Francisco Cândido Xavier, mais conhecido por Chico Xavier,
foi o mais famoso médium brasileiro, tendo nascido numa cidade do Estado de
Minas Gerais em 1910 e falecido em 2002, num dia em que os brasileiros
festejavam a conquista do campeonato mundial de futebol. Estavam pois felizes e
em festa, e assim se cumpria o desejo de Chico Xavier que tinha pedido a Deus
para que o levasse deste plano num dia de alegria para o seu país Natal.
Como se sabe, as relações entre a Teosofia e Espiritismo nem
sempre foram as melhores. Embora, ambos na 2ª metade do século XIX tenham
enfrentando a oposição do “establishment”, nomeadamente das instituições
religiosas, as explicações para os fenómenos mediúnicos são divergentes.
Blavatsky no início da sua fase de propagação pública da Teosofia tentou
inicialmente atrair alguma atenção, criando uma Sociedade Espírita no Cairo, em
1871, aparentemente com o objectivo de depois de conseguir alguma visibilidade,
dar a sua explicação para os fenómenos. O falhanço rotundo dessa Sociedade não
a impediu de mais tarde, explicar que muitos dos espíritos não eram mais que invólucros
vazios, ou seja, o mero corpo astral desassociado dos princípios superiores, já
em processo de decomposição e que muitas vezes era animado por elementais ou
então pelo princípio vital dos médiums. Num outro post, poderemos abordar com
mais detalhe e precisão este assunto, enquadrando também o tipo de mediunidade
que era praticado naquele tempo e o que existe agora. Alguns dos mais ferozes inimigos (que foram inúmeros, como se sabe) de Blavatsky eram indivíduos ligados à corrente espírita. Para quem quiser saber mais
sobre as diferenças entre a Teosofia e o Espiritismo relativamente à
interpretação dos fenómenos mediúnicos, pode clicar aqui.
O motivo deste post é o de fazer uma menção a um filme
lançado no Brasil durante 2010, baseado numa das obras psicografadas por Chico
Xavier, chamada “Nosso Lar”. Este livro
foi escrito em 1944, tendo sido supostamente ditado por um “espírito” chamado
André Luiz. O filme que terá custado cerca de 9 milhões de euros, foi uma
das produções mais caras de sempre do cinema brasileiro, contando com uma banda
sonora da responsabilidade de Phillip Glass e ainda com efeitos especiais criados
em estúdios norte-americanos. Alguns dos actores são nossos conhecidos, tendo
já participado em novelas brasileiras transmitidas nos canais portugueses. A
crítica especializada não foi meiga com o filme, mas quem se interessa por
estes temas tem sempre alguma curiosidade em visionar a película. Fi-lo
recentemente e efectivamente tem algumas
ideias interessantes, como seja a representação das dimensões mais baixas (e
desagradáveis) do plano astral. Quem
conhece alguns dos ensinamentos teosóficos sobre os estados post-mortem, poderá
associar o pano de fundo do filme ao kâma-loka, descrito no Glossário Teosófico (Editora Ground),
como “o plano semimaterial, subjectivo e invisível para nós onde as personalidades
desencarnadas, as formas astrais (...), permanecem até se desvanecerem
totalmente, graças ao completo esgotamento dos efeitos dos impulsos mentais,
que criaram estes eidolons [fantasma
humano, a forma astral] das paixões e desejos humanos e animais.(...) É o limbo
ou purgatório dos católicos romanos e o Summerland
dos espíritas americanos. Kâma-loka é a região ou mansão do desejo (...) onde
os restos astrais dos defuntos corrompem-se e se decompõem. Nesta região, as
almas dos mortos que não são puras vivem até que os seus kâma-rûpas (formas de
desejo) são abandonados por uma segunda morte e, ao se desintegrarem,
verifica-se a separação dos princípios superiores (...). O kâma-loka é a
primeira condição pela qual passa a entidade humana, depois da morte (...).
O Summerland acima
referido popularizou-se na 2ª metade do século XIX, pelas mãos de Andrew
Jackson Davis, clarividente norte-americano que descrevia a “Terra de Verão”
como tendo cidades, formosos edifícios, museus, bibliotecas e onde os espíritos
tinham uma vida aparentemente semelhante à da Terra, embora incomparavelmente
mais feliz. É fácil estabelecer aqui um paralelo com as descrições de Chico
Xavier.
Entretanto, o filme já chegou aos EUA, com o nome de "Astral City - A Spiritual Journey". A Portugal, que eu saiba não, mas no mínimo
parece-me um boa oportunidade de negócio, pois é natural que muito público
português sinta curiosidade em visionar esta película.
Se bem que a percepção dos teosofistas sobre este processo
tenha diferenças substanciais comparativamente aos espíritas, filmes que façam
questionar sobre o sentido da vida (e da morte) são sempre bem-vindos. Quanto a
Chico Xavier, apesar de eu não ser um leitor da sua extensa obra, há que
referir que foi uma pessoa extremamente solidária e humilde, pronta a ajudar o
próximo e a reduzir o sofrimento da espécie humana, não poupando em palavras de
esperança e conforto. Sem dúvida, neste aspecto Chico é um exemplo a ser
seguido. Divulgou extensamente os princípios do espiritismo, apoiado segundo dizia ele, pelos
seus guias espirituais.
Aliás Chico Xavier teve direito também a ver a sua vida
retratada em filme, por sinal cinematograficamente mais bem conseguido que “Nosso
Lar”. Esta película foi também lançada em 2010.
Abaixo ficam os trailers de ambas as obras.
NOSSO LAR
CHICO XAVIER
Para o futuro, fica a promessa de outros posts sobre filmes
que abordam temáticas ligadas aos pontos de foco do Lua em Escorpião.
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