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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Além do cérebro

Na noite de 3 de Janeiro do presente ano, tive oportunidade de ver um programa no canal Odisseia sobre a morte. Inicialmente debateu-se a questão do momento em que se considerava que o ser humano, em coma, estaria realmente morto, o que actualmente tem como parâmetro a morte cerebral de um paciente.
O programa avançou, posteriormente, para questões mais complexas, tendo como pano de fundo os relatos de doentes que, em cirurgias, ou em contextos de extrema gravidade, alegavam ter visionado o seu próprio corpo físico, de uma perspectiva externa, bem como haviam experienciado realidades de outra dimensão dita espiritual.
De acordo com a ciência actual, trata-se de uma reacção cerebral que produziria exactamente as tais vivências extra corpóreas. Segundo esta mesma visão, tudo se passa apenas no cérebro.
Experiências de estimulação do giro angular direito do cérebro demonstraram a capacidade de desencadear a percepção de se encontrar fora do corpo.
A privação de oxigénio, quando o individuo se encontra próximo da morte, é uma outra explicação para as ilusões do túnel com uma luz brilhante ao fundo, nos momentos que precedem o fim. Isso acontece devido ao facto de a visão central depender das células do córtex visual, que são em maior número do que as células responsáveis pela visão periférica. Daí o brilho intenso na região central, que se traduz na imagem do túnel.
Já os espiritualistas estão convencidos de que se trata de uma vivência espiritual real, o que demonstra que a consciência sobrevive além do corpo físico.
Se bem que não exista um consenso entre a ciência (para a qual a alucinação é a explicação mais evidente) e todos aqueles que acreditam na veracidade da experiência, em ambos os campos reconhece-se a existência do fenómeno.
Os cientistas, actualmente, podem perceber como o cérebro reage a este tipo de experiências mas daí não se poderá concluir que serão apenas meras alucinações cerebrais. Para os espiritualistas, o envolvimento do cérebro no processo não se traduz numa negação da possibilidade da experiência ser considerada real.
Num dos casos apresentados, ao longo do programa, um senhor já idoso descreveu a sua própria cirurgia, e certos procedimentos precisos do cirurgião que não seriam possíveis de visionar a partir da perspectiva em que se encontrava fisicamente. Além de ter uma protecção sobre ambos os olhos, que lhe vendava a vista, a zona da cabeça estava isolada do campo cirúrgico por uma espécie de cortina, o que impossibilitava, de todo, que pudesse ter visto o que quer que fosse a partir de uma visão meramente física. Como os pormenores eram muito exactos, não havia possibilidade de explicar o que acontecera a partir de uma alucinação cerebral. Um dos médicos entrevistados, questionado sobre uma explicação para o fenómeno, respondeu simplesmente “não sei”, pois só assim, segundo afirmou, poderíamos realmente aprender mais e, talvez um dia, encontrar novas respostas.
Para o individuo que passou pela experiência a vivência foi de tal modo intensa que o convenceu, totalmente, da sua veracidade.
Muitos relatos do género são encontrados nas chamadas experiências de quase morte (EQM) em que os indivíduos sofreram algum tipo de acidente grave, ou passaram por um trauma físico muito intenso. Nestas circunstâncias, é comum a pessoa visualizar o seu próprio corpo físico, tendo a consciência de estar fora dele, numa outra dimensão extra-física. Além disso, é usual o encontro com uma luz de amor difícil de ser explicada, bem como o contacto com seres de outra dimensão, e com a presença de familiares já falecidos.
Considerar a possibilidade de sobrevivência após a morte é, regra geral, uma conclusão real para quem voltou à vida, após uma EQM.
No entanto, os fenómenos das viagens fora do corpo não estão apenas relacionados com casos de pessoas que passam por tais extremas circunstâncias.
A projeciologia é um campo de estudos da Conscienciologia que se debruça sobre a possibilidade de projectarmos a nossa consciência para fora do corpo físico. Mas disso falaremos num próximo post muito em breve.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Uma profecia falhada?


Segundo o teosofista Walter Carrithers, Jr (1924-1994), fervoroso defensor da Velha Senhora, que escrevia sob o pseudónimo Adlai E. Waterman, Helena Blavatsky fez três profecias de regressos, duas delas claramente para o século XX. Uma delas é bem conhecida, as outras nem tanto. Comecemos por estas últimas, mas assinale-se desde já, que,  segundo Carrithers, elas estão todas relacionadas.

Profecia nº1 – o regresso de HPB no século XX para retomar o trabalho interrompido pela sua morte a 8 de Maio de 1891. O registo desta profecia encontra-se numa carta privada dirigida por HPB ao teosofista norte-americano e co-fundador da Sociedade Teosófica (ST), William Quan Judge. Essa carta consta da publicação “The Irish Theosophist” (Junho 1895) e encontra-se também  numa versão de 1946 de “Letters that Have Helped Me”, de WQ Judge. As palavras de HPB levaram Judge a concluir que ela regressaria em breve, pois Helena expressava na carta preocupação caso Judge não aceitasse dedicar-se de corpo e alma à Causa- tal como ela e Olcott tinham feito – ou seja, continuar o trabalho depois de eles morrerem (lembre-se que Judge era 20 anos mais novo que Helena). Acrescentava ela na carta que, se Judge assim não fizesse, a Teosofia poderia soçobrar, até porque Helena renascendo num novo corpo, ficaria impossibilitada de ajudar e de dirigir o curso da Sociedade. 

Profecia nº2 – o regresso de Damodar Mavalankar. Damodar foi o único chela com sucesso completo no período em que os mestres comunicavam activamente não só com Sinnett e Hume, mas também com outros teosofistas. Nesse período muitos pediram para serem chelas, ou seja, discípulos dos Mestres. Para isso experimentavam uma série de provas, normalmente de carácter e quase todos falharam. Com alguma renitência, até alguns ocidentais foram aceites pelos Mahatmas como chelas leigos, mas acabaram também por não ter sucesso. Ora, Damodar a certa altura é instigado a ir aos Himalaias para se encontrar pessoalmente com os Mestres. Isto aconteceu em 1885. Foi e nunca mais voltou.  Em 1889, também numa carta privada, HPB escrevia sobre Damodar, considerando-o o único verdadeiro e devotado amigo que tinha tido na Índia. Mais à frente acrescentou que um dia ele haveria de voltar para dizer umas verdades a alguns desmancha-prazeres intrometidos. Mas não especificou quando, nem como. E Damodar poderá até ter voltado, mas sem ser identificado ou sobre forma sigilosa. Quem sabe?

Profecia nº3 – A mais conhecida.  Em “A Chave para a Teosofia” HPB escreve: “Durante o último quarto de cada século [os Mestres], fazem uma tentativa de ajudar o progresso espiritual da humanidade de uma forma específica e definida. Perto do final de cada século você perceberá que ocorreu, uma efusão e revolução espirituais – podendo chamá-la misticismo se preferir. “ (p.261, da edição em português). A última questão do livro fala no papel da ST neste contexto e aí residirá a resposta ao título deste post. Responde HPB: ”Se a presente tentativa [a ST] for melhor sucedida que as suas predecessoras, então ela estará existindo como um corpo organizado, vivo e saudável quando chegar o momento do esforço para o século XX. A condição geral das mentes e corações dos homens terá sido aperfeiçoada e purificada pela difusão dos seus ensinamentos e (...) os seus preconceitos e as suas ilusões dogmáticas terão sido removidas, pelo menos até certo ponto. (..) além  de uma literatura extensa e acessível (...) o próximo impulso encontrará um grupo numeroso e unido (NB: itálico no original) de pessoas prontas para receber o novo portador da tocha da Verdade”.

Com uma agitada vida desde a sua fundação, a Sociedade Teosófica, depois da partida de HPB, continuou em mares revoltosos que levaram a embarcação a se partir. Besant e Judge desentendem-se num claro caso de luta pelo poder (ainda hoje não completamente esclarecido), criando o norte-americano uma organização independente que mais tarde iria também perder membros para a Loja Unida dos Teosofistas, surgida em 1909 pelas mãos de Robert Crosbie. Entretanto Besant e Leadbeater levariam a ST original por maus caminhos, até ao desastre de 1929, com a rejeição de Krishnamurti em continuar a desempenhar o seu papel de Avatar. A ST nunca se recompôs e não restabeleceu devidamente o papel dos seus fundadores, preferindo relevar a figura de Krishnamurti (que se haveria de tornar um pensador independente), mesmo quando os seus ensinamentos pouco têm a ver com a Teosofia original. O século XX trouxe ainda vários ataques mútuos entre teosofistas e acusações de manipulação em eleições, com cartas forjadas dos Mestres. Nada do que HPB com certeza esperaria. Logo as condições não estariam satisfeitas para que o último quartel do século XX tivesse um guião semelhante ao século anterior. Tal como se diz que se Jesus Cristo voltasse à Terra provavelmente seria rejeitado pela Igreja, também tenho dúvidas de que a ST aceitasse a nova HPB.

Mas então nada aconteceu desde 1975 até ao final do século? Aqui entramos no domínio da especulação e como já vi várias hipóteses, adianto também a minha. Alguns falam que o enviado terá sido Fritjof Capra, cujos livros de Física partilham conceitos presentes na "Doutrina Secreta". Capra contudo, não é assim tão conhecido pelo público em geral, que teria dificuldades em ler os seus livros. Os mais conhecidos são “O Tao da Física”, “O Ponto de Mutação” e “A Teia da Vida”. Há até quem considere Elizabeth Claire Prophet como a “mensageira do século XX”,afirmação que nem me merece comentários. Bastará ler a opinião dos filhos sobre a própria mãe, que mesmo depois de falecida (morreu em 2009) foi uma das vencedoras do prémio Ig Nobel de 2011, por prever que o Mundo acabaria em 1990. 
Tal como o final do séc. XVIII  (com a elevação da Humanidade a se fazer com os ideais da Revolução Francesa de 1789 – liberdade, igualdade e fraternidade - que já haviam inspirado a Revolução Americana de 1776 e que se espalhariam no mundo ocidental)  é um “filme” diferente do que sucederia 100 anos depois, da mesma forma é de admitir que a fórmula encontrada para o século XX seria distinta e mais adequada aos tempos hodiernos.
Em primeiro lugar repare-se que o nível de instrução em 1975 era bem maior do que o de 1875. Em 1870, 20% dos americanos eram analfabetos e embora não tenha procurado dados sobre isso, estou em crer que quer nos EUA, quer na Inglaterra e França a percentagem de população com estudos mais elevados era diminuta e normalmente só os mais abastados entravam nas Universidades. Não é novidade para ninguém que a literatura teósofica é exigente. Um bom intelecto não é condição suficiente, mas é sem dúvida condição necessária.  Não espanta pois que muitos dos personagens que interagiram com HPB fossem das classes privilegiadas. O alcance da Teosofia estaria pois limitado a um grupo restrito. Naquele tempo, a Igreja continuava a ter um peso muito grande e a lutar tenazmente contras as heresias do espiritismo e da Teosofia.

E então o que houve em 1975? Nesse ano é lançado um pequeno livro que se tornaria muito famoso, traduzido para várias línguas e vendendo milhões. Trata-se de “Vida depois da Vida” de Raymond Moody, Jr. (traduzido para português pela Editora Pergaminho). Moody é um médico doutorado em Filosofia e tornou-se investigador das experiências de quase-morte. Este livro foi uma pedrada no charco, pois um médico ter a coragem de publicar um livro desta natureza era algo francamente inusitado. Gerou-se muita controvérsia, surgiram críticas duras, mas também reconhecimento de alguns pares que ocultavam o seu conhecimento de experiências semelhantes. Moody Jr. , juntamente com Paul Perry publicou recentemente um livro verdadeiramente extraordinário chamado “Instantes de Eternidade”, que não deverá levar muito tempo até ter direito a um post neste blog.
Num circuito mais restrito, o académico Ian Stevenson, psiquiatra americano da Universidade de Vírginia, lança em 1977 o seu  primeiro artigo sobre o tema da reencarnação denominado “O valor explicativo da ideia de reencarnação”.
Anos depois, o médico Brian Weiss, começa a lançar os seus populares livros com regressões hipnóticas que sugerem a existência de vidas passadas.”Muitas vidas, muitos mestres”, foi o primeiro, publicado em 1988.
Note-se que nestes três casos há uma forte ligação com a Ciência, neste caso a medicina. Ciência que, de acordo, com o Mestre KH seria o “melhor aliado da Teosofia” (Carta 11 das ML).
No campo da astrologia, o último quartel do século XX assinala também uma revolução com a recuperação de antigas obras de astrólogos  medievais, helénicos e árabes. Um grande impulso foi dado por Olivia Barclay que adquiriu em 1980 um dos raros exemplares de “Astrologia Cristã” de William Lilly (1602-1681) e contribuiu para a sua re-edição.  Já em 1976 Robert Zoller estudava e traduzia Guido Bonatti e mais tarde, juntamente com Robert Hand e Robert Schmidt, fundou o projecto Hindsight para a recuperação e tradução de obras antigas e importantes da astrologia medieval e helénica, a partir dos originais em grego, latim e árabe.
O reavivar das técnicas entretanto perdidas, fruto do quase desaparecimento da astrologia no século XVIII, altura em que foi banida das universidades europeias, é algo de grande significado. Hoje cada vez mais astrólogos estudam estas antigas técnicas e apercebem-se de que a velha Arte tinha muitos segredos escondidos. Uma vez mais, os conhecimentos académicos e linguísticos foram ferramenta imprescindível.

Como se vê, os últimos 25 anos do século XX não foram estéreis no campo da espiritualidade. Mas não surgiu um “portador da tocha da Verdade”, nem a Sociedade Teosófica teve papel importante. Ao invés, tivemos homens da ciência falando e escrevendo do que vulgarmente se chama de “paranormal”. Livros simples e que se venderam aos milhões em todo o mundo, popularizaram a teoria da reencarnação e o conceito de karma. Nem as novelas brasileiras esqueceram o tema. Hoje não há praticamente ninguém que não conheça estas palavras, mesmo que não concorde com as ideias que lhes estão subjacentes. Ao mesmo tempo que elas se espalham, as igrejas dogmáticas perdem influência.  Cada vez mais pessoas procuram uma explicação lógica para o sentido da vida e por isso aceitam os conceitos de reencarnação e karma.  
O início do século XX trouxe a desvirtuação dos ensinamentos de HPB e dos Mestres, deturpação essa que já se tinha iniciado após o falecimento de HPB.
Cem anos depois  e após alguns livros interessantes publicados entre 1975 e 2000, as estantes das livrarias, na área dedicada ao esoterismo, são um verdadeiro deserto, mas não por falta de livros.  As grandes obras, mesmo da Teosofia estão ausentes (comprei  dois volumes Isis sem Véu, numa grande superfície há 8 anos atrás, agora não se encontra nada sobre Teosofia), de astrologia só se vendem obras superficiais e abundam sucedâneos do best-seller “O Segredo” que incentivam apenas ao materialismo disfarçado de espiritualidade.
Ninguém saberá ao certo se foi realmente o desastre da ST que levou ao não cumprimento do que HPB escreveu em “A Chave para a Teosofia”. Nas próprias Cartas dos Mahatmas, temos o exemplo do karma a funcionar, como no caso do “Phoenix”, o tal jornal que o KH queria incentivar e que nunca viu a luz do dia.
Noutro artigo escrito por Carrithers encontramos uma referência a uma comunicação de outro teosofista, T. H. Redfern, datada de 1961, que considerava já naquela altura pouco plausível que a ST acolhesse um novo "mensageiro" dos Mahatmas em 1975.


Parece-me a mim que o último quartel do século XX trouxe um reavivar da espiritualidade e a popularização de conceitos como o karma e a reencarnação. Agora, num século XXI , para o qual muitos esperam grande iluminação espiritual da humanidade (se calhar as expectativas são demasiado altas...), resta-nos pacientemente carregar a tocha, não aguardando por um Salvador, mas fazendo cada um de nós o melhor possível para propagar as Verdades Eternas.


PS-Um texto que também aborda de forma bastante interessante a profecia mais famosa de Blavatsky pertence a Carlos Cardoso Aveline, tendo sido publicado originalmente na extinta revista canadiana Fohat.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Nota breve

Pequenas coisas podem ter grande significado, assim como poucas palavras de sabedoria podem despertar pensamentos profundos.
O episódio que pretendo partilhar é bem simples mas, contudo, deixou leveza no meu dia.
Recordo-me de que num telejornal, por ocasião da passada quadra natalícia, foi para o ar uma pequena reportagem sobre as crenças (ou inexistência delas) referentes ao Natal, de diversas religiões presentes na região.
As celebrações podiam diferir entre os cristãos, mas o que mais me interessou foram as respostas veiculadas por todos aqueles que até nem celebravam o Natal. Se bem que notasse respeito em todas as opiniões sinceras de quem não festeja este período, surpreendeu-me a brilhante resposta de um hindu entrevistado.
Segundo ele, os hindus celebravam a alegria. E, sendo o Natal uma celebração de alegria, partilhavam connosco essa mesma alegria. Por isso, ele sentia-se honrado por celebrar as nossas festas e as dele.
As crenças não precisam de dividir se o amor reunir. Um exemplo assim inspira-nos, mas é preciso muita maturidade espiritual para lá chegar.

EU não sou eu

Hoje dou início à minha participação activa neste blog.
Crescer e Ser é uma caminhada permanente. Descobrir-se mais completo, mais vivo, mais consciente é um propósito.
Partilhando, tornamo-nos mais do que somos, integramos e descobrimos o Outro, o Desconhecido, num espaço comum, dentro de nós. Esse diálogo é precioso e transformador.
E deixo aqui um inspirador poema de Juan Ramón Jiménez Mantecón:

EU não sou eu

Eu não sou eu.
Sou este que vai ao meu lado sem eu vê-lo;
que, por vezes, vou ver,
e que, às vezes, esqueço.
O que se cala, sereno, quando falo,
o que perdoa, doce, quando odeio,
o que passeia por onde estou ausente,
o que ficará de pé quando eu morrer.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Alice Bailey e a Teosofia original


O objectivo primeiro do Lua em Escorpião é dar uma direcção àqueles que se interrogam sobre os mistérios do Homem e do Universo. O autor que assina este post considera que a Teosofia original é a representação mais fiel das Verdades Eternas e que a sua promulgação constitui um dever que tentarei cumprir da melhor maneira durante esta encarnação. É também verdade que o melhor modo de divulgar a Teosofia é relacionar os seus postulados com a ciência moderna e com o mundo que nos rodeia. Daí a minha grande admiração pelo blog Theosophy Watch, de Odin Townley e pelo site Exploring Theosophy, de David Pratt, que são a melhor continuação do trabalho de Helena Blavatsky, que sempre fundamentava o que escrevia aproveitando-se das novidades científicas da sua época. Outros teosofistas dedicam-se à explanação do ensinamento da Filosofia Perene sem esta vertente, e o seu trabalho é também meritório. São exemplos Philaletheians, de Chris Bartzokas e FilosofiaEsotérica, coordenado por Carlos Cardoso Aveline.
Estes e outros sites estão listados no blogroll do Lua em Escorpião. E onde entra Alice Bailey nesta história toda? Para começar e para aqueles que possam não conhecer esta personagem, podemos começar por dizer que a Srª Bailey era membro da Sociedade Teosófica (ST), mas que por dificuldades de afirmação e de compreensão por parte de outros teosofistas acabou por sair e criar o seu próprio caminho, que se materializou numa extensa obra e numa escola, a Escola Arcana. Bailey assegurava que estava em contacto com os Mestres dos Himalaias, principalmente com um deles que se autodenominava "Tibetano", já conhecido da literatura teosófica original, pelas iniciais DK. Bailey escreveu os seus muitos livros desde 1922 e até a sua morte em 1949, sob a suposta inspiração deste Mestre. Obviamente que o facto de dizer que comunicava com Mestres não lhe granjeou muitas simpatias na ST. Aí tinha a competição da dupla Besant-Leadbeater, na altura em grande efervescência, aguardando a vinda do novo "Avatar", para a qual tinham treinado o jovem Krishnamurti. Esta é outra história muito curiosa que ficará para um futuro post.
E então qual é o problema com Alice Bailey? Mesmo hoje em dia, Bailey tem muitos seguidores, inclusive em Portugal conheço grupos que se reúnem para discutir o conteúdo dos seus livros. Porventura até Bailey é mais conhecida do que  Blavatsky. Mas será aquela uma continuadora do trabalho iniciado em 1875? Aqui é que já não há consenso. No fim dos anos 20 do século passado, uma discípula de HPB, que pertenceu ao grupo restrito de alunos que a Velha Senhora constituiu perto do final da sua vida, escreveu um pequeno livreto contestando a ligação entre os ensinamentos de HPB e de Bailey, criticando fortemente as obras desta. Essa discípula era Alice Leighton Cleather e o livreto foi escrito em conjunto com Basil Crump. Alice publicou várias obras, mas como nunca concordou nem com o que aconteceu à ST original nem com nenhuma das organizações principais que se formaram a partir daquela, está hoje um pouco esquecida. Infelizmente só a citam quando querem atacar alguém, pois realmente os seus argumentos contra são bastante contundentes. A sua escrita é clara e recomendo os seus livros vivamente, sendo que a maior parte deles pode ser encontrado gratuitamente na web, na sua língua original, o inglês.
Mais tarde, Victor Endersby, outro teosofista, pegou no texto de Cleather e de Crump e expandiu-o, acrescentando comentários bastante depreciativos e quase jocosos dirigidos a algumas das frases dos livros de Bailey.
E as críticas mais fortes dirigem-se a quê? Em primeiro lugar à história do "Reaparecimento do Cristo", um decalque da fantasia leadbeateriana da descida à Terra de um novo instrutor da humanidade. Nada disto tem raízes em Helena Blavatsky que nunca afirmou tal coisa. A única coisa que HPB transmitiu é que o aparecimento do próximo Buda está ainda muito longe. Outro problema é a reinterpretação de algumas expressões como "Logos", as referências a "Deus" e ao "Mestre Jesus". Tudo em contradição com as referências contidas nas próprias Cartas dos Mahatmas recebidas por A.P. Sinnett. Os ensinamentos sobre conduta sexual são também muito distintos dos que se encontram nos escritos de HPB sobre Ocultismo Prático.
Em termos genéricos, estes autores consideram que Bailey poderá ter agido consciente ou inconscientemente sob a direcção de forças que queriam minar o trabalho dos primeiros teosofistas, e dada a extensa ligação com o imaginário próximo do Cristianismo, há a sugestão de que houve influência dos Irmãos da Sombra neste trabalho, cuja mão chega até ao próprio Vaticano (nas próprias palavras dos Mestres). Essa é a hipótese mais negativa. Outros referem que poderá simplesmente se tratar de um caso de projecção de pensamento criativo, mas a verdade é que certas passagens são tão rebuscadas que estão para lá das capacidades intelectuais de Bailey, pelo que certamente ela teria certas capacidades mediúnicas.
Já diz o ditado que nem tudo o que reluz é ouro e no campo da espiritualidade esta frase é muito importante. Comecei a minha caminhada com um curso de reiki. Hoje não é área que recomende e o próprio facilitador do curso é uma pessoa que, com os conhecimentos que hoje tenho, poderia catalogar como alguém da Senda da Mão Esquerda. Obviamente isto é uma excepção, mas o reiki para a maior parte das pessoas desvia as atenções do foco da ética para o Eu Inferior. Depois estudei espiritismo, onde tive os primeiros contactos mais abrangentes com conceitos como o karma e a reencarnação e também do processo pós-morte. Pouco tempo depois, conheci a Teosofia. Comprei os livros de HPB, mas a verdade é que sendo de difícil leitura, há sempre aquela tentação de que “existe alguma coisa mais simples, e que respeita a ideia original”. Foi assim que cheguei aos livros de Annie Besant, Charles Webster Leadbeater e de Alice Bailey. Desconfiado com algumas afirmações do antigo clérigo presbiteriano, descobri a biografia escrita por Gregory Tillett. Juntando alguns textos que estão no site Filosofia Esotérica (como este) e sabendo um pouco mais sobre a história da Sociedade Teosófica, retornei a um porto que nunca quis abandonar, a obra de HPB, cujo primeiro encontro deixou em mim uma sensação avassaladora de reencontro com algo que há muito procurava.
Não se pode pois dizer que na espiritualidade tudo é igual e universal. Não é. E isso é um risco que muitos correm e um engano em que muitos caem. É preciso ter poder discriminatório. Não se deixar enganar pelos sentimentalismos próprios do Eu Inferior. As armadilhas no progresso espiritual são muitas e estão em todo o lado. Porque é assim que tem de ser, é o único modo de avançarmos.
Isso não implica nos fecharmos numa sala apenas com os livros "eleitos". Todos os anos saem obras interessantes que permitem desenvolver novos enfoques sobre os ensinamentos teosóficos. Livros sobre reencarnação, experiência de quase-morte e outros fenómenos. Ou mesmo obras sobre física, astronomia.
Não podemos estar no campo da espiritualidade como adeptos de um clube, como se de futebol se tratasse. Há que saber analisar, reflectir e ir fazendo evoluir a nossa construção mental de como funciona o Universo. Há muita coisa para aprender e há muito conhecimento para transformar em Sabedoria através da nossa vida do dia-a-dia.
Por isso, apenas peço aos que são admiradores de Alice Bailey, que vejam este post e as críticas à sua obra como hipótese de trabalho e que façam a sua própria avaliação. Pelo menos um ponto a favor os seguidores de Bailey têm. O ideal de fraternidade humana que construíram e que em grande medida praticam é de relevar e se calhar supera o que a própria Sociedade Teosófica conseguiu, não obstante ser esse o primeiro objectivo dos três principais que orientam a ST.

domingo, 1 de janeiro de 2012

2012, o ano de todos os desastres?

2012 já se iniciou. O que se pode dizer das teorias que apontam para que seja um ano apocalíptico?
Para começar não existem registos na Teosofia original que refiram qualquer evento especial para este ano. Aliás, as profecias que se podem encontrar sobre grandes cataclismos dirigem-se a anos bem mais longínquos e falam da destruição de parte da Europa e da América que começará com o afundamento da Grã-Bretanha. Isso só sucederá daqui a 25 000 anos. Não invalida que pequenos cataclismos aconteçam até lá. Aliás, existem teosofistas que interligam a crise climática a uma mudança de ciclo da humanidade, considerando fortemente a possibilidade de existirem cataclismos no planeta.  A maior parte das teorias sobre o fim do mundo em 2012 derivam de canalizações, nalguns casos de alienígenas que estão noutras dimensões (?!). Fala-se de um planeta Nibiru que poderá chocar com a Terra, um assunto que é alvo de chacota por parte da comunidade científica. Especulação sobre o fim do mundo é algo que acompanha a humanidade e provavelmente é uma presença no inconsciente de memórias de grandes destruições que sucederam aquando do final das Raças, particularmente da Raça precedente, a Atlante. A suposta profecia dos Maias é aqui desmistificada pelo téosofo David Pratt, que tem um site interessantíssimo, mesmo para aqueles que não tenham qualquer ligação à Teosofia. Normalmente Pratt faz a ligação entre temas sobre os quais a ciência também se debruça e a Teosofia. Tendo em conta os autores que cita, Pratt deverá estar ligado à Sociedade Teosófica de Pasadena, organização que  respeita a teosofia original.
Os astrólogos há muito que se preocupam com algumas posições planetárias no período entre 2010-2015, particularmente com Urano em Carneiro e Plutão em Capricórnio (os dois planetas em signos cardinais), formando uma quadratura. Circunstâncias destas não são muito tranquilizantes como diz aqui  e aqui Robert Hand.
Não acreditando em grandes cataclismos, não duvido que 2012 será um ano turbulento e 2013 não será diferente. O grau de turbulência será provavelmente maior que o de 2011, que já não foi um ano particularmente fácil. Seja como for, espera-se que seja um ano de trabalho frutuoso, especialmente para todos aqueles que desejam ajudar no progresso da raça humana, no campo ético e espiritual.