiritual ou para egoísmo e para cultivar um sentimento de separatividade. Deste modo moldamos coletivamente a sociedade. O tempo não o faz, fazemo-lo nós próprios.

Ora, o Kali-Yuga força-nos a fazer mais escolhas que qualquer outra era. Quando há pressão e tudo é tão intenso, somos forçados a mostrar quem realmente somos.

Compare-se a uma situação de guerra. Nos tempos de paz e de felicidade não há necessidade de mostrar quem somos. Contudo, quando há tensão e perigo, somos forçados a fazer escolhas. Por exemplo, escolhemos nos salvaguardar à custa dos demais, ou sacrificamo-nos e ajudamos os nossos irmãos, ignorando perigos mortais? Este género de situações de pressão forçam-nos a assumir uma posição. Se escolhermos a unidade e o TODO, crescemos.

Durante o Kali-Yuga, o sofrimento pode ser enorme. Há adversidade, há provação. Contudo, a adversidade pode ser um incentivo para o desenvolvimento espiritual. Através da luta, através da dor, somos capazes de praticar a paciência, a perseverança, o nosso sentido de proporcionalidade, de compaixão. Também podemos mostrar que princípios formam a verdadeira base para os nossos atos.

Muitas vezes o homem eleva-se a grandes alturas em circunstâncias estranhas, em tempos de caos, guerra, tirania ou pobreza extrema. Não é verdade que estas desgraças sejam necessárias para o crescimento da consciência, mas parece que exatamente durante estes tempos negros, as pessoas têm uma noção mais profunda do significado da vida e exprimem isto realizando grandes obras.

Tudo se torna mais líquido sob pressão. Portanto, o Kali Yuga pode funcionar como um catalisador, pelo qual os elementos inferiores e superiores quer do homem individual e da humanidade se separam. Em tempos difíceis temos a oportunidade para apelar aos aspetos mais nobres da nossa consciência e mostrar aquilo que somos intrinsecamente: um ser divino.

Continua na próxima semana.


sábado, 19 de novembro de 2016

Kali-Yuga: uma idade de crescimento ou de decadência espiritual? (3.ª parte)


Esta semana publicamos a terceira parte do artigo de Barend Voorham "Kali-Yuga: uma idade de crescimento ou de decadência espiritual?".

Voorham é um membro da Sociedade Teosófica de Point Loma - Blavatskyhouse. Esta organização, além de publicar a revista Lucifer em holandês e inglês (de onde é originário este artigo), também promove um conjunto de palestras, também em língua inglesa, sobre variados temas que estão disponíveis online aqui.




Antes de prosseguir, recomenda-se a leitura das duas partes anteriores.


Satya-Yuga

Podemos observar vários aspetos na tabela acima. Primeiro, que para o homem as durações das idades são quase infinitamente longas. Estamos habituados a pensar em anos ou séculos no máximo. 

Uma idade com uma duração de mais de quatro milhões de anos está para além do nosso referencial.

Em segundo lugar, podemos observar que as idades mais virtuosas, nas quais o Dharma está mais implantado na sociedade, duram mais que as idades menos virtuosas. O Kali-Yuga dura não mais que um décimo da era completa e é quatro vezes mais curto que a Idade de Ouro, o Satya-Yuga.

Os antigos Gregos e Romanos referiam-se a esta idade como o século de Saturno. Esse era o século da inocência. É o período de tempo no qual o homem não tem nenhuma ou quase nenhuma responsabilidade e não é portanto sobrecarregado com preocupações. É a fase infantil. As crianças também vivem num mundo paradisíaco. Ainda não têm grandes responsabilidades. A criança pouco desenvolveu os aspetos da sua consciência.

Portanto, ainda não tem ainda todas as faculdades e é muito menos responsável do que um adulto com as capacidades normais.

No Mahâbhârata é dito que nesta idade não existem ricos nem pobres. Não havia necessidade de trabalhar, porque tudo aquilo que era preciso obtinha-se pela força de vontade. Não havia doenças, não se perdia capacidades com o envelhecer. Não havia ódio nem vaidade.

O Satya-Yuga era uma idade de abundância na qual a vida decorria calmamente. Não existiam grandes problemas, era um ambiente calmo, mas bastante estático. Provavelmente é atrativo para as pessoas das sociedades contemporâneas, pois temos um forte desejo pela serenidade. Contudo, a questão aqui é se realmente desejaríamos viver uma vida sem desafios. Alguém suspira pelo tempo em que era bebé?

A vida no Satya-Yuga era calma e pacífica. A duração da vida estava em linha com isto, dado que os textos antigos referem que esta duração de vida também está relacionada com os mesmos números: 4: 3:2: 1. No Satya-Yuga as pessoas viviam durante 400 anos, no Tretâ-Yuga por 300 anos, no Dwâpara-Yuga por 200 anos e finalmente no Kali-Yuga por 100 anos. Para nós, estes números parecem improváveis, embora em antigos mitos, como por exemplo, no Antigo Testamento, as pessoas supostamente tinham ainda mais idade. Não é referido que Matusalém viveu 969 anos?

É claro que isto são médias, contudo, no que se refere a indivíduos, a duração de vida no Kali-Yuga é quatro vezes mais pequena que o Satya-Yuga.


Kali-Yuga: a Idade Negra

O descanso bem-aventurado do Satya-Yuga é gradualmente substituído por mais inquietação. Não vamos discutir aqui as outras duas fases. Elas têm uma posição intermédia entre a paz da Idade de Ouro e a inquietude da Idade do Ferro. Podemos vê-las como uma versão proporcionalmente mais calma do Kali-Yuga. Esta última tem uma má reputação. A guerra e a violência e todos os sofrimentos com ela relacionados, são muitas vezes atribuídos a esta Idade Negra.


Nandi, o boi do Dharma


Nandi, o boi do Dharma, é usado como uma metáfora para a decadência ética nas quatro idades. Por exemplo, no “Mahâbhârata” é referido: “…no Satya-Yuga, a ética é como um boi entre os homens que se apoia nas quatro patas. No Treta-Yuga, o pecado levou uma dessas patas, a ética ficou apenas com três patas. No Dwâpara-Yuga existe tanto pecado como ética, e portanto diz-se que a ética só tem duas patas. Na idade negra de Kali (…) a ética existe entre as pessoas com três partes de pecado. 

Portanto, diz-se que a ética aguarda entre as pessoas, com apenas com a quarta parte que lhe resta.
Saiba, Ó Yudhishthira,o período de vida, a energia, o intelecto e o poder físico do homem diminuem em cada Yuga.” (1)
  
De acordo com o Surya Siddhanta – um livro astrológico com uma idade incomensurável – o Kali Yuga começou à meia-noite do dia 23 de janeiro de 3102 A.C.. Portanto, o Kali Yuga começou há 5116 anos [NT: o artigo foi escrito em 2014]. No início do período havia uma peculiar disposição planetária; quase todos os planetas estavam alinhados. Começou com a morte de Krishna, que é a descrita no grande épico “Mahâbhârata. O fulcro deste épico notável é uma guerra entre dois lados de uma família. Parece que este conflito dá uma indicação clara das caraterísticas do Kali-Yuga: guerra, infidelidade e violência, em suma, tudo aquilo que podemos ler também nos jornais dos dias de hoje. Em muitas obras em Sânscrito, o Kali Yuga é descrito como uma época na qual o Dharma definha. É um tempo de ignorância. As pessoas não mantêm as suas promessas e acordos. Não entendem que a ganância é algo errado, e alguns não se apercebem de que a hostilidade ou mesmo o homicídio não são toleráveis. 

Nos livros Hindus, como o “Vishnu Purâna”, esta idade negra é descrita da seguinte maneira: os bárbaros serão os donos na fronteira do rio Indo. Os reis estarão viciados no poder e estarão em guerra uns com os outros continuamente. O mais forte será aquele que governará. Haverá violência, malícia e perversidade. O bem-estar diminuirá. A riqueza será a única forma de devoção. A palavra dos ricos prevalecerá. Os pobres não têm escolha. O único compromisso entre sexos vem da paixão. A erudição é ridicularizada. Não haverá compaixão. Haverá todo o tipo de vício, que advém do facto das pessoas verem o seu trabalho como esgotante e insatisfatório. A divisão natural entre as quatro castas cairá. Os instrutores sábios (Brahmans) não serão reconhecidos. Os guerreiros (Kshatriyas) não mais serão corajosos. Os comerciantes (Vaiśyas) já não serão honestos e os servos (Śudras) já não serão humildes. (2)


Notas:

(1)  Mahâbhârata, Livro 3: VanaParva:Markandeya-Samasya Parva: Secção CLXXXIX, http://www.sacred-texts.com/hin/m03/m03189.htm

(2) Ver: H.P. Blavatsky, The Secret Doctrine. 2 Volumes, Theosophical University Press, Pasadena 1988, Volume 1, pag. 424-425 (pag. 377-378 orig. edição original em Inglês; pág. 84-85 do vol.II da edição em língua Portuguesa).

Continua na próxima semana.

sábado, 12 de novembro de 2016

Kali-Yuga: uma idade de crescimento ou de decadência espiritual? (2.ª parte)

Na semana passada iniciámos a tradução do artigo "Kali-Yuga: uma idade de crescimento ou de decadência espiritual?" retirado desta edição da Lucifer em inglês, que é publicada pela Sociedade Teosófica de Point Loma - Blavatskyhouse, que tem sede em Haia, na Holanda.

Esta organização é uma das mais ativas hoje em dia na promoção da Teosofia, embora só esteja efetivamente presente na Holanda e na Alemanha. A mesma é herdeira da chamada tradição de Point Loma. Em 1895 dá-se a cisão na Sociedade Teosófica. Judge forma a sua própria organização que irá assentar arraiais em Point Loma, na costa ocidental dos EUA. Seria palco de uma grande comunidade de teosofistas, cuja história é contada magistralmente neste artigo do San Diego Reader. Nos anos 50, já instalada noutro espaço (em Pasadena, depois de ter saído de Point Loma em 1942, por questões financeiras, tendo ainda se instalado em Covina até 1945), dá-se um problema na sucessão desta organização teosófica. William Hartley, derrotado nesse processo altamente controverso vai fundar uma nova organização, a ST Point Loma - Blavatskyhouse. Herman Vermeulen, é o seu presidente desde 1985.


Herman Vermeulen
(foto retirada de: blavatskytheosophy.com)



Antes de prosseguir para a 2.ª parte, recomenda-se a leitura da introdução que antecedeu a publicação da 1.ª parte, feita na semana passada.





Yugas

Como já foi explicado, no ilimitado só existem pontos de início e de fim relativos. No Oriente, estes são descritos como a inspiração e expiração da divindade Brahmâ. Quando Brahmâ expira, existe um início relativo: a manifestação começa. Quando Brahmâ inspira há um fim relativo: a manifestação cessa de existir. Contudo, depois de um período de repouso, Brahmâ expira novamente e uma vez mais o Cosmos vem à existência.

Portanto, existe um processo cíclico contínuo de expiração e inspiração. Temos de ver a noção de Yuga dessa perspetiva. Yuga é uma palavra sânscrita, que literalmente significa “ciclo”. Um ciclo não é tanto um círculo, mas uma espiral. Como numa escada em espiral, sobe-se em círculos.

Existe outra palavra sânscrita que expressa a mesma ideia: Kala-Chakra, a roda do tempo. O tempo gira como uma roda. As idades vão e vêm e voltam de novo. E sempre retornam num nível ligeiramente superior.

Ora, esta roda gira numa determinada proporção, que é 4, 3, 2, 1 ou repouso, e depois 4, 3, 2, 1 outra vez e assim por diante. De acordo com a literatura Sânscrita estas proporções numéricas existem em todo o lado na natureza. Aplicam-se da mesma forma à vida num planeta, a um sol, bem como à vida da Terra, ou a uma fase da vida na Terra. Sempre encontramos esta mesma relação do 4, 3, 2 e 1. Portanto, um ciclo consiste de quatro idades.


Os quatro Yugas

O famigerado Kali-Yuga é uma destas quatro idades. É parte de um grande ciclo de mais de 4 milhões de anos, chamado pelos Hindus de Mahâ-Yuga, ou Grande Yuga. Mil Mahâ-Yugas constituem um ciclo de vida de um planeta. Nesse Mahâ-Yuga estas quatro idades são assim designadas:

Satya-Yuga     4
Tretâ-Yuga      3
Dwâpara-Yuga      2
Kali-Yuga       1

Os números que colocámos à frente de cada idade indicam as proporções entre estes quatro Yugas. Portanto, o Satya-Yuga – literalmente a idade da verdade – é quatro vezes mais longa que a idade mais curta, o Kali-Yuga.

De facto, não interessa a que ciclos se aplicam estes rácios. Eles são universais, e portanto, aplicáveis à vida de um sistema solar – a vida de Brahmâ – como à de um planeta, de um povo e até de homem. A única coisa que precisamos de fazer é pegar nos números 4, 3, 2, 1 como ponto de partida e por exemplo colocar um, dois, três ou dez zeros à frente. Quando diz respeito a eras de pequena duração devemos colocar um ou mais zeros antes de um ponto. Contudo, estes números também indicam as caraterísticas destes Yugas, ou seja, estão associados com o Dharma. Dharma significa Lei ou Dever no sentido da lei natural divina. Portanto, também podemos entender o Dharma como a religião, filosofia, ciência e ética verdadeiras. É a expressão da perfeita harmonia e unidade. Quando o Dharma é praticado, temos uma sociedade baseada na ética, dignidade humana, compaixão e respeito. As pessoas vivem de acordo com as regras éticas universais.

Nas metáforas típicas dos Hindus diz-se que o boi do Dharma – o símbolo da vivência de acordo com o Dharma – está apoiado nas quatro patas no Satya-Yuga, em três no Tretâ-Yuga, em duas do Dwâpara-Yuga e apenas numa no Kali-Yuga. Desta forma, a decadência, a degeneração da ética é salientada. (1)

Podemos encontrar uma ideia similar na Grécia antiga. Aí, as quatro idades eram chamadas de Idades do Ouro, da Prata, do Bronze e do Ferro. O nível interno da civilização decresce continuamente. Os Babilónios devem ter conhecido também estas idades, avaliando pelo sonho de Nabucodonosor mencionado na Bíblia (Daniel 2:32-33). Ele sonha com uma estátua gigante com uma cabeça dourada, peito de prata, ventre de cobre e pernas de ferro. É uma representação simbólica da evolução da humanidade, que se estende por mais de quatro idades.

Quanto tempo duram estas idades?

Como já foi explicado, em princípio podemos aplicar estes quatro Yugas a cada ciclo de vida, pequeno ou grande. Contudo, na maior parte dos casos, eles são aplicados ao que se designa por Mahâ-Yuga.

A duração destes destas quatro idades é fornecida em antigos textos Hindus como o Vishnu Purâna. Aí, os números elementares 4, 3, 2 e 1 surgem novamente. Contudo, cada uma das quatro idades tem uma fase inicial e outra terminal. Por outras palavras, existe uma alvorada e um crepúsculo. Em Sânscrito, isso é designado, respetivamente, por Sandhyâ e Sandhyânsa. A duração, quer da Sandhyâ quer da Sandhyânsa é de um décimo do respetivo Yuga. Isso é explicitado na imagem abaixo:
Caso queiramos saber quanto isto representa em anos terrestres, há que multiplicar estes números por 360.




Este número está relacionado com a rotação de outros planetas à volta do Sol. Afinal de contas, os ciclos na Terra estão relacionados com os movimentos de outros corpos celestes. Existe uma relação próxima entre o Sol e os planetas. Eles influenciam-se mutuamente.

Conforme mostra a tabela, existe uma regularidade matemática nestes ciclos orbitais. Há uma correspondência entre as suas frequências. Note-se que a tabela tem os números arredondados. Ao longo de muitos séculos de existência, os planetas podem mudar ligeiramente a sua velocidade de rotação. Isto tem a ver com o livre arbítrio, que todo o ser vivo tem.

A rotação de Júpiter e de Saturno tem a duração mais longa. Quando se multiplica os seus períodos orbitais (12x30), obtemos o número 360. Um ciclo completo leva 360 anos terrestres. Assim, para os planetas visíveis a partir da Terra, todas as combinações possíveis estão identificadas.


É por esta razão que o número 360 era muito importante para os Hindus e também para os Babilónios, os Maias e muitos outros povos. Portanto, caso queiramos saber a duração dos Yugas em anos terrestres, temos que multiplicar os anos divinos por 360. (ver quadro).




Continua na próxima semana.

sábado, 5 de novembro de 2016

Kali-Yuga: uma idade de crescimento ou de decadência espiritual? (1.ª parte)

O Lua em Escorpião inicia hoje a publicação de um artigo que fez parte integrante do número 2/2014 da revista Lucifer, da Sociedade Teosófica de Point Loma-Blavatskyhouse. O mesmo trata sobre o Kali Yuga, o período em que nos encontramos atualmente e que se iniciou com a morte de Krishna, a 23 de janeiro de 3102 A.C.

O autor deste texto, é Barend Voorham, um dos mais proeminentes membros daquela organização teosófica. Voorham esteve recentemente no Brasil, mais precisamente na edição de 2016 da Escola Teosófica Internacional, onde fez várias comunicações. Esta colaboração entre tradições teosóficas distintas é o reflexo benéfico de uma das ideias saídas das Conferências Internacionais de Teosofia, mais precisamente a da "polinização cruzada", que pode ser concretizada - como foi aqui o caso - pela presença de oradores de organizações teosóficas distintas nas conferências e palestras.


Barend Voorham


O Lua em Escorpião acabou também por estar ligado indiretamente a este evento. Aproveitando a quantidade de artigos já publicados em língua portuguesa por este blogue, a Blavatskyhouse elaborou uma edição especial em língua portuguesa, que foi distribuída a alguns dos presentes na Escola Teosófica Internacional (e que rapidamente se esgotou, segundo os relatos que nos chegaram). A mesma está disponível aqui. Neste número, está já incluído o texto que hoje, o Lua em Escorpião começa a publicar. Com efeito, o texto foi por nós enviado a Barend Voorham para ser integrado nesta edição especial.

Avancemos para a publicação da primeira de seis partes deste excelente artigo.



Kali-Yuga: uma idade de crescimento ou de decadência espiritual?

por Barend Voorham



Vivemos tempos de inquietude. De acordo com algumas pessoas os tempos são tão negros e sinistros, que estamos caminhando rapidamente para a nossa perdição.

“Vivemos no fim dos tempos”, dizem as pessoas. Diz-se que isto está relacionado com o Kali-Yuga, a Idade do Ferro.

É na verdade o Kali-Yuga uma idade tão negra?

Esta é uma investigação aos antigos textos hindus e à nossa era moderna.



Nandi, o boi do Dharma


IDEIAS-CHAVE

  • As idades têm tudo a ver com os ciclos cósmicos.

  • Um ciclo pode ser dividido em quatro idades, que estão relacionadas entre si através de 4 : 3 : 2 :1.

  • Cada uma destas idades tem uma fase inicial e uma fase final.


  • O Satya-Yuga é a idade espiritual e de paz. É a fase infantil. As pessoas não têm ainda muita responsabilidade.


  • O Kali-Yuga começou em 3102 A.C. durante uma circunstância cósmica especial.


  • No Kali Yuga a ética está sob pressão; tudo é intenso e acontece rapidamente; há uma forte influência da Luz Astral; há grandes oportunidades para crescimento e declínio espiritual.


  • Durante o Kali-Yuga o novo grande ciclo (raça-raiz) desponta.


  • Cada novo ciclo começa com um pequeno número de pessoas com uma mentalidade diferente.


Tal como todos os outros povos da Antiguidade, os Hindus tinham uma visão cíclica do tempo. Não há um início absoluto, o momento em que o tempo começou. Em sentido absoluto, o universo não começou com um big bang, depois do qual a vida e o tempo vieram à existência. Da mesma forma uma vida individual não começa com a conceção.

Os antigos textos hindus retratam o conceito de ilimitado. A bem conhecida afirmação dos Upanixades “TAT twam asi” – tu és AQUILO, ou: tu és o Ilimitado, expressam isto de modo conciso.

Portanto, nada é criado no sentido literal da palavra; nada foi feito a partir do nada. Tudo esteve sempre lá. E tudo – o cosmos, o homem ou o átomo – aparece ciclicamente. Mal a consciência adormecida desperta novamente, o tempo começa. O SER eterno, a nossa essência mais profunda, não conhece o tempo, apenas a Duração ilimitada.


Capa da edição especial da Lúcifer
em língua portuguesa


O que são idades?

No que se refere ao tempo, a primeira coisa que podemos notar é que está relacionado com a perceção de movimentos de objetos ou corpos. Tomamos o ciclo astronómico como a unidade do tempo, por exemplo, a rotação do nosso planeta à volta do seu eixo. Isto dá-nos o ritmo do dia e da noite. Dividimos este período em 24 unidades, a que chamamos horas. Além disso, a Terra orbita à volta do Sol em 365,25 dias, ou seja revolve 365,25 vezes à volta do seu eixo, enquanto completa a sua órbita à volta do Sol.

Portanto, são sempre fenómenos externos, como a rotação da Terra à volta do Sol e da Lua à volta da Terra em órbitas cíclicas, que interpretamos e explicamos através de determinadas unidades de tempo.

Contudo, quando não estamos neste mundo dos fenómenos, por exemplo, quando estamos a dormir, a sonhar, ou mortos, desconhecemos de todo o tempo. Não existem relógios nos nossos sonhos. Quando acordamos depois de um sonho, muitas vezes não sabemos se dormimos por uma ou duas horas ou apenas por alguns minutos. A forma como valorizamos o tempo depende do nosso estado de espírito. Não parece que as duas horas no cinema passaram muito mais rapidamente do que meia hora na cadeira do dentista? Em resumo, o tempo está sempre relacionado com a manifestação - com as coisas, com os fenómenos, com a interpretação, com a apreciação, e portanto é uma ilusão.

Em Sânscrito isto é chamado de Mâyâ, o que significa “medida”. Tudo o que pode ser medido é uma ilusão. Isso significa: é de uma natureza transitória e não tem sustentabilidade por si só. É a consequência de algo que se esconde por trás dessa aparência. Portanto, uma idade é o período em que algo é manifestado.

Por exemplo, um homem nasce. A sua “idade” começa. Depois de cerca de 70 anos ele morre. Então, num certo sentido, também o tempo para, pelo menos para ele, dado que não há manifestação. Só quando este homem nasce outra vez e reaparece neste mundo ilusório, existe de novo uma noção de tempo.

Devemos entender as grandes idades da mesma forma. Elas são os ciclos de vida de um ser ou de um grupo de seres.

Continua na próxima semana.

sábado, 1 de outubro de 2016

Pesquisando sobre Teosofia (4ª parte)

Passados três anos e meio sobre o último post que fiz sobre páginas de internet relacionadas com Teosofia (ver aqui, aqui e aqui), chega a altura de acrescentar mais algumas referências. Seguir-se-á a mesma ordem, ou seja, por idioma: português, espanhol e inglês.

No fim, além de uma breve referência aos grupos de Facebook, adicionei mais alguns recursos, que não dizem diretamente respeito à Teosofia, mas que podem ser de interesse para os leitores.




Em português:


Há três anos, salientámos cinco sites: Centro Lusitano de Unificação Cultural, Filosofia Esotérica, Levir, Nova Acrópole e o helenablavatsky.com.br, que à data na qual este texto foi escrito encontrava-se em baixo.

Mais algumas referências:

Sociedade Teosófica do Brasil – página institucional, que contém uma ligação à loja da Editora Teosófica e também uma biblioteca virtual. Além das notícias sobre as atividades, há artigos informativos. A Sociedade brasileira também está presente no Facebook, com uma página e um grupo.

Sociedade Teosófica de Portugal – página institucional, com um bom grafismo. Alguns exemplares da revista Osíris estão disponíveis. A secção portuguesa parece privilegiar a Teosofia de 2ª geração e o pensamento krishnamurtiano.

Capa de umas edições da revista Osiris.

Estudo Teosófico – Muita informação, a maior parte dela de neo-teosofia, mas destaco a secção dos livros, onde estão três obras de Blavatsky: Chave para a Teosofia, Voz do Silêncio e Ísis sem Véu.

Theosophy Forward – o site de Jan Kind, tem uma secção em língua portuguesa com textos sobre diferentes temáticas.

Fora do âmbito estritamente teosófico, queria deixar aqui um link para os arquivos do Dr. Berzin que contêm muito material sobre Budismo em Língua Portuguesa.


Em espanhol:


Mensajeros de la Gran Logia Planetaria – este site contém referências a vários instrutores espirituais, desde o casal Roerich, a Alice Bailey, incluindo também HPB, que é o que nos interessa destacar. Através deste link é possível ter acesso a um conjunto muito significativo das obras de HPB, inclusivamente a parte dos Collected Writings [Escritos Reunidos], que se encontram a ser alvo de tradução por parte de um grupo coordenado por José Rubio Sanchez.




Theosophy Forward – o site de Jan Kind tem uma secção em língua espanhola com textos sobre diferentes temáticas.


Em inglês:


Montreal Theosophy Project - Blogue de Mark Casady, teosofista canadiano, associado da Loja Unida de Teosofistas (LUT). Com um conteúdo bastante interessante, é um dos melhores blogues teosóficos em língua inglesa. Também tem alguns textos sobre astrologia.

MarkrJaqua – Blogue de Mark Jaqua, teosofista norte-americano que contém também artigos interessantes.

Richard Smoley -  É o editor da Quest, revista da Sociedade Teosófica dos EUA e tem um site com algum conteúdo de relevo, embora eu aprecie especialmente o seu blog. Já publicou vários livros e tem créditos bem firmados.


Richard Smoley

Reincarnation Research – Excelente iniciativa da ST das Filipinas, coordenada por Vicente Hao Chin Jr. (que editou a versão cronológica das Cartas dos Mahatmas) e que já foi várias vezes referido no Lua em Escorpião (ver aquiaqui e aqui). O site tem um vasto conjunto de recursos sobre a reencarnação, com referências científicas, religiosas e filosóficas. Tem também uma enorme lista de bibliografia.

Blavatsky News 2.0 - nova "reencarnação" do antigo blogue Blavatsky News, que resume muitas das referências mais atuais a Blavatsky no meio académico, cultural e popular. Editado pelo teosofista canadiano Mark Casady.

Gunnar Larson – site de um teosofista sueco, com alguns recursos importantes em inglês, como seja os trabalhos de P.G. Bowen, cujo pai (supostamente) foi aluno pessoal de Helena Blavatsky. O guia “How to study Theosophy” é o texto mais conhecido de Bowen que está traduzido para português.

Theosophy Restoration Project – Blogue de um grupo de teosofistas comandados por Dara Tatray, Secretária da ST da Austrália, que pretendem dar um novo rumo à Sociedade Teosófica (de Adyar).


Dara Tatray

Theosophy Downunder - site da secção australiana da Sociedade Teosófica de Pasadena. De entre os vários recursos disponíveis, destaque para o seu boletim informativo.

Theoscience - site dinamizado por Jacques Mahnich, um dos principais promotores do estudo comparado entre a Teosofia e a Ciência Moderna, um assunto que já mereceu um post exclusivo no Lua em Escorpião. Neste momento apenas contém um texto sobre a gravidade, mas com certeza que nos próximos tempos, este site irá receber mais conteúdos. Abaixo um video da Convenção da Sociedade Teosófica de Adyar em 2014, onde Jacques deu uma palestra sob o título "Transcendendo a Ciência".




Blavatsky Lodge – fundado em 1887 pela própria Helena Blavatsky, foi esta Loja que produziu a revista Lucifer. Agora tem um site que ainda está em construção.

Alexandria West - Página de uma organização que administra um importante centro de documentação sobre o movimento teosófico e não só. Com efeito, as instalações da Alexandria West albergam mais de 15 mil livros, 564 periodícos, 2 mil panfletos e outro material. A organização refere que está dedicada ao estudo e promoção do perenialismo universal. Nasceu nos anos 90 pelas mãos de April e Jerry Hejka-Ekins, embora tenha sido formalmente criada apenas em 2001, conforme refere April aqui.

FOTA - A página dos Friends of Theosophical Archives merece destaque essencialmente pela sua esmerada newsletter, que tem um pendor académico. O objetivo dos FOTA é promover o conhecimento e a preservação dos arquivos teosóficos espalhados pelo mundo inteiro. A brasileira Erica Georgiades, que reside na Grécia é uma das mais ativas divulgadores da FOTA.


Erica em Georgiades falando
em Adyar (2007)

C.W. Leadbeater - blogue de Gregory Tillett, que escreveu "The Elder Brother", um livro que revelou a todos as muitas deficiências de personalidade de uma das principais caras da Sociedade Teosófica de Adyar, C.W. Leadbeater. O  blogue prossegue na mesma linha, tocando em muitos dos pontos já referidos no livro e apresentando extensa documentação sobre as relações de CWL  no âmbito da Igreja Católica Liberal e com vários membros da Sociedade Teosófica. Alguns setores da Sociedade Adyar continuam tentando jogar para debaixo do tapete as inúmeras evidências do comportamento pouco dignificante de Leadbeater, mas o advento da internet tornou isso muito mais difícil. Sobre esta prática, chama-se a atenção para a troca de galhardetes entre o Dr. Tilett e o proeminente membro da ST Adyar, Pablo Sender.




Grupos no Facebook:

A maior parte dos grupos sobre Teosofia no Facebook são inúteis e uma absoluta perda de tempo. 




O Theosophy é o melhor exemplo disso, pois de Teosofia tem muito pouco. O Theosophists around the world é razoável e o Original Theosophy, provavelmente aquele que funciona melhor e onde é efetivamente possível aprender alguma coisa. Em língua portuguesa temos o Teosofia na Lux-Citania e o Grupo de Estudos Teosóficos de Uberlândia-Minas Gerais.


Outras páginas de interesse:

Bodhisvara – Um site com imensa informação sobre o Bodhicaryāvatāra, uma das obras mais importantes do Budismo Mahayana.


Shantideva, o autor do Bodhicaryāvatāra,
monge budista que viveu no séc. VIII


Gnostic Society Library – Site com muita informação sobre os gnósticos.

The James Allen Library – Escritor inglês que morreu em 1912, com 48 anos, James Allen é apreciado por vários teosofistas. Foi inspirado por uma visão que teve aos dez anos. Outro site dedicado a Allen aqui.

Psypioneer - Este boletim lida com personagens do passado ligados ao espiritualismo, incluindo obituários e retratos biográficos, artigos antigos, críticas de livros e alguns textos originais. Adota uma postura neutra, sendo de interesse para quem tem gosto sobre a área das experiências psíquicas e pela história do espiritualismo.