Continuamos com a tradução (adaptada) do texto “O Conde de
St. Germain” de David Pratt.
5. Pelo norte da Europa, Itália e Turquia
Em março de 1762 o Barão van Hardenbroek escrevia no seu
diário que tinha ouvido que Saint-Germain estava a viver perto de Nijmegen. Era
um “grande filósofo”, de “carácter virtuoso” e inclinado a “ajudar a República
com as suas manufaturas” e ajudava também com a preparação de cores para uma
fábrica de porcelanas em Weesp. Tinha ainda “uma enorme correspondência com
países estrangeiros”.
No mesmo ano (1762), Saint-Germain visitará a Rússia para
adquirir alguns dos ingredientes para seus os processos de manufaturação.
Em 1763 passa pela Bélgica onde conhece um ministro, o Conde
Cobenzl que numa carta ao chanceler austríaco diz o seguinte:
“Há cerca de três meses a pessoa conhecida por Conde de St.
Germain passou por aqui e contactou-me. Considero-o o homem mais singular que
já conheci na minha vida. Não conheço exatamente o seu berço, mas acredito que
seja o filho de união clandestina feita por um membro de uma casa ilustre e
poderosa. Dono de grande riqueza, ele vive na maior simplicidade. Ele sabe tudo
e é de uma retidão e bondade dignas de admiração. Entre outras provas de
sabedoria, ele fez várias experiências à frente dos meus olhos e em breve mandarei
a Vossa Excelência algumas amostras. A mais essencial é a transformação de
ferro num metal tão belo como o ouro e que é no mínimo tão bom como o produto
do trabalho de um ourives.
O tingimento e a preparação de couros que ultrapassavam toda
a marroquinaria existente e o mais perfeito curtimento. O tingimento de sedas
atingia uma perfeição nunca vista até agora. O tingimento de lãs era
semelhante, feito nas cores mais vívidas (…) com os ingredientes mais comuns e
a um preço modesto. A produção de cores como as cores de um artista, o
ultramarino tão perfeito como se fosse o de lápis e finalmente a remoção dos
cheiros dos óleos usados na pintura e a preparação do melhor óleo da Provença a
partir de sementes de colza ou de outros óleos de qualidade inferior.”
O Conde Cobenzl ,noutra carta, acrescentará sobre
Saint-Germain:
“(…) ele tem uma propriedade na Holanda que está dois terços
paga e tem valores, que foram avaliados por quem lhe emprestou dinheiro, em
mais de um milhão.(…) É certo que ele é de berço ilustre, mas sendo isso segredo
deve guardá-lo pois o contrário não serve os meus interesses. Ele fala da sua
riqueza e na verdade deve possuir muito, pois onde quer que ele vá, tem dado
maravilhosas ofertas, gasto bastante, nunca pediu nada e nunca deixa dívidas. “
Saint-Germain tinha vindo a refinar os seus processos
secretos durante décadas. As informações dadas por Cobenzl indicam que ele
pegava em ferro em bruto e fazia algo que causava a sua mudança de escuro para
dourado, imergia-o em água (possivelmente com aditivos) e depois de fornecer as
suas propriedades à água, ele removia-o e metia lá dentro os materiais a serem
tingidos. A água onde a tingimento havia sido feito seria mais tarde usado para
fazer tintas. De acordo com um especialista moderno na área do tingimento, a permutação
do ferro para dourado poderia ser cloreto férrico ou mais provavelmente
ferrocianeto. Usando ingredientes bastante comuns e baratos, Saint-Germain
estava a fazer tingimento químico antes da era do tingimento químico.
Jean Overton Fuller [teosofista britânica que também foi
autora de uma interessante biografia de H.P. Blavatsky, chamada “Blavatsky and
her teachers”] diz que a produção de tecidos baratos com um leque de cores
alegres feita por Saint-Germain pode ter antecipado a Revolução Industrial em
mais de um século.
“Saint-Germain estava a oferecer o primeiro mercado em
massa, e podemos ver através destes detalhes o tipo de revolução que ele
poderia ter forjado em França, onde para além de dar um emprego pago aos
trabalhadores - deixados à fome graças à ruína dos proprietários das terras –
ele teria produzido roupa e outros bens a um preço acessível para as pessoas,
reduzindo a distinção de classes e criando novas exportações, ou seja, nova
riqueza interna, assim talvez evitando a sangrenta Revolução que se seguiu."
Muito pouco se sabe sobre se as fábricas que Saint-Germain
ajudou a montar em vários lugares foram um sucesso duradouro e o alcance do seu
impacto económico.
Em 1765 St. Germain estava na Rússia, tendo em 1770
participado numa batalha que opunha os russos aos otomanos. Lutou ao lado dos
russos, muito provavelmente ao lado do comandante russo, seu amigo, Alexei
Orlov.
Alexei Orlov (foto wikipedia) |
Continua na próxima semana…
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