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sábado, 6 de setembro de 2014

ITC 2014 – A Construção de Pontes Sólidas para o Futuro

Realizou-se há três semanas no Centro Teosófico Internacional, em Naarden, na Holanda, mais uma Conferência Internacional de Teosofia (ITC). Este ano o tema foi “Teosofia, Unidade e a Ajuda ao Mundo…E a partir daqui, por onde vamos?”. Estiveram presentes teosofistas ligados às principais tradições (com exceção da Sociedade Teosófica de Pasadena, que se posicionou à margem desta iniciativa) e também teosofistas independentes. Muitos países estiveram representados (Holanda, Alemanha, Itália, França, Bélgica, Espanha, Eslovénia, Suécia, Finlândia, Reino Unido, Portugal, Hungria, Brasil, EUA, Nova Zelândia, etc...). Ao contrário de ITC anteriores, baseadas em sequências de palestras, esta conferência teve um programa especialmente desenhado para o diálogo ente os participantes.




O PRIMEIRO DIA

Na 6ª feira (primeiro dia do evento), com casa cheia - perto de 140 teosofistas - a saliência vai para o discurso aberto e sereno de Tim Boyd, o presidente da Sociedade Teosófica (ST) de Adyar, perfeitamente enquadrado no tema da Conferência.

Tim Boyd, presidente da ST Adyar


Nesse mesmo dia, já depois do jantar foi a carta do Mâha Chohan – distribuída a todos os presentes - que esteve no centro das atenções, sendo discutida por um painel com Jon Knebel (da ST Adyar-EUA), Herman Vermeulen (o líder da ST Point Loma-Blavatskyhouse) e Eugene Jennings (Loja Unida de Teosofistas).

Os vídeos relativos ao dia de 6ª feira (e manhã de sábado – onde o tema foi a Religião) estão disponíveis aqui.


OS DIAS SEGUINTES

Ao contrário do primeiro dia, os dias seguintes - sábado, domingo e 2ª feira - foram dias de intenso trabalho na Conferência.

Para quem não esteve em Naarden, o material disponível na internet parecerá muito mais escasso e eventualmente menos interessante do que a do ITC do ano passado, em Nova Iorque. Das seis exposições a que se assistiu nos dias centrais da Conferência, repartidas de igual modo pelos temas Religião, Filosofia e Ciência, destacava as relativas a este último tema, por Joop Smits e Jacques Mahnich, bastante elogiadas pelos presentes. No domínio da Religião, saliência para a comunicação de Barend Voorham e na de Filosofia, essencialmente pelo conteúdo informativo, valerá a pena visualizar a intervenção de Trân-Kim-Diêu.

Jacques Mahnich


Os vídeos para sábado à tarde (Filosofia) estão aqui e para domingo de manhã (Ciência) aqui.


TRABALHANDO EM EQUIPA

Depois do primeiro conjunto de palestras (sobre Religião) foram divulgados os grupos de trabalho, já constituídos previamente (os líderes dos grupos receberam formação específica na manhã de 6ª feira por parte de April Hejka-Ekins, que há algum tempo foi alvo de um post no Lua em Escorpião, a propósito de uma palestra dada na Grécia sobre a ética nas obras de H.P. Blavatsky).





Depois das apresentações entre os elementos que o compunham, os grupos discutiram questões basicamente relacionadas com o modo como poderia a Teosofia se tornar mais presente na Religião (e na Filosofia e na Ciência), tendo que apresentar as suas conclusões numa folha A0 que depois seria colocada num placard.

Na dinâmica de grupo eram evidentes as idiossincrasias ligadas a cada tradição: a enfâse na liberdade de pensamento defendida pelos teosofistas da ST Adyar - particularmente os simpatizantes de Krishnamurti, nada propensos a ficarem presos aos conceitos que surgiram durante a primeira geração de teosofistas; a confiança inabalável dos teosofistas da Loja Unida de Teosofistas (LUT) nos ensinamentos originais e o voluntarismo entusiasta da ST Point Loma-Blavatskyhouse, cheia de energia e de ideias para propagar a Teosofia, também assentes em fundamentos bem firmes. E não esquecer, os teosofistas independentes ou não-filiados - como prefiro designar – prontos a ouvir ambos os lados, mas também a expressar as suas perspetivas, por vezes diferentes e conciliadoras.


Besant Hall, local onde decorreu grande parte do ITC

Inevitavelmente surgiram momentos onde a discussão foi mais acesa, às vezes intervalada por uma certa tensão. Houve quem tivesse dificuldade em aceitar ficar em minoria e simplesmente decidisse dar uma volta pelo verdejante complexo onde se realizava o ITC. Por vezes, parecia que estávamos assistindo numa microescala ao subjacente a muita da dinâmica que caraterizou o movimento teosófico – por um lado, a capacidade para trocar ideias, chegar a consensos e produzir algo maior do que a soma das partes, ou por outro lado, a desarmonia total, onde a vontade de ter razão impera, esquecendo-se os ideais de altruísmo, fraternidade e de priorizar o bem comum. Obviamente que isto não se aplicaria a todas as situações. Com certeza em certos momentos, a decisão de romper pode ser a mais acertada, mas não entremos nessas questões, ainda para mais quando o artigo é sobre o ITC, onde o propósito é o estabelecimento de uma base de entendimento entre teosofistas de diferentes tradições.

Para uma ampla maioria foi sem dúvida uma descoberta maravilhosa e muitas ligações foram criadas.

No domingo à tarde foi adotado um novo sistema ao qual me referia na brincadeira, ser uma espécie de speed-dating entre teosofistas. Pequenas mesas com 4 ou 5 elementos onde se dialogava num sistema rotativo que obrigava cada participante (com exceção do líder da mesa) a se levantar ao fim de 15 minutos e a mudar de mesa, consecutivamente durante mais de 2 horas. Naturalmente, isto criou mais interação entre os presentes e praticamente todos se ficaram a conhecer.


Crystal Hall, local onde eram servidas as refeições


A DECLARAÇÃO DE NAARDEN

No domingo à noite, num grupo mais restrito, discutiram-se propostas para a declaração de Naarden, que no presente momento ainda se encontra em discussão. Até ao momento reza assim:

1.  Respeitando as diferentes correntes teosóficas, agiremos como o farol de luz, para levar ao Mundo a Teosofia conforme explanada por H.P. Blavatsky, e através de cooperação harmoniosa fortaleceremos o movimento teosófico para o benefício da humanidade.

2. No espírito da unidade e fraternidade, esforçar-nos-emos nos para tornar a Teosofia uma força viva no Mundo.

3. Comprometemo-nos através da aprendizagem, formação e da polinização cruzada a popularizar e a preservar os ensinamentos vivos para as gerações futuras.

Os pontos ainda em debate são os seguintes:

-“o farol de luz” ou “um farol de luz”?
- “a Teosofia conforme explanada por H.P. Blavatsky” ou por “H.P. Blavatsky e os Mestres”?
- como o primeiro ponto não reuniu unanimidade mantém-se a redação do mesmo em discussão. O texto alternativo é:

“Reconhecendo os ensinamentos de H.P. Blavatsky como o nosso alicerce, e respeitando a diversidade e a liberdade das diferentes correntes teosóficas, agiremos como um farol de luz para levar a Teosofia ao mundo. Através de cooperação harmoniosa fortaleceremos o movimento teosófico para benefício da humanidade.”


ORGANIZAÇÃO IMPECÁVEL

Jan Kind, que está à frente da iniciativa Theosophy Forward e Herman C. Vermeulen, líder da ST Point Loma-Blavatskyhouse foram os coorganizadores deste ITC. Marijn Gisbers foi o dinamizador nas discussões gerais, um papel que desempenhou com maestria.

Herman C. Vermeulen
Jan Kind

Na organização do evento há a destacar o papel da ST Point Loma-Blavatskyhouse cujos membros foram inexcedíveis em suprir todas as necessidades. Um trabalho notável de uma equipa muito coesa, e elogiado por todos.

Nunca é demais repetir quão maravilhoso é este complexo do Centro Internacional Teosófico (que também tem a sigla ITC) em Naarden, cuja história foi contada por Arend Heijbroek na noite de sábado e que está disponível no Youtube.




E AGORA, POR ONDE VAMOS?

Muitos dos presentes, a maior parte dos quais já tinha estado presente em anteriores ITC, considerou a edição deste ano um marco histórico pela intensidade de diálogo que se estabeleceu entre os teosofistas das diferentes correntes. A questão que se colocava é se esta energia iria perdurar ou não. É natural que o entusiasmo estivesse ao rubro no final da Conferência, mas o tempo vai passando, deitando alguma água na fervura.

De qualquer modo, uma base mais sólida para permitir um diálogo mais maduro e proveitoso para todos, foi construída. Contudo, antes de se entrar na fase seguinte, haverá provavelmente que se aprofundar os laços criados.

Foto de grupo do ITC 2014

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