Continuamos com a tradução do excelente artigo do professor James A. Santucci, "A Teosofia e as Sociedades Teosóficas". Esta semana é publicada a sexta de dez partes.
Leadbeater, Krishnamurti e depois
As atividades de Besant na
Sociedade durante a sua presidência estão proximamente associadas com as de outro
teosofista proeminente, embora controverso, Charles Webster Leadbeater
(1854-1934). Em grande medida, sob a sua influência, foram introduzidos
ensinamentos teosóficos na S.T. que eram considerados pelos Blavatskyanos como
estando desviados dos ensinamentos originais de Blavatsky e dos seus Mestres.
Ironicamente chamados de “neo-teosofia” por F.T. Brooks, um escritor teosófico
e tutor de Jawaharlal Nehru nos primeiros anos do século XX, estes ensinamentos
eram considerados por aqueles que se limitavam aos escritos de Blavatsky e
Judge como heréticos, de acordo com as opiniões que apareciam na literatura
teosófica dos anos 20 do século passado.
A “neo-teosofia” incluía dois
atos altamente significativos e inovadores: a descoberta por Leadbeater, em
1909, do veículo físico para o Instrutor do Mundo vindouro – conhecido como
Maitreya ou o Cristo – Jiddu Krishnamurti (1895-1986), e também uma aliança desde
1917 com a Igreja Católica Liberal (antes, Igreja Vetero-católica) sob a
direção dos Bispos Leadbeater e James Wedgwood. Como se as atividades acima
mencionadas não fossem suficientemente controversas para muitos dentro do
movimento teosófico, Leadbeater, o homem por trás destas inovações, estava ele
próprio sob um manto de escândalo.
Em 1906 foram levantadas
acusações pela secretária da Secção Esotérica na América, Helen Dennis, de que
ele estava ensinando ao seu jovem filho e a outros rapazes masturbação como
forma de prática oculta. Esta denúncia, que levantou o espectro da pederastia
aos olhos do seu acusador, conduziu ao abandono da Sociedade por parte de
Leadbeater. Depois da sua readmissão em 1908 com a ajuda de Besant, Leadbeater
descobriu pouco tempo depois J. Krishnamurti, um jovem rapaz hindu que segundo ele
haveria de ser o veículo para o Instrutor do Mundo vindouro. Muito do trabalho
da Sociedade girava em torno do treino do rapaz e da preparação do caminho para
a vinda do Instrutor do Mundo.
Jiddu Krishnamurti |
Em 1911, outra organização
conhecida como a Ordem da Estrela do Oriente (O.E.O) foi fundada em Benares por
George Arundale – que rapidamente se tornou uma organização mundial com a ajuda
da Senhora Besant – especificamente para aquele propósito. No órgão oficial da
Ordem da Estrela do Oriente, The Herald
of the Star 1.1 (11 de janeiro de 1912): 1-2, J. Krishnamurti (ou quem
escreveu em seu nome) notou que George S. Arundale, o diretor do Colégio
Central Hindu, foi o verdadeiro fundador da Ordem, conhecida na altura da sua
formação como a “Ordem do Sol Nascente”. O seu propósito era “juntar todos
aqueles…que acreditavam na vinda próxima de um grande Instrutor, e estavam
desejosos de trabalhar de algum modo para se preparar para Ele.”
Não muito tempo depois, o Secretário-geral
da Secção Alemã, Rudolf Steiner, desencantado com a O.E.O. e desagradado com a
presidência de Besant, agiu de forma a levar o Conselho Geral da S.T. a aconselhar
a Presidente no sentido de fechar a Secção alemã e a criar uma nova Secção para
algumas lojas alemãs (Theosophist de
fevereiro de 1913, p. 637). Cinquenta e cinco de sessenta e nove das lojas
alemãs seguiram Steiner, que rapidamente organizou uma nova sociedade, a
Sociedade Antroposófica, no início de 1913. Apesar das deserções de Steiner e
de outros, a Sociedade Teosófica, contudo, ganhou mais membros do que perdeu. A
promessa da vinda iminente do Instrutor Mundial no veículo de Krishnamurti
contribuiu para uma controvérsia sem precedentes dentro da Sociedade Teosófica
e também para a sua maior popularidade, isto até 1929, altura em que
Krishnamurti renunciou ao seu papel e deixou a Sociedade. Depois disso, a
Sociedade nunca recuperou a popularidade que teve nos anos 1920.
Rudolf Steiner |
O segundo acontecimento que gerou
controvérsia foi a promoção da Igreja Vetero-Católica (mais tarde Católica
Liberal) por parte de membros da Sociedade. Esta promoção foi principalmente
uma ideia original de C.W. Leadbeater, que com James Ingall Wedgwood
(1883-1951), ajudou a fundar a Igreja. Os teosofistas, especialmente aqueles
não pertencentes aos grupos de Adyar, viam os rituais da I.C.L. e a aceitação
da sucessão apostólica, onde o episcopado é uma realidade, como não tendo lugar
no ensinamento teosófico. À medida que os anos 1920 progrediam, houve uma
tentativa de combinar as alegações centradas no Instrutor Mundial com o ritual
da I.C.L., incluindo a seleção de doze “apóstolos” para Krishnamurti, mas por
fim todo o plano se desintegrou com a rejeição por parte de Krishnamurti do
papel de Instrutor Mundial.
Depois de 1929, a S.T. redimensionou-se
e voltou aos ensinamentos geralmente associados à Teosofia. Depois da morte de
Besant em 1933, a presidência passou para George Arundale (1934-1945), que
continuou o ativismo que foi tão típico do mandato de Besant. Durante a sua
presidência, a sua esposa, Srimati Rukmini Devi (1904-1986), fundou a Academia
Internacional das Artes a 6 de janeiro de 1936 (mais tarde conhecido como Kalakshetra,
“o campo ou o lugar sagrado das Artes”), tendo como objetivos (1) “enfatizar a
unidade essencial de toda a Arte verdadeira” (2) “trabalhar para o
reconhecimento das artes como vitais para o crescimento individual, nacional,
religioso e internacional”, e (3) “providenciar aquelas atividades, pois são acessórias
para os objetivos referidos.”
George S. Arundale |
Ao segundo propósito do
Kalakshetra esteve associado um renascimento e desenvolvimento da antiga
cultura da Índia. Para Arundale, a dança indiana revelava um ritual oculto, nas
suas palavras “o ocultismo da beleza”. Depois dele, veio um protegido de
Leadbeater, C. Jinarajadasa (1946-1953), que, além dos seus vários contributos
para a Sociedade, demonstrou um interesse ativo na publicação de muitos
documentos relacionados com a história da Sociedade desde os primeiros anos da
S.T.. Sendo um dos principais autores teosóficos, Jinarajadasa evidenciou uma
distinta inclinação académica nos seus trabalhos publicados e de forma a levar
a cabo o terceiro objetivo da Sociedade, inaugurou em 1949 a Escola da
Sabedoria na sede internacional da Sociedade Teosófica em Adyar, na mesma data
em que a S.T. iniciou a sua atividade, a 17 de novembro. Chamava-se o Centro
Internacional de Estudos Teosóficos nos anos 70, mas foi rebatizada de Escola
da Sabedoria em 1985.
Na comunicação aquando da
inauguração da escola, Jinarajadasa declarou que o seu propósito era “capacitar
os seus estudantes a se tornarem, de acordo com o seu temperamento e aptidão,
filósofos, cientistas, professores éticos, artistas, juristas de direito
económico, estadistas, educadores, urbanistas e todos os tipos possíveis de
servidores da humanidade” (“A Escola da Sabedoria: discurso inaugural proferido
a 17 de novembro de 1949”, Theosophist,
71.3 [dezembro de 1949]: 156).
C. Jinarajadasa |
Depois de Jinarajadasa veio N. Sri Ram (1953-1973), responsável pela construção do atual edifício da Biblioteca de Adyar, John S. Coats (1973-1979) e a atual presidente internacional da S.T., Radha Burnier (1980-) [NT:A senhora Burnier faleceu a 31 de outubro de 2013 e as eleições que se seguiram foram ganhas pelo norte-americano Tim Boyd, que assumiu a presidência da S.T. Adyar no final de abril de 2014]. Coats morreu a 26 de dezembro de 1979. De janeiro a junho de 1980, Surendra Narayan atuou como vice-presidente responsável e Burnier tomou posse em julho de 1980.
John S. Coats |
Continua na próxima semana.
Sem comentários:
Enviar um comentário