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sábado, 22 de fevereiro de 2014

Mais novidades sobre a Conferência Internacional de Teosofia/2014

Em agosto próximo realiza-se em Naarden, na Holanda, mais uma Conferência Internacional de Teosofia. 

Depois de um primeiro post sobre o assunto, o Lua em Escorpião traz hoje mais informações sobre o evento, que foram recentemente disponibilizadas pelo perfil de Facebook do Theosophy Forward. A Conferência terá lugar no Centro Teosófico Internacional (ver video abaixo).





Este é o encontro pelo qual os teosofistas têm estado à espera! Companheiros de todo o mundo estão já a inscrever-se.

De 15 a 18 de agosto, todos os caminhos vão dar ao Centro Teosófico Internacional de Naarden, na Holanda, um retiro espiritual maravilhosamente localizado que inspira a paz e a fraternidade.

Nesta serena propriedade, a International Theosophy Conferences Inc. irá realizar um encontro histórico e convida à participação de teosofistas de todo o mundo, não só dos pertencentes às organizações, mas também de teosofistas independentes e simpatizantes que estejam ativamente envolvidos no estudo ou promoção da Teosofia.

O tema será “A Teosofia, a Unidade e a Ajuda ao Mundo…E a partir daqui, por onde vamos?”

Estamos satisfeitos por anunciar que o programa está praticamente completo. Esta será uma típica conferência de trabalho: pequenas apresentações seguidas de workshops. De modo a cumprir os objetivos desta conferência de trabalho, todos aqueles que participam, quer sejam palestrantes, facilitadores, assistentes ou participantes são igualmente importantes. Todos têm a sua voz.




A conferência irá adotar uma abordagem interativa e holística, enfatizando os diálogos, os workshops e a partilha. O tema irá se centrar nos nossos objetivos e papéis como estudantes de Teosofia nas várias organizações.

Os resultados dos workshops serão apresentados em sessões plenárias para comentários e reações, como input para o produto final do encontro: “A declaração de Naarden do ITC 2014”.

Além do mais, o cerne do programa do ITC em Naarden deverá consistir de três partes: Religião, Filosofia e Ciência. O idioma usado será o inglês.



Para os teosofistas, em agosto, todos os caminhos vão dar a Naarden


A conferência inicia-se na tarde de sexta-feira, 15 de agosto, com uma palestra de abertura, para dar o tom, com a carta do Maha-Chohan como diretriz para este discurso.

A conferência de Naarden irá explorar ainda mais o caminho que todas as organizações teosóficas podem seguir para servir a humanidade em unidade, respeitosa e construtivamente, espiritual e cooperativamente unidas, enquanto cada organização permanece fiel ao que defende e preconiza.

Os objetivos para esta conferência são:

1. Assegurar que se mantém a Teosofia viva para as gerações futuras, ou seja, não com um regresso a Blavatsky, mas indo para diante com Blavatsky.

2. Juntar representantes de organizações teosóficas e estudantes de Teosofia que estão comprometidos a divulgar a Teosofia conforme explanada por H.P.B. e os Mestres.

3. Intensificar os laços fomentando intercomunicação com significado entre todas as organizações teosóficas, não esquecendo os teosofistas independentes.

4.  Trocar ideias e melhores práticas sobre como apresentar a Teosofia de um modo acessível e inspirador.

É altamente recomendado que faça a inscrição e reserve alojamento com antecedência para evitar contratempos. Foi possível fazer um acordo vantajoso com um hotel de primeira classe que fica a menos de 10 minutos de carro do local. Será disponibilizado um serviço de ligação gratuito de ida e volta da propriedade onde se realiza a Conferência.


Logo do ITC


Esta é uma oportunidade única e excelente para encontrar teosofistas de diferentes origens, de forma a conhecê-los, a socializar e associar-se, a trocar ideias, a começar novas iniciativas e por fim, mas não menos importante, para se divertir. O valioso trabalho de H.P.B. é em última instância aquilo que congrega todos os teosofistas.

Vá ao site do ITC e preencha a ficha de inscrição!

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Sobre a continuidade da nossa consciência (4ª parte)

Terminamos hoje a tradução de partes do artigo de 2004 do reputado cientista e médico Pim van Lommel sobre as Experiências de Quase Morte (EQM), About the continuity of our consciousness”. Recomenda-se naturalmenta leitura dos posts referentes às três partes anteriores.

Antes da conclusão, o Dr. van Lommel  faz uma série de considerações sobre questões médicas, descrevendo as paragens cardíacas e os efeitos da mesma no corpo humano e também sobre neurofisiologia, tendo com pano de fundo a questão da consciência funcionar ou não dentro do cérebro. Posteriormente ele introduz conceitos da física quântica para ajudar a explicar alguns os episódios relacionados com as EQM. 

De qualquer modo esta parte do artigo é bastante mais técnica e não fundamental para o objetivo deste post. Avancemos pois para a parte final do artigo.




A certa altura, escreve o Dr. Pim van Lommel:

“Poderá o nosso cérebro ser comparado a um aparelho de TV, que recebe ondas eletromagnéticas e as transforma em imagem e som, ou como uma câmara de filmar que transforma imagem e som em ondas eletromagnéticas? Esta radiação eletromagnética detém a essência de toda a informação, mas apenas é percetível aos nossos sentidos através de instrumentos adequados como uma câmara e aparelho de TV.”

Conclusão

“De acordo com a nossa conceção, baseada nos aspetos reportados sobre a  consciência durante uma paragem cardíaca, podemos concluir que a nossa consciência pode ser baseada em campos de informação, consistindo de ondas que têm origem no espaço fásico. Durante a paragem cardíaca, o funcionamento do cérebro e de outras células no corpo para, devido à anóxia. Os campos eletromagnéticos dos nossos neurónios e de outras células desaparecem e a possibilidade de ressonância, a interface entre a consciência e o corpo físico, é interrompida.

Esta explicação altera fundamentalmente a nossa opinião sobre a morte, devido à quase inevitável conclusão de que na altura da morte física a consciência continuará a ser experienciada noutra dimensão, num mundo invisível e imaterial, o espaço fásico, no qual todo o passado, presente e futuro estão englobados. A pesquisa sobre EQM não nos pode dar provas científicas irrefutáveis sobre esta conclusão, porque as pessoas que passaram por EQM não chegaram a morrer, mas estiveram todas muito próximas da morte, privadas de um cérebro em funcionamento.


Dr. Pim van Lommel, capa de revista


A conclusão de que a consciência pode ser experienciada independentemente da função cerebral pode muito bem induzir a uma grande mudança no paradigma científico na medicina ocidental, e poderá ter implicações práticas em efetivos problemas médicos e éticos tal como o cuidado prestado a pacientes a morrer ou em coma, eutanásia, aborto e remoção de órgãos para transplante a alguém no processo de morte com um coração a bater num corpo quente, embora com diagnóstico de morte cerebral.

Ainda existem mais questões que respostas, mas, com base nos aspetos teóricos acima mencionados da continuidade da nossa consciência obviamente experienciada, devemos finalmente considerar a possibilidade que a morte, tal como o nascimento, poderá ser uma mera passagem de um estado de consciência para outro.”

E assim termina o artigo do Dr. Pim van Lommel.

Este texto já tem perto de dez anos e desde então as pesquisas têm continuado, quer por parte do Dr. van Lommel, quer por parte de outros investigadores. Recentemente, o médico e cientista canadiano Bruce Greyson conseguiu fundos para uma investigação que poderá trazer informação crucial sobre esta questão. Aqui a reportagem do canal de TV norte-americano WTVR (fica o agradecimento a Odin Townley por esta dica).





Além dos muitos livros que existem sobre esta matéria, o primeiro dos quais publicado pelo também médico Raymond Moody Jr. em 1975, “Vida depois da vida”, volta e meia a imprensa generalista pega no assunto normalmente carregando na tónica do ceticismo ou do sensacionalismo. Contudo, em agosto de 2012, a revista portuguesa “Sábado” publicou um artigo intitulado “O mistério dos relatos sobre o céu”, por sinal bastante equilibrado. O artigo contém alguns relatos semelhantes aos referidos no texto do Dr. van  Lommel, mas que tiveram lugar em Portugal. O papel do médico holandês é "desempenhado" pelo Dr. Manuel Domingos. O artigo da Sábado faz ainda referência à abordagem religiosa e também aos céticos.




O que diz a Teosofia

Recentemente, o Lua em Escorpião publicou um texto sobre o processo pós-morte de acordo com a Teosofia original, que pode ser lido aqui (1ª parte) e há algum tempo mais, um artigo também em duas partes traduzido do blog de Odin Townley, a primeira das quais está aqui.

Em português, as melhores fontes são “A Chave para a Teosofia” e as “Cartas dos Mahatmas para A.P. Sinnett”.




Em inglês, recomendo “When we die” e “After death consciousness and processes” de Geoffrey Farthing que compilam tudo o que existe escrito por HPB e os Mahatmas (particularmente no segundo livro) sobre o que acontece após a morte do corpo físico.  Abaixo fica um video baseado no livro "When we die", produzido pela Blavatsky Trust, organização criada por Farthing e Christmas Humphreys.



sábado, 8 de fevereiro de 2014

Sobre a continuidade da nossa consciência (3ª parte)

Continuamos com a tradução de alguns excertos do artigo do Dr. Pim van Lommel “Sobre a continuidade da nossa consciência”. Para perceber o contexto convém ler as duas partes anteriores, aqui e aqui.

Prossigamos pois com a descrição de alguns elementos típicos das Experiências de Quase-Morte (EQM).




A Experiência fora-do-corpo

Nesta experiência, as pessoas têm perceções verídicas a partir de uma posição fora e acima do seu corpo sem vida. Há a sensação de que se despiram do seu corpo como quem tira um velho casaco e para sua surpresa parece que retiveram a sua própria identidade com a possibilidade de perceção, emoções e perfeita consciência. Esta experiência fora-do-corpo é cientificamente importante porque médicos, enfermeiras e familiares podem verificar as perceções relatadas. Este é o relatório de uma enfermeira de uma unidade de cuidados coronários:

“Durante o turno da noite uma ambulância chega com um homem de 44 anos, cianótico [pele azul-arroxeada] e em estado comatoso à unidade de cuidados coronários. Ele tinha sido encontrado em coma cerca de 30 minutos antes num prado. Quando fomos intubar o paciente reparámos que ele tinha uma dentadura na boca. Eu removi a sua dentadura superior e coloquei-a no carrinho de enfermagem. Depois de cerca de uma hora e meia, o paciente apresentava suficiente ritmo cardíaco e pressão sanguínea, mas ainda estava ventilado e intubado e em estado comatoso. Ele é transferido para a unidade de cuidados intensivos para continuar a necessária respiração artificial.  Passada mais de uma semana encontro-me novamente com o paciente, que passou para a ala de cardiologia. Quando me vê diz-me: “Oh, aquela enfermeira sabe onde está a minha dentadura”. Fico muito surpreendida. Então ele explica: ”Você estava lá, quando eu fui transportado para o hospital e você retirou a dentadura da minha boca e pô-la em cima do carrinho, onde estavam muitos frascos e havia esta gaveta deslizante por baixo e foi aí que você pôs os meus dentes.” Eu fiquei especialmente atónita porque lembrei-me de isto ter acontecido enquanto o homem estava num coma profundo e no processo de reanimação cardiopulmonar. Parece que o homem tinha-se visto a si próprio na cama e apercebido de cima, do modo como as enfermeiras e os médicos tinham estado ocupados na reanimação. Ele também foi capaz de descrever correta e detalhadamente o pequeno quarto onde havia sido reanimado bem como daqueles que estavam presentes, como eu. Ele está profundamente impressionado com a sua experiência e diz que não tem mais medo da morte.”


Foto:dailymail.co.uk


A revisão de vida holográfica

Durante esta revisão de vida o sujeito sente não só a presença e a experiência renovada de cada ato, mas também de cada pensamento da sua vida passada e percebe que tudo isso é um campo de energia que o influencia assim como aos outros. Tudo aquilo que foi feito e pensado parece ter sido significativo e armazenado. Fica-se a saber se foi dado amor ou pelo contrário, negado. Porque estamos ligados às memórias, emoções e consciência dos outros, experienciamos as consequências dos nossos próprios pensamentos, palavras e ações nessas pessoas no exato momento do passado em que elas ocorreram. 

Portanto, durante a revisão de vida existe uma ligação com os campos de consciência de outras pessoas, bem como os nossos próprios campos de consciência (interligação). Os pacientes examinam toda a sua vida num abrir e fechar de olhos; tempo e espaço parecem não existir durante uma experiência destas.

Instantaneamente eles estão onde se encontram focados (não-localidade) e podem falar durante horas sobre o conteúdo da revisão de vida embora a reanimação tenha demorado apenas minutos. Um relato:

“Toda a minha vida até ao presente parece-me ter sido posta à frente numa espécie de revisão panorâmica tridimensional e cada acontecimento pareceu ser acompanhado por uma consciência de bem ou de mal ou por um conhecimento de causa e efeito. Não só compreendia tudo do meu próprio ponto de vista, mas também entendia os pensamentos de todos os envolvidos no acontecimento, como se os seus pensamentos estivessem dentro de mim. Isto significa não só aquilo que tinha feito ou pensado, mas mesmo de que modo isso tinha influenciado outros, como se visse as coisas com olhos de quem tudo vê. Parece que os nossos pensamentos não desaparecem simplesmente. Durante todo o tempo da revisão, a importância do amor era enfatizada. Olhando retrospetivamente não consigo dizer quanto tempo durou esta revisão e perceção de vida; poderá ter sido longa pois todos os assuntos foram abordados, mas ao mesmo tempo pareceu apenas uma fração de segundo, porque percecionei tudo no mesmo momento. O tempo e a distância pareciam não existir. Eu estava em todo o lado ao mesmo tempo e às vezes a minha atenção era atraída para alguma coisa e então eu ia para lá”.



Também uma antevisão pode ser experienciada, em que imagens de acontecimentos pessoais futuros (mais tarde recordados sob a forma de “déjà vu”) bem como de imagens gerais do futuro aparecem, embora deva ser relevado que estas imagens devem ser consideradas apenas como possibilidades. Uma vez mais parece que tempo e espaço não existem durante esta revisão: Um relato:

“Eu tive um agradável contacto visual, olharam-me cheios de amor e então examinei grande parte da minha vida vindoura; a preocupação com os meus filhos, a doença terminal da minha esposa, as circunstâncias em que estaria envolvido no meu trabalho e não só. Eu examinei de forma completa, e senti que teria de decidir naquele momento: “Poderei ficar aqui ou ir embora”, mas teria que decidir naquele momento.”

O encontro com parentes falecidos

Se conhecidos ou parentes já falecidos são encontrados numa outra dimensão, são habitualmente reconhecidos pela sua aparência, sendo a comunicação possível através de transferência de pensamento. Portanto, durante um EQM é também possível entrar em contacto com o campo de consciência de pessoas falecidas (interligação).  Durante uma EQM, encontram-se algumas pessoas sobre cuja morte era impossível saber e às vezes pessoas desconhecidas para elas, são encontradas durante uma EQM. Um relato:


Foi este livro que espoletou todo o
frenesim à volta das EQM. Esta
é a capa da versão portuguesa.
O livro foi originalmente publicado
nos EUA, em 1975.
“Durante a minha paragem cardíaca eu tive uma ampla experiência (…) e mais tarde vi, além da minha falecida avó, um homem que olhou para mim de forma amável, mas que eu desconhecia. Mais de 10 anos depois, no leito de morte da minha mãe, ela confessou-me que eu tinha nascido de uma relação extramarital, sendo o meu pai um judeu que tinha sido deportado e morto durante a II Guerra Mundial, e a minha mãe mostrou-me a fotografia dele. O homem desconhecido que eu tinha visto mais de dez anos antes durante a minha EQM, afinal era o meu pai biológico.”

O regresso ao corpo

Alguns pacientes podem descrever a forma como eles regressaram ao seu corpo, a maior parte das vezes através do topo da cabeça, depois de terem percebido através de uma comunicação sem palavras com um ser de luz ou com um parente falecido que “não era ainda a sua vez” ou que “tinham uma tarefa para cumprir”. O regresso consciente ao corpo é experienciado como algo muito opressivo. Eles recuperam a consciência no seu corpo e percebem que estão “presos” nele, o que significa novamente a dor e a restrição da sua doença. Também entendem que lhes foi retirada novamente uma parte da sua consciência com profundo conhecimento e compreensão, bem como o sentimento de amor e aceitação incondicionais. Um relato:

“E quando recuperei a consciência no meu corpo, foi tão mau, tão mau…aquela experiência foi tão bela, nunca teria querido regressar, queria lá ficar…e mesmo assim voltei. A partir desse momento foi uma experiência muito difícil viver a minha vida outra vez no meu corpo, com todas as limitações que sentia nesse período.”

O desaparecimento do medo da morte

Quase todas as pessoas que experienciaram uma EQM perdem o medo de morrer. Isto é devido a compreenderem que existe a continuidade da consciência, mesmo quando foram declarados mortos por observadores ou mesmo por médicos. Ficamos separados do corpo sem vida, retendo a capacidade de perceção. Um relato:


Foto: dailymail.co.uk


“Está para lá do meu domínio discutir algo que só pode ser provado pela morte. Para mim, contudo, a experiência foi decisiva em convencer-me de que a consciência vive para além da sepultura. A morte não é morte, mas outra forma de vida.”

Outro relato:

“Esta experiência é uma bênção para mim, pois agora tenho a certeza que o corpo e a mente estão separados, e que existe vida após a morte.”


Na próxima e última parte, teremos as conclusões de Pim van Lommel, abordaremos um texto publicado na revista portuguesa “Sábado” e veremos onde podemos encontrar na literatura teosófica material sobre o que acontece após a morte.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Sobre a continuidade da nossa consciência (2ª parte)

Continuamos com a tradução de alguns excertos do artigo de Pim van Lommel, “Sobre a continuidade da nossa consciência”. Para perceber o contexto convém ler o post da semana passada.

Na terceira secção do seu artigo, o cientista holandês aborda a pesquisa científica no domínio das Experiências de Quase-Morte (EQM).


Dr. Pim van Lommel


“Em 1969, durante o meu estágio médico rotativo, um paciente foi reanimado com sucesso na ala de cardiologia através de desfibrilhação elétrica. O paciente recuperou consciência e ficou muito, muito desapontado. Falou-me de um túnel, de cores belas, de uma luz e música maravilhosas. Nunca esqueci este episódio, mas nunca fiz nada com ele. Anos mais tarde em 1976 [NT: Na verdade, o livro foi lançado em 1975] Raymond Moody Jr. descreveu pela primeira vez as chamadas EQM e apenas em 1986 li sobre estas experiências num livro de George Ritchie chamado “Return from tomorrow” [Regresso de amanhã], que relata o que ele experienciou durante um período de morte clínica, com a duração de seis minutos, no ano de 1943, durante os seus estudos em medicina. Depois de ler este livro, comecei a entrevistar os meus pacientes que sobreviveram a uma paragem cardíaca. Para minha grande surpresa, no espaço de dois anos cerca de cinquenta pacientes falaram-me do seu EQM.

A minha curiosidade científica começou a crescer, porque de acordo com os nossos atuais conceitos médicos, não é possível experienciar consciência durante uma paragem cardíaca, quando a circulação e a respiração cessam.


Dr. Raymond Moody Jr.


Várias teorias já foram propostas sobre a origem de uma EQM. Alguns pensam que a experiência é provocada por alterações fisiológicas no cérebro como por exemplo células cerebrais que morrem em resultado de anóxia cerebral, ou então possivelmente causadas pela libertação de endorfinas, ou bloqueios do recetor NMDA. Outras teorias abordam a reação psicológica à morte próxima ou uma combinação deste fator com a anóxia. Mas até agora [2004] não existe qualquer estudo prospetivo, meticuloso e cientificamente elaborado para explicar a causa e conteúdo de uma EQM.“

Num estudo de 1988, com 344 sobreviventes de paragens cardíacas, 62 (18% do total) revelaram ter alguma ideia sobre a altura da morte clínica. Destes 62, 41 experienciaram uma EQM mais do que superficial e deste grupo de 41, 23, ou seja 7% da amostra do estudo, revelou ter passado por uma EQM bastante intensa. Nos EUA um estudo semelhante, mas com uma amostra de um terço face ao estudo holandês, dava 10% de pacientes a experienciar uma EQM, enquanto um estudo britânico com uma amostra de 63 pacientes, deu para a mesma variável a percentagem de 6,3%.

No estudo holandês cerca de 50% dos pacientes com uma EQM relataram consciência de estarem mortos, ou de emoções positivas, 30% reportaram estar a atravessar um túnel, de observarem uma paisagem celeste ou de terem encontrado parentes falecidos. Cerca de 25% dos pacientes com uma EQM teve uma experiência extra-corporal, comunicou com a “luz” ou observou cores. 13% experienciou uma revisão de vida e 8% a sensação de estar numa fronteira.

Pim van Lommel  refere que não é a duração da paragem cardíaca, nem do período de inconsciência que influencia o ter ou não ter uma EQM. Não há também qualquer relação entre um episódio desta natureza e os medicamentes administrados, medo da morte antes do ataque, conhecimento prévio sobre as EQM, religião ou educação. A EQM era mais frequente em pacientes abaixo dos sessenta anos, por pacientes com mais de uma reanimação cardiopulmonar durante o período de internamento e por pacientes que já tinham experienciado uma EQM antes. A memória de curto-prazo também é essencial para se recordar de uma EQM. “De forma inesperada”, refere van Lommel, “descobrimos que mais pacientes com uma EQM profunda [em comparação à média], morriam nos 30 dias após a reanimação cardiopulmonar.”




Foi feito um estudo de tipo longitudinal acompanhando os pacientes com EQM, dois e oito anos após o episódio para avaliar os efeitos em termos psicológicos. “Os pacientes que passaram por uma EQM não mostravam nenhum medo da morte, acreditavam fortemente numa vida após a morte, e a sua visão sobre o que era importante na vida tinha mudado: amor e compaixão por eles próprios, pelos outros e pela natureza. Agora entendiam a lei cósmica que aquilo que fazemos aos outros irá nos ser devolvido: ódio e violência, bem como amor e compaixão. Incrivelmente, muitas vezes havia prova de sentimentos intuitivos ampliados. Além do mais, os efeitos transformacionais duradouros de uma experiência que dura apenas alguns minutos foi uma descoberta surpreendente e inesperada.”

Face à ausência de provas de outras teorias na explicação para as EQM, o conceito até agora assumido mas nunca cientificamente provado, de que a consciência e as memórias estão localizadas no cérebro deve ser discutido. Tradicionalmente, tem sido afirmado que os pensamentos ou consciência são produzidos por grandes grupos de neurónios ou redes neuronais. Como pode uma perfeita consciência ser experienciada fora do corpo quando o cérebro já não funciona durante um período de morte clínica, com o encefalograma mostrando morte encefálica? Além do mais, invisuais também já descreveram perceções verídicas durante experiências fora-do-corpo aquando das suas EQM. O estudo científico das EQM puxa-nos ao limite das nossas ideias sobre neurofisiologia e medicina, acerca do alcance da consciência humana e da relação da consciência e das memórias com o cérebro.

Continuamos na próxima semana com a descrição de alguns elementos típicos da EQM.