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sábado, 28 de junho de 2014

Conferência Internacional de Teosofia/2014…aproxima-se!

Esta é a tradução para português da newsletter posta a circular ontem pela organização das Conferências Internacionais de Teosofia.


Entre 15 e 18 de agosto de 2014 todos os caminhos vão dar ao Centro Teosófico Internacional de Naarden, Holanda, um retiro espiritual maravilhosamente localizado e que inspira a paz e a fraternidade.

O tema da conferência será:

“Teosofia, Unidade e a Ajuda ao Mundo…E a partir daqui, por onde vamos?

A conferência inicia-se na tarde da sexta-feira, 15 de agosto, com uma palestra de abertura para dar o mote, com a carta do Maha-Chohan como diretriz para esta exposição.


Imagem aérea de Naarden


Cada dia da conferência irá começar com preleções introdutórias. Depois das mesmas, os participantes nos workshops farão o trabalho mais importante e exigente. Os resultados dos workshops serão apresentados em sessões plenárias para comentários e reações, como input para o produto final do encontro: “A declaração de Naarden da ITC 2014”. Além disso, o cerne do programa da ITC em Naarden irá consistir de três partes: Religião, Filosofia e Ciência.

Os objetivos para esta conferência são:


1. Assegurar que se mantém a Teosofia viva para as gerações futuras, ou seja, não com um regresso a Blavatsky, mas indo para diante com Blavatsky.

2. Juntar representantes de organizações teosóficas e estudantes de Teosofia que estão comprometidos a divulgar a Teosofia conforme explanada por H.P.B. e os Mestres.


3. Intensificar os laços fomentando intercomunicação com significado entre todas as organizações teosóficas, não esquecendo os teosofistas independentes.


4. Trocar ideias e melhores práticas sobre como apresentar a Teosofia de um modo acessível e inspirador.


Oradores:

Tim Boyd - Orador principal

                                     


Tim Boyd desempenha presentemente o cargo de presidente internacional da Sociedade Teosófica-Adyar. Em abril passado foi eleito como sucessor de Radha Burnier, tendo nascido em Nova Iorque em 1953. Filiou-se na ST na América (STA) em 1974.

Esteve envolvido em trabalho teosófico em todos os níveis: como membro de uma loja, fundador de um centro de estudo, membro da direção nacional da STA, vice-presidente e presidente da STA e agora como presidente internacional da ST.

O envolvimento de Tim com a Ordem Teosófica de Serviço e com o orfanato de Chushul no Tibete conduziu-o a uma audiência com o Dalai Lama, que por sua vez resultou na visita deste a Chicago em julho de 2011, que foi patrocinada pela STA – um evento de dois dias a que assistiram dez mil pessoas.

Tim viajou por todos os EUA, visitou as Caraíbas, países na América Central e do Sul, deu palestras em Singapura, na Índia e na Nova Zelândia sendo autor de muitos artigos e tendo trabalhado durante toda a sua vida pela Teosofia.


Barend Voorham – Religião


Barend Voorham é professor há 35 anos e membro da Sociedade Teosófica de Point Loma-Blavatsky House-Haia, desde 1981. É um estudante ativo na sua Loja, dá palestras em várias cidades da Holanda, e ministra cursos tais como “Pensando de modo diferente” e “A Sabedoria da Vida”. É editor quer da versão em holandês, quer da versão em inglês da revista Lucifer e ajuda a organizar o simpósio anual da ISIS. Não se importa com o trabalho que tenha que fazer, desde que possa contribuir para disseminar a Teosofia.


Betty Bland – Religião



Betty Bland foi a anterior presidente da Sociedade Teosófica na América e desempenha presentemente um cargo na direção da Ordem Teosófica de Serviço (OTS) e no Theosophical Book Gift Institute. Está filiada na ST-Adyar. Sendo uma trabalhadora ativa na Sociedade desde 1970, a sua tónica continua a ser a da aplicação prática dos princípios teosóficos.


Eugene Jennings – Filosofia



Eugene Jennings é um associado da Loja Unida de Teosofistas. Tem sido um associado ativo da LUT desde meados de 1970, ao mesmo tempo que apoiava a loja e a disseminação dos ensinamentos teosóficos originais conforme expostos por H.P. Blavatsky, os seus Grandes Mestres e William Q. Judge. Apresentou as ideias e ensinamentos teosóficos quer internamente nos Estados Unidos, quer em viagens internacionais. As suas tarefas diárias como profissional incluem lidar com pessoas como médico e psiquiatra.


Trân-Thi-Kim-Diêu – Filosofia


Nascida no antigo Vietname do Sul, atualmente é cidadã francesa. Membro da ST-Adyar desde 1972. Pós-graduada em Tecnologia farmacêutica.

Secretária Geral da ST da França desde 2009. Ministra cursos na sede de Paris desde 1987. Presidente da Federação Europeia desde 1995. Ajuda a publicar literatura teosófica em russo, húngaro, estoniano, esloveno e croata. Reavivou as atividades da ST na Europa Oriental (particularmente na Rússia e na Ucrânia).

Oradora-convidada das Escolas de Verão, seminários, congressos da Escola Europeia de Teosofia, do Instituto de Krotona, nos EUA e da Escola de Sabedoria, em Adyar. Fez uma digressão pela Nova Zelândia, Singapura, Filipinas, Austrália, Canadá e deu palestras em Olcott, Wheaton.

Orienta regularmente retiros de meditação na Europa.


Joop Smits – Ciência


Joop Smits licenciou-se em Engenharia Mecânica na Universidade de Engenharia de Delft em 1978.

Passou a maior parte da sua carreira profissional no domínio dos portos e dos transportes e ambiente. Esteve envolvido na investigação e no desenvolvimento de programas em institutos científicos e os seus afazeres profissionais no estrangeiro expuseram-no ao contacto com diversas culturas na Europa, Ásia e Médio Oriente.

Tendo a convicção interior que a ciência, a filosofia e a religião podem ser colocadas em harmonia entre si, tornou-se um estudante de Teosofia em 1985. Desde 1987 é membro da ST Point Loma. Nas suas atividades incluem-se as palestras. Presentemente é o Presidente do Comité de Ciência das ITC.


Jacques Mahnich – Ciência


Jacques Mahnich passou a sua carreira profissional na indústria da engenharia aeroespacial, sendo especialista em sistemas de propulsão de aeronaves.

É membro da Sociedade Teosófica-Adyar francesa desde 1978. Presentemente é o presidente do ramo de Saint-Jean em Paris e orienta cursos de formação e conferências sobre Teosofia. Também é um membro ativo da OTS.

Jacques é o co-fundador de um blogue dedicado à investigação sobre a origem das Estâncias de Dzyan e está presentemente a desenvolver um projeto na internet para o estabelecimento de pontes entre a Ciência e as Tradições.


Jon Knebel – Painel da Carta do Maha Chohan


Jon Knebel é estudante de Teosofia há mais de vinte anos, trabalhando especificamente com as Cartas dos Mahatmas desde 2005. Orientou um grupo de estudos das Cartas dos Mahatmas na sede da Sociedade Teosófica na América, em Wheaton, entre setembro de 2011 e abril de 2014 e tem feito palestras sobre as Cartas nas lojas da STA e em grupos de estudo.

Jon também desempenha funções na direção da Ordem Teosófica de Serviço.

Esta é uma oportunidade única e excelente para encontrar teosofistas de diferentes origens, de forma a conhecê-los, a socializar e associar-se, a trocar ideias, a começar novas iniciativas e por fim, mas não menos importante, para se divertir. O valioso trabalho de H.P.B. é em última instância aquilo que congrega todos os teosofistas.

A Conferência está praticamente com os lugares esgotados, existindo ainda algumas vagas. Para evitar contratempos aconselhamos a se inscrever já!

Vá ao site do ITC e preencha a ficha de inscrição!

Por favor considerem a vinda à ITC para partilha da vossa riqueza teosófica.

Herman C. Vermeulen - Holanda
Jan N. Kind - Brasil (anfitriões)



sábado, 21 de junho de 2014

A arte e o transcendente VI

51

Está em mim... não sei o que é... mas sei que está em mim.

Desfigurado e suado... calmo e fresco torna-se o meu corpo,
Durmo... durmo longamente.

Não o conheço... não tem nome... é uma palavra não proferida,
Não vem em nenhum dicionário, expressão, símbolo.

Algo gira sobre algo maior do que a Terra sobre a qual giro,
Aí a criação é o amigo cujo abraço me desperta.
Talvez possa dizer algo mais. Noções! Imploro pelos meus irmãos e irmãs.

Vedes, ó irmãos e irmãs?
Não é o caos nem a morte... é forma, união, plano... é a vida eterna... é a Felicidade.


48

Já disse que a alma não é mais do que o corpo,
E disse que o corpo não é mais do que a alma,
E nada, nem Deus, é maior para uma pessoa do que ela própria,
E quem caminha duzentos metros sem amar caminha amortalhado para o seu próprio funeral,
E eu ou tu que não possuímos um centavo podemos comprar o melhor que a Terra contém,
E olhar com um só olho ou mostrar um feijão na sua vagem desconcerta a aprendizagem de todos os tempos,
E não há ofício nem emprego em que um jovem não se possa converter em herói,
E não há delicado objecto que não possa servir de eixo às rodas do universo,

E digo a todos os homens e mulheres: que a tua alma permaneça tranquila e serena ante um milhão de universos.
E digo à humanidade: não sintas curiosidade por Deus,
Porque eu que tenho curiosidade por tudo não sinto curiosidade por Deus,
(Não há palavras que possam definir a paz que sinto em relação a Deus e à morte).

Escuto e contemplo Deus em cada objecto, ainda que não O entenda minimamente,
Nem entenda que possa existir alguém mais maravilhoso do que eu próprio.

Porque é que desejaria ver Deus melhor do que este dia?
Vejo algo de Deus em cada uma das vinte e quatro horas, e vejo-o em cada momento que passa,
Vejo Deus no rosto de homens e mulheres e no meu próprio rosto ao espelho,
Encontro cartas de Deus espalhadas pela rua, todas assinadas com o seu nome,
E deixo-as onde estão pois sei que vá para onde for,
Chegarão sempre outras pontualmente.



"Canto de Mim Mesmo"
 Walt Whitman
(tradução de José Agostinho Baptista)


sábado, 14 de junho de 2014

A controvérsia em torno do Glossário Teosófico (2ª parte)

Nesta segunda parte, veremos a resposta daqueles que recusam a ideia do Glossário Teosófico ser uma obra a evitar, considerando ao mesmo tempo legítima a ideia de Blavatsky ser apresentada como autora da obra. É naturalmente imprescindível ler a primeira parte, publicada a semana passada.

A contestação às ideias de Aveline sobre o Glossário

Depois da distribuição do texto de Aveline pelos canais habituais usados pelo grupo de estudantes congregado pelo teosofista brasileiro, a resposta não se fez esperar. Vamos abordar aqui duas dessas reações, a de Daniel Caldwell e a de Matthew Webb.

Caldwell é um veterano estudante de Teosofia, que gere o portal mais completo sobre HPB, o Blavatsky Study Center. Já editou vários livros, um deles traduzido para português - “O Mundo Esotérico de Madame Blavatsky”, editado no Brasil pela Madras. Mais recentemente Caldwell, editou “Laura Holloway e os Mahatmas” e antes “The Esoteric Papers of Madame Blavatsky”, que contém fac-similes de diverso material importante na história do movimento. Há ainda uma compilação de Caldwell para introdução à Teosofia em forma de e-book.




Na sua argumentação, Caldwell junta a questão do Glossário com a controvérsia (mais uma!)  em relação ao terceiro volume de “A Doutrina Secreta” (que corresponde ao quinto e sexto volumes na edição em língua portuguesa), publicado também já depois da morte de Blavatsky e que alguns consideram ter sido um acrescento da exclusiva responsabilidade de Besant e Mead. Outras questões delicadas afligem essa edição, a partir do qual foi feita a única tradução para português hoje existente.  Mas cada coisa a seu tempo; essa história será aqui trazida oportunamente.

Em 1891, quer Olcott, quer Besant falavam da preparação de um glossário “com termos em Sânscrito e outros noutras línguas orientais”.


Annie Besant, Cel. Olcott (sentado) e WQ Judge


Blavatsky, no prefácio da 2ª edição em inglês de “A Chave para a Teosofia” (a edição em língua portuguesa foi feita a partir da 1ª edição e não tem Glossário) escreve que adicionou “um copioso Glossário de todos os termos técnicos encontrados [em “A Chave”]. A maior parte das definições e explicações são transcrições ou abreviaturas do “Glossário Teosófico” maior, que será em breve publicado”. Isto foi escrito no outono de 1890, mais de meio ano antes da morte de HPB. Um a um, Caldwell desmonta os argumentos de quem sustenta, a não responsabilidade de Blavatsky na edição do Glossário.

HPB foi acusada de plágio, tendo William Emmette Coleman sido um dos principais detratores do trabalho da Velha Senhora. Ele identificou mais de 1 000 dos cerca de 2 800 termos como sendo copiados de outros livros. Essa avaliação foi confirmada por Boris de Zirkoff, embora a contabilidade dos termos supostamente plagiados tenha sido menor. Contudo no próprio prefácio do Glossário são explicitamente citados esses livros como fontes. Somado a isso, há a referir que Blavatsky fez inúmeros acrescentos da sua própria autoria, a maior parte de natureza ocultista.


De Zirkoff na capa da última
"Theosophia" (Foto:TS wiki)

Caldwell prossegue na sua argumentação, demonstrando que algumas definições no Glossário consideradas erróneas surgem quer em “A Chave para a Teosofia”, quer em “A Voz do Silêncio”, concluindo as suas observações da seguinte forma:

“Na elaboração dos manuscritos do “Glossário Teosófico”, Madame Blavatsky compilou definições de termos de mais de uma dúzia de livros académicos. Em vários das entradas deste material compilado, HPB adicionou a sua “interpretação ocultista” ou ponto de vista esotérico.

Muitos dos erros encontrados no Glossário são derivados de erros nos livros a partir dos quais HPB extraiu as definições."



À luz do acima expresso, conclui Caldwell, não existem razões para acusar GRS Mead de adicionar material ao manuscrito do Glossário Teosófico depois da morte de HPB.

Matthew Webb, um associado britânico da Loja Unida de Teosofistas é menos argumentativo, mas mais duro na apreciação desta controvérsia.

Na primeira parte do seu artigo, Webb constata o óbvio: “a declaração de que HPB só viu ‘as primeiras trinta e duas páginas das provas tipográficas’ não é a mesma coisa que dizer que ela somente viu as primeiras trinta e duas páginas do livro de 389 páginas [na versão em inglês, em português são 777]. Está-se simplesmente a dizer que ela não teve a oportunidade de verificar tudo o que havia escrito de forma a confirmar que estava pronto para publicação, nem tão pouco completar o volume com a amplitude que ela originalmente pretendia.”


HP Blavatsky

Webb continua: “Portanto o Glossário Teosófico não é de modo algum completo ou exaustivo – embora contenha muitas entradas para cada letra, de A a Z – nem são todas as entradas necessariamente exatas como poderiam ser se HPB tivesse vivido mais tempo e tivesse sido capaz de supervisionar a publicação do trabalho ela própria, e estes são factos que nenhum teosofista alguma vez negou.

O que negamos, contudo, é a afirmação ridícula e sem fundamento (…) de que o livro não deve ter o nome H.P. Blavatsky como sua autora.”

Referindo não ser esta uma crítica pessoal , nem negar a boa fé dos que defendem a visão que Webb denuncia, ele acrescenta não existir  uma “lógica clara por trás dela. Inferir que GRS Mead era ele próprio responsável pela maior parte das entradas do Glossário é dar um ilógico e gigantesco salto das afirmações feitas e factos verificáveis para uma conclusão manifestamente errónea.


Uma biografia de Mead
existente em português


O teosofista britânico releva a utilidade do Glossário, sendo também da opinião que de Zirkoff foi precipitado nas suas conclusões e que não pode ser imputada a Blavatsky responsabilidades por erros que ela não teve a oportunidade de corrigir.

Webb termina o seu artigo, afirmando que algumas pessoas deixaram a Teosofia de lado depois de lerem discussões do género em fóruns de Teosofia na internet, discussões essas muitas vezes em tons exacerbados.

“Embora o conhecimento académico, história e a investigação todas tenham o seu lugar, fazemos bem em relembrar o que é a Teosofia e o movimento teosófico, e dessa forma menos tempo e energia será despendido em assuntos em última instância irrelevantes e mais bem investidos no verdadeiro auxílio e serviço ao sofrimento humano.

O que HPB escreveu na Introdução de “A Doutrina Secreta” pode ser aplicado ao trabalho dela  em geral, o de que “foi escrito para a instrução dos estudantes de Ocultismo e não para benefício dos filólogos.”

As alternativas

A verdade é que, embora não embarquem na teoria de que o nome de Blavatsky não deveria estar na capa do livro, grande parte dos teosofistas mais experientes é bastante cautelosa na abordagem ao Glossário, principalmente aqueles que têm conhecimentos de Sânscrito.

Existem contudo boas alternativas, que são também mencionadas no artigo de Aveline.

A principal será o Glossário Enciclopédico Teosófico [no original, Encyclopedic Theosophical Glossary], disponível no site da Sociedade Teosófica de Pasadena. Este Glossário é bastante maior que o editado por Mead, estando corrigido de muitos dos erros apontados ao Glossário original. O mesmo constitui uma expansão do Glossário do Oculto [Occult Glossary] publicado em 1933 por um respeitado líder da ST Pasadena, Gottfried de Purucker (GdeP), e que está disponível aqui. Contudo, em relação a este Glossário há quem também tenha as suas reservas, nomeadamente em relação a algumas “inovações” de GdeP, que se considera não estarem completamente em linha com a Teosofia de Blavatsky/Mestres.


Gottfried de Purucker

Contudo, tudo pesado, também da minha parte considero ser a melhor opção. Este Glossário só esta disponível online existindo uma  versão do mesmo em pdf que circula entre alguns estudantes.

Outra alternativa, embora não tão completa é a Enciclopédia Teosófica (ET), que está também disponível online, embora exista uma versão em livro que pode ser encomendada a partir da Secção das Filipinas da Sociedade Teosófica. Embora não tão rica em termos de terminologia como o Glossário da ST Pasadena, a Enciclopédia tem também várias entradas sobre os teosofistas mais conhecidas, bem como sobre pessoas influenciadas pela Sabedoria Perene. A ET resulta do esforço combinado de várias pessoas, entre as quais Vicente Hao Chin Jr. e John Algeo (editor geral).




Também acessível pela internet está a Wiki da Sociedade Teosófica, que seguindo aquele formato popularizado pela wikipedia, é atualizada com bastante frequência e progressivamente vai se tornando mais exaustiva. Existe um portal específico para as cartas dos Mahatmas e para HPB. É possível que esta wiki se venha a tornar num instrumento essencial para muitos estudantes de Teosofia, sendo admissível que surjam versões noutras línguas que não o inglês. Na verdade, em língua portuguesa, o único Glossário disponível é mesmo o editado por Mead, objeto da controvérsia que este post (e o da semana passada) deu a conhecer. 

sábado, 7 de junho de 2014

A controvérsia em torno do Glossário Teosófico (1ª parte)

Há poucos meses atrás, alguns associados do núcleo luso-brasileiro da Loja Unida de Teosofistas (LUT) criaram alguma controvérsia ao acusarem Mead de ter usado inapropriadamente o nome de Blavatsky como autora do Glossário Teosófico. A resposta a essas acusações – a informação de maior utilidade para o leitor – será apresentada na 2ª parte deste artigo. Nesta 1ª parte inclui-se uma pequena biografia de Mead, a opinião de um respeitado teosofista já falecido sobre o Glossário e as críticas ao mesmo por parte de Carlos Aveline.

Quem foi GRS Mead?

George Robert Stowe Mead nasceu em 1863 em Nuneaton, Inglaterra. Licenciou-se com distinção em Literatura Clássica na Universidade de Cambridge. Tomou contacto com a Teosofia através do livro de Alfred Percy Sinnett, “Budismo Esotérico” e filiou-se na Sociedade Teosófica (ST) em 1884. Encontrou-se pela primeira vez com Helena Blavatsky em 1887. Dois anos depois abandonaria o cargo que detinha numa escola pública para se tornar Secretário pessoal da “Velha Senhora”, a quem já tinha ajudado na edição de “A Doutrina Secreta”. Desempenhou cargos na ST – Secretário-Geral da Secção Europeia (1890) e também da Secção Britânica (1891-8). Recebeu a medalha Subba Row (atribuído a quem se destaca como autor de literatura teosófica) em 1898. Em 1899 Mead casou com Laura Cooper, que também tinha sido próxima de Blavatsky, tal como o marido.


Mead com Blavatsky


A relação entre Mead e Blavatsky é descrita na edição de janeiro de 1910 do Theosophist: “Desde aquela altura [1889] até à morte dela ele foi o seu secretário particular, e ajudou-a de todas as maneiras em que um jovem brilhante podia ajudar um génio heroico e turbulento.” Um erudito até ao tutano, estudante inato, dotado com uma diligência infatigável e com uma capacidade para um devoção profunda embora não demonstrada, ele serviu-a admiravelmente e de modo bastante útil durante cinco anos tumultuosos e de stress. “Mead! Mead!” ouvia-se por toda a casa num tom aceso, quando algum erro de impressão havia despertado a ira do Leoa da Teosofia. “Sim, Velha Senhora!”, chegava a resposta num tom calmo e Mead entrava lentamente com um cigarro na boca, papéis nas mãos, de semblante afável e iria explicar, acalmar ou zombar, de acordo com as circunstâncias e disposição.”


GRS Mead

Depois da morte de Blavatsky, Mead entrou em desacordo com Annie Besant e Charles W. Leadbeater e demitiu-se da ST depois deste último ter sido readmitido em 1908. Recorde-se que Leadbeater foi alvo em 1906 de um processo interno devido a denúncias feitas pela mãe de um dos jovens que Leadbeater instruía, nomeadamente devido à recomendação por parte deste de práticas masturbatórias como forma de libertar energias que atrapalhavam a concentração e a aprendizagem dos ensinamentos teosóficos.

Juntamente com a sua esposa, Mead começou uma nova Sociedade denominada “Quest” bem como uma revista com o mesmo nome, mas ambas as iniciativas foram descontinuadas após a sua morte em 1933. Tirando a descrição do episódio de Leadbeater, tudo o resto é retirado do verbete destinado a Mead na Enciclopédia Teosófica.


A investigação que Mead fez do Gnosticismo e do Esoterismo Ocidental resultou de uma sugestão de Blavatsky, que aconselhou Mead a se especializar nesta área. O trabalho de Mead teve profunda influência em Ezra Pound, W.B. Yeats, Hermann Hesse, Kenneth Rexroth, Robert Duncan e possivelmente em Carl Jung.

As considerações de Mead no prefácio do Glossário

No próprio prefácio do Glossário Teosófico (editado em língua portuguesa pela Editora Ground do Brasil), Mead admite que grande parte do volume é póstumo, ou seja a edição final foi feita pelo próprio Mead já depois de Blavatsky ter falecido. A autora, HPB, “pode ver apenas as primeiras trinta e duas páginas das provas tipográficas”. Não há dúvidas que a “obra teria alcançado dimensões muito superiores” caso HPB não tivesse falecido tão cedo.




O objetivo do Glossário era o de “proporcionar algumas informações sobre os principais termos sânscritos, pahlavis, tibetanos, pális, caldeus, persas, escandinavos, hebraicos, gregos, latinos, cabalísticos e gnósticos e também sobre os termos do Ocultismo geralmente utilizados na literatura teosófica”. Para o efeito, Blavatsky tinha usado várias obras disponíveis na altura, tendo também pedido ajuda a alguns especialistas, como por exemplo a W. Wynn Wescott, membro da Ordem Hermética da Aurora Dourada, que contribuiu com muitos dos verbetes ligados às doutrinas rosacruzes e herméticas.

Uma opinião favorável sobre o Glossário

Dallas TenBroeck, membro da LUT já falecido, tinha bastante apreço pelo Glossário, como mostra aqui e aqui.

Escreveu ele há mais de quinze anos atrás a um outro estudante:” Por favor não valorize a ideia de que o Glossário Teosófico de HPB seja inútil, devido à sua imprecisão. Longe disso. É uma ferramenta valiosa e nos casos em que HPB acrescentou definições que atribuiu à “Filosofia Esotérica ou Ocultismo” encontramos afirmações que não foram feitas em mais lado nenhum na Filosofia e são consistentes com a mesma.

Tenho-o usado e verificado quase todas as entradas com algumas das afirmações ou explicações feitas por HPB nos seus livros ou artigos.


HPB


Sim, existem alguns erros, mas nenhum é muito grave e poderão ter sido o resultado da [não] leitura das provas tipográficas.(…)

Por favor, não adotem as opiniões dos outros sem ter feito vocês mesmos uma investigação minuciosa. O estimado De Zirkoff [compilador de grande parte dos Blavatsky Collected Writings, um dos teosofistas mais importantes do séc.XX] não dedicou o tempo adequado ao Glossário Teosófico – se ele ainda estivesse vivo debateríamos vivamente esse assunto.”

As críticas de Aveline ao Glossário

O teosofista brasileiro considera que o livro não deveria ter a indicação de HPB como sua autora, observação que repete mais do que uma vez neste texto. O próprio Michael Gomes é alvo de críticas devido à edição de uma versão (muito) resumida de “A Doutrina Secreta” pelo mesmo motivo. Contudo na capa da edição em inglês, consta claramente que o responsável pela adaptação e anotações é o próprio Gomes.



 Para justificar a sua posição sobre o Glossário, Aveline pega em palavras de Olcott que criticou os muitos erros em Sânscrito que o Glossário tinha e num texto de Boris de Zirkoff eminente teosofista do séc. XX, que contou nos separadores de A a D, 40 erros de tradução em 300 possíveis.

Continua na próxima semana, com a resposta a esta visão sobre a validade do Glossário.