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sábado, 31 de dezembro de 2016

O último post

Após pouco mais de cinco anos e 213 posts decidi pôr um termo ao Lua em Escorpião.

Esta decisão foi tomada face às perspetivas futuras de menos tempo disponível, o que tornaria a atualização do blogue em mais uma obrigação e em mais um motivo de stresse.

No início, o Lua em Escorpião não tinha uma especial orientação. Os primeiros posts são a imagem disso: a textos sobre Teosofia, sucederam-se textos sobre Astrologia, até que a certa altura o blogue tomou um rumo. Esse rumo foi o de se constituir como veículo de textos valiosos, das diferentes tradições teosóficas. 

Nesse sentido, o Lua em Escorpião foi um projeto singular em língua portuguesa. Obteve uma popularidade assinalável, particularmente em terras de Vera Cruz.

No início contou com a breve colaboração da Luísa Garcês de Lima e a certa altura do Ivan Silvestre.

Havia planos futuros para traduções de mais textos e algumas autorizações já tinham até sido concedidas.

Não ponho de lado a hipótese de o blogue ser retomado no futuro.

Em dia de despedida, deixo aqui uma das últimas traduções que fiz e que poderá ser útil para a prática dos preceitos teosóficos.

Devidamente autorizado pelos teósofos do philaletehains.co.uk, traduzi este texto para língua portuguesa.

Tenho esta folha no meu local de trabalho e também em casa. É um ótimo auxiliar em certas alturas e ajuda a relembrar o que é realmente importante.

O philaletheians.co.uk é uma página de internet com imensa e valiosa informação. O principal dinamizador deste grupo é Chris Bartzokas, um médico já retirado de origem grega e que pertence(u?) à Loja Unida de Teosofistas.

A partilha desta folha intitulada “Os verdadeiros teósofos” é uma bela maneira de encerrar este blogue.

A todos os que acompanharam o Lua em Escorpião ao longo dos últimos cinco anos, o meu muito obrigado.



sábado, 10 de dezembro de 2016

Kali-Yuga: uma idade de crescimento ou de decadência espiritual? (6.ª e última parte)

Terminamos hoje a tradução do artigo de Barend Voorham sobre o Kali Yuga. 

Naturalmente, a leitura das partes anteriores é imperativa.


A raça-raiz e o Mahâ-Yuga

Uma raça-raiz não é exatamente o mesmo que os Hindus designam por Mahâ-Yuga. Dado que mal a nova humanidade é formada, age como um grupo independente e separado e torna-se o poder dominante na Terra, ainda existirão pessoas com a velha mentalidade da quarta raça-raiz durante milhões de anos, até que a quinta raça-raiz atinja o seu Kali-Yuga e as primeiras pessoas da sexta raça-raiz se comecem a desenvolver. Só aí as pessoas da quarta raça irão desaparecer.

Elas desaparecem porque os corpos já não são adequados para a consciência expandida. O mesmo acontece com as roupas. Quando somos adolescentes, com treze ou catorze anos, já não conseguimos vestir as roupas da nossa infância. Esse tempo passou e essas roupas não mais são fabricadas, enquanto as roupas que estão à venda nas lojas são cada vez mais compradas.

Dito por outras palavras: toda a humanidade gradualmente incarna em novos veículos, os novos corpos da quinta raça-raiz. Isso aconteceu porque a mentalidade mudou, mas não acontece ao mesmo tempo para todos. Cada homem ou cada grupo tem o seu próprio andamento e determina o seu processo de desenvolvimento.

Existem líderes e retardatários. É por isso que existe sempre uma diferença no desenvolvimento entre as pessoas.


Líderes e retardatários

Levanta-se a questão de como é que são possíveis tantas diferenças individuais, enquanto as leis cósmicas ainda determinam os ciclos na Terra. Podemos comparar a totalidade da humanidade a um grupo de corredores; alguns vão à frente, existe um grande número a meio e finalmente há também os retardatários. Os líderes são já capazes de avançar para a fase seguinte da maratona (que aqui significa a quinta raça-raiz), enquanto a grande maioria não chegou ainda a essa fase.

Também podemos muito bem comparar a humanidade com uma turma de alunos. Para cada um ano letivo, existe um currículo definido. A partir de outubro aborda-se as frações, de fevereiro em diante as raízes quadradas e assim sucessivamente. Contudo, um aluno mais rápido pode já ter começado com as raízes quadradas em janeiro, enquanto outros não estão preparados para isso ainda em março. Ora, quando a determinada altura a maior parte dos alunos estão prontos para somas complicadas e é-lhes permitido usar as calculadoras, isso também terá influência nos alunos que não estejam ainda preparados para isso.

Embora as diferentes idades também apresentem o seu próprio “material de aprendizagem”, cada um determina a sua própria jornada evolutiva. A evolução da humanidade não é um processo automático, que acontece ao mesmo ritmo para todos. O indivíduo determina sempre se ele faz uso das possibilidades que se lhe apresentam. À medida que mais pessoas escolhem novas possibilidades, a certa altura a escala sobe para uma nova fase de evolução.

Então, dizemos que a humanidade está na quinta raça-raiz, porque essa nova mentalidade tornou-se o fator decisivo. Entretanto, metade da humanidade está ainda na quarta raça. Os contactos entre ambos os povos subsistem. Na verdade, a interação entre as culturas resulta em importantes lições de vida e cria uma forte atração em direção a uma nova fase evolutiva. De facto, as novas possibilidades, que a nova raça traz com ela, também têm a sua influência nos retardatários, tal como os melhores alunos de um determinado ano também influenciam os outros alunos.

No antigo épico da Índia, o Râmâyana, existem alusões a estas duas humanidades que existiram lado a lado e que a certa altura estiveram em guerra uma com a outra. De um lado, estavam Râma e os seus amigos, símbolo da nova humanidade, a quinta subfase, e do outro lado estavam os Râkshasas, liderados por Râvana, também apresentados como demónios ou gigantes. Eles representam os Atlantes, e em particular as gerações degeneradas.


Depois do Kali-Yuga

Viver no Kali-Yuga é viver dentro de uma panela de pressão. No final, a alta pressão resulta no isolamento geográfico das sementes de uma nova humanidade, enquanto a velha humanidade termina o seu percurso em números progressivamente decrescentes.

Esta nova humanidade, sendo de início uma pequena minoria está então no seu Satya-Yuga: a idade de ouro e pacífica, na qual tudo acontece quatro vezes mais devagar que no Kali-Yuga. Entretanto, milhões de pessoas estão ainda na fase antiga. A pouco e pouco, mais pessoas fluem para uma nova fase, pois embora nos influenciemos mutuamente, a evolução é sempre um processo individual.

Então, vem o momento no qual uma separação definitiva entre os dois tipos de humanidade tem lugar e que acontece em simultâneo com a alteração geográfica. Durante a transição da quarta para a quinta raça-raiz foi a água que transformou a superfície da terra; durante a transição da quinta para a sexta raça-raiz será principalmente o fogo, através dos vulcões e dos terremotos.

Embora só tenham passado 5.000 dos 432.000 anos que tem a totalidade do Kali Yuga, na Europa grandes alterações irão começar depois de cerca de 16.000 anos, de acordo com a Theosophia. Seguramente a separação não acontecerá de um dia para outro; acontecerá durante séculos. No final, grandes partes da superfície, entre outras, na Europa Ocidental, irão afundar, enquanto novas terras irão emergir.


Kali-Yuga: expetativa, esperança, desafio e progresso

Em todos estes processos, nunca deveremos esquecer que nós próprios somos aqueles que atravessamos estas fases. Nós próprios passamos de um estado autoinconsciente para um estado cada vez mais autoconsciente. Em todo este processo, o Kali-Yuga é indispensável. Esta nova sexta raça será de uma natureza mais nobre do que na fase em que estamos de momento. A sociedade será muito mais baseada na compreensão e na compaixão.

De modo a chegar a este estado mais evoluído espiritualmente temos de atravessar o Kali-Yuga. Separamos o ouro do ferro com o calor. A pressão tem que aumentar de modo a se atingir o espiritual.


Portanto, a nossa presente Era não precisa de ser uma Idade negra, pelo contrário, deve ser de expetativa, esperança, desafio e progresso. Somos capazes de escrever história. As oportunidades para crescimento, para dar impulsos espirituais aos nossos semelhantes, nunca foram tão grandes como agora. Só precisamos de fazer uso delas.

FIM

sábado, 3 de dezembro de 2016

Kali-Yuga: uma idade de crescimento ou de decadência espiritual? (5.ª parte)

Esta semana é publicada a 5.ª e penúltima parte do artigo de Barend Voorham sobre o Kali Yuga.

Continuando então a tradução...


Barend Voorham




Kali-Yuga como um ano de finalistas


É por essa razão que uma separação entre as pessoas tem lugar no Kali-Yuga.

Um grupo de pessoas com uma nova mentalidade emerge, enquanto outro grupo fica preso no passado. Este último grupo está ligado ao estatuto que tem e não está preparado para percorrer a linha ascendente. É uma mentalidade conservadora.

A nova mentalidade demonstra mais universalidade. Estas pessoas estão dispostas a pisar novos trilhos e desenvolvem novos poderes para fazê-lo.

Podemos comparar esta situação à de uma turma no seu último ano. Agora é a altura. Os alunos estudaram durante alguns anos, mas agora têm de prestar provas. A quantidade de trabalho de casa aumenta. Os testes, que não eram tão levados a sério nos primeiros anos e não pareciam muito importantes, são agora essenciais. Eles sobrecarregam o estado mental criando tensão. Alguns candidatos não conseguem lidar com essa tensão e voltam ao nível anterior. Devido à velocidade e pressão, um rápido declínio pode suceder. Espera-se que aproveitem melhor futuras oportunidades, que logo surgirão. Outras pessoas lidam melhor com a pressão e passam no exame. Então, novos desafios aguardam-nas, num nível superior. O Kali-Yuga é como o ano de finalistas. Os candidatos têm que se preparar gradualmente nos três Yugas anteriores, mas é esta idade que lhes dá a oportunidade de terminarem com sucesso os seus testes, para que possam avançar para a fase seguinte nas suas vidas.

Portanto, no Kali-Yuga o novo grande Mahâ-Yuga da nova raça-raiz começa. Contudo, uma nova raça não é exatamente a mesma coisa que o Mahâ-Yuga.


Períodos globais e raças-raiz

De acordo com a Theosophia, a evolução da humanidade tem lugar em sete grandes movimentos cíclicos, chamados de períodos globais. Em cada período global as pessoas têm a possibilidade de desenvolver um dos sete princípios de consciência (ver esquema dos “Sete Períodos Globais”). Por sua vez, cada um dos aspetos da consciência é também setenário. O pequeno imita o grande. 



Portanto, podemos por exemplo dividir novamente o aspeto do desejo em sete sub-aspetos. Também podemos subdividir cada período global em sete sub-períodos, que são chamados de raças-raiz no jargão teosófico (neste diagrama mostramos as sete raças-raiz no quarto período global).

Presentemente, a maior parte da humanidade está no quarto período global e na quinta raça-raiz. No quarto período global, o desejo (Kâma) está em desenvolvimento e, dado que estamos na quinta raça-raiz, o aspeto intelectual do desejo em particular desabrocha. Se olharmos para a mentalidade geral de hoje, também reconheceremos muito facilmente esta caraterística. Não vivemos num tempo no qual muitas pessoas tentam satisfazer o seus desejos através do intelecto? Não é este enorme desenvolvimento de tecnologia atribuível a isto?

A meio de cada raça-raiz – quando a raça raiz está no seu Kali-Yuga – a raça seguinte vem à existência: veja-se a figura abaixo.

Contudo, essa nova raça não aparece de um momento para o outro. Muda a noite imediatamente para o dia, ou há um crepúsculo? Da mesma forma, a nova raça vem gradualmente à existência. À medida que os milénios passam, vai gradualmente aumentar a sua influência e tornar-se-á o fator dominante no planeta.


A transição de uma raça-raiz para outra

Vamos ilustrar isto com a transição da quarta para a quinta – a atual raça-raiz.

A quinta raça-raiz surgiu no ápice da quarta raça-raiz, a que – usando uma designação moderna – se chama de Atlante e viveu na Atlântida, que foi mencionada por Platão em dois dos seus diálogos. Naquele tempo, e muito mais do que hoje, fizemos do aspeto do desejo o poder dominante nas nossas vidas. Era a época em que a humanidade estava mais afundada na matéria e dependia do poder do desejo de modo mais acentuado do que hoje. O desejo é a ponte entre os aspetos espirituais e os mais materiais. Sempre que se está na quarta fase – quer seja o ciclo grande ou pequeno – existe um ponto de viragem.

O poder do desejo, primeiro dirigido à matéria, inclina-se para os aspetos espirituais. Isto significa que durante a fase da Atlântida algumas pessoas começaram a ter outra mentalidade diferente da habitual. Sem dúvida que eram consideradas esquisitas a princípio. Eram pessoas estranhas, que se afastavam do padrão geral. Eram pessoas que tinham desenvolvido mais o aspeto intelectual da sua consciência e portanto identificavam-se menos com o desejo puro.

A certa altura, estas pessoas começaram a formar uma comunidade. Isto não significa que se reuniram numa espécie de clube, mas que seguiram orientações semelhantes, demonstrando formas de pensar semelhantes.

 De facto, cada mudança na mentalidade começa com um ser humano, ou com um pequeno grupo de pessoas. Alguém vive de acordo com um certo conceito, uma certa ideia. As pessoas são atraídas e desenvolvem a mesma mentalidade. Ao início, esse pequeno grupo afasta-se da grande maioria. Contudo, o seu número aumenta e a certa altura estas pessoas são tão numerosas como aquelas que ainda não vivem de acordo com esta nova ideia. Portanto, durante um certo tempo existem duas mentalidades diferentes, uma ao lado da outra.

Os ciclos entrecruzam-se. Podemos ver isso em todo o lado. Não é como se o ciclo terminasse completamente e logo outro se iniciasse imediatamente. Da mesma forma uma nova geração não toma o lugar de outra quando esta desaparece. Habitualmente, um casal tem filhos quando está entre os vinte e os quarenta anos de idade, ou seja, quando estão a meio do seu ciclo de vida. Apenas quando a velha geração tem cinquenta, sessenta ou ainda mais anos, é que a nova geração tornar-se-á o fator decisivo no mundo. Portanto, durante muito tempo duas ou mais gerações coexistirão e viverão em conjunto. Aprendem uma com a outra através de interação contínua. O mesmo acontece em ponto grande. Quando os Atlantes estava no ápice da sua civilização – no seu Kali-Yuga – e quando quase toda a humanidade estava nessa fase de desenvolvimento, as primeiras pessoas da seguinte subfase – a quinta – na qual hoje vivemos, surgiram. A meio de uma raça raça-raiz, a outra aparece.


Esse número de pessoas também cresce, e por fim, as sementes da nova e quinta humanidade ficaram isoladas geograficamente. Agora há uma raça-raiz sui generis. Cria a sua comunidade com o seu próprio Swabhâva, a sua caraterística individual. Entretanto, a antiga humanidade termina o seu caminho em números cada vez mais pequenos e separa-se da nova humanidade. A separação destas duas humanidades anda de mão em mão com as alterações geográficas, dado que estes processos estão relacionados de modo muito próximo com a vida da própria Terra, que também muda interna e externamente. Portanto, as antigas massas de terra afundam e novas emergem. 

Continua na próxima semana.