É hoje publicada a 4.ª parte do artigo de Barend Voorham "Kali-Yuga: uma idade de crescimento ou de decadência espiritual?".
Voorham pertence à Sociedade Teosófica de Point Loma, cujas atividades estão centradas na Holanda e Alemanha.
Esta organização tem-se revelado com uma das mais empenhadas nas Conferências Internacionais de Teosofia (ITC). Vários dos seus membros fazem parte da Direção desta iniciativa, que não é mais do que uma plataforma onde as organizações teosóficas e dedicados estudantes de Teosofia se encontram. As ITC estão comprometidas em ligar todos os teosofistas, apoiando-os na causa comum à luz dos objetivos do ITC que são:
1. Manter os princípios do movimento teosófico moderno delineados por HPB como uma forçça viva nas mente e coração da Humanidade, encorajando a exploração à luz dos seus ensinamentos;
2. Promover a intercomunicação mútua significativa, a compreensão e o respeito entre as correntes teosóficas, estimulando assim a unidade espiritual contínua;
3. Ser uma plataforma, apoiando e patrocinando a conferência internacional anual das organizações teosóficas.
4. Unir as pessoas na partilha da Filosofia da Teosodia, estudando e explorando cada vez mais a Religião, a Filosofia e a Ciência a partir de uma perspetiva teosófica.
Seguimos agora para a tradução da 4.ª parte do artigo de Barend Voorham, não sem antes se recomendar a leitura das partes anteriores.
A
Luz Astral
Contudo, a questão levanta-se sobre se estas
caraterísticas que na verdade caraterizam a nossa presente era, são causadas
pelo Kali-Yuga?
William Quan Judge disse que as pessoas são bastante
afetadas pela Luz Astral no Kali-Yuga. (3) Uma das caraterísticas da
Luz Astral é a de que todas as ações e pensamentos são aí gravados. É como se
fosse uma galeria de imagens.
As pessoas são influenciadas pela Luz Astral. Claro
que a influência não ocorre indiscriminadamente, mas apenas se nos
identificarmos com uma certa camada desta esfera astral. Portanto, uma pessoa
focada no material, que esteja sobrecarregada com fortes desejos egoístas, irá
obter imagens e impulsos correspondentes da Luz Astral. Portanto, durante o
Kali-Yuga as pessoas recebem impulsos de determinadas camadas da Luz Astral
completamente distintas de quando se está nos outros Yugas.
Todos os desejos materiais, toda a adoração do corpo
e da matéria, derivam de impressões que os nossos antepassados imprimiram na
Luz Astral durante o Kali-Yuga do último Mahâ-Yuga (de que falaremos adiante).
Para clarificar: nós próprios somos esses antepassados! No presente Kali-Yuga
essas impressões ainda pesarão em nós.
Somos confrontados com todas as nossas inclinações
materiais do passado. Portanto, estamos confrontados com causas que nós
próprios criámos. Colhemos aquilo que semeámos.
Colhemos agora as causas do último Kali-Yuga. Isto
também explica, por exemplo como novos desenvolvimentos, como a tecnologia de
informação, são aceites e usados tão rapidamente. Apanhamos o fio do último
Kali-Yuga.
Kali-Yuga:
a idade intensa
Kali-Yuga é a idade mais rápida. As consequências sucedem-se
quase imediatamente às causas, pelo menos em comparação com os outros Yugas.
Isto conduz a pressão e tensão. Muitas coisas acontecem ao mesmo tempo. Uma
nova moda ou tendência, uma revolução política ou uma invenção tecnológica mal apareceram
e já algo novo acaba por surgir.
Não parece isto o nosso mundo de hoje? Os países
mudam de governantes como as pessoas mudam de roupa. Em todo o lado acontecem
revoluções. Novas modas e invenções sucedem-se numa velocidade incompreensível.
Em poucos minutos ouvimos e vemos o que está a acontecer noutra parte do mundo.
Os media informam-nos sobre o que
está a acontecer noutras partes do mundo durante todo o dia. Os desenvolvimentos
vão rebolando tal como fazem os cães sobre si próprios quando são pequeninos.
O Kali-Yuga é uma idade de rapidez. E, embora possa
parecer contraditório, é nesta era em que o maior crescimento espiritual pode
ser conseguido.
Nos Yugas mais calmos existiam chelas – estudantes dos Mestres de Sabedoria – que ansiavam pelo
Kali-Yuga por essa razão. Um mais rápido crescimento é aí possível, pois os
resultados das nossas tentativas são obtidos mais rapidamente. Cada ato e
pensamento resulta em consequências quatro vezes mais rápidas comparativamente
ao Satya-Yuga. Isto aplica-se a ações motivadas por desejos egoístas, mas
também atos motivados pela compaixão. Portanto, podemos atingir uma compreensão
da elevação espiritual, a maestria, mais rapidamente. Podemos contribuir mais
para os nossos semelhantes.
O Kali-Yuga é o grande paradoxo. É a idade mais
negra e ao mesmo tempo é a idade na qual podemos atingir a sabedoria e o
discernimento espiritual mais rapidamente.
O
homem faz os tempos; os tempos não fazem o homem
Portanto, com base nos conhecimentos da Theosophia, não gostaríamos de afirmar
que o Kali-Yuga é uma idade maligna. Uma idade é em si própria neutra. Será um
dia de inverno pior que um de outono? Será um dia de 2014 pior que um de 1914?
As idades são neutras.
As pessoas é que dão o colorido às eras. O homem faz os
tempos; os tempos não fazem o homem.
Evidentemente, cada idade oferece as suas próprias
possibilidades. Durante o inverno fazemos coisas diferentes de quando é verão.
Contudo, o recurso a essas possibilidades está dependente do próprio ser
humano. Nós próprios é que fazemos a idade. Não há nenhum fado que nos traga a
guerra, a violência ou o crescimento espiritual. É o homem que se encarrega
disso. Cada um de nós faz as suas escolhas individualmente e decide se usará as
oportunidades de uma idade para maior crescimento espiritual ou para egoísmo e
para cultivar um sentimento de separatividade. Deste modo moldamos coletivamente
a sociedade. O tempo não o faz, fazemo-lo nós próprios.
Ora, o Kali-Yuga força-nos a fazer mais escolhas que
qualquer outra era. Quando há pressão e tudo é tão intenso, somos forçados a
mostrar quem realmente somos.
Compare-se a uma situação de guerra. Nos tempos de
paz e de felicidade não há necessidade de mostrar quem somos. Contudo, quando
há tensão e perigo, somos forçados a fazer escolhas. Por exemplo, escolhemos nos
salvaguardar à custa dos demais, ou sacrificamo-nos e ajudamos os nossos
irmãos, ignorando perigos mortais? Este género de situações de pressão
forçam-nos a assumir uma posição. Se escolhermos a unidade e o TODO, crescemos.
Durante o Kali-Yuga, o sofrimento pode ser enorme.
Há adversidade, há provação. Contudo, a adversidade pode ser um incentivo para
o desenvolvimento espiritual. Através da luta, através da dor, somos capazes de
praticar a paciência, a perseverança, o nosso sentido de proporcionalidade, de
compaixão. Também podemos mostrar que princípios formam a verdadeira base para
os nossos atos.
Muitas vezes o homem eleva-se a grandes alturas em
circunstâncias estranhas, em tempos de caos, guerra, tirania ou pobreza
extrema. Não é verdade que estas desgraças sejam necessárias para o crescimento
da consciência, mas parece que exatamente durante estes tempos negros, as
pessoas têm uma noção mais profunda do significado da vida e exprimem isto
realizando grandes obras.
Tudo se torna mais líquido sob pressão. Portanto, o
Kali Yuga pode funcionar como um catalisador, pelo qual os elementos inferiores
e superiores quer do homem individual e da humanidade se separam. Em tempos
difíceis temos a oportunidade para apelar aos aspetos mais nobres da nossa
consciência e mostrar aquilo que somos intrinsecamente: um ser divino.
Continua na próxima semana.
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