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sábado, 20 de dezembro de 2014

Manifesto para uma Ciência pós-materialista (2ª parte)

Na semana passada, publicámos a 1ª parte do Manifesto para uma Ciência pós-materialista, pelo que aconselhámos a leitura da introdução e dos primeiros 9 pontos do Manifesto antes de prosseguir com a leitura do post desta semana.

Se já o fez, os 9 pontos seguintes do Manifesto são os seguintes:


10. A atividade mental consciente pode ser experimentada em morte clínica durante uma paragem cardíaca (isto é o que tem sido chamado de "experiência de quase-morte" [EQM]). Estes pacientes relataram perceções fora-do-corpo verídicas (ou seja, perceções que se podem provar coincidir com a realidade) que ocorreram durante a paragem cardíaca. Os pacientes também relatam profundas experiências espirituais durante as EQMs desencadeadas por paragem cardíaca. Note-se que a atividade elétrica do cérebro cessa poucos segundos após uma paragem cardíaca.


Um dos cientistas que  colaborou na elaboração do manifesto
é brasileiro o Dr. Alexander Moreira-Almeida, que tem ligações
ao movimento espírita (foto:www.religionandpsychiatry.com)


11. Experiências controladas em laboratório têm documentado que os médiuns de pesquisa qualificados (pessoas que afirmam que podem se comunicar com as mentes de pessoas que morreram fisicamente) às vezes podem obter informações altamente precisas sobre pessoas falecidas. Isto suporta ainda mais a conclusão de que a mente pode existir separada do cérebro.

12. Alguns cientistas e filósofos de pendor materialista recusam-se a reconhecer esses fenómenos, porque os mesmos não estão de acordo com a sua conceção exclusiva do mundo. A rejeição de investigação pós-materialista da natureza ou a recusa em publicar descobertas científicas robustas que suportam uma estrutura pós-materialista são a antítese do verdadeiro espírito de investigação científica, que é o de que os dados empíricos devem ser sempre adequadamente tratados. Dados que não se encaixam em teorias e crenças preferenciais não podem ser descartados a priori. Essa dispensa é do domínio da ideologia, e não da ciência.

13. É importante perceber que os fenômenos psi, as EQM aquando de paragem cardíaca, e as provas reproduzíveis de mediums de pesquisa credíveis, parecem anómalos somente quando vistos através da lente do materialismo. 




14. Além disso, as teorias materialistas não conseguem explicar como o cérebro pode gerar a mente, e são incapazes de explicar a evidência empírica, a que se alude neste manifesto. Este falhanço diz-nos que agora é a hora de nos libertarmos dos grilhões e vendas da velha ideologia materialista, para alargar o nosso conceito do mundo natural, e abraçar um paradigma pós-materialista.

15. Segundo o paradigma pós-materialista:

a) A mente representa um aspeto da realidade tão primordial como o mundo físico. A mente é fundamental no universo, isto é, não pode ser derivada a partir da matéria e reduzida a algo mais básico.

b) Existe uma profunda interligação entre a mente e o mundo físico.

c) A mente (vontade / intenção) pode influenciar o estado do mundo físico, e operar de uma forma não-local (ou prolongada), ou seja, não se limita a pontos específicos no espaço, tal como cérebros e corpos, nem a pontos específicos no tempo, tais como o presente. Dado que a mente pode influenciar não-localmente o mundo físico, as intenções, emoções e desejos de um experimentador podem não estar completamente isoladas dos resultados experimentais, mesmo em modelos experimentais controlados e cegos.

d) As mentes são aparentemente ilimitadas, e podem unir-se de modos que sugerem uma unidade, uma Mente Una que inclui todas as mentes individuais.

e) As EQM durante paragens cardíacas sugerem que o cérebro funciona como um emissor-recetor da atividade mental, isto é, a mente pode funcionar através do cérebro, mas não é produzida por ele. As EQM que ocorrem durante paragens cardíacas, juntamente com evidências de mediums de investigação, sugerem ainda a sobrevivência da consciência, após a morte do corpo, bem como a existência de outros níveis de realidade que são não-físicos.

f) Os cientistas não devem ter medo de investigar a espiritualidade e experiências espirituais, uma vez que representam um aspeto central da existência humana. 


Dr. Charles J. Tart

16. A ciência pós-materialista não rejeita as observações empíricas e de grande valor das conquistas científicas realizadas até agora. Ela busca expandir a capacidade humana de compreender melhor as maravilhas da natureza, e no processo redescobrir a importância da mente e do espírito como sendo parte da estrutura central do universo. O Pós-materialismo é inclusivo da matéria, que é vista como um componente básico do universo.

17. O paradigma pós-materialista tem implicações de longo alcance. Ele altera fundamentalmente a visão que temos de nós próprios, devolvendo-nos a nossa dignidade e poder, como seres humanos e como cientistas. Este paradigma promove valores positivos, como a compaixão, o respeito e a paz. Ao enfatizar uma ligação profunda entre nós e a natureza em geral, este paradigma pós-materialista também promove a consciência ambiental e a preservação da nossa biosfera. Além disso, não é novidade que, apesar de estar esquecido há 400 anos, uma compreensão transmaterial experienciada pode ser a pedra angular da saúde e bem-estar, como tem sido defendido e preservado em antigas práticas mente-corpo-espírito, tradições religiosas e abordagens contemplativas.

18. A mudança da ciência materialista para a ciência pós-materialista pode ser de importância vital para a evolução da civilização humana. Pode ser ainda mais crucial do que a transição entre o geocentrismo e o heliocentrismo.

Nós vos convidamos, cientistas do mundo, a ler o Manifesto por uma Ciência pós-materialista e a assiná-lo, se você quiser mostrar seu apoio (veja http://opensciences.org/).

* O Manifesto para uma ciência pós-materialista foi elaborado por Mario Beauregard, PhD (Universidade do Arizona), Gary E. Schwartz, PhD (Universidade do Arizona), e Lisa Miller, PhD (Universidade de Columbia), em colaboração com Larry Dossey, MD, Alexander Moreira-Almeida, MD, PhD, Marilyn Schlitz, PhD, Rupert Sheldrake, PhD, e Charles Tart, PhD.

**Contacto

Para mais informações, entre em contacto com o Dr. Mario Beauregard, Laboratório de Avanços na Consciência e Saúde, Departamento de Psicologia da Universidade do Arizona em Tucson, EUA.

Email: mariobeauregard@email.arizona.edu 




*** Tomámos em consideração duas maneiras de se referir ao paradigma emergente apresentado neste manifesto: a versão com hífen (pós-materialismo [post-materialism]) e a versão sem hífen (postmaterialism). A forma com hífen foi selecionada por uma questão de clareza, tanto para cientistas como para leigos.

**** O Resumo do Relatório da Cimeira Internacional sobre Ciência, Espiritualidade e Sociedade pós-materialista pode ser consultado aqui: Cimeira Internacional sobre o pós-materialista Ciência: Resumo Report (PDF).

Para se tornar um signatário do presente manifesto, por favor enviar e-mail ao Dr. Mario Beauregard com seu nome, grau académico, campos de estudo, título e instituição.


Para consultar a lista de autores do manifesto e a lista de cientistas que o subscrevem clique aqui e vá até ao final da página.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Manifesto para uma Ciência pós-materialista (1ª parte)

Recentemente circulou entre vários estudantes de Teosofia a notícia de que um grupo de cientistas de vanguarda tinha redigido um manifesto para uma ciência pós-materialista.

O manifesto foi da autoria de Mario Beauregard (PhD), Gary Schwartz (PhD) e Lisa Miller (PhD), em colaboração com Dr. Larry Dossey, Dr. Alexander Moreira-Almeida (PhD), Marilyn Schlitz (PhD) e dois investigadores mais conhecidos, Rupert Sheldrake (PhD) e Charles Tart (PhD).

Como já escrevi anteriormente, a Teosofia, embora reconheça as limitações da ciência moderna, tem nela um aliado poderoso para, à medida que aquela evolui, mais facilmente convencer a humanidade em geral das verdades da Sabedoria Eterna.


Foto de: http://www.quantumactivist.com
 
O novo paradigma que este corajoso grupo de cientistas propôs é por essa razão visto com entusiasmo pelo movimento teosófico, pelo menos, por aqueles que acompanham a evolução da ciência mais de perto.

Avancemos para a tradução, sendo que o link para o texto original está associado ao título abaixo.


Manifesto para uma ciência pós-materialista


Desde o seu nascimento, a ciência tem evoluído continuamente devido a uma razão fundamental: a acumulação de provas empíricas que não podem ser acomodadas por opiniões enraizadas. As alterações decorrentes têm sido muitas vezes insignificantes, mas nalguns casos foram titânicas, como por exemplo na revolução quântico-relativista das primeiras décadas do século XX.

Muitos cientistas acreditam que uma transição do género é presentemente necessária, porque o enfoque materialista que tem dominado a ciência na era moderna não pode explicar um conjunto crescente de descobertas empíricas no domínio da consciência e espiritualidade.

O seguinte manifesto para uma Ciência Pós-materialista escrito por um grupo de académicos e investigadores contemporâneos tenta visualizar como poderá uma perspetiva científica emergente.

Dr. Larry Dossey, Editor Executivo


Somos um grupo de cientistas de renome internacional, de uma variedade de campos científicos (biologia, neurociência, psicologia, medicina e psiquiatria), que participaram numa cimeira internacional sobre ciência pós-materialista, espiritualidade e sociedade. A cimeira foi coorganizada pelos doutorados Gary E. Schwartz, Mario Beauregard, da Universidade do Arizona e Lisa Miller, da Universidade de Columbia. Esta cimeira foi realizada no Canyon Ranch em Tucson, Arizona, entre 7 e 9 de fevereiro de 2014. O nosso objetivo foi discutir o impacto da ideologia materialista na ciência e a emergência de um paradigma pós-materialista para a ciência, espiritualidade e sociedade. 


Foto: Huffington Post (ver aqui o artigo publicado no Post
sobre o assunto)

Chegámos às seguintes conclusões:

1. A mundivisão científica moderna é predominantemente baseada em suposições que estão intimamente associadas com a física clássica. O materialismo - a ideia de que a matéria é a única realidade - é uma dessas suposições. Um pressuposto relacionado é o reducionismo, a noção de que as coisas complexas podem ser compreendidas, se as reduzirmos às interações das suas partes, ou às coisas mais simples ou mais fundamentais, tais como partículas materiais minúsculas.

2. Durante o século XIX, esses pressupostos estreitaram-se, transformaram-se em dogmas, e fundiram-se num sistema de crença ideológica que veio a ser conhecido como "materialismo científico". Este sistema de crença implica que a mente não é nada mais que a atividade física do cérebro e que os nossos pensamentos não podem ter qualquer efeito sobre os nossos cérebros e corpos, as nossas ações e no mundo físico.

3. A ideologia do materialismo científico tornou-se dominante no meio académico durante o século XX. De tal modo dominante, que a maioria dos cientistas começou a acreditar que ela estava baseada em evidências empíricas estabelecidas, e que representava a única visão racional do mundo.


Capa do livro de Charles Tart, um dos
cientistas que colaborou na redação do manifesto


4. Os métodos científicos baseados na filosofia materialista têm sido muito bem sucedidos, não só por aumentarem a nossa compreensão da natureza, mas também por trazerem maior controlo e liberdade através de avanços na tecnologia.

5. No entanto, o domínio quase absoluto do materialismo no mundo académico tem restringido seriamente as ciências e dificultado o desenvolvimento do estudo científico da mente e da espiritualidade. A fé nesta ideologia, como um quadro explicativo exclusivo para a realidade, obrigou os cientistas a negligenciar a dimensão subjetiva da experiência humana. Isto levou a uma compreensão extremamente distorcida e empobrecida de nós mesmos e do nosso lugar na natureza.

6. A ciência é antes de tudo um método não-dogmático e de mente aberta, de aquisição de conhecimento sobre a natureza através da observação, investigação experimental e explicação teórica de fenómenos. A sua metodologia não é sinónimo de materialismo e não deve estar comprometida com nenhuma forma particular de crenças, dogmas ou ideologias. 


Mario Beauregard
(foto:vancouversun.com)

7. No final do século XIX, os físicos descobriram fenómenos empíricos que não podiam ser explicados pela física clássica. Isto levou ao desenvolvimento, durante os anos 1920 e início dos anos 1930, de um revolucionário novo ramo da física chamado mecânica quântica (MQ). A MQ questionou as bases materiais do mundo, ao mostrar que os átomos e partículas subatómicas não são realmente objetos sólidos, pois não existem com certeza em localizações espaciais definidas e os tempos definidos. Mais importante ainda, a MQ explicitamente introduziu a mente na sua estrutura concetual básica, uma vez que se verificou que as partículas a serem observadas pelo observador - o físico e o método utilizado para a observação - estão ligados. De acordo com uma interpretação de MQ, este fenómeno implica que a consciência do observador é vital para a existência dos acontecimentos físicos que estão sendo observados, e que os acontecimentos mentais podem afetar o mundo físico. Os resultados das experiências recentes suportam esta interpretação. Estes resultados sugerem que o mundo físico não é mais o componente principal ou único da realidade, não podendo ser totalmente entendido, sem fazer referência à mente.

8. Estudos psicológicos têm demonstrado que a atividade mental consciente pode influenciar causalmente o comportamento e que o valor explicativo e preditivo dos fatores agênticos (por exemplo, crenças, objetivos, desejos e expetativas) é muito alto. Além disso, investigações em psiconeuroimunologia indicam que nossos pensamentos e emoções podem afetar significativamente a atividade dos sistemas fisiológicos (por exemplo, imunológico, endócrino, cardiovascular) conectados ao cérebro. Em outros aspetos, os estudos de neuroimagem de auto-regulação emocional, psicoterapia, e o efeito placebo demonstram que os episódios mentais influenciam significativamente a atividade do cérebro.

9. Os estudos dos chamados "fenômenos psi" indicam que às vezes podemos receber informações significativas sem o uso de sentidos comuns, e de formas que transcendem os constrangimentos habituais do espaço e do tempo. Além disso, a investigação psi demonstra que podemos influenciar a mentalmente – à distância –dispositivos físicos e organismos vivos (incluindo os seres humanos). A investigação psi também mostra que mentes distantes podem se comportar de modos que estão não-localmente correlacionadas, ou seja, hipoteticamente as correlações entre as mentes distantes não são mediadas (não estão ligados a qualquer sinal energético conhecido), não são mitigadas (não se degradam com o aumento da distância), mas são imediatas (parecem ser simultâneas). Estes episódios são tão comuns que não podem ser vistos como anómalos, nem como exceções às leis naturais, mas como indicações sobre a necessidade de um quadro explicativo mais amplo, que não pode ser ditado exclusivamente pelo materialismo.




No video anterior temos Rupert Sheldrake, outro dos cientistas que colaborou na redação do manifesto.

Os restantes 9 pontos serão apresentados na próxima semana.