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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Osho e Blavatsky

Desde há largos anos que, nas prateleiras da secção de esoterismo das livrarias abundam os livros de um autor chamado Osho. Todos aqueles que mergulharam, nem que seja apenas o dedo de um pé, no universo New Age já ouviram falar de Osho. O que poucos sabem – e a editora dos seus livros também não faz questão de divulgar – é do registo biográfico de tão ilustre criatura.

No extraordinário livro “O Turista Espiritual” (editado em Portugal pela Sinais de Fogo), o jornalista britânico Mick Brown descreve uma viagem por várias paragens do imaginário religioso e espiritual, ao mesmo tempo que disserta sobre alguns dos personagens mais importantes dos últimos 150 anos no campo da espiritualidade. Na verdade o livro vai muito mais além, sendo enriquecido pelas próprias reflexões do autor. Para além de se referir de forma muito respeitosa e fidedigna a Helena Blavatsky e ao percurso que fez na sua última encarnação – coisa rara na literatura não teosófica, diga-se de passagem -  fala também de Sri Aurobindo, Alice Bailey, Krishnamurti, entre outros. Neste último agregado encontra-se o famigerado Osho.

O nome verdadeiro deste guru indiano nascido em 1931 era Chandra Mohan Jain, tendo durante a infância ganho a alcunha de Rajneesh. Afirmava ter atingido a iluminação espontaneamente aos 21 anos. Foi professor de Filosofia numa Universidade indiana, começando aí a reunir um pequeno grupo de seguidores. A partir de 1971, autointitulou-se “Bhagwan”, o abençoado. Estabeleceu um ashram na cidade de Poona que em meados dos anos 70 recebia imensos visitantes e gerava assinaláveis receitas (mais de um milhão de euros por ano). Tinha-se criado um culto. Os devotos eram encorajados a se vestirem de laranja ou vermelho, usavam um colar de contas com um medalhão contendo a imagem de Rajneesh, e aceitavam incondicionalmente a sua autoridade. Advogava que o sexo era uma via para a iluminação e os devotos eram instigados a trocar de parceiro e a participarem em orgias sexuais. Havia quem se sentisse abusado e as doenças sexualmente transmissíveis  proliferavam. Rajneesh gabava-se  de ser o recordista mundial em número de parceiras sexuais (os seus seguidores confessaram que era mais dado ao voyeurismo). O escândalo espalhou-se, e as autoridades locais revogaram o estatuto de isenção fiscal da sua Fundação. Endividado, Rajneesh voou para os EUA, declarando ser o ”Messias de que a América está à espera”. Para obter residência americana casou com a filha de um milionário grego. Coleccionou Rolls-Royce (chegando aos 93!) e relógios de ouro e platina. A história do novo ashram foi idêntica à do anterior, repetindo-se o culto de personalidade e novo conflito, desta vez com as autoridades do estado de Oregon. Houve até suspeitas do envolvimento de Osho no envenenamento da população da cidade próxima do rancho onde vivia o guru, mas a condenada foi a braço-direito de Osho (Ma Anand Sheela) e ainda um grupo de séquitos, denunciados pelo próprio Osho. A investigação da polícia a este e outros acontecimentos levou à sua prisão e deportação. Depois de ser rejeitada a sua permanência em dezenas de países acabou na Índia, onde morreu em 1990 já com o seu novo nome. No ano anterior tinha ordenado um “rebranding” do seu material com o nome Osho, em substituição de Rajneesh.

Este post acaba por ser motivado por algo que encontrei há dias por acidente enquanto pesquisava na Internet. Alguém criou uma página com as opiniões de Osho sobre diferentes personagens da história: Hitler, Martin Luther King, Gandhi e inclusive Annie Besant, Krishnamurti e Helena Blavatsky. E o problema reside mesmo neste último nome. É que tudo o que Osho diz sobre HPB é mentira, até mesmo uma bela historieta que não é encontrada em nenhuma biografia da Velha Senhora. Dizia Osho que HPB tinha o hábito de atirar sementes para o exterior do comboio em andamento durante as suas viagens pela Índia. Mais tarde cresceriam flores que fariam as pessoas felizes e nas palavras de Osho, HPB dizia que fazer as pessoas felizes contribuía para a sua própria felicidade.
Tudo muito bonito, mas claramente inventado. Sendo aparentemente inofensivo, este fait-divers esconde uma táctica muito usada pelos falsos gurus, que iludem os mais crédulos. A de criar falsas histórias que mostram aparente conhecimento de causa e que lhes permitem mais tarde caluniar e apontarem-se a si próprios com os mais iluminados.
Na mesma página onde se encontra a história das flores, poderão se encontrar outras falsidades: um acordo entre Blavatsky e Damodar para que este desmaiasse e a Velha Senhora o acordasse usando os seus “poderes” (ou seja uma encenação);  a afirmação de que as Cartas dos Mahatmas eram obra de HPB; e um bando de declarações arrogantes sobre  “A Doutrina Secreta” em relação à qual nem o número de volumes Osho sabia.
E os seus seguidores tudo engoliam. Com certeza em relação a outros personagens da história também hão de existir mentiras.

Já em 2011, Ava Avalos uma proeminente discípula de Osho revelou que ouviu uma gravação de Sheela em conversa com Osho em que este dizia que “seria necessário matar pessoas em Ohio” (o estado norte-americano onde se localizava o seu ashram). “Na verdade, assassinar pessoas não era assim uma coisa tão má”, prosseguiu Osho, que assegurava ainda que “Hitler tinha sido um grande homem”, embora ele não pudesse dizer tal coisa publicamente “pois ninguém entenderia”. Mas para Osho, Hitler tinha “grande visão”.
Relativamente aos seus ensinamentos, os mesmos são uma mistura de muita coisa. É impossível não encontrar lá alguma coisa de valor. Mas este mesmo é o melhor modo de deturpar a Sabedoria Eterna. Misturar a verdade com a mentira dissimulada, ao mesmo tempo que se dá um mau exemplo prático, neste caso validando comportamentos sexuais desajustados e colocando a ênfase em excessos de bens materiais.

Quem quiser mais detalhes sobre a vida de Osho pode aceder aqui à sua página em inglês na Wikipedia.

[Atualização de 21/06/2014. Num debate na internet surgiram mais informações sobre Osho em língua portuguesa, aqui e aqui.]

10 comentários:

  1. Amigo Paulo,
    Bem haja por este seu artigo. É a primeira vez que leio algo que está de acordo com o que eu tenho vindo a escrever em várias redes desde há anos. Nunca tive sucesso em ser acreditada, pelo contrário, sempre fui postulada de "sem razão" e de "descriminação" racionária, uma vez, até insultaram o meu artigo.
    Por isso, ao ler o que aqui publicou, exultei de alegria. Desejo sinceramente que muitas pessoas leiam o que aqui está escrito.
    Parabens amigo.
    Um abraço afetuoso
    MariaHelena Guerra

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  2. da pra ver que você faz questão de ridicularizá-lo nota-se claramente pelas suas palavras que há algo de pessoal contra esse tal de osho.
    Para alguns ainda é um tabu que alguem religioso possa admitir que sinta prazer no sexo e nas riquezas materiais, um homem iluminado ainda assim não deixa de ser homem.

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    1. Claro, os factos não interessam para nada... Neste caso nem é preciso pesquisar muito, até no wikipedia estão muitos detalhes.

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    2. Um ser humano que cita a Wikipedia como fonte de seus "fatos" só merece risos.

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    3. Os discípulos de Osho continuam tentando denegrir o artigo, mas em caso algum conseguem contra-argumentar sobre o que está lá relatado. O artigo é baseado num livro, aliás excelente, do jornalista Mick Brown, sendo que o próprio Wikipedia tem até outras informações. O artigo em inglês sobre esta criatura tem 253 citações, de diversas fontes e sendo o Osho/Rajneesh/Chandra uma figura conhecida é praticamente impossível que algum dos factos relatados no verbete não seja verdadeiro. De qualquer modo, o meu artigo até é bem curto, e não é baseado no Wikipedia, mas no livro. Sugiro ainda a leitura de um artigo mais expandido cujo link foi adicionado em junho de 2014. Este é o artigo mais lido do blog, agradeço a preferência!

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  3. Concordo com o Paulo, devemos sempre procurar o lado ruim das pessoas independente do bem que elas fazem, sempre haverá um jeito de desmascará-las e as expormos, senão qual seria a graça?
    Deixemos a humanidade dormir e aproveitemos a situação.

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    1. Só falta dizer que o Osho era uma espécie de pestinha. Vamos lá ver as suas traquinices:criou um ashram que se tornou que se tornou palco de propagação de doenças sexualmente transmissíveis e onde a sua autoridade era inquestionável; colecionava Rolls Royce e relógios de ouro algo sem dúvida bem caraterístico de um verdadeiro guia espiritual (Buda e Jesus colecionaram o quê?); há fortes indícios que esteve envolvido num tentativa de envenenamento coletivo; inventava histórias falsas como aquela sobre HPB (e que não deve com certeza ter sido a única), e segundo parece também considerava Hitler um grande homem. Hitler também deveria ter qualidades, segundo se sabe era afável com as crianças e os animais. E a Eva Braun também nunca se queixou dele. Chatice andar sempre a lembrar o lado ruim do Fuhrer...Em vez de dormir, talvez seja melhor acordar, deixar de lado os gurus manipuladores de meia tigela e aprender com os grandes e verdadeiros instrutores espirituais, que ensinam e agem em concordância com o que apregoam.

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    2. É só como anônimo que realmente posso responder , estas insanidades por mim lidas faz com que eu tenha até medo de vocês

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    3. Claro são insanidades que até o próprio Wikipedia tem publicadas e que vêm igualmente reproduzidas em vários livros. Por aqui se vê que a capacidade de Osho (ou será Rajneesh?) de criar um culto, não acabou com sua morte mas ainda perdura até aos dias de hoje. Melhor ignorar os factos e continuar perpetuando um mito com pés de barro, que faz vender muitos livros,não é?

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  4. Muito bom o artigo amigo- resumido mas bastante enriquecedor.

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