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sábado, 3 de dezembro de 2016

Kali-Yuga: uma idade de crescimento ou de decadência espiritual? (5.ª parte)

Esta semana é publicada a 5.ª e penúltima parte do artigo de Barend Voorham sobre o Kali Yuga.

Continuando então a tradução...


Barend Voorham




Kali-Yuga como um ano de finalistas


É por essa razão que uma separação entre as pessoas tem lugar no Kali-Yuga.

Um grupo de pessoas com uma nova mentalidade emerge, enquanto outro grupo fica preso no passado. Este último grupo está ligado ao estatuto que tem e não está preparado para percorrer a linha ascendente. É uma mentalidade conservadora.

A nova mentalidade demonstra mais universalidade. Estas pessoas estão dispostas a pisar novos trilhos e desenvolvem novos poderes para fazê-lo.

Podemos comparar esta situação à de uma turma no seu último ano. Agora é a altura. Os alunos estudaram durante alguns anos, mas agora têm de prestar provas. A quantidade de trabalho de casa aumenta. Os testes, que não eram tão levados a sério nos primeiros anos e não pareciam muito importantes, são agora essenciais. Eles sobrecarregam o estado mental criando tensão. Alguns candidatos não conseguem lidar com essa tensão e voltam ao nível anterior. Devido à velocidade e pressão, um rápido declínio pode suceder. Espera-se que aproveitem melhor futuras oportunidades, que logo surgirão. Outras pessoas lidam melhor com a pressão e passam no exame. Então, novos desafios aguardam-nas, num nível superior. O Kali-Yuga é como o ano de finalistas. Os candidatos têm que se preparar gradualmente nos três Yugas anteriores, mas é esta idade que lhes dá a oportunidade de terminarem com sucesso os seus testes, para que possam avançar para a fase seguinte nas suas vidas.

Portanto, no Kali-Yuga o novo grande Mahâ-Yuga da nova raça-raiz começa. Contudo, uma nova raça não é exatamente a mesma coisa que o Mahâ-Yuga.


Períodos globais e raças-raiz

De acordo com a Theosophia, a evolução da humanidade tem lugar em sete grandes movimentos cíclicos, chamados de períodos globais. Em cada período global as pessoas têm a possibilidade de desenvolver um dos sete princípios de consciência (ver esquema dos “Sete Períodos Globais”). Por sua vez, cada um dos aspetos da consciência é também setenário. O pequeno imita o grande. 



Portanto, podemos por exemplo dividir novamente o aspeto do desejo em sete sub-aspetos. Também podemos subdividir cada período global em sete sub-períodos, que são chamados de raças-raiz no jargão teosófico (neste diagrama mostramos as sete raças-raiz no quarto período global).

Presentemente, a maior parte da humanidade está no quarto período global e na quinta raça-raiz. No quarto período global, o desejo (Kâma) está em desenvolvimento e, dado que estamos na quinta raça-raiz, o aspeto intelectual do desejo em particular desabrocha. Se olharmos para a mentalidade geral de hoje, também reconheceremos muito facilmente esta caraterística. Não vivemos num tempo no qual muitas pessoas tentam satisfazer o seus desejos através do intelecto? Não é este enorme desenvolvimento de tecnologia atribuível a isto?

A meio de cada raça-raiz – quando a raça raiz está no seu Kali-Yuga – a raça seguinte vem à existência: veja-se a figura abaixo.

Contudo, essa nova raça não aparece de um momento para o outro. Muda a noite imediatamente para o dia, ou há um crepúsculo? Da mesma forma, a nova raça vem gradualmente à existência. À medida que os milénios passam, vai gradualmente aumentar a sua influência e tornar-se-á o fator dominante no planeta.


A transição de uma raça-raiz para outra

Vamos ilustrar isto com a transição da quarta para a quinta – a atual raça-raiz.

A quinta raça-raiz surgiu no ápice da quarta raça-raiz, a que – usando uma designação moderna – se chama de Atlante e viveu na Atlântida, que foi mencionada por Platão em dois dos seus diálogos. Naquele tempo, e muito mais do que hoje, fizemos do aspeto do desejo o poder dominante nas nossas vidas. Era a época em que a humanidade estava mais afundada na matéria e dependia do poder do desejo de modo mais acentuado do que hoje. O desejo é a ponte entre os aspetos espirituais e os mais materiais. Sempre que se está na quarta fase – quer seja o ciclo grande ou pequeno – existe um ponto de viragem.

O poder do desejo, primeiro dirigido à matéria, inclina-se para os aspetos espirituais. Isto significa que durante a fase da Atlântida algumas pessoas começaram a ter outra mentalidade diferente da habitual. Sem dúvida que eram consideradas esquisitas a princípio. Eram pessoas estranhas, que se afastavam do padrão geral. Eram pessoas que tinham desenvolvido mais o aspeto intelectual da sua consciência e portanto identificavam-se menos com o desejo puro.

A certa altura, estas pessoas começaram a formar uma comunidade. Isto não significa que se reuniram numa espécie de clube, mas que seguiram orientações semelhantes, demonstrando formas de pensar semelhantes.

 De facto, cada mudança na mentalidade começa com um ser humano, ou com um pequeno grupo de pessoas. Alguém vive de acordo com um certo conceito, uma certa ideia. As pessoas são atraídas e desenvolvem a mesma mentalidade. Ao início, esse pequeno grupo afasta-se da grande maioria. Contudo, o seu número aumenta e a certa altura estas pessoas são tão numerosas como aquelas que ainda não vivem de acordo com esta nova ideia. Portanto, durante um certo tempo existem duas mentalidades diferentes, uma ao lado da outra.

Os ciclos entrecruzam-se. Podemos ver isso em todo o lado. Não é como se o ciclo terminasse completamente e logo outro se iniciasse imediatamente. Da mesma forma uma nova geração não toma o lugar de outra quando esta desaparece. Habitualmente, um casal tem filhos quando está entre os vinte e os quarenta anos de idade, ou seja, quando estão a meio do seu ciclo de vida. Apenas quando a velha geração tem cinquenta, sessenta ou ainda mais anos, é que a nova geração tornar-se-á o fator decisivo no mundo. Portanto, durante muito tempo duas ou mais gerações coexistirão e viverão em conjunto. Aprendem uma com a outra através de interação contínua. O mesmo acontece em ponto grande. Quando os Atlantes estava no ápice da sua civilização – no seu Kali-Yuga – e quando quase toda a humanidade estava nessa fase de desenvolvimento, as primeiras pessoas da seguinte subfase – a quinta – na qual hoje vivemos, surgiram. A meio de uma raça raça-raiz, a outra aparece.


Esse número de pessoas também cresce, e por fim, as sementes da nova e quinta humanidade ficaram isoladas geograficamente. Agora há uma raça-raiz sui generis. Cria a sua comunidade com o seu próprio Swabhâva, a sua caraterística individual. Entretanto, a antiga humanidade termina o seu caminho em números cada vez mais pequenos e separa-se da nova humanidade. A separação destas duas humanidades anda de mão em mão com as alterações geográficas, dado que estes processos estão relacionados de modo muito próximo com a vida da própria Terra, que também muda interna e externamente. Portanto, as antigas massas de terra afundam e novas emergem. 

Continua na próxima semana.

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