Continuamos com a tradução (adaptada) do texto “O Conde deSt. Germain” de David Pratt.
7. O príncipe Carl e os anos finais
O príncipe Carl era neto do Rei Jorge II de Inglaterra e em
1769 começaria a governar os ducados de Schleswig e Holstein (hoje parte da
Dinamarca) em nome do governo do seu cunhado, o rei Cristiano VII da Dinamarca
e Noruega. Tornou-se maçon a partir de 1774. Sobre St. Germain disse:
Carl de Hesse-Cassel |
“Ele falou-me das grandes coisas que queria para a
humanidade, etc…Eu não estava particularmente desejoso disso, mas no fim tive
os meus escrúpulos sobre rejeitar conhecimento que era muito importante e
tornei-me seu discípulo. Ele falava muito da melhoria das cores, que custaria
praticamente nada, da melhoria dos metais, acrescentando que era absolutamente necessário aderir
fielmente a este princípio…Não existe praticamente nada na Natureza que ele não
saiba como melhorar e usar. Ele confidenciou-me algo sobre a sabedoria da
Natureza, mas apenas a parte introdutória, fazendo com que eu, por experiência própria, tentasse alcançar sucesso, regozijando-se ele
extremamente com os meus progressos. Assim aconteceu com os metais e pedras
preciosas, mas quanto às cores ele acabou por me dá-las, assim como importante
informação.”
A documentação deixada pelo príncipe Carl incluía a receita
para o famoso chá de Saint-Germain: continha vagens de sene, flores
envelhecidas e erva-doce embebido em vinho. Tinha um efeito laxativo e
propriedades gerais saudáveis. Carl conta que a sua esposa estava uma vez muito
doente com um ataque de catarro, com muitas dores e com febre. Ela tomou um dos
remédios de Saint-Germain e uma hora depois estava perfeitamente saudável.
Saint-Germain aparentemente seguia a tradição dos antigos herbalistas,
acrescentando alguns refinamentos próprios. Carl escreve:
“Ele sabia perfeitamente tudo sobre ervas e plantas e tinha
descoberto remédios que usava continuamente e que lhe prolongavam a vida e a
saúde. Eu ainda possuo algumas das suas receitas, mas os médicos denunciaram
veementemente a sua ciência após a sua morte. Havia um médico de nome Lossau,
que havia sido um boticário e a quem eu dei doze mil coroas por ano para
trabalhar com os remédios que o Conde Saint-Germain lhe havia dado,
principalmente com o seu chá, que os ricos compravam e os pobres recebiam
gratuitamente.
Este médico curou muitas pessoas, das quais, segundo sei,
nenhuma morreu. Mas depois da morte do médico, desgostoso com as propostas que
recebi de todos os lados, eu retirei todas as receitas e não substitui Lossau.”
Há quem diga que Saint-Germain teve um papel importante no
desenvolvimento de sociedades secretas, como os Rosacruzes ou a Maçonaria. Mas
não há provas disso, e até existiam muitos maçons que tinham inveja da fama e
conhecimentos de Saint-Germain, e que por isso lhe eram hostis.
Contudo existe uma carta (embora haja dúvidas da sua
autenticidade) do príncipe Carl onde consta o seguinte:
“Ele sempre agiu como se não soubesse nada de Maçonaria ou
de alto conhecimento, embora durante o último ano uma série de coisas
convenceu-me do contrário…Apesar de nunca se ter declarado Maçon, ele disse
algo estranho, que ele era o “o mais antigo dos Maçons”.
Noutra carta Carl descreveria Saint-Germain da seguinte
forma:
“Ele foi provavelmente um dos maiores filósofos que já existiu.
Um amigo da humanidade, só querendo dinheiro para dar aos pobres e também um
amigo dos animais. O seu coração nunca estava ocupado exceto com o bom dos
outros. Ele pensava que fazia o mundo mais feliz ao lhe dar novos prazeres, os
tecidos mais belos, as cores mais belas, muito mais baratas do que antes, pois
os seus corantes soberbos não custavam praticamente nada. Nunca vi um homem com
uma inteligência mais clara do que a dele, junto com uma erudição
(especialmente em história antiga) como eu raramente encontrei.”
Carl diz que os princípios filosóficos de Saint-Germain na
religião eram “puro materialismo”. Portanto vemos aqui Carl a cometer o mesmo
erro de outros maçons. Não sabemos os detalhes das suas conversas e os
ensinamentos de Saint-Germain. Mas o que sabemos é que, segundo Carl,
Saint-Germain “não era de modo algum um adorador de Jesus Cristo”. Carl uma vez
disse a Saint-Germain que achava as suas observações sobre Jesus ofensivas e
que Saint-Germain prometeu não abordar o assunto novamente. Muito provavelmente
ele teria dito que Jesus era um sábio com uma vida sagrada mas não “o filho
unigénito de Deus”. Saint-Germain não era claramente um teísta, um crente na
teologia ortodoxa do Cristianismo, mas também não era um materialista que
acreditasse na existência de nada mais do que a matéria física. Ele poderá ter
aderido a uma visão panteísta da natureza que soasse aos Maçons convencionais
mais como materialismo ateísta.
Por volta de 1783, a saúde de Saint-Germain estava
claramente a falhar. Ele sempre tinha sido muito vulnerável ao frio e sofria de
reumatismo. Terá morrido a 27 de
fevereiro de 1784, mas devido a um grande temporal em 1872, não se sabe
exatamente onde estará agora o corpo de Saint-Germain.
Ele era tão pobre na altura da sua morte, que os seus bens
não cobriam o custo do seu funeral e portanto foi-lhe dado um funeral gratuito
por consideração ao seu patrono, o príncipe Carl. Tudo o que ele deixou foi um
maço de contas pagas, uma pequena quantia de dinheiro, alguma roupa e algumas outras
coisas como lâminas e escovas de dentes. O valor dos seus bens valeria hoje
cerca de 690 libras esterlinas. Não havia diamantes, pinturas, partituras
musicais, livros ou violino.”
Continua na próxima semana…
Sem comentários:
Enviar um comentário