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sábado, 30 de novembro de 2013

Teosofia pura e simples - A morte e a vida depois da morte (2ª parte)

Na semana passada, iniciámos a tradução do texto "A morte e a vida depois da morte", disponibilizado pelo site blavatskytheosophy.com que é gerido por grupo de estudantes ligados à Loja Unida de Teosofistas (LUT). O texto é claro e conciso, expressando a visão da chamada Teosofia original.

Continuemos pois com a 2ª e última parte do texto.

"Devemos esperar que nenhum dos nossos amigos e entes queridos sobreviventes tente estabelecer contacto connosco depois da morte do corpo físico. Será impossível para a nossa alma ser alcançada ou se comunicar com aqueles que permanecem na Terra. As leis da natureza asseguram que não seremos sujeitos a ou vítimas de esforços equivocados daqueles que ficaram para trás em nos contactarem ou em nos trazerem de volta às considerações físicas da vida terrena.

Qualquer tipo de espiritismo, mediunidade e canalizações é sempre perigosa e prejudicial, particularmente para as pessoas que o praticam.

Este livro de Matheson que inspirou um
filme de cinema (e um post no Lua em
Escorpião) descreve de forma curiosa
o que se passa quando um medium
contacta alguém que faleceu 

Embora essas pessoas muito provavelmente não se apercebam, é apenas o nosso Kama Rupa que elas terão alguma hipótese de alcançar. Elas irão confundir esta casca desprovida de alma com o nosso eu verdadeiro, devido à sua capacidade em repetir automaticamente certos factos, detalhes, características e informações que possuímos durante aquela vida. O de tempo de vida do Kama Rupa no Kama Loka será prolongado como resultado de tal interferência e situações e problemas indesejáveis poderão eventualmente surgir. Talvez fosse prudente, antes de falecermos, pedirmos aos nossos familiares e entes queridos que prometam não nos contactar depois de partirmos.

O nosso eu verdadeiro eventualmente emergirá do estado de gestação e entrará num estado beatífico a que a Teosofia chama de Devachan. A consciência regressa à porta do Devachan. Não é um local ou um plano mas um estado. É efetivamente bastante diferente das conceções religiosas populares de Paraíso.

Mestre Morya, outro dos Mahatmas
que também se comunicou por escrito
com Sinnett

Para já, toda a gente tem o seu próprio estádio devachânico, criado por nós próprios involuntariamente a partir da nossa própria consciência. É a exata representação e experiência daquilo em que acreditámos e esperámos e o Paraíso idealizado como se estivéssemos ainda vivos na Terra.

É um estado perfeito de extrema felicidade, paz e alegria. Não há nem mesmo a mais leve sombra, sugestão, ou vestígio de tristeza, deceção, sofrimento ou dor. Todos e tudo o que nós esperámos lá estar vai lá estar, porque é a sua própria criação mental. Até mesmo os nossos entes queridos que deixámos para trás na Terra quando morremos e que ainda estão fisicamente vivos vão lá estar no nosso estado de Devachan. Eles não vão na realidade lá estar, mas parecem lá estar, tão vívida e realisticamente que nunca vamos estar inclinados a questionar o assunto ou a duvidar da realidade da nossa experiência nem por um momento.

Isto é necessário para que aquele seja um estado da maior felicidade possível para nós. Os entes queridos que falecerem antes de nós também vão estar no nosso estado devâchanico, independentemente de há quanto tempo isso sucedeu e até mesmo independentemente de já terem reencarnado novamente.

Uma vez mais, eles não estarão realmente lá, mas parecerão lá estar, tão perfeita, vívida e realisticamente como quando estávamos com eles no plano físico. Alguns deles estarão no seu próprio Devachan, ao mesmo tempo que estamos tendo o nosso, mas a lei da justiça e felicidade perfeitas exige que cada um de nós tenha o nosso próprio Devachan pessoal, que é inteiramente uma construção própria. Portanto, não há interação ou comunicação efetiva entre almas que partiram, mas seremos representados ali, de modo tão real como em vida, no estado devachânico do nosso amado assim como eles vão estar no nosso.

Foto retirada de blavatskywatch.com
No Devachan não há memória ou consciência de ter morrido, ou mesmo de haver tal coisa como a morte. Felicidade, paz e alegria prevalece infalivelmente durante todo o tempo. Sendo uma experiência temporária, subjetiva e criada pelo próprio, ela é realmente um tipo de sonho, mas um sonho tão vívido, tangível e bem definido como a vida na Terra.

A duração da nossa estadia no Devachan será exatamente de acordo com a quantidade e a força do Karma bom ou positivo que acumulámos durante a vida anterior. Isto é o que sustenta e prolonga a nossa experiência devachânica. Isto, naturalmente, varia muito de pessoa para pessoa. Para uma pessoa o Devachan pode durar mil anos ou até mais. Alternativamente, pode talvez durar centenas de anos ou apenas várias décadas. Algumas pessoas regressam para a vida na Terra depois de poucos anos, principalmente se a atração para a existência física e material é uma grande força dentro da sua alma.

De qualquer forma, o nosso estado devachânico acabará por começar a desvanecer-se e caminhar para o final, coincidindo com o processo de reencarnação de nossa alma, desde a conceção, passando pela gravidez e, culminando finalmente no nosso renascimento no plano físico.

Então teremos deixado e descartado para sempre a personalidade e a persona da vida anterior e iremos embarcar numa nova vida, encarnados em, através de,  e como uma nova persona, moldada e determinada pelo seu próprio Karma passado. E deste modo a jornada de evolução e de desdobramento interno em curso continua. Como diz Krishna no Bhagavad Gitâ : "O fim de nascimento é a morte, o fim da morte é o nascimento. "

Foto tirada de theosophywatch.com

Eu espero que se sintam agora reassegurados que a morte não é o fim e o nascimento não é o começo.

Este é um resumo e uma visão geral do que H.P. Blavatsky e seus Adeptos Instrutores têm a dizer sobre a morte e a vida após a morte. Quem pretender explorar os ensinamentos teosóficos sobre a morte em maior detalhe, está convidado a dar uma olhada no artigo “Quando morremos”. Outros artigos que tratam de alguns dos tópicos mencionados aqui incluem “Um entendimento correto da reencarnação, Um entendimento correto do Karma”, “A natureza setenária do homem” e O perigo e a ilusão das canalizações”.”


E assim termina este artigo da Blavatskytheosophy.com. Em  breve, o Lua em Escorpião publicará mais traduções para português deste site.

sábado, 23 de novembro de 2013

Teosofia pura e simples - A morte e a vida depois da morte (1ª parte)

Blavatskytheosophy.com é a página de internet de um grupo de estudantes britânicos ligados à Loja Unida de Teosofistas (LUT). Naquela página podemos encontrar um conjunto de artigos já extenso, sendo que alguns deles expressam de modo simples e cristalino ideias essenciais da Teosofia, com a vantagem (do meu ponto de vista) de respeitarem escrupulosamente as ideias originais conforme foram transmitidas por Helena Blavatsky, William Quan Judge e pelos Mahatmas através das suas Cartas dirigidas a Alfred Percy Sinnett.

Helena Blavatsky (1831-1891)

A referência que está no parágrafo anterior não significa que apenas aquela literatura seja valiosa no campo teosófico, pois muitos outros contribuidores expressaram aquelas noções de maneiras quiçá até mais apelativas e compreensíveis, e sem contradizer os postulados originais. Quem obviamente apresentar ideias contrárias deverá claramente explicar porque o faz. Contudo, não há dogmas na Teosofia e tal como expressou Blavatsky, as ideias propostas deverão “triunfar ou desmoronar-se por seus próprios méritos” (vol.V, p.41, edição em português da Editora Pensamento).



O texto que será hoje traduzido (a primeira de duas partes) aborda a morte e o que sucede em seguida. Fala do caso geral e não aborda exceções.

Avancemos pois com a tradução, sendo que as imagens que intercalam o texto e respetivas legendas foram colocadas por mim.  Agradeço ainda ao Matthew Webb a permissão dada para a tradução.

“P: Eu sempre tive receio da morte e de morrer. O que me acontecerá quando morrer, de acordo com os ensinamentos da Madame Blavatsky e dos Mestres apresentados na Teosofia? O que disserem eles sobre isto?

R: Antes de mais, não há nada com que se preocupar. Você nunca morrerá. A única parte de você que realmente morrerá quando a mudança ou transição vulgarmente conhecida por “morte” tiver lugar é o corpo físico…e isto não é nada mais do que o seu invólucro exterior, de qualquer modo.

Um excerto de um famoso poema de Mary Elizabeth Frye  diz: “Não fiques na minha sepultura a chorar; eu não estou lá, eu não durmo…não fiques na minha sepultura a chorar; eu não estou lá, eu não morri.”

Foto de Mary Elizabeth Frye (1905-2004)

O verdadeiro “Eu” do nosso ser nunca morrerá. O nosso corpo astral acabará por se desintegrar quando a última partícula do corpo físico morto se desintegrar. Além disso, o prana (vitalidade, energia vital) que anima agora o nosso corpo físico e mantém-nos encarnados fisicamente, regressará depois da morte ao prana universal.

Mas apesar disso você – a alma – nunca morrerá.

Nos últimos momentos da vida, quando o corpo para todos os efeitos parece morto, tudo o que fizemos, dissemos, pensamos e experienciámos na vida que terminou passará com perfeita clareza perante a nossa visão interna. Veremos a absoluta justiça e equidade de tudo o que nos aconteceu na vida e como tudo prosseguiu exatamente como devia, de acordo com a infalível lei da causa e efeito, ação e reação, conhecida como karma.

Então o “cordão de prata” que liga o nosso corpo físico ao seu duplo astral vitalizante irá partir-se e é isto que traz a verdadeira morte física. Isto causa um tal choque à alma que a próxima parte do processo irá ter lugar de forma inconsciente para nós.

Mahatma KH, um dos Mestres que se
comunicou por escrito com Sinnett, tendo
 abordado extensamente esta matéria

Inconscientemente iremos entrar no Kama Loka, que é a atmosfera psíquica ou “plano astral” que rodeia e que até certo ponto interpenetra o plano físico.

O tempo que permaneceremos lá será determinado por vários fatores mas principalmente pelo grau de sensualidade e atração material que caracteriza a vida que terminou. O que lá ocorre é a separação entre a nossa natureza inferior, sensual e material e a nossa natureza mais espiritual e superior.

O lado mais inferior, sensual e material da nossa natureza não pode entrar no estado celestial e portanto tem de ser abandonado no estádio intermediário do Kama Loka. Quanto mais espiritual e menos material e sensualmente estivermos direcionados e inclinados, mais rapidamente este processo acontecerá. Poderá levar apenas alguns minutos, ou então várias horas, dias, semanas ou meses – ou, menos frequentemente, vários anos – dependendo da preponderância da natureza inferior sobre a superior.

Não estaremos conscientes enquanto tudo isto acontece. Quando a separação entre a natureza inferior e superior eventualmente ocorre, é designada, figurativamente falando, como a “segunda morte”.

A.P.Sinnett (1840-1921)

Isto inevitavelmente causará maior choque à alma e portanto nós entraremos naquilo que é conhecido como o “estado de gestação”, um período e estado de profundo repouso e recuperação interna, semelhante ao sono mais profundo que se possa presentemente imaginar.

Não podemos especular sobre a duração que isto possa ter, mas nalguns casos é bem longo do que se possa pensar.

Entretanto, os elementos da nossa natureza inferior, agora aglutinados numa espécie de casca psíquica permanecem no Kama Loka. A nossa alma – que em Teosofia é muitas vezes chamada de Ego, usando esta palavra no seu sentido literal e verdadeiro – seguiu em frente e uniu-se à sua natureza mais elevada e espiritual.

A casca no Kama Loka é conhecida como Kama Rupa, o que significa “forma desejo”. É desprovida de alma e a inteligência que nela sobrevive é básica e automática. Não tem consciência individual própria. É apenas a amálgama das escórias da natureza inferior da vida que acabou de terminar.

Irá permanecer no Kama Loka até que a sua a força e paixões se consumam e então desintegrar-se-á por completo e cessará de existir. Isto pode levar semanas, meses ou anos, uma vez mais determinadas pela força e quantidade de sensualidade.

Continua na próxima semana.

sábado, 16 de novembro de 2013

Os conflitos de opinião entre teosofistas: um editorial de Jan Kind

No início de setembro, o conhecido teosofista holandês Jan Kind publicou na Theosophy Forward, um editorial, em parte inspirado na sua comunicação na Conferência Internacional de Teosofia que teve lugar em Nova Iorque em Agosto passado.

O texto de Kind encerra por agora o tema da discussão de pontos de vista sobre Teosofia (e sobre teosofistas) que foi trazido diversas vezes ao Lua em Escorpião durante este ano de 2013.


Jan Kind, na Conferência Internacional de
Teosofia (agosto de 2013)


Revelação ou Realização: O conflito na Teosofia”, o famoso artigo de J.J. van der Leeuw foi uma boa introdução ao assunto, que continuou com outro editorial de Jan Kind, “É a minha Blavatsky melhor do que tua?”. Já depois do verão, “O confronto de pontos de vista” (uma compilação de um conjunto de discussões em grupos do Facebook, tendo como protagonista principal, o teosofista filipino Vicente Hao Chin, Jr.) e o texto de W.Q. Judge “Dogmatismo na Teosofia” alargaram, espero eu, o campo de visão sobre este tema.

Não obstante concordar em grande medida com o que Kind escreve, tenho de repetir o que já escrevi anteriormente e que foi magistralmente expresso no artigo “Esoterismo de A a Z” da última edição da revista Biosofia:

“… O que está em causa são enganos, não são pessoas. Seria leviano ou pretensioso alguém dizer que, nas mesmas circunstâncias, não teria cometido esses ou outros erros; e não se pode esperar ou exigir perfeição ou infalibilidade de um estudante ou investigador de esoterismo (ou do que seja). Entretanto, persistir no erro ou recusar-se a admiti-lo ou corrigi-lo é que não tem sentido. Assim, preconizamos uma revisão e reavaliação criteriosa de tudo o que se sustentou depois de 1891. Não foi tudo mau; não houve só erros. E houve decerto boas intenções. Necessitamos, porém, de rejeitar o joio e eleger o trigo".

Avancemos agora para a tradução do texto de Jan Kind.

"Há muitas luas atrás - deve ter sido no verão de 1968 quando ainda vivia em Amsterdão – que pela primeira vez na vida me disseram que existia algo chamado Teosofia. O homem que teve a bondade de me abrir essa porta era um famoso músico judeu de idade avançada, que havia sobrevivido milagrosamente aos horrores da II Guerra Mundial. Eu fiquei fascinado por ouvir falar sobre as leis de causa e efeito, karma, reencarnação, os mundos visíveis e invisíveis, tolerância e compaixão, liberdade de pensamento e sobre como a música cria energia que influencia as mentes das pessoas e o seu ambiente.

Eu lembro-me vivamente daqueles passeios pelo parque da capital da Holanda. Quando nos sentávamos num banco, ele sempre começava por me contar a sua longa e interessante vida como violinista e maestro, os artistas e os compositores que tinha conhecido, os seus anos em Paris, os amores da sua vida e a…Teosofia.





Na altura - os vibrantes e coloridos anos sessenta - a minha cabeça estava preenchida com Jim Morrison, Jimi Hendrix e os Iron Butterfly. Eu tinha a certeza que ia mudar o mundo. Bob Dylan era o meu herói, a guerra no Vietname era horrível, Woodstock estava ainda a ser preparado e à noite eu sentava-me com alguns estudantes meus amigos tentando entender o que Jean Paul Sartre queria dizer quando escreveu que os humanos estão condenados a serem livres. A somar a tudo isto, esse senhor de idade falava comigo sobre Teosofia.

Não tinha a perceção da existência de algo como a Sociedade Teosófica, mas estava intrigado pelas suas muitas histórias. Um dia perguntei-lhe se alguma vez se tinha juntado a um grupo ou círculo de pessoas interessadas na Teosofia. A sua resposta foi significativa; ele nunca tinha considerado se juntar a nenhuma Sociedade porque na perspetiva dele, a Teosofia era maravilhosa, tinha sido um farol durante toda a sua vida e ajudou-o a viver entre os anos de guerra, mas havia que ter cuidado com os teosofistas. Quando questionei porque era preciso ter cautela com eles, ele disse que apesar da fraternidade ser o seu primeiro objetivo, existia tanta desarmonia entre eles, que como violinista clássico, ele não poderia participar naquilo que chamava de “cacofonia de Karlheinz Stockhausen” (Stockhausen era um moderno e controverso compositor germânico conhecido por usar uma técnica de doze tons que muitas vezes feria os ouvidos).

Tardei mais de vinte e seis anos a me juntar a uma Sociedade Teosófica. As palavras do meu velho amigo judeu tinham aparentemente sido implantadas na minha memória e o meu fascínio pela Teosofia ainda existia. Desde 17 de novembro de 1994 em diante, como um membro da ST Adyar (mais tarde juntei-me a todas as Sociedades existentes), testemunhei tudo o que de bom e de mau os membros ativos nas Sociedades causam.

É evidente que algumas pessoas vivem muito no passado ou buscam a sua inspiração apenas nos muitos conflitos que tiveram lugar no passado. Num artigo anterior, referi-me a isso como “sequestrar” um conflito, tornando-o seu. Embora boas pessoas estejam energicamente tentando cumprir aquilo que a fraternidade implica, parece que existe um pequeno grupo isolado que acusa continuamente outros teosofistas que não são simpáticos à sua causa, de serem um bando de parvos ingénuos. O seu “bla-bla” contraditório e pseudointelectual é extremamente aborrecido, porque se referem muitas vezes a acontecimentos históricos, mas irremediavelmente interpretando-os erroneamente, e as pessoas que condenam são sempre as mesmas. 

Apresentando-se a si mesmos como gurus carentes de seguidores, as suas observações são prepotentes, repetitivas, nada inspiradoras nem construtivas, de modo nenhum relacionadas com o que a Teosofia é suposto representar.


bla bla


Alguns amigos por vezes enviam-me ligações a tópicos na internet contendo tais querelas, mas já não consigo continuar a ler mais aquelas tristes epístolas. Não subestimo a importância de discussões no ciberespaço, mas é evidente que alguns extremistas com os seus previsíveis ajudantes “unilateralistas” que lá colocam mensagens, apenas juraram nunca desistir da sua cruzada contra quem consideram ser pateta e desencaminhado. Pois bem, que seja, a Lei sempre funciona, portanto veremos.

Eu não consigo perceber porque alguns Teosofistas (serão?) estão constantemente centrados nos egos pessoais de teosofistas proeminentes do passado, especialmente quando esta mesma gente reclama estar a tentar suprimir o ego pessoal. Não podemos saber toda a verdade sobre Besant, Judge, Olcott ou inclusivamente a própria H.P.B. As acusações contra algum ou todos eles resumem-se a mexericos, um dos “pecados” que H.P.B. mais condenou. Se quisermos seguir H.P.B., então vamos parar de fazer mexericos sobre o passado e viver HOJE a Teosofia como irmãs e irmãos, independentemente do que cada um de nós acredite.

Eu posso desapontar os meus respeitados leitores, por isso peço desculpa antecipadamente, mas eu nunca conheci pessoalmente Annie Besant, William Judge, Henry Olcott ou Katherine Tingley, nem mesmo Helena Blavatsky. Quem me dera! O que sei sobre eles, aprendi do que li em livros e no que historiadores transmitiram. Portanto, quando leio sobre a história do movimento teosófico moderno, leio a história de mulheres e homens que nos seus modos particulares tentaram arduamente elevar o nosso problemático mundo. Nesse processo, durante o percurso, algumas coisas correram bem, mas ao mesmo tempo cometeram-se erros dolorosos; houve luz, mas também escuridão, houve bom e mau. Não parece tudo isto familiar?

Eu respeito aqueles velhos pioneiros que dedicaram as suas vidas à causa, mas cabe-nos a nós agora criar um futuro, e não podemos criar um amanhã olhando constantemente para trás, apontando dedos, acusando os outros, difamando boas pessoas e proclamando a nossa própria verdade limitada.

 Podemos aprender com o passado, mas nunca devemos julgar; ao invés podemos tentar fazer as coisas melhor, e se falharmos, tentamos novamente.




Vamos em primeiro lugar e antes de mais permanecer como exploradores : a Teosofia não consiste em dizer aos outros teosofistas que estão errados. A Teosofia é sobre servir a humanidade, agora e amanhã, no futuro, portanto foquemo-nos nisso. Acabemos com a cacofonia, tornando-a numa sinfonia, o mundo está desesperadamente à espera.

D’ A Voz do Silêncio: “A “Doutrina do Olho” é para a multidão; a “Doutrina do Coração”, para os eleitos. Os primeiros repetem orgulhosos: “Vejam, eu sei”; os últimos, os que humildemente têm colhido, em voz baixa confessam: “assim ouvi”. "

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A arte e o transcendente I

Cântico I

Não queiras ter Pátria.
Não dividas a Terra.
Não dividas o Céu.
Não arranques pedaços ao mar.
Não queiras ter.
Nasce bem alto,
Que as coisas todas serão tuas.
Que alcançarás todos os horizontes.
Que o teu olhar, estando em toda a parte
Te ponha em tudo,
Como Deus.

Cântico II

Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontens...
Não queiras ser o de amanhã.
Faze-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabe que serás assim para sempre.
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
É a passagem que se continua.
É a tua eternidade...
É a eternidade.
És tu.

Cecília Meireles
"Cânticos" 

sábado, 9 de novembro de 2013

Dois anos de Lua em Escorpião

Na próxima 2ª feira, dia 11, o Lua em Escorpião fará dois anos. Da anonimidade dos primeiros meses, o blog foi-se tornando progressivamente mais conhecido, tendo no último mês batido recordes em termos de visualizações. O motivo para isso terá sido a temática mais controversa relacionada com o dogmatismo, que gerou particular interesse no Brasil. No entanto, apesar de originarem muitas visitas, não sou muito apreciador de controvérsias e esta sequência será muito em breve encerrada com a tradução do último editorial de Jan Kind, o que deverá acontecer antes do final de novembro, conforme autorização já concedida pelo conhecido e respeitado teosofista holandês.

Jan Kind
Mas a novidade nestes próximos tempos será a entrada para o grupo de contribuidores do blog do Ivan Silvestre. Com liberdade para escrever sobre o que lhe apetecer (dentro do espírito do blog), quando entender e enquanto quiser, o Ivan partilha com os restantes colaboradores do blog a curiosidade e a procura de explicações sobre o Homem e o Universo. E fá-lo com espírito aberto e amplos horizontes.

O Ivan inicia a sua participação já segunda-feira, no dia de aniversário do blog. A Luísa apesar de ausente há vários meses e de andar pouco inspirada para a escrita irá se manter na lista de colaboradores.

Este ano o Lua em Escorpião continuou demonstrando que se podem encontrar contributos válidos dos vários quadrantes do movimento teosófico. Textos de Odin Townley (Loja Unida de Teosofistas), Pablo Sender (Sociedade Teosófica de Adyar), Barend Voorham (Sociedade Teosófica de Point Loma-Blavatsky House) e David Pratt (Sociedade Teosófica de Pasadena) foram publicados, existindo ainda contributos do Jan Kind (membro da ST Adyar, ST Pasadena e  LUT) e de Jon Fergus, entre outros.

Odin Townley

Os meus cinco textos preferidos deste último ano são:



Pesquisando sobre Teosofia (Parte 1 Parte 2 Parte 3)

Mahatmas versus Mestres Ascensos (Parte 1 Parte 2 Parte 3 Parte 4)

É a minha Blavatsky melhor do que a tua? (Parte 1 Parte 2)




Os seis textos mais lidos neste último ano foram:

 Dogmatismo na Teosofia



O confronto de pontos de vista (Parte 1 Parte 2 Parte 3)

É a minha Blavatsky melhor do que a tua? (Parte 1 Parte 2)

Pesquisando sobre Teosofia (Parte 1 Parte 2 Parte 3)

sábado, 2 de novembro de 2013

In memoriam – Radha Burnier

Na passada 5ª feira, dia 31 de outubro, faleceu em Adyar na Índia, por volta das 21 horas locais (14h30m em Portugal), a sétima presidente internacional da Sociedade Teosófica (Adyar), Radha Burnier.


Radha Burnier em 2008


Segundo o jornal The Hindu, Radha estava já bastante debilitada, pois sofria de cancro e tinha sido operada recentemente. Contudo uma infeção aguda do miocárdio foi a causa da sua morte. Ela tinha sofrido já um acidente vascular cerebral ligeiro há três anos atrás.

Os anteriores presidentes da ST Adyar haviam sido: Henry Steel Olcott (1875-1907), Annie Besant (1907-1933), George Arundale (1933-1945), Jinarajadasa (1945-1953), Sri Ram (1953-1973) e  John Coats (1973-1979).

Nallan C. Ramanujachary colocou uma pequena biografia de Radha no fórum theos-talk, que achei por bem traduzir, após a devida permissão dada pelo conhecido teosofista indiano. As imagens e videos foram colocados por mim.




“Radha Burnier (15 de novembro 1923 – 31 de outubro 2013) nasceu em Adyar, Índia. Foi presidente da Sociedade Teosófica de Adyar de 1980 até à sua morte em 2013 e Secretária Geral da Seção Indiana da Sociedade entre 1960 e 1978.

Radha era filha de Nilakanta Sri Ram que foi o quinto presidente da ST Adyar [NT: O avô de Radha, Nilakanta Sastri, um erudito em sânscrito já havia sido membro da ST]. Ela recebeu educação em escolas teosóficas e foi aluna da Escola de dança clássica de Arundale, “Rukmini Devi” (a Fundação Kalakshetra). Mais tarde Radha foi para a Universidade Hindu de Benares onde se licenciou com distinção e tirou um mestrado em Sânscrito, sendo a melhor da Universidade. Ela desempenhou um papel central no filme de Jean Renoir “O Rio Sagrado” (“Le Fleuve” no original).





Radha aderiu à Sociedade Teosófica em 1935 e foi presidente das Lojas de jovens e de adultos durante vários anos. Ela foi Presidente da Federação Teosófica de Madras (1959-63) e bibliotecária e funcionária na sede da Secção Indiana da ST (1945-1951). Radha foi membro do Conselho Geral da ST (Adyar) desde 1960 e pertenceu ao Comité Executivo, Comité Financeiro e ao Conselho da Theosophical Publishing House durante muitos anos.

Deu muitas palestras por todo o mundo regularmente desde 1960 e foi oradora convidada em muitas convenções, congressos e escolas de verão. Presidiu a três congressos mundiais da ST: 1982 em Nairobi, Quénia; 1993 em Brasília, Brasil e 2001 em Sydney, Austrália. Em julho de 1990 conduziu dois concorridos seminários sobre “Regeneração Humana” no Centro Teosófico Internacional em Naarden, Holanda, que incluiu participantes de muitos países.


N. Sri Ram, o pai de Radha Burnier


Numa das sessões, falando de “Regeneração e os Objetivos da ST”, ela disse: “Fraternidade universal, a realização de uma mente onde não haja preconceito nenhum, nenhuma barreira contra seja o que for, é regeneração, pois uma consciência desse género é completamente diferente da consciência comum”.

Foi autora de numerosos artigos no “The Theosophist”, do qual ela tem sido a editora desde 1980, e de outras revistas teosóficas. Radha supervisionou e dirigiu o trabalho da Biblioteca e Centro de Investigação de Adyar e era a editora das publicações e jornais de investigação da Biblioteca. Também traduzia trabalhos em sânscrito para publicação.

Radha Burnier era a líder do Instituto de Teosofia de Krotona em Ojai, Califórnia, do Manor Centre em Sydney e presidente do Centro Teosófico Internacional  em Naarden, Holanda. Foi também presidente da Olcott Education Society, da Ordem Teosófica de Serviço (fundada por Annie Besant em 1908), da Besant Education Fellowship e fundadora do Movimento Nova Vida para a Índia (1968), que promove a cidadania correta, os valores corretos e o direito aos meios adequados entre os indianos. Ela foi um antigo membro do “Le Droit Human” e líder da Ordem do Oriente da Co-Maçonaria Internacional. Também foi colaboradora próxima de Jiddu Krishnamurti  e uma das administradoras da Fundação Krishnamurti Índia. A 4 de novembro de 1980, a convite de Radha, Krishnamurti visitou Adyar depois de uma ausência de 47 anos. Ele caminhou com ela e com vários dos residentes em Adyar desde a porta principal do complexo até à beira-mar e visitou a praia onde foi descoberto por C.W.Leadbeater. Dois anos mais tarde, em dezembro de 1982, durante a Convenção do Centenário de Adyar, Krishnamurti plantou uma árvore bodhi em Adyar.”

E assim termina, o texto de N. Ramanujachary.


Krishnamurti e Radha


S.R. Raghavan, diretor geral honorário da Sociedade Teosófica disse ao jornal “The Hindu”:

“Ela foi uma senhora com os mais elevados princípios e integridade. O seu coração, alma e vida foram entregues à causa da Teosofia”.