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sábado, 23 de agosto de 2014

A Teosofia e as Sociedades Teosóficas (6ª parte)

Continuamos com a tradução do excelente artigo do professor James A. Santucci, "A Teosofia e as Sociedades Teosóficas". Esta semana é publicada a sexta de dez partes.



Leadbeater, Krishnamurti e depois

As atividades de Besant na Sociedade durante a sua presidência estão proximamente associadas com as de outro teosofista proeminente, embora controverso, Charles Webster Leadbeater (1854-1934). Em grande medida, sob a sua influência, foram introduzidos ensinamentos teosóficos na S.T. que eram considerados pelos Blavatskyanos como estando desviados dos ensinamentos originais de Blavatsky e dos seus Mestres. Ironicamente chamados de “neo-teosofia” por F.T. Brooks, um escritor teosófico e tutor de Jawaharlal Nehru nos primeiros anos do século XX, estes ensinamentos eram considerados por aqueles que se limitavam aos escritos de Blavatsky e Judge como heréticos, de acordo com as opiniões que apareciam na literatura teosófica dos anos 20 do século passado.

A “neo-teosofia” incluía dois atos altamente significativos e inovadores: a descoberta por Leadbeater, em 1909, do veículo físico para o Instrutor do Mundo vindouro – conhecido como Maitreya ou o Cristo – Jiddu Krishnamurti (1895-1986), e também uma aliança desde 1917 com a Igreja Católica Liberal (antes, Igreja Vetero-católica) sob a direção dos Bispos Leadbeater e James Wedgwood. Como se as atividades acima mencionadas não fossem suficientemente controversas para muitos dentro do movimento teosófico, Leadbeater, o homem por trás destas inovações, estava ele próprio sob um manto de escândalo.

Em 1906 foram levantadas acusações pela secretária da Secção Esotérica na América, Helen Dennis, de que ele estava ensinando ao seu jovem filho e a outros rapazes masturbação como forma de prática oculta. Esta denúncia, que levantou o espectro da pederastia aos olhos do seu acusador, conduziu ao abandono da Sociedade por parte de Leadbeater. Depois da sua readmissão em 1908 com a ajuda de Besant, Leadbeater descobriu pouco tempo depois J. Krishnamurti, um jovem rapaz hindu que segundo ele haveria de ser o veículo para o Instrutor do Mundo vindouro. Muito do trabalho da Sociedade girava em torno do treino do rapaz e da preparação do caminho para a vinda do Instrutor do Mundo.


Jiddu Krishnamurti

Em 1911, outra organização conhecida como a Ordem da Estrela do Oriente (O.E.O) foi fundada em Benares por George Arundale – que rapidamente se tornou uma organização mundial com a ajuda da Senhora Besant – especificamente para aquele propósito. No órgão oficial da Ordem da Estrela do Oriente, The Herald of the Star 1.1 (11 de janeiro de 1912): 1-2, J. Krishnamurti (ou quem escreveu em seu nome) notou que George S. Arundale, o diretor do Colégio Central Hindu, foi o verdadeiro fundador da Ordem, conhecida na altura da sua formação como a “Ordem do Sol Nascente”. O seu propósito era “juntar todos aqueles…que acreditavam na vinda próxima de um grande Instrutor, e estavam desejosos de trabalhar de algum modo para se preparar para Ele.”

Não muito tempo depois, o Secretário-geral da Secção Alemã, Rudolf Steiner, desencantado com a O.E.O. e desagradado com a presidência de Besant, agiu de forma a levar o Conselho Geral da S.T. a aconselhar a Presidente no sentido de fechar a Secção alemã e a criar uma nova Secção para algumas lojas alemãs (Theosophist de fevereiro de 1913, p. 637). Cinquenta e cinco de sessenta e nove das lojas alemãs seguiram Steiner, que rapidamente organizou uma nova sociedade, a Sociedade Antroposófica, no início de 1913. Apesar das deserções de Steiner e de outros, a Sociedade Teosófica, contudo, ganhou mais membros do que perdeu. A promessa da vinda iminente do Instrutor Mundial no veículo de Krishnamurti contribuiu para uma controvérsia sem precedentes dentro da Sociedade Teosófica e também para a sua maior popularidade, isto até 1929, altura em que Krishnamurti renunciou ao seu papel e deixou a Sociedade. Depois disso, a Sociedade nunca recuperou a popularidade que teve nos anos 1920.


Rudolf Steiner

O segundo acontecimento que gerou controvérsia foi a promoção da Igreja Vetero-Católica (mais tarde Católica Liberal) por parte de membros da Sociedade. Esta promoção foi principalmente uma ideia original de C.W. Leadbeater, que com James Ingall Wedgwood (1883-1951), ajudou a fundar a Igreja. Os teosofistas, especialmente aqueles não pertencentes aos grupos de Adyar, viam os rituais da I.C.L. e a aceitação da sucessão apostólica, onde o episcopado é uma realidade, como não tendo lugar no ensinamento teosófico. À medida que os anos 1920 progrediam, houve uma tentativa de combinar as alegações centradas no Instrutor Mundial com o ritual da I.C.L., incluindo a seleção de doze “apóstolos” para Krishnamurti, mas por fim todo o plano se desintegrou com a rejeição por parte de Krishnamurti do papel de Instrutor Mundial.

Depois de 1929, a S.T. redimensionou-se e voltou aos ensinamentos geralmente associados à Teosofia. Depois da morte de Besant em 1933, a presidência passou para George Arundale (1934-1945), que continuou o ativismo que foi tão típico do mandato de Besant. Durante a sua presidência, a sua esposa, Srimati Rukmini Devi (1904-1986), fundou a Academia Internacional das Artes a 6 de janeiro de 1936 (mais tarde conhecido como Kalakshetra, “o campo ou o lugar sagrado das Artes”), tendo como objetivos (1) “enfatizar a unidade essencial de toda a Arte verdadeira” (2) “trabalhar para o reconhecimento das artes como vitais para o crescimento individual, nacional, religioso e internacional”, e (3) “providenciar aquelas atividades, pois são acessórias para os objetivos referidos.”


George S. Arundale

Ao segundo propósito do Kalakshetra esteve associado um renascimento e desenvolvimento da antiga cultura da Índia. Para Arundale, a dança indiana revelava um ritual oculto, nas suas palavras “o ocultismo da beleza”. Depois dele, veio um protegido de Leadbeater, C. Jinarajadasa (1946-1953), que, além dos seus vários contributos para a Sociedade, demonstrou um interesse ativo na publicação de muitos documentos relacionados com a história da Sociedade desde os primeiros anos da S.T.. Sendo um dos principais autores teosóficos, Jinarajadasa evidenciou uma distinta inclinação académica nos seus trabalhos publicados e de forma a levar a cabo o terceiro objetivo da Sociedade, inaugurou em 1949 a Escola da Sabedoria na sede internacional da Sociedade Teosófica em Adyar, na mesma data em que a S.T. iniciou a sua atividade, a 17 de novembro. Chamava-se o Centro Internacional de Estudos Teosóficos nos anos 70, mas foi rebatizada de Escola da Sabedoria em 1985.

Na comunicação aquando da inauguração da escola, Jinarajadasa declarou que o seu propósito era “capacitar os seus estudantes a se tornarem, de acordo com o seu temperamento e aptidão, filósofos, cientistas, professores éticos, artistas, juristas de direito económico, estadistas, educadores, urbanistas e todos os tipos possíveis de servidores da humanidade” (“A Escola da Sabedoria: discurso inaugural proferido a 17 de novembro de 1949”, Theosophist, 71.3 [dezembro de 1949]: 156).


C. Jinarajadasa

Depois de Jinarajadasa veio N. Sri Ram (1953-1973), responsável pela construção do atual edifício da Biblioteca de Adyar, John S. Coats (1973-1979) e a atual presidente internacional da S.T., Radha Burnier (1980-) [NT:A senhora Burnier faleceu a 31 de outubro de 2013 e as eleições que se seguiram foram ganhas pelo norte-americano Tim Boydque assumiu a presidência da S.T. Adyar no final de abril de 2014]. Coats morreu a 26 de dezembro de 1979. De janeiro a junho de 1980, Surendra Narayan atuou como vice-presidente responsável e Burnier tomou posse em julho de 1980.


John S. Coats

Continua na próxima semana.

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