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sábado, 15 de novembro de 2014

Lua em Escorpião faz três anos

No passado dia 11 de novembro, o Lua em Escorpião celebrou o seu terceiro aniversário.

No último ano, o blogue continuou o seu crescimento, sendo que foi inclusivamente citado no site Theosophy Forward, por ocasião do seu segundo aniversário e também num fórum de discussão de Teosofia de língua inglesa.

Não há contudo qualquer intenção de traduzir para inglês o conteúdo do blogue (apesar de já terem existido solicitações para que alguns textos fossem passados para inglês) e inclusive, por questões de prioridade, os posts passarão doravante a deixar de ser semanais. A colocação das mensagens permanecerá a ser feita aos sábados, mas não todos os sábados.



A necessidade de aprofundar o estudo nalgumas áreas exige disponibilidade mental e de tempo que entram em choque com a obrigação de ter textos para colocar no blogue com uma data fixa.

Existem naturalmente momentos em que a prioridade é a exteriorização e outros em que consideramos que o tempo é adequado para o estudo e reflexão e consequentemente há ajustamentos que se tornam necessários fazer.

De qualquer modo, os temas fundamentais que pretendia ver tratados no blogue já o foram, com duas exceções. Esses casos, que preferia para já não identificar, serão alvo de posts mais extensos possivelmente só em 2015.

Que fique claro que existem já vários textos na forja para tradução e também uma ideia relativamente clara de qual a série que será publicada no próximo verão.




O blogue mantém-se como um espaço aberto (dentro de certos limites), tendo neste último ano sido traduzidos textos de Vicente Hao Chin Jr. (Sociedade Teosófica de Adyar), Matthew Webb, Odin Townley e "The Theosophical Movement" (Loja Unida de Teosofistas), Pim van Lommel (médico, não teosofista), Katinka Hesselink (antigo membro proeminente da ST Adyar) e Daniel Caldwell (teosofista independente).

Durante o verão e parte já do outono, foi publicado em 10 partes, o conhecido artigo do Dr. James A. Santucci, "A Teosofia e as Sociedades Teosóficas". Santucci é um professor de Religião Comparada na California State University.

Desde novembro de 2013, o blogue conta com a colaboração do Ivan Silvestre que tem sido o responsável pela série "A arte e o transcendente".




Relativamente aos posts do último ano (ou seja posteriores a 11 de novembro de 2013 até à data), os mais lidos foram:

- A controvérsia em torno do Glossário Teosófico (Partes I e II)

- Teosofia pura e simples - A morte e a vida depois da morte (Partes I e II)

- A arte e o transcendente (II e III)

- Como detetar um falso guru

- A influência da Teosofia em personalidades famosas (Partes I, II, III, IV, V/1, V/2 e VI)

- Einstein leu mesmo a Doutrina Secreta? (Partes I e II)


sábado, 8 de novembro de 2014

A verdadeira tarefa da astrologia no século XXI

Robert Hand é possivelmente o astrólogo mais famoso atualmente vivo. Embora muito tempo haja já passado sobre a sequência de livros que editou, os mesmos continuam a ser bastante populares, especialmente o “Planets in Transit”, um livro incontornável, para a interpretação dos trânsitos astrológicos. Estranhamente nenhuma das obras de Hand está traduzida para português.




Com um currículo notável, Hand terminou recentemente o doutoramento em História Medieval, pela Universidade Católica dos EUA.

Há poucos dias, Hand publicou uma interessante mensagem através da sua conta de Facebook, que abaixo se traduz.

“Numa mensagem anterior falei do meu interesse em reconstruir as ligações entre a astrologia tradicional e moderna. Porque havemos de nos importar com isto? A resposta é simples.


Robert Hand (foto retirada do perfil de FB de Hand)


Todas as diferentes formas de astrologia - helénica, hindu, medieval e moderna – têm contributos importantes. Contudo, a síntese entre as formas de astrologia do Ocidente (helenística, medieval e moderna) e do Médio Oriente será mais fácil por duas razões. Em primeiro lugar são todas parte de uma tradição única e agora, uma vez mais, contínua. A astrologia hindu representa um desafio maior, embora, possa também fazer parte de uma eventual síntese. Nesta mensagem vou explicar porque não podemos simplesmente abandonar a astrologia dos séculos XIX e XX e fazer ressurgir algum tipo de combinação de métodos resultantes de formas tradicionais de astrologia.

Em palestras públicas várias vezes afirmei que o objetivo é criar uma astrologia tal qual deveria ter sido se a “experiência de quase-morte” [NT: note-se que a astrologia correu o risco de desaparecer, num processo iniciado no final séc. XVII e que só cessou no final do séc. XIX] nunca tivesse acontecido. Isto é próximo da verdade, mas não a é exatamente. A “experiência de quase-morte” provocou ou permitiu algo que não teria acontecido sem ela. Os astrólogos começam a tentar religar a astrologia com o sagrado. Aqui, refiro-me apenas à astrologia do Médio Oriente e do Ocidente. A astrologia hindu sempre teve e continua a ter, uma ligação com o sagrado, mas com uma tradição espiritual que está muito afastada das tradições do Ocidente. (Por questões de simplificação, quando me referir a “Ocidente” entenda-se que incluo o Médio Oriente. As duas culturas estão muito mais perto uma da outra do que qualquer uma delas está da Índia). Entenda-se que não acredito que de algum modo não haja equivalência ou até superioridade de algumas tradições espirituais indianas (incluindo aqui o Budismo) em relação às do Ocidente, mas a linguagem, os pressupostos culturais, as influências culturais, etc… são muito diferentes e necessitam de uma tradução com um alto nível de sofisticação para se tornarem completamente acessíveis ao Ocidente. Seria melhor se religássemos a astrologia ocidental com o sagrado em termos do sagrado tal como o entendemos no Ocidente, e à medida que a tradução concetual das tradições indianas e orientais fosse avançando, incluiríamos isso também.




Porque perdeu a astrologia ocidental a sua ligação com o sagrado? Quer na Europa, quer no Médio Oriente as religiões vieram à existência, e o Cristianismo e o Islão, que associavam a astrologia com o politeísmo, tornaram-se portanto hostis à astrologia. Com o Islão, a astrologia tornou-se de certo modo aceitável se fosse usada a um nível prático e evitasse assuntos que fossem do domínio da religião. Na Europa, a astrologia era no início completamente rejeitada, ao menos oficialmente. Então, na Europa Ocidental, a civilização colapsou ao ponto da astrologia não poder ser praticada, ao menos a um alto nível de sofisticação, devido à falta de conhecimento do Grego e da ciência grega, etc… Quando a astrologia voltou ao mundo ocidental vinda do mundo árabe, foi aceite com desconforto, mais ou menos nas mesmas condições que o tinha sido no Médio Oriente. Não era suposto se pronunciar sobre o sagrado. A associação entre a astrologia e o sagrado continuou num nível subterrâneo em ambas as culturas, sendo associada à magia, desde à branca à negra e à intermédia entre estes dois polos. Na prática, a astrologia era aceite em ambas as culturas, apenas se não interferisse com o sagrado e não se entrasse em contradição com o livre arbítrio (noutra oportunidade abordarei este assunto!).




Felizmente e por mais estranho que pareça, as mesmas forças que quase destruíram a astrologia no século XVIII, também enfraqueceram fortemente o poder do Cristianismo no Ocidente. No Médio Oriente um ressurgimento do fundamentalismo islâmico (ainda em curso) trouxe uma versão específica da “experiência de quase-morte” à astrologia islâmica.

Então no século XIX, quando a astrologia sofreu um reavivar em Inglaterra, duas linhagens distintas de astrologia emergiram gradualmente, uma linhagem pretensamente científica personificada por A.J. Pearce e uma linhagem religioso-espiritual da qual Alan Leo é provavelmente o melhor exemplo.

O grupo “científico” continuou a tentar fazer aquilo que não teve sucesso no século XVII, tornar a astrologia em algo aceite pela nova ciência. Não funcionou no século XVII e não funcionou também no século XIX. (Os meus comentários sobre esta abordagem científica à astrologia não significam que me oponho a uma abordagem científica à astrologia. O que defendo é uma abordagem científica à astrologia como parte de um esforço em duas frentes para perceber o que realmente é a astrologia, não algo destinado a tornar a astrologia “aceitável” para a ciência conforme esta está presentemente instituída. Isso, estou em crer, não pode acontecer mais por razões religiosas e ideológicas do que científicas).



Um grupo de astrólogos de tendência espiritual religou a astrologia ao sagrado através da Teosofia Blavatskiana. A Teosofia pôs no papel uma filosofia emprestada da religião oriental e que recupera o neoplatonismo clássico tardio. Reconectou a astrologia com ideias como a iluminação, autorrealização, etc…Quaisquer que sejam as suas inadequações como uma filosofia espiritual, preparou o terreno para uma evolução de acordo com estas linhas. A figura mais fortemente associada com esta evolução foi o já falecido Dane Rudhyar que concebeu as astrologias humanista e transpessoal, que enfatizavam o uso da astrologia como uma ferramenta para autorrealização, opondo-se à astrologia da idade média, iminentemente prática e orientada para acontecimentos. Consequentemente isto conduziu ao florescimento da astrologia psicológica pelas mãos de Liz Greene e outros.

Este tipo de astrologia não é bem vista pelos tradicionalistas puros. É visto como algo inconsistente, vago e autoindulgente. Esta não é a minha opinião, são opiniões que ouvi, amplamente expressas entre os tradicionalistas. Esta crítica tem algum fundamento pelo facto de os métodos da astrologia do século XX terem sido tecnicamente rudimentares. O simbolismo astrológico tornou-se tão impreciso que se podia interpretar qualquer coisa de qualquer maneira. De facto, a culpada disto não era a corrente de astrologia espirito-psicológica. A culpa foi da astrologia “científica” de finais do século XVII até ao século XIX, que extirpou à astrologia métodos e princípios que não eram entendidos e que faziam pouco sentido para o seu ponto de vista “científico”. Por exemplo, James Wilson, no seu Dicionário de Astrologia rejeitou completamente as regências. Regências e significadores são o cerne das Astrologias Medieval Ocidental e Hindu. Sem este conceito, o poder e a expressividade da astrologia ficam limitados. Todas as dignidades foram rejeitadas com exceção, e mesmo assim relutantemente, do signo e da exaltação. Deixaram a astrologia com um vocabulário muito limitado que foi tudo com que as escolas espiritual, psicológica e humanística ficaram. De modo a preencher as lacunas simbólicas deixadas por estas supressões, os modos posteriores de astrologia tiveram que expandir o simbolismo do que tinha restado e nesse processo tornaram a linguagem de astrologia menos precisa. Contudo, apesar de tudo isto, estas formas de astrologia espiritual, psicológica e humanística (as três não são de modo algum mutuamente exclusivas) são as maiores inovações da astrologia moderna. A parte da astrologia que é humana e centrada no espírito, que existia de modo claro no mundo antigo (embora não seja facilmente encontrada nos trabalhos práticos), foi recuperada.




Não se entenda que infiro que apenas as grandes inovações da astrologia moderna recaem nas áreas mencionadas no parágrafo anterior. Para começar, a astrologia moderna atualizou o ponto de vista cultural para o mundo moderno de muitos modos. A astrologia medieval estava dirigida para o mundo medieval. Uma mudança era necessária e foi feita. Contudo, neste particular quero abordar uma crítica à tradição feita muitas vezes pelos modernistas, mais concretamente a de que, não estando nós na Idade Média, como pode a astrologia antiga ou medieval ser relevante para nós? Falando como um historiador medievalista, devo dizer que se lermos Bonatti, por exemplo, no que respeita a processos legais, parece desconcertantemente moderno. A nossa cultura é descendente da cultura da Idade Média e somos muito mais parecidos aos nossos antepassados desse período do que muita gente pensa.

Em segundo lugar, a adição dos planetas modernos Urano, Netuno e Plutão foi um grande passo em frente. O grande número de corpos celestes menores em órbita é um pouco mais problemático, mas este é um tema prático. Como podemos lidar com tantos corpos e como dispô-los num tipo de estrutura para análise? Noutra oportunidade abordarei este tema.




Para além disso temos as grandes escolas dos pontos sensíveis que oferecem métodos bastante afastados de qualquer forma tradicional de astrologia (embora não completamente afastadas), a Escola Uraniana ou de Hamburgo e a Cosmobiologia dos Ebertin. Enquanto a escola Uraniana necessita, estou em crer, de alguma filtragem, as caraterísticas de ambas as escolas devem se tornar uma parte permanente da nova síntese. A Escola sideralista de Cyril Fagan e Garth Allen também deu grandes contributos à astrologia moderna, independentemente da ideia que possamos ter de um zodíaco sideral (uma questão para tratar noutra altura). Mais do que tudo, estes desenvolvimentos fizeram-nos olhar para o nosso desenvolvimento histórico nos tempos antigos. Enquanto os seguidores de três destas escolas tenderam a olhar para a astrologia como algo orientado para acontecimentos, não há nada em nenhuma delas que seja incompatível com uma abordagem à astrologia que seja humana e centrada no espírito.

Finalmente há o reavivar da astrologia horária e tradicional, mas este não é efetivamente um contributo para a astrologia moderna, mas as razões desta discussão e as razões porque temos que pensar numa síntese. Esta síntese é a verdadeira tarefa da astrologia do século XXI.

sábado, 1 de novembro de 2014

Einstein leu mesmo a Doutrina Secreta? (2ª parte)

Na passada semana foi publicado conteúdo introdutório importante que deve ser lido por quem ainda não o fez.

Recordamos que com efeito existem duas histórias com respeito a Einstein: uma, a de que foi um ávido leitor de “A Doutrina Secreta” e outra que acrescenta que a sua cópia desse livro foi depositada numa Biblioteca de uma organização teosófica, ou na Sociedade Teosófica de Adyar, ou na da Loja Unida de Teosofistas, neste caso em Bombaim.

Em relação ao primeiro ponto, a informação é mais extensa.

No verão de 1974, o teosofista Iverson L. Harris dá uma entrevista ao The Journal of San Diego History referindo que Einstein mantinha uma cópia de “A Doutrina Secreta”  na sua mesa de trabalho.


Iverson L. Harris
(1890-1979)

Ao tentar confirmar esta informação, Sylva Cranston refere que uma sobrinha de Einstein visitou a sede da ST Adyar. Quem falou com a suposta sobrinha foi Eunice Layton, uma palestrante sobre temas teosóficos, que por acaso estava na mesa de receção quando ela chegou. 

Contudo, como já escrevi, Einstein não tinha sobrinhos. A sua irmã Maja não tinha filhos.

Suspeita-se que a tal sobrinha poderia ser uma afilhada (Einstein tinha duas, Margot e Ilse), mas Joy Mills, a teosofista decana da Sociedade Teosófica na América também se recorda de Eunice dizer que tinha sido a sobrinha a visitar Adyar.


Joy Mills

Também se supôs que Helen Dukas, a secretária de Einstein (e que se especula que também tenha sido sua amante) poderia se ter feito passar por sua familiar para evitar qualquer tipo de embaraço, mas a verdade é que há evidências de que nunca viajou até à India.

A 28 de setembro de 1983, o jornal Ojai Valley News publicou um artigo intitulado “Eu visito o professor Einstein”, assinado por um tal de Jack Brown. As tentativas para localizar ou identificar este Jack Brown pareciam infrutíferas, até que em outubro de 2012, Daniel Caldwell anunciou no fórum theos-talk que talvez tivesse descoberto Jack Brown, mas a confirmação carecia de mais investigação. Embora seja um nome comum, o local onde Brown vivia (Ojai, na Califórnia) tem menos de 8000 habitantes, pelo que há fortes probabilidades de ser este o autor do artigo.




Acredita-se também que o artigo de Jack Brown tenha sido fortemente editado por um jornalista do Ojai Valley News, mas como o jornal mudou de instalações em 1993, não foi possível encontrar o original, que já foi destruído.

O artigo de Brown pode conter factos verdadeiros, mas também poderá ter sido embelezado por alguém do jornal, para tornar um possível artigo aborrecido em algo mais atrativo para o leitor.  O tal Brown refere que Einstein não gostava de passear e que teve um cão chamado “Chicco”. Mas o Einstein Institute nega estas informações.

No artigo foi citado o nome de Howard Rothman como sendo um amigo próximo de Einstein. Nunca se descobriu quem foi este Howard Rothman.

Mas, Leon Maurer, que foi uma das testemunhas principais deste caso refere que nalgumas situações podem ter sido usados pseudónimos.


Leon Maurer (1924-2011)

O pai de Maurer foi um dos que ajudou Einstein quando este abandonou a Alemanha nazi para ir para os EUA. Refere que um dos amigos do seu pai também tinha o apelido Rothman. Quanto tinha 11 anos, Maurer recorda-se de Einstein estar presente num jantar de boas-vindas organizado por aqueles que contribuíram para a sua mudança de país. Maurer acha que a sua “sobrinha” seria Helene Dukas, a secretária de Einstein.

Outra dos testemunhos, proveniente de Jerry Hejka-Ekins defende que o Dr. Alfred Taylor, antigo diretor da Escola de Teosofia de Krotona e suposto amigo de Einstein referiu que este tinha “A Doutrina Secreta” na mesa-de-cabeceira. Mas o especialista em história da Teosofia (particularmente sobre a ST na América), Joseph Ross, diz que conhecia Taylor e que este nunca teve qualquer ligação a Einstein. Contudo, este testemunho de Hejka-Ekins tem muito peso, não só pelo respeito que o movimento em geral tem por este teosofista, mas também porque o Dr. Taylor é alguém altamente conceituado e acima de qualquer suspeita de inventar um facto.

Avancemos para o segundo ponto, o de que existe uma cópia de “A Doutrina Secreta” algures numa biblioteca (ou nas mãos de um colecionador).


Doutrina Secreta original
(foto retirada de jomasipe.com)

Maurer é uma das fontes. Neste artigo ele conta a história toda:

“Por volta dos meados dos anos 70, fui a uma palestra de alguém vindo de fora na Loja Unida de Teosofistas (LUT) em Nova Iorque…Depois da comunicação, eu e um grupo de associados da LUT encontrámo-nos com a palestrante, a senhora Wadia, uma idosa de nacionalidade britânica, viúva de um bem conhecido escritor e palestrante teosófico. Ela estava acompanhada por outras mulheres indianas vestidas com saris.

A sra. Wadia, ou uma das mulheres que estava com ela (não me recordo dos seus nomes) disse-nos que esteve na Theosophical Publishing Company (TPC) em Adyar durante os meados dos anos 60, e que travou conhecimento com a sobrinha de Einstein, que disse ter ido à sede da TPC para doar à sua Biblioteca o livro que estava na cabeceira da cama do tio quando este morreu. A sra. Wadia (ou quem contou a história) disse que ela e vários outros que estavam em Adyar aceitaram com gratidão a cópia muito gasta e usada da 1ª edição de  “A Doutrina Secreta-Síntese da Ciência, da Religião e da Filosofia” de H.P.Blavatsky.


Sophia Wadia (1901-1986)
(foto retirada de:blavatskytheosophy.com)

Perguntei-lhe se havia efetivamente manuseado e aberto o livro. Ela respondeu que sim. Quando especificamente lhe perguntei se existiam anotações nas margens, ela referiu que o livro estava cheio de anotações e sublinhados, e que as margens estavam cobertas de rabiscos e de outras marcas que não se percebia o que eram (o que não daríamos em troca para vê-los?). Quando alguém perguntou o que aconteceu ao livro, ela disse que ainda estava na biblioteca da Loja de Adyar.”

Maurer depois prossegue indicando que quando soube disto foi de imediato comprar uma edição fac-simile (não disponível em português, mas em inglês, em edição publicada pela LUT, existindo também online, quer no site da ST Pasadena quer em várias das lojas da LUT, como por exemplo nesta) que estudou durante vários anos e se baseou para enunciar a sua teoria de consciência holográfica.

Dallas TenBroeck, um teosofista da LUT que faleceu em 2006, corrige Maurer num ponto. A sra. Wadia nunca esteve em Adyar, o que é garantido por várias pessoas próximas dela.

Foi colocada a questão da existência do livro na Biblioteca de Adyar à presidente da Sociedade na altura, a sra. Radha Burnier, que negou a existência de tal cópia.




Na verdade, o relato original de Eunice Layton, apenas refere que Einstein tinha uma cópia do livro de Blavatsky na sua escrivaninha.

Maurer acredita num suposto relato de Dallas TenBroeck,  que referiu ter visto a cópia que Einstein possuía de “A Doutrina Secreta”. A honestidade do teosofista da ULT era intocável.

Contudo não se consegue identificar esse relato. Katinka Hesselink inicialmente disse que tinha uma cópia de um e-mail de TenBroeck com esse facto, mas pressionada para confirmar a existência dessa mensagem referiu que nunca a encontrou e que pode ter sido um lapso da sua parte.


Katinka Hesselink

Ainda se investigou se o livro estava ou não na posse de Loja Unida de Teosofistas (LUT) de Bombaim, mas desconhece-se se houve resposta.

Conclusão

Isto é efetivamente o que se sabe publicamente sobre esta história. Não existem provas “científicas” sobre o interesse de Einstein por “A Doutrina Secreta”. A apresentação destes testemunhos não é suficiente para convencer os céticos. Contudo, no meio teosófico, a credibilidade de algumas testemunhas é mais do que um indício de que Einstein realmente tinha a grande obra de Blavatsky na sua mesa de trabalho.

Einstein teve contacto com o trabalho do pensador italiano Pietro Ubaldi, como é aqui expresso, pelo que não é descabido que tenha lido pelo menos parte de "A Doutrina Secreta". Contudo, a ideia central que sai da correspondência de Ubaldi com Einstein é esta frase, escrita pelo cientista nascido na Alemanha:

"Para meu velho cérebro, treinado no racionalismo, tudo isto me parece estranho, porém agradável."

O próprio Ubaldi escreve:

"Ele foi assim um verdadeiro filho de nosso século, isto é, o cientista profundo e especializado; mas, antes de tudo, analítico e só depois, sintético; grande matemático, cuja maior grandeza é de ter a honestidade e sinceridade de reconhecer que o seu cérebro está treinado pelo racionalismo e que, além disso, ele não se acha num terreno que possa aceitar como positivo. Mas isto não nos deve surpreender, porque esta é a forma mental do nosso pensamento científico moderno."


Pietro Ubaldi (1886-1972)

Numa troca de e-mails com um teosofista conhecido foi-me enviada uma passagem de uma biografia de 1971 de Einstein (Einstein - The Life and Times de Ronald W.Clarck), de um episódio que teve lugar em 1935:

"Uma vez convenceram-no a visitar o Rockfeller Medical Center em Nova Iorque, então gerido pelo irmão de Abraham Flexner. Nessa instituição, o Dr. Alexis Carrel - cujos interesses extra-curriculares eram o espiritualismo e a perceção extra-sensorial - trabalhava com Lindbergh num dispositivo para perfundir órgãos, um instrumento que abriu o caminho para o moderno transplante do coração. Carrel tinha convidado Einstein para inspecionar o dispositivo (...). Trinta anos depois, Lindbergh ainda se lembra de Einstein entrar no gabinete com Carrell. Este, expondo o espiritualismo, disse: "Mas doutor, o que diria se você próprio tivesse observado este fenómeno?"
"Na mesma, não teria acreditado", respondeu Einstein.

Uma nota final para referir que o que escrevi no início, da necessidade que os teosofistas têm de associar a Ciência moderna à Teosofia, é exemplificada neste esclarecimento dado por TenBroeck a um jornal, que encontrei por acaso enquanto pesquisava sobre o assunto.