Realizou-se há três semanas no
Centro Teosófico Internacional, em Naarden, na Holanda, mais uma Conferência Internacional de Teosofia (ITC). Este ano o tema foi “Teosofia, Unidade e a
Ajuda ao Mundo…E a partir daqui, por onde vamos?”. Estiveram presentes
teosofistas ligados às principais tradições (com exceção da Sociedade Teosófica
de Pasadena, que se posicionou à margem desta iniciativa) e também teosofistas
independentes. Muitos países estiveram representados (Holanda, Alemanha, Itália, França, Bélgica, Espanha, Eslovénia, Suécia, Finlândia, Reino Unido, Portugal, Hungria, Brasil, EUA, Nova Zelândia, etc...). Ao contrário de ITC anteriores, baseadas em sequências de
palestras, esta conferência teve um programa especialmente desenhado para o
diálogo ente os participantes.
O PRIMEIRO DIA
Na 6ª feira (primeiro dia do
evento), com casa cheia - perto de 140 teosofistas - a saliência vai para o discurso
aberto e sereno de Tim Boyd, o presidente da Sociedade Teosófica (ST) de Adyar,
perfeitamente enquadrado no tema da Conferência.
Tim Boyd, presidente da ST Adyar |
Nesse mesmo dia, já depois do
jantar foi a carta do Mâha Chohan – distribuída a todos os presentes - que
esteve no centro das atenções, sendo discutida por um painel com Jon Knebel (da
ST Adyar-EUA), Herman Vermeulen (o líder da ST Point Loma-Blavatskyhouse) e
Eugene Jennings (Loja Unida de Teosofistas).
Os vídeos relativos ao dia de 6ª
feira (e manhã de sábado – onde o tema foi a Religião) estão disponíveis aqui.
OS DIAS SEGUINTES
Ao contrário do primeiro dia, os dias seguintes - sábado,
domingo e 2ª feira - foram dias de intenso trabalho na Conferência.
Para quem não esteve em Naarden, o material disponível na
internet parecerá muito mais escasso e eventualmente menos interessante do que
a do ITC do ano passado, em Nova Iorque. Das seis exposições a que se assistiu
nos dias centrais da Conferência, repartidas de igual modo pelos temas
Religião, Filosofia e Ciência, destacava as relativas a este último tema, por
Joop Smits e Jacques Mahnich, bastante elogiadas pelos presentes. No domínio da
Religião, saliência para a comunicação de Barend Voorham e na de Filosofia,
essencialmente pelo conteúdo informativo, valerá a pena visualizar a
intervenção de Trân-Kim-Diêu.
Jacques Mahnich |
TRABALHANDO EM EQUIPA
Depois do primeiro conjunto de palestras (sobre Religião)
foram divulgados os grupos de trabalho, já constituídos previamente (os líderes
dos grupos receberam formação específica na manhã de 6ª feira por parte de April Hejka-Ekins, que há algum tempo foi alvo de um post no Lua em Escorpião, a propósito de uma palestra dada na Grécia sobre a ética nas obras de H.P. Blavatsky).
Depois das apresentações entre os elementos que o compunham, os grupos discutiram questões basicamente relacionadas com o modo como poderia a Teosofia se tornar mais presente na Religião (e na Filosofia e na Ciência), tendo que apresentar as suas conclusões numa folha A0 que depois seria colocada num placard.
Na dinâmica de grupo
eram evidentes as idiossincrasias ligadas a cada tradição: a enfâse na liberdade
de pensamento defendida pelos teosofistas da ST Adyar - particularmente os
simpatizantes de Krishnamurti, nada propensos a ficarem presos aos conceitos
que surgiram durante a primeira geração de teosofistas; a confiança inabalável
dos teosofistas da Loja Unida de Teosofistas (LUT) nos ensinamentos originais e
o voluntarismo entusiasta da ST Point Loma-Blavatskyhouse, cheia de energia e
de ideias para propagar a Teosofia, também assentes em fundamentos bem firmes. E não
esquecer, os teosofistas independentes ou não-filiados - como prefiro designar
– prontos a ouvir ambos os lados, mas também a expressar as suas perspetivas,
por vezes diferentes e conciliadoras.
Besant Hall, local onde decorreu grande parte do ITC |
Inevitavelmente surgiram momentos onde a discussão foi mais
acesa, às vezes intervalada por uma certa tensão. Houve quem tivesse
dificuldade em aceitar ficar em minoria e simplesmente decidisse dar uma volta
pelo verdejante complexo onde se realizava o ITC. Por vezes, parecia que
estávamos assistindo numa microescala ao subjacente a muita da dinâmica que
caraterizou o movimento teosófico – por um lado, a capacidade para trocar
ideias, chegar a consensos e produzir algo maior do que a soma das partes, ou
por outro lado, a desarmonia total, onde a vontade de ter razão impera,
esquecendo-se os ideais de altruísmo, fraternidade e de priorizar o bem comum.
Obviamente que isto não se aplicaria a todas as situações. Com certeza em
certos momentos, a decisão de romper pode ser a mais acertada, mas não entremos
nessas questões, ainda para mais quando o artigo é sobre o ITC, onde o
propósito é o estabelecimento de uma base de entendimento entre teosofistas de
diferentes tradições.
Para uma ampla maioria foi sem dúvida uma descoberta
maravilhosa e muitas ligações foram criadas.
No domingo à tarde foi adotado um novo sistema ao qual me
referia na brincadeira, ser uma espécie de speed-dating
entre teosofistas. Pequenas mesas com 4 ou 5 elementos onde se dialogava num
sistema rotativo que obrigava cada participante (com exceção do líder da mesa)
a se levantar ao fim de 15 minutos e a mudar de mesa, consecutivamente durante mais de 2
horas. Naturalmente, isto criou mais interação entre os presentes e praticamente
todos se ficaram a conhecer.
Crystal Hall, local onde eram servidas as refeições |
A DECLARAÇÃO DE NAARDEN
No domingo à noite, num grupo mais restrito, discutiram-se
propostas para a declaração de Naarden, que no presente momento ainda se
encontra em discussão. Até ao momento reza assim:
1. Respeitando as diferentes correntes teosóficas,
agiremos como o farol de luz, para levar ao Mundo a Teosofia conforme explanada
por H.P. Blavatsky, e através de cooperação harmoniosa fortaleceremos o
movimento teosófico para o benefício da humanidade.
2. No espírito da unidade e fraternidade,
esforçar-nos-emos nos para tornar a Teosofia uma força viva no Mundo.
3. Comprometemo-nos através da aprendizagem, formação
e da polinização cruzada a popularizar e a preservar os ensinamentos vivos
para as gerações futuras.
Os pontos ainda em debate são os seguintes:
-“o farol de luz” ou “um farol de luz”?
- “a Teosofia conforme explanada por H.P. Blavatsky” ou por
“H.P. Blavatsky e os Mestres”?
- como o primeiro ponto não reuniu unanimidade mantém-se a
redação do mesmo em discussão. O texto alternativo é:
“Reconhecendo os ensinamentos de H.P. Blavatsky como o nosso
alicerce, e respeitando a diversidade e a liberdade das diferentes correntes
teosóficas, agiremos como um farol de luz para levar a Teosofia ao mundo.
Através de cooperação harmoniosa fortaleceremos o movimento teosófico para
benefício da humanidade.”
ORGANIZAÇÃO IMPECÁVEL
Jan Kind, que está à frente da iniciativa Theosophy Forward e Herman C. Vermeulen,
líder da ST Point Loma-Blavatskyhouse foram os coorganizadores deste ITC.
Marijn Gisbers foi o dinamizador nas discussões gerais, um papel que
desempenhou com maestria.
Herman C. Vermeulen |
Jan Kind |
Na organização do evento há a destacar o papel da ST Point
Loma-Blavatskyhouse cujos membros foram inexcedíveis em suprir todas as
necessidades. Um trabalho notável de uma equipa muito coesa, e elogiado por
todos.
Nunca é demais repetir quão maravilhoso é este complexo do Centro Internacional Teosófico (que também tem a sigla ITC) em Naarden, cuja história foi contada por Arend Heijbroek na noite de sábado e que está disponível no Youtube.
E AGORA, POR ONDE VAMOS?
Muitos dos presentes, a maior parte dos quais já tinha
estado presente em anteriores ITC, considerou a edição deste ano um marco
histórico pela intensidade de diálogo que se estabeleceu entre os teosofistas
das diferentes correntes. A questão que se colocava é se esta energia iria
perdurar ou não. É natural que o entusiasmo estivesse ao rubro no final da
Conferência, mas o tempo vai passando, deitando alguma água na
fervura.
De qualquer modo, uma base mais sólida para permitir um
diálogo mais maduro e proveitoso para todos, foi construída. Contudo, antes de
se entrar na fase seguinte, haverá provavelmente que se aprofundar os laços
criados.
Foto de grupo do ITC 2014 |
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