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sábado, 29 de junho de 2013

É a minha Blavatsky melhor do que a tua? (2ª parte)


A semana passada demos início à tradução do editorial da responsabilidade de Jan Kind, o editor do site Theosophy Forward. Este teosofista analisa criticamente algumas posições mais veementes contra a publicação do livro “As Cartas de H.P. Blavatsky” (volume I).

A leitura da primeira parte, especialmente da introdução, é fundamental para entender o contexto do que se segue.

Continuando então, com a tradução do texto de Kind:

"Pois bem, aqui têm, não há lugar a dúvidas. Na edição de janeiro de 2013 do “Aquarian Theosophist”, o editor, usando a sua reconhecida prosa, perseguiu John Algeo de um modo que certamente não agradaria a HPB.

John Algeo (n. 1930)

As críticas de que algumas cartas incluídas na compilação de John Algeo, “The Letters of H.P. Blavatsky” [As Cartas de H.P. Blavatsky], não deveriam ter sido publicadas nesse livro, ou deveriam ter uma introdução mais clara, são legítimas. Mas elas foram-no, e temos de conviver com os factos; nós podemos contudo, claramente aprender com esta situação. Existia um consenso na altura entre os editores desse livro, que esta publicação iria requerer alguma inteligência também da parte do leitor. Há cinco anos, numa entrevista com Katinka Hesselink, John Algeo, respondendo ao assunto, comentou-o da seguinte forma:

PERGUNTA:
2. Houve uma grande tempestade à volta da publicação de “The Letters of H.P. Blavatsky”, em que você e a sua mulher tanto trabalharam para criar. Esperava a tempestade e como pode explicar aos meus leitores no que consistiu essa tempestade?

RESPOSTA:
O primeiro volume das Cartas de HPB precisava, por várias razões, de sair rapidamente. Consequentemente, tem várias falhas, a maior parte das quais nem foram alvo de comentário, mas temos plena consciência delas. Estamos trabalhando agora de modo mais lento e cuidadoso no volume II e esperamos que fique melhor. Por exemplo, teremos mais cuidado em comentar assuntos que poderão incomodar alguns leitores. Contudo, adotámos os seguintes princípios básicos nesta edição: vamos incluir todas as cartas que foram com razoabilidade atribuídas a HPB, mesmo aquelas que alguns teosofistas rejeitam porque não são consistentes com a sua perspetiva dela. De HPB, poderíamos dizer o que Walt Whitman disse dele próprio em “Song of Myself”. “Contradigo-me?/Pois bem, contradigo-me/ (Eu sou extenso, contenho multiplicidades).



HPB era demasiado grande para se encaixar nas estreitas categorias, que nós, seus admiradores, imaginamos que ela ocupa. A inclusão de uma carta no volume não é uma declaração de que acreditamos que a mesma é genuinamente dela, mas antes, de que foi com razoabilidade atribuída a ela. A maior parte das cartas que sobreviveram não são cópias autografadas (ou seja, com a sua própria caligrafia), mas ao invés são transcrições feitas por outros e muitas vezes “melhoradas” ou então alteradas por quem as transcreveu. É impossível asseverar a autenticidade dos textos da maior parte das cópias de cartas que sobreviveram. O nosso objetivo foi e será o de incluir os textos mais antigos e autênticos que podemos encontrar de todas as cartas que temos, que com algum grau de fundamento, foram atribuídas a HPB. Os leitores são livres de decidir por eles próprios quais as genuínas e quanto de uma determinada carta foi realmente escrito por ela. Nós vamos porém, tentar fornecer aos leitores tanta ajuda quanto possível ao tomar essa decisão. Mas essas decisões irão muitas vezes depender de um pré-julgamento de cada leitor sobre o que é ou não característico de Blavatsky. Como diz o velho ditado, “de gustibus non disputandum est”, isto é, gostos não se discutem, e portanto a decisão cabe a cada um.

PERGUNTA:
3. Teria gerido as coisas de modo diferente se soubesse as reservas que as pessoas iriam ter com a publicação?

RESPOSTA:
Teríamos incluído mais admonições, mas não teríamos alterado os princípios em que a edição se baseia, que estou em crer ser a única base honesta para fazer uma edição do género.


Não há necessidade de mais comentários. Que fique claro: poderia ter sido feito melhor, mas devido às circunstâncias, o livro em que John e a sua esposa Adele trabalharam tão duramente tornou-se perfeitamente numa “imperfeita” publicação. Para os comentadores e editores seria mais do que suficiente avisar os futuros leitores em serem cuidadosos na leitura deste livro. Não há necessidade de qualquer género de “sabichões” ou proclamadores virem a terreiro emitir ultimatos patéticos e atirar lama àquelas que pessoas que ganharam o apreço e o respeito de milhares por todo o mundo.

Trabalhadores resolutos para a causa teosófica são referidos como “amadores e eticamente ingénuos”, mas de quem é que eles estarão a falar?

John Algeo é um bom homem, um trabalhador incansável, sempre dedicado à causa. Ele tem a capacidade, única, de admitir um erro e de compensá-lo. Agora, na casa dos oitenta anos, depois de ter perdido a sua Adele e de ser confrontado com a deterioração do seu estado de saúde, continua a trabalhar pela Teosofia o melhor que pode. Nos seus oitenta e tal anos desta encarnação ele tem feito muito de bom e, SIM, cometeu erros, mas quem os não comete…?

O seu respeito e amor por H.P. Blavatsky e os seus escritos são indiscutíveis. Há cerca de treze anos, vi-o efetivamente a trabalhar nos arquivos de Adyar com Adele, reunindo material para o livro. A intenção e a dedicação são o que conta. Vê-los trabalhar tanto juntos, foi e ainda é, um exemplo inspirador para mim.
Nós podemos abordar HPB do nosso ponto de vista, a partir da nossa própria tradição. Algumas vezes é evidente que existem grandes diferenças, mas não é isso ótimo? Não seria terrivelmente aborrecido concordar em tudo?

Helena P. Blavatsky


Então podemos nos perguntar: “É a minha Blavatsky melhor do que a tua?” Temos de chegar a este ponto? É a Blavatsky de John Algeo, Radha Burnier [NT: presidente da ST Adyar] ou de qualquer editor melhor que a Blavatsky de outra pessoa? Claro que não. Vamos finalmente nos mentalizar de que o nosso lar teosófico é grande o suficiente para todos nós, e que em vez de nos perseguirmos uns aos outros, deveríamos realmente e por fim, aprender a nos ouvir uns aos outros, para beneficiarmos o nosso planeta. Este é apenas um exemplo de como fazê-lo:

Clique aqui:”

Assim termina o texto de Jan Kind.

Já depois da publicação deste editorial, Daniel Caldwell mencionou no theos-talk uma carta de Geoffrey Farthing onde este reputado teosofista, pouco tempo antes de falecer falava favoravelmente das Cartas editadas por John Algeo. Do outro lado da barricada, estas alegações foram prontamente repudiadas...

sábado, 22 de junho de 2013

É a minha Blavatsky melhor do que a tua? (1ª parte)


As diferenças de opinião têm sido frequentes no meio teosófico. Quando extremadas, por vezes dão lugar a tomadas de posição mais duras, que são o rastilho para acesas discussões. Esse tipo de situações, é às vezes pouco compreendida por alguns teosofistas e especialmente por quem olha de fora e vê que o primeiro objeto da Sociedade Teosófica é o altruísmo. Com certeza ficam a pensar que os teosofistas têm dificuldades de passar da teoria à prática. Mas essa realmente acaba por ser uma maneira muito simplista de ver as coisas.

O texto desta semana é a primeira de duas partes de um editorial de Jan Kind, divulgado em março passado. Ela aborda uma das grandes controvérsias no meio teosófico já deste século, a edição de um livro sobre as cartas de H.P. Blavatsky (o primeiro volume dos quatro que foram planeados). Nesta obra foram colocadas cartas espúrias, falsamente atribuídas à “Velha Senhora”. Em relação a esse facto não há dúvidas. A edição desta obra já tinha passado por várias mãos, começando por Boris de Zirkoff (que viria a falecer quando começou a trabalhar nas cartas), passou para o australiano John Cooper (que alguns anos depois de receber essa empreitada viria a falecer subitamente), acabando nas mãos de John Algeo, que trabalhou intensamente no projeto conjuntamente com a sua esposa Adele, que entretanto faleceria já depois do livro ter saído. Parece mesmo uma maldição.

Boris de Zirkoff (1902-1981)

Apesar do livro já ter saído em 2003, a inclusão de cartas falsas no mesmo sem o devido aviso é um tema reavivado de vez em quando, como sucedeu na edição de janeiro de 2013 do “Aquarian Theosophist”, de um modo que não agradou ao editor do Theosophy Forward, o holandês Jan Kind. A revista Biosofia em 2004, no seu número 23, já havia publicado um texto muito crítico para a edição das cartas, precedido de um outro no número anterior que está também disponível online.

Jan Kind

Na internet é muito fácil aprofundar o tema. O fórum de discussão theos-talk está cheio de mensagens sobre o assunto, como por exemplo esta.

Ao ler o texto do Aquarian e o editorial de Jan Kind, ficamos informados da posição de cada um deles e esse choque de opiniões é importante para podermos fazer a síntese sobre o assunto em questão.

As questões que suscitam são: há limites para denunciar uma determinada situação? Onde é traçada a linha que separa a denúncia da ofensa? É legítimo perseguir alguém durante anos por um erro cometido? Esse erro foi produto de descuido ou propositado? A edição de modo académico de uma obra significa que se devam incluir cartas que são consideradas de forma generalizada como espúrias, só para dar uma imagem de imparcialidade? Há efetivamente um complot de alguns teosofistas para denegrir H.P. Blavatsky?

Refira-se ainda que John Algeo foi candidato às controversas eleições da Sociedade Teosófica de Adyar em 2008, ganhas pela Presidente em exercício desde 1980, a Srª Radha Burnier.

John Algeo

Segue-se a tradução do editorial de Jan Kind:

“Parece que dentro dos nossos círculos, elementos da linha dura estão ainda tentando provar que inventaram a roda. Alguns dividiram o panorama teosófico entre aqueles que sabem e aqueles que mentem. Existem aqueles que estão exclusivamente ligados à verdade, qualquer que seja essa verdade, e aqueles que andarão sempre desligados.

Numa das redes sociais da internet, os participantes estão constantemente a ser tratados de forma paternalista e expostos cruamente por um moderador que aparentemente se auto-designou como a consciência da Sociedade Teosófica de Adyar, enquanto noutro lado alguns autores e editores de websites têm a tendência de proclamar o que lhes apetece. Os seus artigos e editoriais estão cheios de verbos modelo como “dever”, “ser preciso” e “ter de”. Eles apresentam-se como os bons pastores guardando o seu rebanho.

É como se os fariseus tivessem falando connosco novamente. Nós recebemos instruções sobre o que é certo ou errado e tudo sob a bandeira de aprovação de H.P. Blavatsky. Mas quem dá essa aprovação? É a própria H.P.B, ou alguns que se consideram habilitados para falar em seu nome?

Tendo estudado esse maravilhoso fenómeno russo por muitos anos, inclino-me a pensar que ela aprovaria um maior desenvolvimento do que trouxe ao nosso mundo. Ela veio com a sua própria mensagem singular e deu-nos a oportunidade para pensar e perceber aquilo que ela nos legou. Eu não acredito por um momento que ela quisesse ser a “mensageira suprema”, e esse não foi com certeza o seu ponto de partida.

Alguns acreditam que representam a sua singularidade e esplendor, ao afirmarem que aqueles que podem ter pontos de vista ou interpretações ligeiramente diferentes não são mais que falsificadores ou até conspiradores, com um único objetivo: destruir tudo o que a Teosofia representa. Onde está a tolerância e a abertura que tão claramente defendeu a própria HPB?

Helena Blavatsky (1831-1891)


Numa recente publicação na internet, John Algeo foi uma vez mais atacado e caluniado como se fosse a pior escória deste planeta. O que escreveu a própria HPB sobre tais ataques?

“É a denúncia um dever?

[Lucifer, Vol.III, N.16, Dezembro de 1888, p. 265-73]

Não condenem ninguém na sua ausência, e quando for necessário reprovar alguém, façam-no na sua presença, mas de forma gentil e com palavras cheias de caridade e compaixão, pois o coração humano é como a planta Kusuli: o seu cálice abre-se com o doce orvalho matinal e fecha-se antes de uma grande chuvada.”

“De facto, o dever de defender um companheiro vítima de uma língua venenosa durante a sua ausência, e se abster, em geral, de “condenar outros” é a própria vida e alma da Teosofia prática, pois tal ação é a serviçal que nos conduz até o caminho da “vida superior”, aquela vida que nos conduz ao objetivo que todos almejamos atingir.”

Continua na próxima semana.

sábado, 15 de junho de 2013

Râja e Hatha Ioga (5ª parte)


Com esta 5ª parte, termina a tradução do texto "Râja and Hatha Yoga", da autoria de Barend Voorham, publicado na primeira edição em inglês da revista Lucífer, editada pela Theosophical Society Point Loma-Blavatsky House.

Os efeitos do Hatha Ioga

No início, o Hatha Ioga pode trazer ao praticante algum tipo de paz mental. Alguns pensamentos que torturam o Ego Pessoal não são mais percecionados porque a “corrente descendente” está fechada.

O Hatha Ioga não é isento de risco, especialmente quando se pratica os exercícios obsessivamente e quando a motivação é adquirir poderes psíquicos. Todo o “sistema energético” entre os egos inferiores e superiores pode ser perturbado, resultando em todo o tipo de problemas mentais e emocionais. Pode ocorrer instabilidade emocional. O Hatha-iogue tornar-se-á demasiado sensível a muitas e diversas influências e ficará incapaz de controlar os seus pensamentos.

Doenças físicas como a tuberculose pode também ser um resultado desta prática.

Finalmente – e estas são as piores consequências – todo o tipo de problemas psicológicos podem-se manifestar; em caso extremos, perturbações psiquiátricas graves.

Da perspetiva que o homem é um ser composto, isto pode ser facilmente explicado. Os exercícios de controlo respiratório perturbam os processos normais e naturais. As partes inferiores da entidade composta tornam-se mais sensíveis às influências astrais e instintivas, que são originadas a partir do Ego Animal e Pessoal. A “antena”, por assim dizer, está afinada para os reinos astrais inferiores, o que permite a todo o tipo de influências astrais entrarem sem controlo. Isto cria perturbações nos processos psíquicos e também pode causar perturbações astrais na mente inferior.

Isso explica porque estes exercícios são perigosos para a saúde física e mental.

Pode-se argumentar que os resultados do Hatha Ioga apenas diferem apenas um pouco do uso de álcool e drogas. Ambos bloqueiam alguns aspetos das correntes de consciência fluindo dos egos superiores para os inferiores, enquanto por outro lado as portas para os egos inferiores, especialmente do Ego Animal, ficam abertas de um modo incontrolado. Quando o Hatha Ioga conduz a um comportamento predominantemente passivo, é mais que provável que os fluxos vitais estejam bloqueados: eles não conseguem mais se manifestar. Quando todo o tipo de novos “sentimentos” surge, provavelmente uma restrição natural foi levantada. De facto, esses sentimentos e impressões não são novos. Eles já existiam no plano de consciência animal, mas estavam ocultos ou mantidos sob controlo pelo Ego Pessoal.

Em alguns casos as pessoas podem adquirir alguns poderes, que se designam agora por paranormais, pela prática do Hatha Ioga e de um estilo de vida físico estrito e ascético. Isto é provocado por uma sensibilidade crescente dos Egos Animal e Pessoal, que subsequentemente são abertos para receber certas influências.

Para garantir que estas influências são puras e espirituais, a mente deve ser impessoal e altruísta, com uma visão universal e uma motivação compassiva.

Se não for esse o caso, o Hatha-iogue irá desenvolver apenas um poder limitado de penetrar conscientemente no plano astral com uma eficácia limitada. Não obstante possam estes poderes parecer interessantes, eles são transitórios e desaparecem com a morte.

Considerando os perigos envolvidos, podemos reconsiderar se aspirar a estes poderes é uma atividade que valha a pena.

Hatha Ioga: um remédio em casos raros

Podemos nos perguntar porque o Hatha Ioga cresceu de forma tão popular apesar dos sérios perigos envolvidos. Quer no Ocidente, quer na Índia, o número de pessoas praticando Hatha Ioga ultrapassa de longe os que praticam Râja Ioga. Existem também escolas que afirmam ensinar Râja Ioga, mas na verdade elas apenas praticam uma variante de Hatha Ioga.

Uma explicação pode ser o facto das pessoas presentemente serem mais atraídas pelos fenómenos sensacionais e procurarem a excitação e alegria, em detrimento de seguirem de forma séria os preceitos éticos e senso comum que são parte do sistema Râja Ioga. As pessoas querem resultados rápidos, embora seja uma ilusão pensar que através de um truque de magia, a consciência pode ser expandida. Esta ideia vem dos anos 60 do último século, e embora se tenha provado errada muitas vezes, as pessoas ainda acreditam nisso.

Isto conduz à questão de como um sistema perigoso como o Hatha Ioga apareceu. A resposta a esta pergunta leva-nos ao passado longínquo quando os Râja-iogues ainda ensinavam as pessoas de modo mais ou menos aberto. Cada guru tinha os seus próprios chelas que praticavam os ensinamentos. Muito ocasionalmente, um chela podia sofrer de problemas físicos ou psíquicos, o que prejudicava o seu crescimento espiritual. Nessas situações, o Instrutor prescrevia algumas práticas de Hatha Ioga, tal como um médico prescreveria a um paciente um determinado remédio. Estes eram exercícios específicos prescritos por um Mestre, dirigidos a um aluno específico e praticados sob a sua supervisão. E a motivação do chela, era obviamente altruísta, caso contrário um Mestre nunca o teria aceitado como seu aluno. Apenas naquelas circunstâncias as práticas mencionadas poderiam ser benéficas e remover alguns obstáculos no processo de crescimento.

Infelizmente, quando a autoridade dos Râja-iogues diminuiu, as ideias do Hatha Ioga acabaram nas mãos de pessoas menos sábias que pensavam que os exercícios seriam benéficos para toda a gente. Mas quem iria a uma farmácia e pedir um grama de um remédio? Isto é o que acontece exatamente quando um estudante ignorante pergunta a um instrutor ignorante para lhe ensinar alguns exercícios de Hatha Ioga.

O caminho seguro

Como mencionado anteriormente, existe uma relação entre a popularidade do Hatha Ioga e os pensamentos e sentimentos turbulentos de que sofre muita gente hoje em dia. É um sinal encorajador que estas pessoas não desistam por desespero, mas que tentem ativamente fazer alguma coisa em relação aos seus problemas.

Na nossa opinião seria melhor se eles olhassem primeiro para as causas da sua inquietação e stress. Elas irão descobrir que estes sentimentos e pensamentos são sempre o resultado de uma visão pessoal limitada delas próprias e do mundo do qual fazem parte. Quando uma pessoa se identifica completamente com o Ego Pessoal, e vive na ilusão que está separada de uma grande corrente de vida, haverá sempre turbulência, porque a separação não existe. Portanto, se vivermos em desolação, pensando que não somos responsáveis pelos outros, podemos esperar uma reação natural. A causa principal da nossa inquietação reside na visão pessoal do mundo em que vivemos e de nós próprios. Todo o desejo egoísta – incluindo um desejo pela calma interior – carrega em si próprio a semente da inquietação.

Por essa razão seria muito melhor dedicar a personalidade ao serviço de todos. Este é o princípio do Râja Ioga. O estudante no caminho pode às vezes cair e ter sentimentos de deceção, mas saber que ele é parte de onda de consciência sublime, fá-lo esquecer do desapontamento e de cada movimento em falso, sempre o inspirando a seguir em frente. Este Caminho Real é portanto o caminho seguro para a união com o Eu, um caminho que todos podem percorrer.

sábado, 8 de junho de 2013

Râja e Hatha Ioga (4ª parte)


Segue-se a 4ª parte do texto de Barend Voorham, intitulado no original "Râja and Hatha Ioga"

Praticantes de Hatha Ioga

O Hatha Ioga não é apenas um tipo de exercício físico para manter o corpo são e em forma. A tradução literal da palavra sânscrita hatha mostra-nos que Hatha Ioga é muito mais que isso. Hatha deriva da palavra sânscrita hath, que significa supressão. Isto implica “violência” ou “força”. Portanto ao praticar este sistema de ioga, o objetivo é atingir a união pela força.

A maioria das pessoas que pratica Hatha Yoga nos dias de hoje está à procura de paz mental e alguma tranquilidade nas suas vidas frenéticas. Elas sofrem de stress diário e estão à procura de um bom remédio. Encorajadas pela indústria New Age, pensam que o Hatha Ioga irá ajudá-las a melhorar a sua condição mental, emocional e física e assim a desenvolver a espiritualidade e um sentido mais forte de equilíbrio nas suas vidas. São portanto em geral pessoas com uma atitude positiva.

Técnicas de Hatha Ioga

O Hatha Ioga é um sistema que exerce uma determinada influência nas energias física e psíquica através de certas posturas (Âsanas) e exercícios respiratórios (Prânâyâma).

Existe muita literatura descrevendo o impacto das posturas na consciência. A questão contudo, é se o Ego Físico (corpo físico), considerando a sua posição no cômputo da natureza composta do homem, pode influenciar de algum modo o Ego Humano Superior ou o Ego Espiritual. Claro que existe através da ressonância uma troca de energias de “baixo a cima”, mas em ordem a induzir as energias daqueles egos superiores a fluírem para o corpo físico, é necessário mais do que apenas certas posturas físicas.

O corpo físico é um instrumento que envia sinais para os egos superiores. Quanto mais um ego é desenvolvido, menos esses sinais são capazes de perturbar o equilíbrio. Uma certa dor física pode por exemplo irritar o Ego Pessoal, mas os Egos espiritual e Humano Superior não são afetados por isso, embora por ressonância eles reconheçam o sinal.

As posturas podem mudar as energias no corpo, que podem atingir os egos superiores nalguma medida, mas para uma efetiva influência dos egos superiores no Ego Pessoal, mais é necessário. Como iremos ver mais adiante, o motivo para exercitar estes Âsanas desempenha um papel importante.

O verdadeiro significado de Âsana – sentar-se calmamente – é eliminar tanto quanto possível quaisquer influências perturbadoras que o corpo físico possa ter no Ego Pessoal, de forma a que o Ego Pessoal se possa concentrar completamente nos egos superiores. Encontrar um sítio calmo onde se possa relaxar o corpo é habitualmente suficiente; uma postura específica não é importante.

Exercícios de controlo da respiração têm um efeito muito mais poderoso que posturas corporais. O Hatha-iogue pretende, para além de paz mental, desenvolvimento espiritual. O sistema de Hatha Ioga que ele pratica porém, estimula predominantemente os atributos físicos inferiores. Estes atributos estão localizados ao nível do Ego Animal e da mente inferior. O Ego Animal vive no mundo astral, um mundo invisível para os nossos sentidos físicos, mas que não é certamente um mundo espiritual. Ao praticar exercícios respiratórios como o Kumbhaka e o Rechaka, algumas partes psíquicas, pertencentes ao campo do Ego Animal, são paralisadas. Alguns dos processos vitais no corpo são temporariamente paralisados, bloqueando o fluxo de certas energias prânicas do Ego Animal para o corpo físico e vice-versa.

A motivação para o Hatha Ioga

A maior parte das pessoas não se apercebe que o motivo para a prática de qualquer sistema de ioga, determina os resultados que serão atingidos. Isto também se aplica obviamente ao Hatha Ioga. Ao praticar este sistema de ioga fazemos com que a nossa consciência fique mais sensível a todo o tipo de influências. Sem um motivo impessoal e altruísta, nós ficamos particularmente mais sensíveis a todo o tipo de influências astrais ativas no plano do Ego Animal. Alguém que pratica Hatha Ioga com uma motivação pessoal pode atrair todo o género de forças perigosas. Se ele soubesse mais sobre este assunto, pensaria duas vezes antes de praticar Hatha Ioga.

Quando o objetivo de praticar Hatha Ioga é manter o corpo em forma e saudável, podem existir diferentes motivações em questão. É o objetivo um corpo são de forma a ter uma vida fácil e confortável, ou quer-se um corpo são de modo a cumprir melhor os deveres na vida para benefício de toda a humanidade? A última hipótese produz um resultado diferente da primeira.

Praticar Hatha Ioga para o cultivo de capacidades psíquicas inclui sempre uma motivação pessoal e egoísta. Especialmente em (aparentes) assuntos espirituais, um motivo egoísta funciona contraprodutivamente, porque uma característica egoísta atrai influências no mundo astral com características similares, o que pode eventualmente conduzir a resultados desastrosos.

Termina na próxima semana.

sábado, 1 de junho de 2013

Râja e Hatha Ioga (3ª parte)


Segue-se a 3ª parte da tradução do texto de Barend Voorham "Raja and Hatha Ioga". Para mais detalhes, sobre a revista e a organização que publicou este texto consulte os posts anteriores.

"Comunicação através da ressonância

As trocas na corrente de consciência acontecem por intermédio da ressonância.

Cada ponto de transformação funciona como um emissor-recetor, que se sintoniza com a frequência do grau de consciência ao qual pertence. Na mesma frequência de ressonância no qual transmite informação (ou energia ou consciência) – use a palavra que entender – também recebe informação. Se sintonizada, por exemplo, no plano do “desejo”, também receberá nessa frequência.

Compare-o com a música. Se tocar numa corda de guitarra, que se encontra afinada num certo tom, outra corda, afinada no mesmo tom, irá também vibrar ou ressoar.

Cada ego pode ser dividido em sete tons, que correspondem aos sete planos de consciência.

Em princípio, cada ser na corrente de consciência tem as mesmas qualidades disponíveis que todas as outras entidades têm. A única diferença está no número destas qualidades que já foram desenvolvidas. Suponham que no Ego Pessoal a nota Lá é executada, os Lás nos outros pontos de transformação irão ressoar e vibrar também, mesmo quando afinados numa oitava superior ou inferior. Portanto, tudo está interligado, conectado e cada pensamento, palavra ou ação vibra através de todo o nosso ser.

Especialmente no caso da prática do ioga é importante entender que isto irá causar alterações na corrente de consciência. Sintonizar-mo-nos num ego irá criar uma situação onde uma determinada energia poderá ou não fluir para o corpo. Se nos focarmos num dos egos superiores, o Ego Pessoal tornar-se-á mais acessível para os impulsos e pensamentos universais, enquanto que, se nós nos concentrarmos no Ego Animal, será mais díficil captar ideias universais (ver aqui uma conferência do autor sobre alterações na mente e no corpo).



Râja Ioga

Que energias estão em jogo no Hatha e Râja Ioga?

Râja Ioga – ou Ioga Real – é um sistema dirigido a purificar o pensamento (manas) através da concentração no Ego Humano Superior ou Ego Espiritual. É o Ego Pessoal que pratica a disciplina. Ao dominar a sua mente ele fica mais perto de uma união com Âtman, o Deus interior. A disciplina é desenvolvida pela concentração no ideal mais elevado e no controlo da natureza humano-pessoal. É importante entender que é o Ego pessoal – a nossa consciência diária – que deve ser disciplinado, não os egos mais elevados. Deve-se referir que ser disciplinado não significa que os elementos inferiores devam ser suprimidos ou negligenciados. De facto, os aspetos superiores da constituição hierárquica do homem guiam estes elementos no sentido de crescerem e evoluirem.

O Bhagavad-Gitâ dá-nos a seguinte ideia. Arjuna vai para a guerra numa quadriga, que é puxada por cavalos. Arjuna pôs as rédeas da quadriga nas mãos de Krishna. O simbolismo é claro. Arjuna é o Ego Pessoal que luta com a sua mente, por outras palavras, que quer desenvolver a parte espiritual da sua consciência. Os cavalos são as forças que emergem do Ego Animal, especialmente desejos e sentimentos egoístas. A quadriga é o símbolo do corpo físico e Krishna representa o Deus interior. Como interpretar isto?

Porque o Ego Pessoal (Arjuna) se vira para os seus aspetos superiores (Krishna), ele é capaz de controlar os seus aspetos inferiores, o seu Ego Animal e o seu corpo. É importante perceber que é o Ego Pessoal que pratica a disciplina. Afinal de contas é Arjuna quem está lutando e Krishna quem dirige os cavalos. A consciência expande-se apenas através da nossa atividade e auto-disciplina permitindo que alguma coisa dos mundos divinos e espirituais seja experienciada. Submeter o corpo a uma disciplina severa, seguindo uma dieta estrita ou regras ascéticas não irá conduzir a um vislumbre dos mundos divino-espirituais.

A mente pode apenas experienciar as esferas divinas da consciência se focada nas partes mais elevadas da sua natureza. Por outras palavras, o Ego Pessoal deve ativar em si próprio os ideais mais nobres que possa imaginar, para que possa ecoar com os Egos Humano Superior, Espiritual e Divino.

Dado que os egos superiores na corrente de consciência compreendem que há interligação com os outros seres, o despertar dessas forças deve ser acompanhado por amor por todos os seres vivos. O praticante de Râja Ioga precisa de impregnar a sua mente com amor por todos os seres.

No primeiro diagrama deste texto é mencionado que o Râja Ioga é destinado para Kshatriyas, que se pode traduzir por funcionários públicos ou guerreiros. Num sentido mais lato e ético, este tipo de função refere-se a líderes e orientadores de pessoas. A luta que estes travam é contra a sua própria natureza inferior.

As qualidades que precisam de ganhar nesta batalha são delineadas no Bhagavad-Gitâ. Devem ser estudadas a esta luz. A coragem dos Kshatryias é necessária para conquistar os seus interesses pessoais. A sua glória vem de uma atitude impessoal. Sabedoria é a recompensa. Além disso, devem estar determinados em olhar o mundo com uma ampla visão universal. E moderação, para resolverem problemas de um modo amigável. Uma motivação altruísta é sempre essencial para o Râja Ioga. Isto significa dedicar a própria vida a ajudar e inspirar outros. Uma vida tal conduz à purificação da própria consciência, pois quando nós, de forma ativa e sem interesse próprio, tentamos ajudar a resolver os problemas dos outros, isto estimula o nosso próprio desenvolvimento também.

Os efeitos do Râja Ioga no corpo físico

Praticar Râja Ioga ativa os poderes ao nível do Ego Humano Superior e do Ego Espiritual. O Ego Espiritual acorda quando contemplamos e vivemos os nossos ideais espirituais. Tal atividade manásica – sob a forma de visões, inspirações ou pensamentos impessoais – estabelece o contacto com o Ego Humano Superior (ver o diagrama em forma de piano).

Tal como mencionado anteriormente, todos os egos estão interligados, portanto a prática do Râja Ioga também afeta o Ego Animal e o corpo físico.

A expressão em latim “Mens Sana in Corpore Sano” – mente sã em corpo são – é um exemplo da influência benéfica que a mente que o praticante do Raja Ioga tem, na sua condição física. Quando reina a parte espiritual, o corpo físico irá funcionar mais harmoniosamente. O corpo ressoa em harmonia com a energia que procede do Ego Humano Superior e do Ego Espiritual. O resultado é um veículo são."

Continua na próxima semana.