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sábado, 30 de janeiro de 2016

Joy Mills: Uma Jornada Evolutiva (1ª parte)

No passado dia 29 de dezembro, foi anunciado o falecimento de Joy Mills. Joy, que não é muito conhecida no meio teosófico de língua portuguesa, era a decana do movimento teosófico – morreu aos 96 anos – granjeando simpatias e respeito não só na Sociedade Teosófica de Adyar, à qual pertencia, mas também noutras organizações. Para chegar a essa conclusão basta escutar as palavras que lhe dedicou Herman C. Vermeulen, o líder da Sociedade Teosófica de Point Loma-Blavatskyhouse, na última Conferência Internacional de Teosofia. Joy escreveu vários livros, nenhum dos quais traduzido para língua portuguesa, e viajou bastante, tendo passado pelo Brasil, como refere a entrada que lhe é dedicada na Theosophy Wiki.

O texto de que hoje se publica a primeira de quatro partes, resulta de uma entrevista conduzida pela jornalista, dramaturga e realizadora de documentários Cynthia Overweg. A entrevista a Joy Mills foi publicada na revista da Sociedade Teosófica dos EUA, a Quest. Agradeço a Richard Smoley, editor da referida revista, a autorização expressa para a publicação deste artigo.

As várias revistas teosóficas prestaram ao longo dos anos tributo aos teosofistas mais proeminentes do movimento aquando do seu falecimento. Por exemplo, a revista Fohat publicou vários obituários. Inicialmente, pensei colocar no blogue um texto muito mais curto, à semelhança do que fiz quando faleceu Radha Burnier. Mas, esta entrevista a Joy Mills, pareceu-me conter vários elementos interessantes e importantes para o teosofista comum.


Joy Mills


Avancemos então para a primeira parte da entrevista de Cynthia Overweg a Joy Mills.



Joy Mills é uma escritora e instrutora muito estimada, que desempenhou funções como presidente nacional das Secções norte-americana e australiana e também como vice-presidente internacional da Sociedade Teosófica. Foi fundamental na criação da Quest Books [NT: cujo encerramento foi anunciado pelo atual presidente da Sociedade Teosófica de Adyar na última Convenção da Sociedade], a editora da Sociedade Teosófica nos EUA, tendo viajado bastante pelo mundo dando palestras e seminários. Em janeiro de 2011, foi-lhe atribuída a Medalha Subba Row, que é um reconhecimento de contribuições notáveis para a literatura teosófica e sua compreensão. Depois de várias semanas de entrevistas durante a primavera e verão de 2011, Joy partilhou abertamente os altos e baixos da sua vida, na esperança que pudessem provocar um sentimento de identificação com aqueles que procuram significado e propósito. O texto seguinte foi urdido a partir de muitas tardes de diálogo sobre a sua vida e trabalho, na sua casa no Instituto de Teosofia de Krotona em Ojai, na Califórnia.

Ao viajar pelos sopés das montanhas do norte da Índia, a beleza deslumbrante dos Himalaias ocidentais eram motivo de contemplação. As montanhas ficavam magicamente iridescentes sob o sol do meio-dia, e ela mal conseguia conter a excitação. Estávamos em 1972 e Joy Mills ia a caminho de Dharamsala para se encontrar com Sua Santidade o Dalai Lama na sua residência de exílio. Era uma grande honra para a Sociedade Teosófica e ela mal conseguia acreditar na sua sorte.

O encontro era o resultado da ideia de Joy de publicar o livro do Dalai Lama “Opening of the Wisdom-Eye”, que até então só estava disponível no sul da Ásia. Acompanhando-a nesta viagem memorável estava a sua boa amiga e colega, Helen Zahara, que era a editora sénior da Quest Books. “Conseguimos os direitos de publicação do livro do Dalai Lama e como já tínhamos uma viagem planeada para Adyar, a Helen e eu questionámo-nos se não podíamos conhecer Sua Santidade”, recorda-se Joy. Fizeram os preparativos através da Representação do Tibete em Nova Iorque, viajaram para Deli, apanharam o comboio para norte e depois arranjaram um táxi para levá-las a Dharamsala.


A relação entre Dalai Lama e a Sociedade Teosófica deu muitos frutos. 
Aqui um video recente do Dalai Lama a participar num encontro
 inter-religioso com o patrocínio da ST.


Quando chegaram à casa do Dalai Lama, mal tinham começado a organizar as suas ideias, Sua Santidade saudou-as  com o que Joy descreve como “um belo sorriso”. Ela lembra-se que Helen referiu que H.P. Blavatsky tinha apresentado o lado interno do Budismo ao mundo ocidental. “O que escreveu ela?”, perguntou o Dalai Lama.

A Voz do Silêncio”, respondeu Helen. Dirigindo a próxima questão a Joy, ele perguntou, “Qual é a essência de “A Voz do Silêncio”?” Ao início, Joy não conseguia pensar. Perguntou-se a si própria como poderia falar do livro de um modo breve. “Bem”, – disse ela finalmente – “aborda os Paramitas”, as seis “perfeições” do Budismo Mahayana. O Dalai Lama parecia genuinamente entusiasmado. “Ah, então é autêntico. É verdadeiro”. Joy estava emocionada por ter sido capaz de apresentar este pequeno grande livro de HPB ao Dalai Lama, e este encontro é uma das suas memórias mais prezadas.

Joy tinha cinquenta e dois anos quando conheceu pela primeira vez o Dalai Lama. Tem agora noventa e um [NT: à data da entrevista]. Não havia nada nos seus anos de formação que pudessem prever que um dia ela chegaria à porta da residência do Dalai Lama, representando a Sociedade Teosófica. Apesar de a sua vida ser rica em realizações e serviço, também se confrontou com dificuldades e abandono. A estrada que em última instância a conduziu à Teosofia e a um respeito profundo pelo Budismo, particularmente pela escola Dzogchen  do Budismo Tibetano, começou quando ela era ainda criança.

Continua na próxima semana.