Prosseguimos com a tradução do artigo de Daniel H. Caldwell, “O mito do terceiro volume desaparecido de A Doutrina Secreta”. É fundamental ler os posts das semanas anteriores antes de prosseguir.
PARTE III - O MANUSCRITO DO VOLUME UM
TORNA-SE O VOLUME TRÊS
Voltando ao relato da
edição de “A Doutrina Secreta” de Bertram Keightley, que escreveu:
Bertram Keightley (1860-1944) |
“Um dia ou dois depois da
nossa chegada a Maycott [em maio de 1887], HPB colocou tudo o que havia de
manuscritos completos de [A Doutrina Secreta) nas mãos do Dr. [Archibald]
Keightley e de mim próprio…Ambos lemos todo o conjunto de manuscritos – uma
pilha com quase 1 metro de altura – o mais cuidadosamente possível…e então,
depois de consulta prolongada, encarámos [HPB]… com a solene opinião que o
conjunto de material tinha que ser rearranjado de acordo com um plano preciso…
Finalmente apresentámos-lhe
um plano, de acordo com a própria natureza do material, ou seja, dividir o
trabalho em quatro volumes…
Além disso, em vez de
fazer o primeiro volume consistir, como ela pretendia, da história de alguns
grandes ocultistas, aconselhámo-la a seguir a ordem natural de exposição e a
começar com a Evolução do Cosmos, e a partir daí a passar para a Evolução do
Homem, e depois a lidar com a parte histórica num terceiro volume abordando as
vidas de alguns grandes Ocultistas; e finalmente, a falar do Ocultismo Prático
num quarto volume se ela tivesse condições de escrevê-lo.
Este plano foi apresentado
a HPB que de pronto o sancionou.
Busto de HPB |
O próximo passo foi ler
novamente o manuscrito, do princípio ao fim, e fazer um ordenamento geral da
matéria pertencente aos temas que vinham sob as epígrafes de Cosmogonia e
Antropologia, os quais deveriam formar os dois primeiros volumes da Obra. Concluída
essa tarefa, HPB, devidamente consultada, expressou a sua aprovação, e todo o
manuscrito, assim ordenado, foi passado à máquina por mãos profissionais… (em Reminiscences of H. P. Blavatsky
and The Secret Doctrine, pela Condessa Constance Wachtmeister et al., Quest
edition, 1976, pp. 78-9; também citado em de Zirkoff, SD Intro., 41) [NT: esta passagem
pode ser encontrada com uma redação ligeiramente diferente no livro
“Reminiscências de H.P. Blavatsky e de A Doutrina Secreta”, ed. Pensamento,
p.74-5. Também consta da p.34 do volume I de “A Doutrina Secreta” em língua
portuguesa].
Portanto, como nos diz
Bertram Keightley, a ordem dos volumes de “A Doutrina Secreta” foi alterada. O volume I tornou-se no Volume III.
Ficaram os conteúdos do
novo e inédito volume III completamente intactos?
Não. Por exemplo, HPB
decidiu retirar um dos apêndices ("Star-Angel Worship in the Roman
Church") e publicá-lo como um artigo em Lucifer (CW 10:
13-32). Outro exemplo: o apêndice intitulado
"Kuan-Shai-Yin" foi
aparentemente retirado e publicado no volume I de 1888, p.470-3. Algumas outras
partes do reorganizado terceiro volume foram também incorporadas no Volume I
conforme publicado em 1888: parte da secção “para os leitores” e parte das
“explicações da primeira página de Ísis sem Véu” (ver o quadro de conteúdos do volume
I) foram incorporados na “introdução” (xvii-xxi
e xii-xlvii) do volume I publicado em
1888. Mas, em grande medida, o material que estava no Volume I do manuscrito
original de A Doutrina Secreta de 1886-1887 permaneceu no manuscrito daquilo
que se veio a tornar o Volume III.
PARTE 4 – O TERCEIRO
VOLUME DESDE 1888 ATÉ À MORTE DE HPB
Podemos agora delinear a
história do terceiro volume desde 1888 até à morte de HPB em 1891 citando
vários documentos publicados.
Carta escrita por Blavatsky. A sua caligrafia é facilmente reconhecida. |
3 de abril 1888 – HPB
escreve à Segunda Convenção Americana:
1888 – HPB escreve sobre o
terceiro volume nos Volumes I e II de “A Doutrina Secreta” (1888):
Os dois volumes agora
publicados ainda não completam o esquema geral, nem esgotam os temas abordados.
Já está preparada uma boa quantidade de materiais referentes à história do
Ocultismo, baseada nas vidas dos grandes Adeptos da Raça ariana e que nos
mostram a influência da Filosofia Oculta na conduta da vida, tal como é e tal
como deveria ser. Se os presentes volumes tiverem acolhimento favorável, não
serão poupados esforços para levar avante o plano e completar a obra. O
terceiro volume está inteiramente pronto e o quarto quase (1:vii) [NT- Na p.11
do volume I da edição em português de “A Doutrina Secreta” encontrar-se-á esta
passagem ligeiramente alterada. Note-se que esta última frase não consta da
edição portuguesa, possivelmente porque a versão a partir da qual foi feita a
tradução já não continha essa passagem.]
Se o leitor, porém, tiver
paciência, poderá olhar para o estado atual das diversas crenças existentes na
Europa, comparando-as ao que a história refere das épocas que imediatamente
precederam e seguiram a era cristã; tudo isso poderá ser encontrado no volume
III desta obra.
Nesse volume
apresentar-se-á uma breve recapitulação dos principais Adeptos historicamente
conhecidos; será descrito como os Mistérios decaíram, principiando em seguida a
desaparecer, e apagando-se finalmente da memória dos homens, a verdadeira
natureza da Iniciação e da Ciência Sagrada. Passaram desde então a ser ocultos
os seus ensinamentos, e a Magia não persistiu senão, quase sempre, sob as cores
veneráveis, mas por vezes, enganosas, da Filosofia Hermética. Assim como o
verdadeiro Ocultismo havia prevalecido entre os místicos durante os séculos que
antecederam a nossa era, assim a Magia, ou antes a Feitiçaria com as suas artes
ocultas, seguiu-se ao advento do Cristianismo. (l: xxxix-xl) [NT- p.52 do
volume I da edição em português de “A Doutrina Secreta”, com pequenas
alterações.]
Lidos à luz do Zohar, os
quatros primeiros capítulos do Génesis são os fragmentos de uma página
altamente filosófica da cosmogonia do Mundo (ver Volume III, “Gupta Vidya e o
Zohar) (1:10-1) [NT - p.79 do volume I da edição em português de “A Doutrina
Secreta”, embora o que está entre parêntesis não conste.]
Outra edição menos conhecida da Doutrina Secreta feita pela Editora Civilização Brasileira |
A explicação de “Anupâdaka”
contida no Kâla Chakra – a primeira na divisão Gyut do Kanjur, é semi-esotérica,
e induziu os orientalistas a erróneas especulações quanto aos Dhyâni-Buddhas e
aos seus correspondentes terrestres, os Mânushi-Buddhas. A significação
verdadeira será indicada em volume subsequente (ver “O Mistério de Buda”), e a
seu tempo será explicada com maior amplitude. (1:52n) [NT- nota 24 da p.114 do
volume I da edição em português de “A Doutrina Secreta”, excluindo o que está
entre parêntesis].
É, por isso, fácil de
compreender a significação daquele “conto de fadas” que Chwolsohn traduziu da
versão árabe de um velho manuscrito caldeu, em que Qûtamy é instruído pelo
ídolo da Lua (vide volume III)… Seldenus diz-nos o segredo, e o mesmo faz Maimonides…Os
adoradores de Terafim, ou oráculos judeus “esculpiam imagens, e alegavam que, sendo
inteiramente impregnada pela luz das estrelas principais (planetas), por seu
intermédio as Virtudes angélicas (ou os Regentes dos planetas e estrelas)
conversavam com eles, ensinando-lhes a arte e muitas coisas úteis” (1:394) [NT-
p.102 do volume II da edição em português de “A Doutrina Secreta”, excluindo o
que está entre parêntesis].
Estudando-se a Teogonia
comparada, é fácil ver que o segredo destes “Fogos” era ensinado nos Mistérios
de todos os povos da antiguidade, e principalmente na Samotrácia…Falta-nos
espaço para descrevermos aqui estes “Fogos” e o seu real significado; tentaremos
fazê-lo mais tarde, se os terceiro e quarto volumes desta obra vierem a ser
publicados. (2:106) [NT- p.120 do volume III da edição em português de “A
Doutrina Secreta”, com pequenas alterações.]
No terceiro volume desta
obra (este volume bem como o quarto estão praticamente prontos), será exposta
uma breve história de todos os grandes adeptos conhecidos dos tempos antigos e
modernos por ordem cronológica e uma perspetiva genérica dos Mistérios, a sua
criação, crescimento, degradação e morte – na Europa. Não houve espaço para
isto nesta obra. O volume IV será dedicado quase na íntegra a ensinamentos
ocultos (2:437) [NT: Esta passagem não existe na versão em língua portuguesa de
“A Doutrina Secreta”, a existir estaria na p. 455 do volume III].
Estes dois volumes são
para o estudante um prelúdio adequado para os volumes III e IV. Enquanto os
resíduos das idades não forem eliminados da mente dos Teósofos, a quem dedicamos
estas páginas, é impossível que cheguem a compreender o ensinamento de caráter
mais prático contido no terceiro volume.
Do acolhimento que os
Teósofos e Místicos dispensarem aos dois primeiros volumes dependerá a
publicação dos últimos dois volumes, embora estejam quase concluídos (2:797-8)
[NT: com uma redação ligeiramente distinta, esta passagem está na p.366 do
volume IV da edição em português de “A Doutrina Secreta”].
Estas descrições por parte
de HPB, daquilo que estava no volume III não publicado de “A Doutrina Secreta”,
têm uma boa correspondência com aquilo que ela diz nas suas cartas de 1886, nas
quais descreve o volume I original.
Continua na próxima semana.
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