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sábado, 30 de agosto de 2014

A Teosofia e as Sociedades Teosóficas (7ª parte)

Continuamos com a tradução do excelente artigo do professor James A. Santucci, "A Teosofia e as Sociedades Teosóficas". Esta semana é publicada a sétima de dez partes.


Crenças e práticas

Os ensinamentos promulgados pelas sociedades teosóficas são em última instância o que tem prendido a atenção dos seus membros, sendo igualmente aquilo que os indivíduos em geral entendem ser a Teosofia. Em regra, a maior parte dos teosofistas associa os ensinamentos básicos com as “três proposições fundamentais” contidas no Proémio da magnum opus de H.P. Blavatsky, A Doutrina Secreta. Uma visão global da evolução do modo como Blavatsky e outros teosofistas entendiam a Teosofia revela uma variedade de interpretações. De facto, o termo “Teosofia”, escolhido para representar as aspirações e os objetivos da Sociedade, teve pouco a ver com o seu desenvolvimento posterior. Teosofia foi aceite como o nome da Sociedade em linha com a definição encontrada numa edição do dicionário Webster (publicado por volta de 1875), que é a seguinte: “suposto relacionamento com Deus e os espíritos superiores e consequente obtenção de conhecimento sobre-humano por processos físicos bem como por operações teúrgicas de antigos Platonistas, ou através de processos químicos dos filósofos do fogo germânicos.” O termo, contudo, não era desconhecido antes deste período (setembro de 1875). Blavatsky empregou-o em fevereiro de 1875 numa carta ao Professor Hiram Corson (“Teosofia ensinada pelos anjos”) e no seu artigo “Algumas questões para ‘Hiraf’”.

Num encontro que teve lugar a 7 de setembro de 1875, uma palestra dada por George H. Felt sobre “O canône perdido das proporções dos Egípcios” refletiu essa definição. Nessa ocasião, o futuro presidente da Sociedade Teosófica, Henry S. Olcott, propôs a formação de uma sociedade com o objetivo de obter “conhecimento da natureza e dos atributos do Poder Supremo e dos espíritos superiores através do auxílio dos processos físicos.” Esta foi a declaração no “Prêambulo e Estatutos” (30 de outubro de 1875), bem como no discurso inaugural do Coronel Olcott como presidente da Sociedade: ”…como podemos esperar que como uma sociedade tenhamos uma representação ilustrativa do controlo do adepto teurgista sobre os poderes subtis da natureza? Mas é aqui que as supostas descobertas do Sr. Felt entram em jogo. Sem alegar ser teurgista, mesmerista, ou espiritualista, o nosso vice-presidente compromete-se, através de simples aplicações químicas, mostrar-nos, como já fez antes perante outros, as raças de seres que, sendo invisíveis aos nossos olhos, povoam os elementos…Imaginem as consequências da demonstração prática da sua verdade, para a qual o Sr. Felt está agora a preparar os dispositivos necessários!”

Noutras palavras, o objetivo original da Sociedade Teosófica era – nas palavras das atas registadas a 8 de setembro de 1875 – “para o estudo e elucidação do Ocultismo, Cabala & etc....” ou, talvez para usar uma terminologia que reflita mais diretamente as afirmações feitas acima por Olcott: demonstrar, de forma científica, a existência de um mundo oculto, repleto com forças ocultas e seres aí existentes. Nesta perspetiva, os objetivos originais de 1875 da Sociedade (“recolher e difundir um conhecimento das leis que governam o universo”) têm um significado alargado. Contudo, ao longo dos anos subsequentes, o termo assumiu diferentes conotações, com a maior parte dos teosofistas a verem-no como a sabedoria que tem existido desde a aurora da humanidade, preservada e transmitida por grandes instrutores como Pitágoras, Buda, Krishna e Jesus, desde a sua criação até ao presente e confirmada nos mitos, lendas e doutrinas da tradições históricas religiosas, como o Cristianismo, Judaísmo, Hinduísmo, Budismo e Islamismo e em cultos de mistério menos conhecidos. A primeira expressão em livro desta sabedoria e dos objetivos originais (1875) da Sociedade Teosófica foi Ísis sem Véu, de Blavatsky, publicada em 1877. Nos dois anos subsequentes, mais de dez mil cópias foram vendidas, tornando-o num dos livros mais populares deste género do século XIX. Continua a ter influência considerável nos círculos teosóficos, com mais de 150 mil cópias vendidas desde a sua publicação.


Os três objetivos da Sociedade Teosófica

Foi dado um sabor mais oriental (ou seja, indiano) à sabedoria descrita em Ísis sem Véu na publicação do livro de 1888 de H.P. Blavatsky A Doutrina Secreta. As suas três proposições fundamentais foram acima referidas como a existência de um absoluto subjacente a toda a manifestação, a ciclicidade do universo e a identidade do indivíduo com a alma suprema universal e a peregrinação de todas as almas através da reencarnação e carma. A Teosofia, neste sentido, adotou uma visão não–dualista ou monista da realidade última, manifestada ou emanada numa complementaridade dinâmica e progressão evolucionária. Estas “proposições” gerais apresentadas por Blavatsky foram reafirmadas em ensinamentos mais específicos em A Doutrina Secreta e noutros lados, parte do qual pode ser sumarizado nas seguintes afirmações:

- A evolução do indivíduo imortal continua através de vidas incontáveis, e tal continuidade é tornada possível através da reencarnação: a entrada do Ego – a tríade Espírito, Alma e Mente – noutro corpo (humano).

- O complemento da reencarnação é aquela força conhecida como “A Lei da Causa e efeito (Karma)” que alimenta futuros renascimentos e determina a qualidade da experiências dos mesmos.

- A estrutura do universo manifestado, humanidade incluída, pode ser vista como setenária na composição e cooperativa em todos os relacionamentos.

- A humanidade evolui através de sete grupos ou períodos principais chamados raças-raíz, cada uma das quais é dividida em sete subraças. No momento presente, nós humanos pertencemos à quinta raça-raiz, conhecida como raça ariana (sânscrito para “nobre”). O termo, contudo, não está limitado aos povos “indo-europeus”, tem um significado mais alargado.

- O indíviduo é na realidade nada mais que uma cópia em miniatura ou microcosmos do macrocosmos.

- O universo – incluindo a humanidade – é guiada e animada por uma hierarquia cósmica de seres sencientes, cada um tendo uma missão específica a cumprir.


Ísis sem Véu, de Helena Petrovna Blavatsky

Embora a maior parte dos teosofistas subscreva todas ou a maior parte das afirmações anteriores, há que ter presente que essas afirmações podem ter várias interpretações dependendo de cada teosofista. Além disso, embora alguns comentadores realcem a presença da filosofia oriental (hindu e budista) no ensinamento teosófico depois de 1880, quando Blavatsky e Olcott chegaram à Índia, isto não impediu a presença de importantes ensinamentos, mitos e doutrinas ocidentais (cabalísticos, cristãos, maçónicos e pré-cristãos) depois de 1880 ou a presença de pensamento oriental antes de 1880, conforme é evidenciado em Ísis sem Véu.

Helena Petrovna Blavatsky

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