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sábado, 31 de agosto de 2013

Mitos e verdades sobre o Conde de Saint-Germain (8ª parte)

Continuamos com a tradução (adaptada) do texto “O Conde deSt. Germain” de David Pratt.

10. Os escritos de Saint-Germain

Sobre os escritos de Saint-Germain, HPB escreve:

“O Conde de Saint-Germain deixou nas mãos deste Maçon [um homem que vivia em Londres e que tinha  falecido nos primeiros meses de 1889] alguns documentos com a história da Maçonaria, contendo a chave para vários mistérios mal entendidos. Ele fê-lo com a condição que estes documentos se tornassem a herança secreta de todos os descendentes dos cabalistas que se tornassem maçons. Estes documentos contudo eram valiosos apenas para dois maçons, o pai e o filho que havia morrido e não terão qualquer utilidade para mais alguém na Europa. Antes da sua morte, estes preciosos documentos foram deixados a um oriental (hindu) que foi encarregue de transmiti-los a uma certa pessoa que viria a Amritsar, Cidade da imortalidade, para reclamá-los.”

De acordo com Blavatsky, uma cópia única dos manuscritos do Vaticano sobre a Cabala diz-se ter estado na posse de Saint-Germain. Diz ela que o pergaminho contém a mais completa exposição de como as inteligências superiores – que foram mais tarde coletivamente transformadas num Deus criador – formaram um universo orgânico e inclui ainda os pontos de vista dos Luciferianos e outros Gnósticos. Ela acrescenta que os “sete sóis da vida” (logoi solares, dhyani-chohans)  - apenas quatro dos quais são mencionados nas edições públicas da Cabala - são referidos na ordem em que se encontram na doutrina Hindu do sapta-surya (“sete sóis”), indicando que os ensinamentos tiveram origem na “Doutrina Secreta dos Arianos”.

A autoria do notável trabalho “A santíssima Trinosofia” é algo controverso. Foi alegadamente escrito pelo Conde de Saint-Germain ou pelo Conde Alessandro di Cagliostro. O manuscrito de 96 páginas está na posse da biblioteca francesa em Troyes. É um manuscrito, a maior parte do qual em francês e também contém letras, palavras e frases em várias outras línguas, além de imagens semelhantes a hieróglifos egípcios, algumas palavras em carateres que se assemelham à escrita cuneiforme e várias páginas que terminam em códigos. A sua prosa poética está cheia de símbolos maçónicos e cabalísticos, assim como os desenhos com que está ricamente ilustrado. A obra trata de forma velada e alegórica os mistérios da iniciação.

Capa (retirado de bibliodyssey.blogpot.com)

A primeira folha do manuscrito contém uma nota dizendo que pertenceu ao famoso Cagliostro e que foi encontrado por Massena em Roma.  Uma nota assinada por um filósofo que se auto-designa por “Philotaume I .A.C” diz que é uma cópia única de uma obra de Saint-Germain. Manly Hall acredita que foi de facto escrita por Saint-Germain e que foi apreendida pela Inquisição quando Cagliostro foi preso em Roma em 1789. Jean Overton Fuller, por outro lado, sugere que foi escrita por Cagliostro quando ele esteve encarcerado no Castelo de Sant’Angelo.

Ilustração da 12ª e última parte


11. Neoteosofia

A tradição neoteosófica de Annie Besant e Charles Leadbeater mostra várias e fundamentais diferenças quando comparada com os ensinamentos teosóficos apresentados por H.P. Blavatsky e os mahatmas, e outros instrutores teosóficos como William Quan Judge e Gottfried de Purucker. Existem poucas pessoas hoje que pensam que não existiu auto-ilusão envolvida na clarividência de Besant e Leadbeater, por exemplo nas descrições de vidas passadas deles próprios e dos seus colaboradores, dos seus encontros com os mahatmas, das suas experiências iniciáticas no plano astral, e das suas descrições de habitantes de outros planetas no nosso sistema solar.

Este quadro, de autor desconhecido, supostamente
mostra Blavatsky e os seus três "mestres" (Kuthumi,
Morya e Saint-Germain. Contudo Blavatsky nunca se referiu
nos seus escritos ao "Mestre Saint-Germain" ou "Mestre
Rákóczy" e nunca chamou a Saint-Germain seu mestre.

Ambos identificam o Conde de Saint-Germain como o Mestre Ráckózy, ou O Conde, que hoje vive num castelo na Europa Oriental. Baseando-se nas suas faculdades de clarividência/fantasias, Leadbeater lista a lista de encarnações do Conde: ele foi Francis Bacon no séc. XVII, Roberto, o Monge no séc. XVI (existe alguém com o mesmo nome, conhecido por ter sido um cronista na Primeira Cruzada, mas viveu no séc. XII), Hunyadi Janos (um general e Governador-Regente do Reino da Hungria) no séc. XV, Christian Rosenkreuz no séc. XIV (as vidas de Hunyadi Janos e Rosencreuz provavelmente sobrepõem-se no tempo) e Roger Bacon no séc. XIII. Antes disso, ele terá supostamente sido o neoplatónico Proclo e antes ainda Santo Albano. Leadbeater alegou ter conhecido O Conde em carne e osso em Roma, descrevendo os seus modos e aspeto.

Diz-se na neoteosofia que o Mestre Ráckózy é um dos mestres responsável pelos “sete raios”, sendo os outros Kuthumi, Morya, Jesus, Hilarion, Serapis e o Veneziano. Ele é supostamente o responsável pelo sétimo raio (associado à magia cerimonial e à ordem).

"Mestre Ascenso Saint-Germain"


A paranóia dos “Mestres Ascensos” merece apenas uma breve referência. Em 1930, Guy Ballard (1878-1939), afirmava ter conhecido “o mestre ascenso” Saint-Germain no Monte Shasta. Ele supostamente levou Ballard e a sua esposa a uma convenção de Venusianos no Grand Teton [NT:parque nacional norte-americano]. Ballard fundou o grupo “I AM” e ele, sua mulher e seu filho tornaram-se nos “únicos mensageiros acreditados” e publicaram muitas mensagens canalizadas dele. Hoje em dia, numerosos canais e cultos afirmam receber mensagens de Saint-Germain e de outros mestres ascensos, que normalmente vivem nos reinos superiores. Muitos produtos relacionados estão disponíveis para venda, como um marcador de livros de seda infundido com a energia de Saint-Germain e vários sprays e essências para facilitar a ascensão para dimensões superiores e comunicar com Saint-Germain. Agradecem-se donativos…

"Mestre Ascenso Saint-Germain"
com um penteado diferente



Continua na próxima semana…

sábado, 24 de agosto de 2013

Mitos e verdades sobre o Conde de Saint-Germain (7ª parte)

Continuamos com a tradução (adaptada) do texto “O Conde deSt. Germain” de David Pratt.

8. As origens do Príncipe Rákóczy

Saint-Germain

Saint-Germain deu indicações a várias pessoas de que era o filho de Francisco (Ferenc) Ráckózy II da Transilvânia.  Ráckózy (pronuncia-se rakotsi) era o nome de uma família nobre do Reino da Hungria entre os séculos XIII e XVIII. Francisco II foi o membro mais famoso da família por ter estado na linha da frente da rebelião da Hungria contra os Habsburgos da Áustria. Derrotados, os Ráckózy  viram a sua fortuna confiscada. Saint-Germain deverá ter sido um filho ilegítimo de Francisco II, especulando  Jean Overton Fuller que a mãe do grande ocultista terá sido a Princesa Violante da Bavaria, esposa do Princípe Ferdinando dos Medici, negligenciada e triste em Florença, onde Ráckózy chegou em Maio de 1693. Não há contudo provas que Francisco e Violante se tenham encontrado. As fotos abaixo sugerem algumas parecenças entre Saint-Germain e Violante. Esta data de 1693 como a de conceção de Saint-Germain é congruente com outras informações disponíveis de que teria 88 anos quando se instalou em Eckernförde (1779).

Francis Rákóczy (por Ádám Mányoki, 1724)

Fuller sugere então que Saint-Germain era o filho do príncipe Ráckózy da Transilvânia e da Princesa Violante.

Princesa Violante

“Esta seria uma razão para que os Medici o tivessem criado, pois porque razão cuidariam dele a menos que a sua mãe fosse alguém da sua própria família?“. Ela acrescenta ainda que Ráckózy poderia desconhecer este seu filho, pois os Medici eram de tal forma ricos que não necessitavam do dinheiro de Ráckózy para criar o conde.

Gian Gastone sempre foi compreensivo para a sua negligenciada cunhada Violante e poderá ter persuadido o seu pai, Cosimo, a cuidar da criança no seu lar, como já tinha acontecido muitas outra vezes com crianças de outras boas famílias. Isto está de acordo com os comentários de Saint-Germain de que ele havia sido “tremendamente protegido” e educado por Gian Gastone. A Casa dos Medici possuía grande conhecimento, mas Saint-Germain disse a Carl que ele havia aprendido os segredos da Natureza pelos seus próprios esforços e pesquisas.  A ligação de Saint-Germain com os duques de Medici ajuda a explicar a razão de ele possuir um Raphael e outras pinturas valiosas e de como ele se tornou num músico e compositor.

9. Mensageiro e Adepto

Como foi referido na introdução, Helena P. Blavatsky referiu-se a Saint-Germain como “o maior Adepto oriental que a Europa já conheceu durante os últimos séculos”. Ela usava a palavra “Adepto” para se referir a ocultistas e místicos de diferentes graus, não apenas a Mahatmas.

Sobre como os Mahatmas selecionam os seus discípulos ou chelas, Blavatsky escreve:

“Durante séculos, a seleção de chelas – fora do grupo hereditário dentro dos gon-pa [mosteiro Budista] – tem sido feito pelos próprios Mahatmas dos Himalaias dentro da classe (no Tibete, considerável, atendendo ao número) dos místicos naturais. As únicas exceções têm sido em casos de homens do Ocidente como Fludd, Thomas Vaughan, Pico della Mirandola, Conde de Saint-Germain, etc… cuja afinidade de temperamento com esta ciência celestial de certa forma forçou os Adeptos distantes a estabelecerem relações pessoais com eles, e possibilitaram que eles obtivessem aquela pequena (ou grande) porção da Verdade dentro das possibilidades dos condicionamentos sociais da altura.”

Ela menciona Saint-Germain como um exemplo de alguém que com “treino precoce e métodos especiais” atingiu o estádio de um homem da 5ª ronda e desenvolveu os seus sentidos superiores. Ela também escreveu:

“O tratamento que foi dado à memória deste grande homem - aluno dos hierofantes da Índia e do Tibete e proficiente na sabedoria oculta do Oriente – é um estigma sobre a natureza humana. E assim tem sido a forma como este estúpido mundo tem tratado todas as outras pessoas que, tal como Sant-Germain, o revisita após longo tempo de isolamento dedicado ao estudo, com as suas reservas de sabedoria esotérica acumulada, na esperança de melhorá-lo e de fazê-lo mais sábio e feliz.”

Blavatsky sugere que Saint-Germain poderá ter sido capaz de se recordar de algumas das suas vidas passadas:

“Se ele dissesse que tinha nascido na Caldeia e professado possuir os segredos dos sábios e magos egípcios”, ele poderia ter falado a verdade sem fazer nenhuma afirmação miraculosa. Existem iniciados, não necessariamente os mais elevados, que estão em condições de se recordar de mais do que uma das suas vidas passadas.”

Quando é que ele morreu?

Numa carta escrita a A.P. Sinnett em agosto de 1881, o Mahatma KH disse que o ocultista francês Eliphas Levi (1810-1875) tinha estudado a partir de manuscritos rosacrucianos (dos quais só sobravam três cópias na Europa).

“Estes expõem as nossas doutrinas orientais com base nos ensinamentos de Rosencreuz, que, após o seu regresso da Ásia, as revestiu com uma roupagem semicristã, com a intenção de proteger os seus discípulos da vingança clerical. Rosencreuz ensinou verbalmente. Saint Germain registou as boas doutrinas em linguagem cifrada, e o seu único manuscrito cifrado permaneceu em poder do seu fiel amigo e protetor, o benévolo príncipe alemão de cuja casa e em cuja presença ele fez a sua última saída – para o LAR. Fracasso, total fracasso!” [Cartas dos Mahatmas para A.P. Sinnett, vol. I, Carta XX, p.132]”

(…) Os mestres presumivelmente viam a missão de Saint-Germain como um falhanço pois esperavam que tivesse evitado muita da violência e derramamento de sangue que tinha acompanhado a transição de uma sociedade aristocrática e feudal, dominada pelo absolutismo monárquico e pela igreja dogmática para a nova sociedade industrializada, caracterizada por uma maior liberdade individual e política.

Na opinião de Blavatsky, se Saint-Germain realmente morreu em 1784, o seu enterro não seria discreto, mas com grande pompa e circunstância, condizente com o seu estatuto. Por outro lado, poder-se-ia argumentar que o seu discreto funeral estaria de acordo com estilo de vida em retiro e o low-profile que caracterizou os seus últimos anos de vida. N’ "O Teosofista" de 1881, Blavatsky menciona “alegadas evidências no sentido positivo” de que Saint-Germain ainda era vivo vários anos depois de 1784:

“Diz-se que ele teve uma importante conversa privada com a Imperatriz da Rússia em 1785 ou 1786, e apareceu à Princesa de Lamballe enquanto ela estava diante do tribunal, poucos momentos antes dela ser abatida por uma bala e um carniceiro lhe ter cortado a sua cabeça. Também apareceu à Jeanne du Barry, a amante de Luís XVI, enquanto ela esperava no seu cadafalso em Paris, o golpe da guilhotina nos dias do Terror, em 1793."

Várias outras referências existem aludindo à sobrevivência de Saint-Germain para lá de 1784, embora não sejam de testemunhas credíveis.

Se ele realmente morreu nesse ano, seria muito bem possível para um Mahatma projetar o seu mayavi-rupa , fazendo-o assumir a aparência e características de Saint-Germain e aparecer a quem ele quisesse.


Continua na próxima semana…

sábado, 17 de agosto de 2013

Mitos e verdades sobre o Conde de Saint-Germain (6ª parte)

Continuamos com a tradução (adaptada) do texto “O Conde deSt. Germain” de David Pratt.

7.  O príncipe Carl e os anos finais

O príncipe Carl era neto do Rei Jorge II de Inglaterra e em 1769 começaria a governar os ducados de Schleswig e Holstein (hoje parte da Dinamarca) em nome do governo do seu cunhado, o rei Cristiano VII da Dinamarca e Noruega. Tornou-se maçon a partir de 1774. Sobre St. Germain disse:

Carl de Hesse-Cassel

“Ele falou-me das grandes coisas que queria para a humanidade, etc…Eu não estava particularmente desejoso disso, mas no fim tive os meus escrúpulos sobre rejeitar conhecimento que era muito importante e tornei-me seu discípulo. Ele falava muito da melhoria das cores, que custaria praticamente nada, da melhoria dos metais, acrescentando  que era absolutamente necessário aderir fielmente a este princípio…Não existe praticamente nada na Natureza que ele não saiba como melhorar e usar. Ele confidenciou-me algo sobre a sabedoria da Natureza, mas apenas a parte introdutória, fazendo com que eu, por experiência própria,  tentasse alcançar sucesso, regozijando-se ele extremamente com os meus progressos. Assim aconteceu com os metais e pedras preciosas, mas quanto às cores ele acabou por me dá-las, assim como importante informação.”

A documentação deixada pelo príncipe Carl incluía a receita para o famoso chá de Saint-Germain: continha vagens de sene, flores envelhecidas e erva-doce embebido em vinho. Tinha um efeito laxativo e propriedades gerais saudáveis. Carl conta que a sua esposa estava uma vez muito doente com um ataque de catarro, com muitas dores e com febre. Ela tomou um dos remédios de Saint-Germain e uma hora depois estava perfeitamente saudável. Saint-Germain aparentemente seguia a tradição dos antigos herbalistas, acrescentando alguns refinamentos próprios. Carl escreve:

“Ele sabia perfeitamente tudo sobre ervas e plantas e tinha descoberto remédios que usava continuamente e que lhe prolongavam a vida e a saúde. Eu ainda possuo algumas das suas receitas, mas os médicos denunciaram veementemente a sua ciência após a sua morte. Havia um médico de nome Lossau, que havia sido um boticário e a quem eu dei doze mil coroas por ano para trabalhar com os remédios que o Conde Saint-Germain lhe havia dado, principalmente com o seu chá, que os ricos compravam e os pobres recebiam gratuitamente.
Este médico curou muitas pessoas, das quais, segundo sei, nenhuma morreu. Mas depois da morte do médico, desgostoso com as propostas que recebi de todos os lados, eu retirei todas as receitas e não substitui Lossau.”

Há quem diga que Saint-Germain teve um papel importante no desenvolvimento de sociedades secretas, como os Rosacruzes ou a Maçonaria. Mas não há provas disso, e até existiam muitos maçons que tinham inveja da fama e conhecimentos de Saint-Germain, e que por isso lhe eram hostis.

Contudo existe uma carta (embora haja dúvidas da sua autenticidade) do príncipe Carl onde consta o seguinte:

“Ele sempre agiu como se não soubesse nada de Maçonaria ou de alto conhecimento, embora durante o último ano uma série de coisas convenceu-me do contrário…Apesar de nunca se ter declarado Maçon, ele disse algo estranho, que ele era o “o mais antigo dos Maçons”.

Noutra carta Carl descreveria Saint-Germain da seguinte forma:

“Ele foi provavelmente um dos maiores filósofos que já existiu. Um amigo da humanidade, só querendo dinheiro para dar aos pobres e também um amigo dos animais. O seu coração nunca estava ocupado exceto com o bom dos outros. Ele pensava que fazia o mundo mais feliz ao lhe dar novos prazeres, os tecidos mais belos, as cores mais belas, muito mais baratas do que antes, pois os seus corantes soberbos não custavam praticamente nada. Nunca vi um homem com uma inteligência mais clara do que a dele, junto com uma erudição (especialmente em história antiga) como eu raramente encontrei.”

Carl diz que os princípios filosóficos de Saint-Germain na religião eram “puro materialismo”. Portanto vemos aqui Carl a cometer o mesmo erro de outros maçons. Não sabemos os detalhes das suas conversas e os ensinamentos de Saint-Germain. Mas o que sabemos é que, segundo Carl, Saint-Germain “não era de modo algum um adorador de Jesus Cristo”. Carl uma vez disse a Saint-Germain que achava as suas observações sobre Jesus ofensivas e que Saint-Germain prometeu não abordar o assunto novamente. Muito provavelmente ele teria dito que Jesus era um sábio com uma vida sagrada mas não “o filho unigénito de Deus”. Saint-Germain não era claramente um teísta, um crente na teologia ortodoxa do Cristianismo, mas também não era um materialista que acreditasse na existência de nada mais do que a matéria física. Ele poderá ter aderido a uma visão panteísta da natureza que soasse aos Maçons convencionais mais como materialismo ateísta.

Por volta de 1783, a saúde de Saint-Germain estava claramente a falhar. Ele sempre tinha sido muito vulnerável ao frio e sofria de reumatismo.  Terá morrido a 27 de fevereiro de 1784, mas devido a um grande temporal em 1872, não se sabe exatamente onde estará agora o corpo de Saint-Germain.

Ele era tão pobre na altura da sua morte, que os seus bens não cobriam o custo do seu funeral e portanto foi-lhe dado um funeral gratuito por consideração ao seu patrono, o príncipe Carl. Tudo o que ele deixou foi um maço de contas pagas, uma pequena quantia de dinheiro, alguma roupa e algumas outras coisas como lâminas e escovas de dentes. O valor dos seus bens valeria hoje cerca de 690 libras esterlinas. Não havia diamantes, pinturas, partituras musicais, livros ou violino.”


Continua na próxima semana…

sábado, 10 de agosto de 2013

Mitos e verdades sobre o Conde de Saint-Germain (5ª parte)

Continuamos com a tradução (adaptada) do texto “O Conde deSt. Germain” de David Pratt.

6. Viajando na Alemanha

Em 1774 Saint-Germain estava em Ansbach, localidade que hoje pertence à Bavaria, a sudoeste de Nuremberga. Vivia sob o nome de Conde Tsarogy e mais tarde foi descrito assim:

“Este homem singular, que no seu tempo causou tanta sensação imerecida, viveu durante vários anos no Principado de Ansbach, sem ninguém ter a mínima ideia de que ele era o misterioso aventureiro sobre quem as pessoas atribuíam histórias tão extraordinárias.”

Saint-Germain é descrito como alguém que vivia muito retirado e em reclusão, mas que não deixava de fazer atos benevolentes.

“O estrangeiro parecia ter 60 a 70 anos, sendo de média estatura, mais magro que corpulento, o seu cabelo grisalho escondido por baixo de uma cabeleira, parecendo um homem vulgar, um italiano idoso. As suas roupas eram muito simples, a sua aparência não mostrava nada de extraordinário.”

“Ele não tinha criados, comia sozinho e da forma mais simples possível, no seu próprio quarto, que ele poucas vezes abandonava. As suas necessidades eram reduzidas ao mínimo. Não tinha círculo social, mas passava as noites com o Markgraf e a Senhorita Clairon e amigos trazidos pelo Markgraf. Ele não podia ser persuadido a comer na mesa real.

A sua conversa era sempre interessante e mostrava muito conhecimento do mundo e das pessoas, mas às vezes surgia  uma referência misteriosa e ele interrompia a conversa ou mudava de assunto quando alguém tentava saber mais dele. Ele gostava de falar sobre a sua infância e da sua mãe, de quem ele nunca falava sem emoção.  Acreditando nele, a sua educação deverá ter sido a de um príncipe.
O que este homem singular fazia durante cada dia seria difícil de dizer. Ele não tinha livros com ele, exceto uma cópia suja de Pastor Fido. Ele muito raramente deixava alguém entrar no seu quarto, mas quando alguém o fazia, usualmente encontravam-no com a sua cabeça envolta num pano preto. A sua ocupação preferida era a preparação de todo o tipo de corantes. A janela do seu quarto, que dava para o jardim, estava tão salpicado de corantes que não se conseguia ver através dela. (…)”

[Tsarogy] confessou ao Markgraf que o nome Tsarogy  era falso, ou uma espécie de anagrama, e que ele era na verdade um Rákóczy, o último descendente do príncipe Rákóczy da Transilvânia, do tempo do Imperador Leopoldo.

Mas, mais tarde chegam relatos contrários sobre as origens de Tsarogy aos ouvidos de Markgraf, que fica a saber de vários nomes que ele tinha usado nos seus diversos pontos de paragem. Quando Saint-Germain é confrontado com isso e com o desagrado do Markgraf com o abuso da sua boa vontade…

“…ouviu todas as acusações num modo completamente relaxado e disse que ele havia, numa altura ou noutra, usado todos os nomes referidos (…) mas, disse que sob todos esses nomes foi conhecido com um homem de honra…Não tinha receio de nada, pois nada havia para alimentar o seu descrédito. Ele afirmou com uma certeza inabalável que nada tinha dito de falso ao Markgraf em relação ao seu nome e revelou-lhe a sua verdadeira família. Ele julgava que como nada tinha pedido ao Markgraf, não tinha magoado ninguém e não havia causado problemas, seria simplesmente julgado pela sua conduta.”

No que diz respeito aos conhecimentos médicos de Saint-Germain, Gemmigen-Guttenberg diz:

“A prescrição dele consistia basicamente numa estrita dieta e num chá, a que ele chamava de Chá da Rússia ou Acqua Benedetta (…) Seria uma ingratidão chamá-lo de trapaceiro. Enquanto ele ficou com o Markgraf, nunca pediu nada, não recebeu nada de valor nem nunca se envolveu em algo impróprio. Devido ao estilo de vida muito simples, as suas necessidades eram quase nenhumas. Se ele tivesse dinheiro, ele partilhava-o com os pobres. Não deixou quaisquer dívidas.”

Em 1776, Saint-Germain chega a Leipzig usando outro nome e essas notícias chegam aos ouvidos de Frederico, o Grande que tenta descobrir os propósitos do Conde.  Von Bosch, também ele conde, banqueiro, maçon e com um alto cargo de Estado informará Frederico que Saint-Germain não era um Adepto, apenas um teosofista (na linha de Boehme). Von Bosch deixa de falar com Saint-Germain quando este lhe pede dinheiro emprestado. Jean Overton Fuller interroga-se se o facto de Saint-Germain ter revelado a sua identidade, teria a ver com a queda dos Orlovs na Rússia, pois assim a Prússia poderia ajudá-lo a libertar a Transilvânia, mudando a balança do poder na Europa, no sentido de se generalizar a liberdade de pensamento. Outro conhecido de Frederico dir-lhe-á que Saint-Germain “não é um um maçon, um mago, nem sequer um teosofista.”

Frederico Augusto de Brunswick
(foto wikipedia)


Em 1777, o Conde Lehndorff, camareiro da Rainha da Prússia, escreveu no seu diário que havia passado três dias com Saint-Germain, o “homem mais notável na Europa”:

“Ele segue uma dieta rigorosa, observa grande frugalidade, bebe apenas água nunca vinho e apenas toma uma refeição por dia…Ele prega a virtude, a abstinência e as boas ações e constitui um exemplo a este respeito. Ninguém pode censurá-lo pelo mínimo de impropriedade em qualquer assunto. Ele não parece ser tão rico quanto era antes…

A sua expressão dá uma impressão de extraordinária espiritualidade. O seu discurso é espirituoso e prende a atenção, mas ele não gosta de contraditório.

As pessoas inventam mitos sobre ele e sobre aquilo que ele não diz. Alguns pensam que ele é um judeu português, outros de que tem duzentos anos de idade e que é um príncipe destronado. Alguns acusam-no de fazerem as pessoas acreditar que ele deve ser o terceiro filho do príncipe Rákóczy.

Ele fala como um grande médico. Acima de tudo, ele é um doutor e fala do seu pó precioso, que deve ser bebido como chá. Deixei que ele me enchesse uma xícara. Tinha gosto de anis, e os efeitos foram idênticos aos do anis. Ele discursa constantemente sobre o equilíbrio entre o corpo e a alma. Quando isso é observado, diz ele, a nossa máquina [NT:life-machine no original] não se avaria.”

Outro maçon comentou também em 1777:

“Sabendo que ele havia rejeitado certas pessoas que o consideravam um fazedor de milagres, eu procedi de modo inverso tratando-o como um homem comum, cujo conhecimento de química e física despertou a minha curiosidade.

Ele pareceu-me um homem entre 60 e 70, jovem para a sua idade, rindo com desdém daqueles que lhe creditam uma idade extraordinária. Espera contudo viver por muito tempo, graças ao seu regime alimentar e remédios. Contudo, a sua aparência não parecia prometer uma vida muito mais longa. (…)

Tendo ganho a sua confiança, levei-o a falar de Maçonaria. Sem evidenciar muito zelo ou mesmo particular atenção, ele confessou ser do 4º grau, embora não fosse capaz de se lembrar dos sinais. Ele parecia não saber nada do sistema de Estrita Observância, e por isso, não consegui ir mais além na conversa.
Por tudo isto, posso concluir que ou ele dissimula ou então não é dos nossos. Inclino-me mais para esta hipótese, principalmente porque no que diz respeito a religião e filosofia ele é um puro materialista”.

Outros maçons também catalogaram St. Germain de “puro materialista”, mas inclusive alguns dos seus poemas mostravam que reconhecia um lado espiritual no cosmos.

O embaixador prussiano na Saxónia em 1777 escreveu o seguinte sobre Saint-Germain:

“Ele diz que é o príncipe Ragotzi e para fornecer-me provas de particular confiança acrescenta que tinha dois irmãos, que se rebaixaram para se submeterem ao seu destino infeliz e que a certa altura ele tomou o nome Conde de Saint-Germain, que significa o sagrado entre os irmãos [sanctus germanus=irmão sagrado]. 

(…)
Voltando à questão francesa, existe uma lenda bem conhecida de que Saint-Germain visitou Maria Antonieta quando esta era rainha para lhe avisar da Revolução e da carnificina que aconteceria. Contudo o livro que conta esta história não é da pessoa a quem foi atribuído (uma confidente de Maria Antonieta).

Maria Antonieta (foto wikipedia)

Continua na próxima semana…

sábado, 3 de agosto de 2013

Mitos e verdades sobre o Conde de Saint-Germain (4ª parte)

Continuamos com a tradução (adaptada) do texto “O Conde de St. Germain” de David Pratt.

5. Pelo norte da Europa, Itália e Turquia

Em março de 1762 o Barão van Hardenbroek escrevia no seu diário que tinha ouvido que Saint-Germain estava a viver perto de Nijmegen. Era um “grande filósofo”, de “carácter virtuoso” e inclinado a “ajudar a República com as suas manufaturas” e ajudava também com a preparação de cores para uma fábrica de porcelanas em Weesp. Tinha ainda “uma enorme correspondência com países estrangeiros”.

No mesmo ano (1762), Saint-Germain visitará a Rússia para adquirir alguns dos ingredientes para seus os processos de manufaturação.

Em 1763 passa pela Bélgica onde conhece um ministro, o Conde Cobenzl que numa carta ao chanceler austríaco diz o seguinte:

“Há cerca de três meses a pessoa conhecida por Conde de St. Germain passou por aqui e contactou-me. Considero-o o homem mais singular que já conheci na minha vida. Não conheço exatamente o seu berço, mas acredito que seja o filho de união clandestina feita por um membro de uma casa ilustre e poderosa. Dono de grande riqueza, ele vive na maior simplicidade. Ele sabe tudo e é de uma retidão e bondade dignas de admiração. Entre outras provas de sabedoria, ele fez várias experiências à frente dos meus olhos e em breve mandarei a Vossa Excelência algumas amostras. A mais essencial é a transformação de ferro num metal tão belo como o ouro e que é no mínimo tão bom como o produto do trabalho de um ourives.
O tingimento e a preparação de couros que ultrapassavam toda a marroquinaria existente e o mais perfeito curtimento. O tingimento de sedas atingia uma perfeição nunca vista até agora. O tingimento de lãs era semelhante, feito nas cores mais vívidas (…) com os ingredientes mais comuns e a um preço modesto. A produção de cores como as cores de um artista, o ultramarino tão perfeito como se fosse o de lápis e finalmente a remoção dos cheiros dos óleos usados na pintura e a preparação do melhor óleo da Provença a partir de sementes de colza ou de outros óleos de qualidade inferior.”

O Conde Cobenzl ,noutra carta, acrescentará sobre Saint-Germain:

“(…) ele tem uma propriedade na Holanda que está dois terços paga e tem valores, que foram avaliados por quem lhe emprestou dinheiro, em mais de um milhão.(…) É certo que ele é de berço ilustre, mas sendo isso segredo deve guardá-lo pois o contrário não serve os meus interesses. Ele fala da sua riqueza e na verdade deve possuir muito, pois onde quer que ele vá, tem dado maravilhosas ofertas, gasto bastante, nunca pediu nada e nunca deixa dívidas. “

Saint-Germain tinha vindo a refinar os seus processos secretos durante décadas. As informações dadas por Cobenzl indicam que ele pegava em ferro em bruto e fazia algo que causava a sua mudança de escuro para dourado, imergia-o em água (possivelmente com aditivos) e depois de fornecer as suas propriedades à água, ele removia-o e metia lá dentro os materiais a serem tingidos. A água onde a tingimento havia sido feito seria mais tarde usado para fazer tintas. De acordo com um especialista moderno na área do tingimento, a permutação do ferro para dourado poderia ser cloreto férrico ou mais provavelmente ferrocianeto. Usando ingredientes bastante comuns e baratos, Saint-Germain estava a fazer tingimento químico antes da era do tingimento químico.

Jean Overton Fuller [teosofista britânica que também foi autora de uma interessante biografia de H.P. Blavatsky, chamada “Blavatsky and her teachers”] diz que a produção de tecidos baratos com um leque de cores alegres feita por Saint-Germain pode ter antecipado a Revolução Industrial em mais de um século.

“Saint-Germain estava a oferecer o primeiro mercado em massa, e podemos ver através destes detalhes o tipo de revolução que ele poderia ter forjado em França, onde para além de dar um emprego pago aos trabalhadores - deixados à fome graças à ruína dos proprietários das terras – ele teria produzido roupa e outros bens a um preço acessível para as pessoas, reduzindo a distinção de classes e criando novas exportações, ou seja, nova riqueza interna, assim talvez evitando a sangrenta Revolução que se seguiu."

Muito pouco se sabe sobre se as fábricas que Saint-Germain ajudou a montar em vários lugares foram um sucesso duradouro e o alcance do seu impacto económico.

Em 1765 St. Germain estava na Rússia, tendo em 1770 participado numa batalha que opunha os russos aos otomanos. Lutou ao lado dos russos, muito provavelmente ao lado do comandante russo, seu amigo, Alexei Orlov.

Alexei Orlov (foto wikipedia)

Continua na próxima semana…