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sábado, 30 de agosto de 2014

A Teosofia e as Sociedades Teosóficas (7ª parte)

Continuamos com a tradução do excelente artigo do professor James A. Santucci, "A Teosofia e as Sociedades Teosóficas". Esta semana é publicada a sétima de dez partes.


Crenças e práticas

Os ensinamentos promulgados pelas sociedades teosóficas são em última instância o que tem prendido a atenção dos seus membros, sendo igualmente aquilo que os indivíduos em geral entendem ser a Teosofia. Em regra, a maior parte dos teosofistas associa os ensinamentos básicos com as “três proposições fundamentais” contidas no Proémio da magnum opus de H.P. Blavatsky, A Doutrina Secreta. Uma visão global da evolução do modo como Blavatsky e outros teosofistas entendiam a Teosofia revela uma variedade de interpretações. De facto, o termo “Teosofia”, escolhido para representar as aspirações e os objetivos da Sociedade, teve pouco a ver com o seu desenvolvimento posterior. Teosofia foi aceite como o nome da Sociedade em linha com a definição encontrada numa edição do dicionário Webster (publicado por volta de 1875), que é a seguinte: “suposto relacionamento com Deus e os espíritos superiores e consequente obtenção de conhecimento sobre-humano por processos físicos bem como por operações teúrgicas de antigos Platonistas, ou através de processos químicos dos filósofos do fogo germânicos.” O termo, contudo, não era desconhecido antes deste período (setembro de 1875). Blavatsky empregou-o em fevereiro de 1875 numa carta ao Professor Hiram Corson (“Teosofia ensinada pelos anjos”) e no seu artigo “Algumas questões para ‘Hiraf’”.

Num encontro que teve lugar a 7 de setembro de 1875, uma palestra dada por George H. Felt sobre “O canône perdido das proporções dos Egípcios” refletiu essa definição. Nessa ocasião, o futuro presidente da Sociedade Teosófica, Henry S. Olcott, propôs a formação de uma sociedade com o objetivo de obter “conhecimento da natureza e dos atributos do Poder Supremo e dos espíritos superiores através do auxílio dos processos físicos.” Esta foi a declaração no “Prêambulo e Estatutos” (30 de outubro de 1875), bem como no discurso inaugural do Coronel Olcott como presidente da Sociedade: ”…como podemos esperar que como uma sociedade tenhamos uma representação ilustrativa do controlo do adepto teurgista sobre os poderes subtis da natureza? Mas é aqui que as supostas descobertas do Sr. Felt entram em jogo. Sem alegar ser teurgista, mesmerista, ou espiritualista, o nosso vice-presidente compromete-se, através de simples aplicações químicas, mostrar-nos, como já fez antes perante outros, as raças de seres que, sendo invisíveis aos nossos olhos, povoam os elementos…Imaginem as consequências da demonstração prática da sua verdade, para a qual o Sr. Felt está agora a preparar os dispositivos necessários!”

Noutras palavras, o objetivo original da Sociedade Teosófica era – nas palavras das atas registadas a 8 de setembro de 1875 – “para o estudo e elucidação do Ocultismo, Cabala & etc....” ou, talvez para usar uma terminologia que reflita mais diretamente as afirmações feitas acima por Olcott: demonstrar, de forma científica, a existência de um mundo oculto, repleto com forças ocultas e seres aí existentes. Nesta perspetiva, os objetivos originais de 1875 da Sociedade (“recolher e difundir um conhecimento das leis que governam o universo”) têm um significado alargado. Contudo, ao longo dos anos subsequentes, o termo assumiu diferentes conotações, com a maior parte dos teosofistas a verem-no como a sabedoria que tem existido desde a aurora da humanidade, preservada e transmitida por grandes instrutores como Pitágoras, Buda, Krishna e Jesus, desde a sua criação até ao presente e confirmada nos mitos, lendas e doutrinas da tradições históricas religiosas, como o Cristianismo, Judaísmo, Hinduísmo, Budismo e Islamismo e em cultos de mistério menos conhecidos. A primeira expressão em livro desta sabedoria e dos objetivos originais (1875) da Sociedade Teosófica foi Ísis sem Véu, de Blavatsky, publicada em 1877. Nos dois anos subsequentes, mais de dez mil cópias foram vendidas, tornando-o num dos livros mais populares deste género do século XIX. Continua a ter influência considerável nos círculos teosóficos, com mais de 150 mil cópias vendidas desde a sua publicação.


Os três objetivos da Sociedade Teosófica

Foi dado um sabor mais oriental (ou seja, indiano) à sabedoria descrita em Ísis sem Véu na publicação do livro de 1888 de H.P. Blavatsky A Doutrina Secreta. As suas três proposições fundamentais foram acima referidas como a existência de um absoluto subjacente a toda a manifestação, a ciclicidade do universo e a identidade do indivíduo com a alma suprema universal e a peregrinação de todas as almas através da reencarnação e carma. A Teosofia, neste sentido, adotou uma visão não–dualista ou monista da realidade última, manifestada ou emanada numa complementaridade dinâmica e progressão evolucionária. Estas “proposições” gerais apresentadas por Blavatsky foram reafirmadas em ensinamentos mais específicos em A Doutrina Secreta e noutros lados, parte do qual pode ser sumarizado nas seguintes afirmações:

- A evolução do indivíduo imortal continua através de vidas incontáveis, e tal continuidade é tornada possível através da reencarnação: a entrada do Ego – a tríade Espírito, Alma e Mente – noutro corpo (humano).

- O complemento da reencarnação é aquela força conhecida como “A Lei da Causa e efeito (Karma)” que alimenta futuros renascimentos e determina a qualidade da experiências dos mesmos.

- A estrutura do universo manifestado, humanidade incluída, pode ser vista como setenária na composição e cooperativa em todos os relacionamentos.

- A humanidade evolui através de sete grupos ou períodos principais chamados raças-raíz, cada uma das quais é dividida em sete subraças. No momento presente, nós humanos pertencemos à quinta raça-raiz, conhecida como raça ariana (sânscrito para “nobre”). O termo, contudo, não está limitado aos povos “indo-europeus”, tem um significado mais alargado.

- O indíviduo é na realidade nada mais que uma cópia em miniatura ou microcosmos do macrocosmos.

- O universo – incluindo a humanidade – é guiada e animada por uma hierarquia cósmica de seres sencientes, cada um tendo uma missão específica a cumprir.


Ísis sem Véu, de Helena Petrovna Blavatsky

Embora a maior parte dos teosofistas subscreva todas ou a maior parte das afirmações anteriores, há que ter presente que essas afirmações podem ter várias interpretações dependendo de cada teosofista. Além disso, embora alguns comentadores realcem a presença da filosofia oriental (hindu e budista) no ensinamento teosófico depois de 1880, quando Blavatsky e Olcott chegaram à Índia, isto não impediu a presença de importantes ensinamentos, mitos e doutrinas ocidentais (cabalísticos, cristãos, maçónicos e pré-cristãos) depois de 1880 ou a presença de pensamento oriental antes de 1880, conforme é evidenciado em Ísis sem Véu.

Helena Petrovna Blavatsky

sábado, 23 de agosto de 2014

A Teosofia e as Sociedades Teosóficas (6ª parte)

Continuamos com a tradução do excelente artigo do professor James A. Santucci, "A Teosofia e as Sociedades Teosóficas". Esta semana é publicada a sexta de dez partes.



Leadbeater, Krishnamurti e depois

As atividades de Besant na Sociedade durante a sua presidência estão proximamente associadas com as de outro teosofista proeminente, embora controverso, Charles Webster Leadbeater (1854-1934). Em grande medida, sob a sua influência, foram introduzidos ensinamentos teosóficos na S.T. que eram considerados pelos Blavatskyanos como estando desviados dos ensinamentos originais de Blavatsky e dos seus Mestres. Ironicamente chamados de “neo-teosofia” por F.T. Brooks, um escritor teosófico e tutor de Jawaharlal Nehru nos primeiros anos do século XX, estes ensinamentos eram considerados por aqueles que se limitavam aos escritos de Blavatsky e Judge como heréticos, de acordo com as opiniões que apareciam na literatura teosófica dos anos 20 do século passado.

A “neo-teosofia” incluía dois atos altamente significativos e inovadores: a descoberta por Leadbeater, em 1909, do veículo físico para o Instrutor do Mundo vindouro – conhecido como Maitreya ou o Cristo – Jiddu Krishnamurti (1895-1986), e também uma aliança desde 1917 com a Igreja Católica Liberal (antes, Igreja Vetero-católica) sob a direção dos Bispos Leadbeater e James Wedgwood. Como se as atividades acima mencionadas não fossem suficientemente controversas para muitos dentro do movimento teosófico, Leadbeater, o homem por trás destas inovações, estava ele próprio sob um manto de escândalo.

Em 1906 foram levantadas acusações pela secretária da Secção Esotérica na América, Helen Dennis, de que ele estava ensinando ao seu jovem filho e a outros rapazes masturbação como forma de prática oculta. Esta denúncia, que levantou o espectro da pederastia aos olhos do seu acusador, conduziu ao abandono da Sociedade por parte de Leadbeater. Depois da sua readmissão em 1908 com a ajuda de Besant, Leadbeater descobriu pouco tempo depois J. Krishnamurti, um jovem rapaz hindu que segundo ele haveria de ser o veículo para o Instrutor do Mundo vindouro. Muito do trabalho da Sociedade girava em torno do treino do rapaz e da preparação do caminho para a vinda do Instrutor do Mundo.


Jiddu Krishnamurti

Em 1911, outra organização conhecida como a Ordem da Estrela do Oriente (O.E.O) foi fundada em Benares por George Arundale – que rapidamente se tornou uma organização mundial com a ajuda da Senhora Besant – especificamente para aquele propósito. No órgão oficial da Ordem da Estrela do Oriente, The Herald of the Star 1.1 (11 de janeiro de 1912): 1-2, J. Krishnamurti (ou quem escreveu em seu nome) notou que George S. Arundale, o diretor do Colégio Central Hindu, foi o verdadeiro fundador da Ordem, conhecida na altura da sua formação como a “Ordem do Sol Nascente”. O seu propósito era “juntar todos aqueles…que acreditavam na vinda próxima de um grande Instrutor, e estavam desejosos de trabalhar de algum modo para se preparar para Ele.”

Não muito tempo depois, o Secretário-geral da Secção Alemã, Rudolf Steiner, desencantado com a O.E.O. e desagradado com a presidência de Besant, agiu de forma a levar o Conselho Geral da S.T. a aconselhar a Presidente no sentido de fechar a Secção alemã e a criar uma nova Secção para algumas lojas alemãs (Theosophist de fevereiro de 1913, p. 637). Cinquenta e cinco de sessenta e nove das lojas alemãs seguiram Steiner, que rapidamente organizou uma nova sociedade, a Sociedade Antroposófica, no início de 1913. Apesar das deserções de Steiner e de outros, a Sociedade Teosófica, contudo, ganhou mais membros do que perdeu. A promessa da vinda iminente do Instrutor Mundial no veículo de Krishnamurti contribuiu para uma controvérsia sem precedentes dentro da Sociedade Teosófica e também para a sua maior popularidade, isto até 1929, altura em que Krishnamurti renunciou ao seu papel e deixou a Sociedade. Depois disso, a Sociedade nunca recuperou a popularidade que teve nos anos 1920.


Rudolf Steiner

O segundo acontecimento que gerou controvérsia foi a promoção da Igreja Vetero-Católica (mais tarde Católica Liberal) por parte de membros da Sociedade. Esta promoção foi principalmente uma ideia original de C.W. Leadbeater, que com James Ingall Wedgwood (1883-1951), ajudou a fundar a Igreja. Os teosofistas, especialmente aqueles não pertencentes aos grupos de Adyar, viam os rituais da I.C.L. e a aceitação da sucessão apostólica, onde o episcopado é uma realidade, como não tendo lugar no ensinamento teosófico. À medida que os anos 1920 progrediam, houve uma tentativa de combinar as alegações centradas no Instrutor Mundial com o ritual da I.C.L., incluindo a seleção de doze “apóstolos” para Krishnamurti, mas por fim todo o plano se desintegrou com a rejeição por parte de Krishnamurti do papel de Instrutor Mundial.

Depois de 1929, a S.T. redimensionou-se e voltou aos ensinamentos geralmente associados à Teosofia. Depois da morte de Besant em 1933, a presidência passou para George Arundale (1934-1945), que continuou o ativismo que foi tão típico do mandato de Besant. Durante a sua presidência, a sua esposa, Srimati Rukmini Devi (1904-1986), fundou a Academia Internacional das Artes a 6 de janeiro de 1936 (mais tarde conhecido como Kalakshetra, “o campo ou o lugar sagrado das Artes”), tendo como objetivos (1) “enfatizar a unidade essencial de toda a Arte verdadeira” (2) “trabalhar para o reconhecimento das artes como vitais para o crescimento individual, nacional, religioso e internacional”, e (3) “providenciar aquelas atividades, pois são acessórias para os objetivos referidos.”


George S. Arundale

Ao segundo propósito do Kalakshetra esteve associado um renascimento e desenvolvimento da antiga cultura da Índia. Para Arundale, a dança indiana revelava um ritual oculto, nas suas palavras “o ocultismo da beleza”. Depois dele, veio um protegido de Leadbeater, C. Jinarajadasa (1946-1953), que, além dos seus vários contributos para a Sociedade, demonstrou um interesse ativo na publicação de muitos documentos relacionados com a história da Sociedade desde os primeiros anos da S.T.. Sendo um dos principais autores teosóficos, Jinarajadasa evidenciou uma distinta inclinação académica nos seus trabalhos publicados e de forma a levar a cabo o terceiro objetivo da Sociedade, inaugurou em 1949 a Escola da Sabedoria na sede internacional da Sociedade Teosófica em Adyar, na mesma data em que a S.T. iniciou a sua atividade, a 17 de novembro. Chamava-se o Centro Internacional de Estudos Teosóficos nos anos 70, mas foi rebatizada de Escola da Sabedoria em 1985.

Na comunicação aquando da inauguração da escola, Jinarajadasa declarou que o seu propósito era “capacitar os seus estudantes a se tornarem, de acordo com o seu temperamento e aptidão, filósofos, cientistas, professores éticos, artistas, juristas de direito económico, estadistas, educadores, urbanistas e todos os tipos possíveis de servidores da humanidade” (“A Escola da Sabedoria: discurso inaugural proferido a 17 de novembro de 1949”, Theosophist, 71.3 [dezembro de 1949]: 156).


C. Jinarajadasa

Depois de Jinarajadasa veio N. Sri Ram (1953-1973), responsável pela construção do atual edifício da Biblioteca de Adyar, John S. Coats (1973-1979) e a atual presidente internacional da S.T., Radha Burnier (1980-) [NT:A senhora Burnier faleceu a 31 de outubro de 2013 e as eleições que se seguiram foram ganhas pelo norte-americano Tim Boydque assumiu a presidência da S.T. Adyar no final de abril de 2014]. Coats morreu a 26 de dezembro de 1979. De janeiro a junho de 1980, Surendra Narayan atuou como vice-presidente responsável e Burnier tomou posse em julho de 1980.


John S. Coats

Continua na próxima semana.

sábado, 16 de agosto de 2014

A Teosofia e as Sociedades Teosóficas (5ª parte)

Continuamos com a tradução do excelente artigo do professor James A. Santucci, "A Teosofia e as Sociedades Teosóficas". Esta semana é publicada a quinta de dez partes.


Outra associação, a Loja Unida de Teosofistas, foi organizada por um anterior membro da F. U. e S.T. em Point Loma e da Sociedade Teosófica de Hargrove. Robert Crosbie (1849-1919), um canadiano vivendo em Boston que se tornou teosofista sob a influência de W.Q. Judge, originalmente deu o seu apoio a Tingley como sucessora de Judge. Por volta de 1900 mudou-se para Point Loma para ajudar no trabalho que ela havia lá iniciado. Em 1904, perdendo, por motivos particulares, confiança na liderança e nos métodos de Tingley, deixou Point Loma, mudando-se para Los Angeles, onde se associou durante algum tempo à Sociedade Teosófica de Hargrove e a vários teosofistas, que iriam mais tarde apoiar a L.U.T., entre os quais estava John Garrigues.


Robert Crosbie

Em 1909, Crosbie, com estes seus conhecidos, que partilhavam a sua perspetiva que apenas a Teosofia original de Blavatsky e Judge continha os ensinamentos da Teosofia como se pretendia que fossem transmitidos nos tempos modernos (i.e., nas últimas décadas do século XIX e posteriormente), formaram a Loja Unida de Teosofistas em Los Angeles. O que separava este grupo das demais sociedades teosóficas era (e continua a ser) o seu enfoque na Teosofia original e em escritos que sejam filosoficamente concordantes com os de Blavatsky e Judge, com exclusão das cartas dos mestres K.H. e M. escritas entre 1880 e 1886 ao destacado escritor teosófico, A.P. Sinnett, vice-presidente da S.T. e rival de H.P. Blavatsky, ou seja, as Cartas dos Mahatmas para A.P. Sinnett. Contudo, as constantes em O Mundo Oculto de Sinnett são aceites, bem como a Carta do Maha-Chohan. A razão para rejeitar a maior parte das cartas é que as cartas privadas não são substituto para os efetivos ensinamentos teosóficos; igualmente, vários membros da L.U.T. consideram que as cartas nunca se destinaram a ser publicadas.

A L.U.T. rejeita líderes e instrutores (todos os associados da L.U.T. são descritos como estudantes) e enfatiza a anonimidade daqueles que escrevem em nome da L.U.T. Até o próprio Crosbie não reclamava nenhum estatuto especial, embora ele seja muito estimado pelos associados. Depois da morte de Crosbie, a Loja de Los Angeles fundou a Theosophy Company em 1925 para servir de agente fiduciário para os associados. Não se reconheciam líderes, embora John Garrigues fosse tido como uma figura principal na L.U.T. de Los Angeles, juntamente com Grace Clough e Henry Geiger, até à sua morte em 1944, insistindo os estudantes da L.U.T. que o princípio da anonimidade mais do que compensa as suas desvantagens.

A L.U.T. tornou-se numa associação internacional de grupos de estudo através dos esforços de outra importante figura no Movimento Teosófico, o parse indiano B.P. Wadia (1881-1958). Inicialmente membro da S.T. Adyar, à qual ele se juntou em 1903 e na qual desempenhou várias funções – incluindo o de secretário de Annie Besant – ele desvinculou-se em 1922 devido à sua perceção que a Sociedade Teosófica “se havia desviado do Programa Original”. De 1922 a 1928 ele permaneceu nos E.U.A. e ajudou a fundar lojas da L.U.T. em Nova Iorque, Washington, D.C. e Filadélfia. Depois da sua partida para a Índia via Europa, ele encorajou os estudantes locais a fundar lojas da L.U.T., incluindo as de Antuérpia, Amsterdão, Londres, Paris, Bangalore e Bombaim. De momento, as lojas e grupos de estudo da L.U.T. estão localizados ao longo dos E.U.A. e na Bélgica, Canadá, Inglaterra, França, Índia, Itália, México, Holanda, Nigéria, Suécia e Trinidad (Índias Orientais). Devido aos consideráveis contributos de Wadia, ele é a única pessoa, com exceção de Crosbie, dentro da L.U.T. que é identificada pelo nome.


B.P. Wadia

Adyar


A Sociedade Teosófica, Adyar, é de longe a maior Sociedade (apesar da perda de grande parte da Secção Americana em 1895). O trabalho conduzido principalmente pelo Cel. Olcott e também em menor extensão pela Sra. Blavatsky durante a sua breve estadia na Índia, caraterizou-se por uma postura ativista, com a promoção do Hinduísmo e Budismo depois da sua chegada à Índia em 1879. O Cel. Olcott foi especialmente ativo em ajudar a iniciar um revivalismo Budista na Índia e no Sri Lanka e na melhoria da situação dos párias na Índia. Como primeiro americano a se converter ao Budismo no estrangeiro em 1880, trabalhou com grande entusiasmo para a causa do Budismo não só no Sri Lanka, mas também noutras nações budistas, promovendo a fundação de escolas budistas, escrevendo o Catecismo Budista – que tentou unir os Budistas do Norte e do Sul – e ajudando a conceber uma bandeira budista que todas as nações budistas pudessem adotar como seu emblema universal, simbolizando a unidade budista. Na Índia, Olcott fundou “escolas para os párias” para elevar as classes deprimidas.

Uma dessas escolas, nas proximidades de Adyar e hoje conhecida como Olcott Memorial School, já celebrou o seu centésimo aniversário. O seu propósito é oferecer educação livre para as crianças daquelas classes em domínios que proporcionem a auto-suficiência, como a alfaiataria, a jardinagem, a carpintaria e o trabalho tipográfico. Uma contribuição adicional feita por Olcott foi a criação da Biblioteca Oriental de modo a preservar os manuscritos indianos da negligência e a mantê-los na Índia. Os manuscritos estão guardados num novo edifício da Biblioteca de Adyar, formalmente inaugurado em dezembro de 1886.


Vista aérea da sede da ST Adyar


 Continua na próxima semana.

sábado, 9 de agosto de 2014

A Teosofia e as Sociedades Teosóficas (4ª parte)

Continuamos com a tradução do excelente artigo do professor James A. Santucci, "A Teosofia e as Sociedades Teosóficas". Esta semana é publicada a quarta de dez partes.


Em 1898, a Srª Tingley rebatizou a S.T. na América como Sociedade Teosófica e a Fraternidade Universal. Enquanto “Líder e chefe oficial” ela prosseguiu as suas atividades em Teosofia aplicada, incluindo um ambicioso programa educativo, chamado Raja Ioga, que se iniciou em 1900 e que enfatizava a integração da formação e educação espiritual, mental e física. Da população estudantil inicial de cinco elementos, o número rapidamente saltou para 100 em 1902, dois terços dos quais eram cubanos, devido aos seus interesses permanentes em Cuba resultantes da Guerra Hispano-Americana de 1898 e ao apoio do Major Bacardí de Santiago aos objetivos de Tingley. Em 1919 o programa educacional foi expandido com a fundação da Universidade Teosófica. Com o encerramento das lojas em 1903, a maior parte dos membros mais talentosos e empenhados foram consequentemente para Point Loma, participando não só nas experiências educativas mas também em atividades relacionadas como a agricultura e horticultura, escrita, investigação, edição de publicações e produções teatrais e musicais.

Contudo, por volta de 1920, estas atividades começaram a desaparecer, principalmente devido a problemas financeiros. Com a morte de Tingley em 1929, a direção estabelecida pelo seu líder mais académico e intelectual, Gottfried de Purucker, foi uma vez mais no sentido da Teosofia teórica, com ênfase no ensinamento e estudo das obras teosóficas centrais. Rebatizando a S.T. e F.U. como Sociedade Teosófica, de Purucker avançou com um Movimento de Fraternização – em parte devido ao aproximar do centésimo aniversário do nascimento de H.P. Blavatsky – com o objetivo derradeiro de reunir todas as sociedades. A unificação, contudo, não foi possível, mas convenções e outras atividades de cooperação entre Adyar e Point Loma realizaram-se ao longo dos anos 1930.


Gottfried de Purucker


Mais para o final da liderança de de Purucker, ele tomou a decisão prática de vender a propriedade comunitária de Point Loma, chamada Lomaland e realocar a Sociedade em Covina, uma pequena comunidade a leste de Los Angeles. Naquele mesmo ano (1942), de Purucker faleceu e a Sociedade foi, nos três anos seguintes, liderada por um gabinete até que um novo líder, o Cel. Arthur Conger, foi eleito em 1945.

De acordo com um relato de um dissidente, pouco tempo depois desta eleição, aqueles membros do gabinete que não reconheciam o estatuto esotérico de Conger como “porta-voz dos Mestres” (que alegava assim o mesmo estatuto que H.P. Blavatsky) foram destituídos de todas as responsabilidades na S.T. Estes antigos funcionários e vários outros indivíduos nos EUA e na Europa acabaram por sair das instalações da S.T.: alguns voluntariamente anularam o seu estatuto de membro, outros viram o seu estatuto de membros involuntariamente cancelado. O trabalho da tradição de Point Loma estabelecido por Tingley foi continuado por alguns grupos organizados nos Estados Unidos e na Europa, sendo um desses grupos a Publicações Point Loma, que foi constituído em 1971 como uma instituição religiosa e educacional sem fins lucrativos.

Entretanto, a Sociedade Teosófica de Covina permaneceu sob a liderança de Conger até à sua morte no início de 1951. William Hartley (1879-1955), um antigo membro residente da Sociedade foi o sucessor escolhido de Conger, mas James A. Long (1898-1971) foi aceite pelo gabinete da S.T. em vez dele, sendo que o argumento para a sua escolha assentava no facto de que o documento original que continha o sucessor designado por Conger não existia, apenas existia uma fotocópia. Hartley, em conjunto com os seus seguidores, deixou Covina e deu continuidade à sua “Sociedade Teosófica” (Point Loma). Em 1958 Dick J.P. Kok (Holanda) sucedeu a Hartley e desde 1985 é liderada por Herman C. Vermeulen (ainda com sede em Haia, na Holanda).


Arthur L. Conger


James Long continuou a liderar aquela Sociedade Teosófica [a de Covina]. Um número de acontecimentos significativos teve lugar durante a sua liderança. A Universidade Teosófica e todas as lojas (instituídas durante a presidência de de Purucker) foram encerradas; as secções nacionais (incluindo a propriedade sueca de Visingsö) foram também encerradas; as atividades de impressão e edição, sede e biblioteca foram deslocadas para Altadena e Pasadena em 1951; e a Sunrise, uma revista mensal, foi criada. Long também se deslocou em longas viagens internacionais para palestras, visitando os membros de fora dos EUA. Depois da sua morte em 1971, Grace F. Knoche tornou-se a líder desta Sociedade Teosófica. [NT: Depois da morte de Knoche em 2006, Randell C. Grubb passou a ser o líder].


James A. Long

Durante o agitado ano de 1898, outra organização teosófica surgiu, com a fundação do Templo do Povo por William H. Dower (1866-1937) e Francia LaDue (1849-1922), que acreditavam seguir as instruções do Mestre ao se separarem da T.S. e F.U dirigida por Tingley, e, de acordo com a sua própria declaração, ao estabelecerem as “bases mentais, físicas e espiritual da futura sexta raça”. Saídos da loja de Syracuse (Nova Iorque) da S.T. e F.U., mudaram-se em 1903, juntamente com o seu grupo, para a Califórnia, onde se fixaram numa zona a leste de Oceano, estabelecendo aí a sua sede conhecida como Halcyon. Em 1904, Dower abriu o Hotel e o Sanatório Halcion por forma a continuar a sua prática médica, tratando doenças como a tuberculose, distúrbios nervosos, alcoolismo e toxicodependência. No ano seguinte (1905), a Temple Home Association foi constituída, sendo definido um plano para uma cidade com locais para casas para venda ou para arrendamento, organizando assim uma colónia cooperativa com LaDue, também conhecida como Estrela Azul, que se tornaria a primeira líder – Guardiã-chefe – do Templo. Em 1908, o Templo foi constituído sob o nome “Guardião-chefe do Templo do Povo, uma única instituição”. Depois da morte de LaDue em 1922, Dower tornou-se o segundo líder do Templo, supervisionando a construção do templo Memorial Estrela Azul. Começado em 1923 e completado em 1924, o Templo Memorial Estrela Azul foi construído de acordo com simbolismo matemático e geométrico ilustrando a unidade de toda a vida, ou o eu superior. Depois da morte de Dower em 1937, Pearl Dower tornou-se a terceira Guardiã-chefe, que organizou a propriedade de acordo com as suas especificações presentes, uma propriedade de 95 acres [NT: cerca de 38,5 hectares] consistindo de 52 casas, 30 das quais são propriedade do Templo, a Biblioteca William Quan Judge, que também inclui os escritórios do Templo e um apartamento para os visitantes. O sucessor de Dower em 1968 foi Harold Forgostein, que pintou 22 quadros no início dos anos 30 a pedido de Dower, representando as contribuições dos nativos norte-americanos para o entendimento do equilíbrio na Natureza e cenas da vida de Hiawatha, ambos importantes nos ensinamentos do Templo. Estes quadros estão agora no Centro Universitário do Templo. Forgostein permaneceu lider do Templo até 1990; a guardiã-chefe atual é Eleanor L. Shumway.


Francia La Due

Continua na próxima semana.

sábado, 2 de agosto de 2014

A Teosofia e as Sociedades Teosóficas (3ª parte)

Continuamos com a tradução do excelente artigo do professor James A. Santucci, "A Teosofia e as Sociedades Teosóficas". Esta semana é publicada a terceira de dez partes.


História posterior

Com a morte de H.P. Blavatsky a 8 de maio de 1891, a liderança da Secção Esotérica (naquela altura chamada de Escola Oriental de Teosofia) passou para W.Q. Judge e Annie Besant. Poucos anos depois, acusações foram dirigidas contra Judge de que ele estaria “usando indevidamente os nomes e caligrafia dos Mahatmas”. Por outras palavras, alegava-se que ele recebia mensagens dos Mestres, ou, como Besant afirmou “dando uma forma enganosa a mensagens recebidas psiquicamente do Mestre”. Embora Besant e Olcott deixassem cair as acusações em julho de 1894, elas foram reabertas no final desse mesmo ano por Besant, que propôs uma resolução em dezembro de 1894, durante a Convenção da S.T. Adyar para que o Presidente Olcott “instasse de imediato a que o Sr. W.Q. Judge se demitisse” da vice-presidência da Sociedade. A resolução foi aprovada, mas Judge recusou demitir-se. Mais tarde, na convenção da Secção Americana da S.T. em Boston (28-29 de abril de 1895), os delegados votaram a favor da autonomia da Secção Americana em relação à Sociedade Teosófica de Adyar com Judge a ser eleito presidente vitalício, autodesignando-se aquele organismo de “Sociedade Teosófica na América”.


William Quan Judge

Quer esta separação seja interpretada como uma dissidência - a posição da S.T. Adyar – ou como o reconhecimento de que nunca houve qualquer ligação de natureza legal entre a S.T. Adyar e a S.T. original de Nova Iorque, de acordo com a interpretação da “Sociedade Teosófica na América” – é uma questão de opinião. Isto é discutido por W.Q. Judge em “The Theosophical Society”, The Path 10 (maio 1895): 55-60, reimpresso em Echoes of the Orient: The Writings of William Quan Judge 2, compilado por Dara Eklund (San Diego: Point Loma Publications, 1980), p. 197-202. A votação da Secção Americana teve como consequência a expulsão por parte de Olcott, de Judge e de todos aqueles que o seguiram. Isto incluiu mais de 5 000 membros nos Estados Unidos e noutras sociedades afiliadas noutros locais, incluindo lojas em Inglaterra e na Austrália.

Depois da morte de W.Q. Judge em 21 de março de 1896, Ernest Temple Hargrove (1870-1939) foi eleito presidente da S.T. na América de Judge. A Escola Oriental de Teosofia (o novo nome da Secção Esotérica desde 1890) também se separou a 3 de novembro de 1894: um grupo permaneceu na Sociedade de Adyar com Annie Besant como líder externa e outro dentro da Sociedade de Judge sob uma líder externa cujo nome era para ter permanecido secreto até 1897, mas foi revelado (no New York Sun de 27-28 maio de 1896 e em Theosophy, o novo nome para o The Path de junho de 1896), que Katherine Tingley (1847-1929) seria a sucessora de Judge. Tingley seguiu e desenvolveu a direção que Judge perseguira nos últimos anos da sua vida, colocando menos ênfase na teoria e mais nas aplicações práticas dos ensinamentos teosóficos na área social e na da reforma educativa. Em fevereiro de 1897, ela colocou a primeira pedra de uma comunidade em Point Loma, San Diego, que se tornaria a nova sede internacional da S.T. na América (a antiga sede era em Nova Iorque). No mesmo ano, fundou a Liga de Fraternidade Internacional tomando o cargo, ela própria, como presidente, e tendo como objetivo realizar um conjunto de tarefas humanitárias, desde as educacionais às filantrópicas. Acrescente-se ainda que todas as lojas da sua Sociedade foram fechadas ao público em 1904.


Katherine Tingley


No final de 1897, Hargrove encontrava-se desagradado com as atividades de Tingley e possivelmente também com a relutância dela em partilhar o poder com ele ou com outra pessoa. Demitiu-se da presidência e tentou ganhar o controlo na convenção de 1898 em Chicago, mas não teve sucesso nem na Convenção nem na ação judicial subsequente. Como consequência da intensa oposição de Hargrove na convenção em relação aos conteúdos da nova constituição elaborada por Tingley (da qual ele nada sabia até à sua apresentação na convenção, conforme referido em Emmett GreenwaltCalifornia Utopia: Point Loma: 1897–1942 [San Diego: Point Loma Publications, 1978], p. 37-40), Hargrove deixou a Sociedade e formou a sua própria organização com cerca de 200 membros da S.T. na América de Tingley.
Com base em Nova Iorque, a reformada Sociedade Teosófica na América de Hargrove, foi mais tarde, em 1908, rebatizada como a Sociedade Teosófica, (John Cooper, “The Esoteric School within the Hargrove Theosophical Society,” Theosophical History 4.7-8: 179), com A.H. Spencer a se tornar no seu presidente em exercício. Manteve-se como uma organização viável durante muito tempo até a Sociedade, e possivelmente até a sua própria Escola Esotérica de Teosofia ter entrado num período de “recolhimento” do trabalho ativo. O último documento atribuído à E.E.T. é Aids e Suggestions No. 18, de 7 Dezembro, 1907; ver Cooper, “The Esoteric School within the Hargrove Theosophical Society,” p. 185. O “recolhimento” teve provavelmente lugar no final de 1938 embora John Cooper, “The Esoteric School within the Hargrove Theosophical Society,” p. 180, considere 1935 como a data efetiva. A Theosophical Quarterly, a maior revista da Sociedade, cessou a sua publicação em outubro de 1938.


Ernest Temple Hargrove

A direção da enérgica liderança de Tingley levou ao nascimento de dois organismos dissidentes: o Templo do Povo, fundado em 1898 e a Loja Unida de Teosofistas, constituída em 1909, por Robert Crosbie e outros em Los Angeles. De acordo com Jerry Hejka-Ekins numa comunicação privada (20 fevereiro de 1996), a L.U.T. efetivamente nasceu a partir da Sociedade de Hargrove pois Crosbie juntou-se a esta última depois de ter deixado a Sociedade Teosófica e Fraternidade Universal de Tingley. Hejka-Ekins acrescenta, contudo, que “ela [a L.U.T.] parece ser mais uma reação à Sociedade de Point Loma [a S.T e F.U.].”


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