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sábado, 5 de novembro de 2016

Kali-Yuga: uma idade de crescimento ou de decadência espiritual? (1.ª parte)

O Lua em Escorpião inicia hoje a publicação de um artigo que fez parte integrante do número 2/2014 da revista Lucifer, da Sociedade Teosófica de Point Loma-Blavatskyhouse. O mesmo trata sobre o Kali Yuga, o período em que nos encontramos atualmente e que se iniciou com a morte de Krishna, a 23 de janeiro de 3102 A.C.

O autor deste texto, é Barend Voorham, um dos mais proeminentes membros daquela organização teosófica. Voorham esteve recentemente no Brasil, mais precisamente na edição de 2016 da Escola Teosófica Internacional, onde fez várias comunicações. Esta colaboração entre tradições teosóficas distintas é o reflexo benéfico de uma das ideias saídas das Conferências Internacionais de Teosofia, mais precisamente a da "polinização cruzada", que pode ser concretizada - como foi aqui o caso - pela presença de oradores de organizações teosóficas distintas nas conferências e palestras.


Barend Voorham


O Lua em Escorpião acabou também por estar ligado indiretamente a este evento. Aproveitando a quantidade de artigos já publicados em língua portuguesa por este blogue, a Blavatskyhouse elaborou uma edição especial em língua portuguesa, que foi distribuída a alguns dos presentes na Escola Teosófica Internacional (e que rapidamente se esgotou, segundo os relatos que nos chegaram). A mesma está disponível aqui. Neste número, está já incluído o texto que hoje, o Lua em Escorpião começa a publicar. Com efeito, o texto foi por nós enviado a Barend Voorham para ser integrado nesta edição especial.

Avancemos para a publicação da primeira de seis partes deste excelente artigo.



Kali-Yuga: uma idade de crescimento ou de decadência espiritual?

por Barend Voorham



Vivemos tempos de inquietude. De acordo com algumas pessoas os tempos são tão negros e sinistros, que estamos caminhando rapidamente para a nossa perdição.

“Vivemos no fim dos tempos”, dizem as pessoas. Diz-se que isto está relacionado com o Kali-Yuga, a Idade do Ferro.

É na verdade o Kali-Yuga uma idade tão negra?

Esta é uma investigação aos antigos textos hindus e à nossa era moderna.



Nandi, o boi do Dharma


IDEIAS-CHAVE

  • As idades têm tudo a ver com os ciclos cósmicos.

  • Um ciclo pode ser dividido em quatro idades, que estão relacionadas entre si através de 4 : 3 : 2 :1.

  • Cada uma destas idades tem uma fase inicial e uma fase final.


  • O Satya-Yuga é a idade espiritual e de paz. É a fase infantil. As pessoas não têm ainda muita responsabilidade.


  • O Kali-Yuga começou em 3102 A.C. durante uma circunstância cósmica especial.


  • No Kali Yuga a ética está sob pressão; tudo é intenso e acontece rapidamente; há uma forte influência da Luz Astral; há grandes oportunidades para crescimento e declínio espiritual.


  • Durante o Kali-Yuga o novo grande ciclo (raça-raiz) desponta.


  • Cada novo ciclo começa com um pequeno número de pessoas com uma mentalidade diferente.


Tal como todos os outros povos da Antiguidade, os Hindus tinham uma visão cíclica do tempo. Não há um início absoluto, o momento em que o tempo começou. Em sentido absoluto, o universo não começou com um big bang, depois do qual a vida e o tempo vieram à existência. Da mesma forma uma vida individual não começa com a conceção.

Os antigos textos hindus retratam o conceito de ilimitado. A bem conhecida afirmação dos Upanixades “TAT twam asi” – tu és AQUILO, ou: tu és o Ilimitado, expressam isto de modo conciso.

Portanto, nada é criado no sentido literal da palavra; nada foi feito a partir do nada. Tudo esteve sempre lá. E tudo – o cosmos, o homem ou o átomo – aparece ciclicamente. Mal a consciência adormecida desperta novamente, o tempo começa. O SER eterno, a nossa essência mais profunda, não conhece o tempo, apenas a Duração ilimitada.


Capa da edição especial da Lúcifer
em língua portuguesa


O que são idades?

No que se refere ao tempo, a primeira coisa que podemos notar é que está relacionado com a perceção de movimentos de objetos ou corpos. Tomamos o ciclo astronómico como a unidade do tempo, por exemplo, a rotação do nosso planeta à volta do seu eixo. Isto dá-nos o ritmo do dia e da noite. Dividimos este período em 24 unidades, a que chamamos horas. Além disso, a Terra orbita à volta do Sol em 365,25 dias, ou seja revolve 365,25 vezes à volta do seu eixo, enquanto completa a sua órbita à volta do Sol.

Portanto, são sempre fenómenos externos, como a rotação da Terra à volta do Sol e da Lua à volta da Terra em órbitas cíclicas, que interpretamos e explicamos através de determinadas unidades de tempo.

Contudo, quando não estamos neste mundo dos fenómenos, por exemplo, quando estamos a dormir, a sonhar, ou mortos, desconhecemos de todo o tempo. Não existem relógios nos nossos sonhos. Quando acordamos depois de um sonho, muitas vezes não sabemos se dormimos por uma ou duas horas ou apenas por alguns minutos. A forma como valorizamos o tempo depende do nosso estado de espírito. Não parece que as duas horas no cinema passaram muito mais rapidamente do que meia hora na cadeira do dentista? Em resumo, o tempo está sempre relacionado com a manifestação - com as coisas, com os fenómenos, com a interpretação, com a apreciação, e portanto é uma ilusão.

Em Sânscrito isto é chamado de Mâyâ, o que significa “medida”. Tudo o que pode ser medido é uma ilusão. Isso significa: é de uma natureza transitória e não tem sustentabilidade por si só. É a consequência de algo que se esconde por trás dessa aparência. Portanto, uma idade é o período em que algo é manifestado.

Por exemplo, um homem nasce. A sua “idade” começa. Depois de cerca de 70 anos ele morre. Então, num certo sentido, também o tempo para, pelo menos para ele, dado que não há manifestação. Só quando este homem nasce outra vez e reaparece neste mundo ilusório, existe de novo uma noção de tempo.

Devemos entender as grandes idades da mesma forma. Elas são os ciclos de vida de um ser ou de um grupo de seres.

Continua na próxima semana.

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