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sábado, 9 de julho de 2016

A controvérsia sobre o quinto e sexto volumes de "A Doutrina Secreta" (5ª parte)

Prosseguimos com a tradução do artigo de Daniel H. Caldwell, “O mito do terceiro volume desaparecido de A Doutrina Secreta”. É fundamental ler os posts das semanas anteriores antes de prosseguir.

PARTE III - O MANUSCRITO DO VOLUME UM TORNA-SE O VOLUME TRÊS

Voltando ao relato da edição de “A Doutrina Secreta” de Bertram Keightley, que escreveu:


Bertram Keightley (1860-1944)


“Um dia ou dois depois da nossa chegada a Maycott [em maio de 1887], HPB colocou tudo o que havia de manuscritos completos de [A Doutrina Secreta) nas mãos do Dr. [Archibald] Keightley e de mim próprio…Ambos lemos todo o conjunto de manuscritos – uma pilha com quase 1 metro de altura – o mais cuidadosamente possível…e então, depois de consulta prolongada, encarámos [HPB]… com a solene opinião que o conjunto de material tinha que ser rearranjado de acordo com um plano preciso…

Finalmente apresentámos-lhe um plano, de acordo com a própria natureza do material, ou seja, dividir o trabalho em quatro volumes…

Além disso, em vez de fazer o primeiro volume consistir, como ela pretendia, da história de alguns grandes ocultistas, aconselhámo-la a seguir a ordem natural de exposição e a começar com a Evolução do Cosmos, e a partir daí a passar para a Evolução do Homem, e depois a lidar com a parte histórica num terceiro volume abordando as vidas de alguns grandes Ocultistas; e finalmente, a falar do Ocultismo Prático num quarto volume se ela tivesse condições de escrevê-lo.

Este plano foi apresentado a HPB que de pronto o sancionou.


Busto de HPB


O próximo passo foi ler novamente o manuscrito, do princípio ao fim, e fazer um ordenamento geral da matéria pertencente aos temas que vinham sob as epígrafes de Cosmogonia e Antropologia, os quais deveriam formar os dois primeiros volumes da Obra. Concluída essa tarefa, HPB, devidamente consultada, expressou a sua aprovação, e todo o manuscrito, assim ordenado, foi passado à máquina por mãos profissionais… (em Reminiscences of H. P. Blavatsky and The Secret Doctrine, pela Condessa Constance Wachtmeister et al., Quest edition, 1976, pp. 78-9; também citado em de Zirkoff, SD Intro., 41) [NT: esta passagem pode ser encontrada com uma redação ligeiramente diferente no livro “Reminiscências de H.P. Blavatsky e de A Doutrina Secreta”, ed. Pensamento, p.74-5. Também consta da p.34 do volume I de “A Doutrina Secreta” em língua portuguesa].

Portanto, como nos diz Bertram Keightley, a ordem dos volumes de “A Doutrina Secreta” foi alterada. O volume I tornou-se no Volume III.

Ficaram os conteúdos do novo e inédito volume III completamente intactos?

Não. Por exemplo, HPB decidiu retirar um dos apêndices ("Star-Angel Worship in the Roman Church") e publicá-lo como um artigo em Lucifer (CW 10: 13-32). Outro exemplo: o apêndice intitulado "Kuan-Shai-Yin"  foi aparentemente retirado e publicado no volume I de 1888, p.470-3. Algumas outras partes do reorganizado terceiro volume foram também incorporadas no Volume I conforme publicado em 1888: parte da secção “para os leitores” e parte das “explicações da primeira página de Ísis sem Véu” (ver o quadro de conteúdos do volume I) foram incorporados na “introdução” (xvii-xxi e xii-xlvii)  do volume I publicado em 1888. Mas, em grande medida, o material que estava no Volume I do manuscrito original de A Doutrina Secreta de 1886-1887 permaneceu no manuscrito daquilo que se veio a tornar o Volume III.


PARTE 4 – O TERCEIRO VOLUME DESDE 1888 ATÉ À MORTE DE HPB

Podemos agora delinear a história do terceiro volume desde 1888 até à morte de HPB em 1891 citando vários documentos publicados.

Carta escrita por Blavatsky.
A sua caligrafia é facilmente reconhecida.


3 de abril 1888 – HPB escreve à Segunda Convenção Americana:

O manuscrito dos primeiros três volumes está agora pronto a ir para impressão (CW 9:247).

1888 – HPB escreve sobre o terceiro volume nos Volumes I e II de “A Doutrina Secreta” (1888):

Os dois volumes agora publicados ainda não completam o esquema geral, nem esgotam os temas abordados. Já está preparada uma boa quantidade de materiais referentes à história do Ocultismo, baseada nas vidas dos grandes Adeptos da Raça ariana e que nos mostram a influência da Filosofia Oculta na conduta da vida, tal como é e tal como deveria ser. Se os presentes volumes tiverem acolhimento favorável, não serão poupados esforços para levar avante o plano e completar a obra. O terceiro volume está inteiramente pronto e o quarto quase (1:vii) [NT- Na p.11 do volume I da edição em português de “A Doutrina Secreta” encontrar-se-á esta passagem ligeiramente alterada. Note-se que esta última frase não consta da edição portuguesa, possivelmente porque a versão a partir da qual foi feita a tradução já não continha essa passagem.]




Se o leitor, porém, tiver paciência, poderá olhar para o estado atual das diversas crenças existentes na Europa, comparando-as ao que a história refere das épocas que imediatamente precederam e seguiram a era cristã; tudo isso poderá ser encontrado no volume III desta obra.

Nesse volume apresentar-se-á uma breve recapitulação dos principais Adeptos historicamente conhecidos; será descrito como os Mistérios decaíram, principiando em seguida a desaparecer, e apagando-se finalmente da memória dos homens, a verdadeira natureza da Iniciação e da Ciência Sagrada. Passaram desde então a ser ocultos os seus ensinamentos, e a Magia não persistiu senão, quase sempre, sob as cores veneráveis, mas por vezes, enganosas, da Filosofia Hermética. Assim como o verdadeiro Ocultismo havia prevalecido entre os místicos durante os séculos que antecederam a nossa era, assim a Magia, ou antes a Feitiçaria com as suas artes ocultas, seguiu-se ao advento do Cristianismo. (l: xxxix-xl) [NT- p.52 do volume I da edição em português de “A Doutrina Secreta”, com pequenas alterações.]

Lidos à luz do Zohar, os quatros primeiros capítulos do Génesis são os fragmentos de uma página altamente filosófica da cosmogonia do Mundo (ver Volume III, “Gupta Vidya e o Zohar) (1:10-1) [NT - p.79 do volume I da edição em português de “A Doutrina Secreta”, embora o que está entre parêntesis não conste.]

Outra edição menos conhecida da Doutrina Secreta feita
pela Editora Civilização Brasileira

A explicação de “Anupâdaka” contida no Kâla Chakra – a primeira na divisão Gyut do Kanjur, é semi-esotérica, e induziu os orientalistas a erróneas especulações quanto aos Dhyâni-Buddhas e aos seus correspondentes terrestres, os Mânushi-Buddhas. A significação verdadeira será indicada em volume subsequente (ver “O Mistério de Buda”), e a seu tempo será explicada com maior amplitude. (1:52n) [NT- nota 24 da p.114 do volume I da edição em português de “A Doutrina Secreta”, excluindo o que está entre parêntesis].

É, por isso, fácil de compreender a significação daquele “conto de fadas” que Chwolsohn traduziu da versão árabe de um velho manuscrito caldeu, em que Qûtamy é instruído pelo ídolo da Lua (vide volume III)… Seldenus diz-nos o segredo, e o mesmo faz Maimonides…Os adoradores de Terafim, ou oráculos judeus “esculpiam imagens, e alegavam que, sendo inteiramente impregnada pela luz das estrelas principais (planetas), por seu intermédio as Virtudes angélicas (ou os Regentes dos planetas e estrelas) conversavam com eles, ensinando-lhes a arte e muitas coisas úteis” (1:394) [NT- p.102 do volume II da edição em português de “A Doutrina Secreta”, excluindo o que está entre parêntesis].

Estudando-se a Teogonia comparada, é fácil ver que o segredo destes “Fogos” era ensinado nos Mistérios de todos os povos da antiguidade, e principalmente na Samotrácia…Falta-nos espaço para descrevermos aqui estes “Fogos” e o seu real significado; tentaremos fazê-lo mais tarde, se os terceiro e quarto volumes desta obra vierem a ser publicados. (2:106) [NT- p.120 do volume III da edição em português de “A Doutrina Secreta”, com pequenas alterações.]




No terceiro volume desta obra (este volume bem como o quarto estão praticamente prontos), será exposta uma breve história de todos os grandes adeptos conhecidos dos tempos antigos e modernos por ordem cronológica e uma perspetiva genérica dos Mistérios, a sua criação, crescimento, degradação e morte – na Europa. Não houve espaço para isto nesta obra. O volume IV será dedicado quase na íntegra a ensinamentos ocultos (2:437) [NT: Esta passagem não existe na versão em língua portuguesa de “A Doutrina Secreta”, a existir estaria na p. 455 do volume III].

Estes dois volumes são para o estudante um prelúdio adequado para os volumes III e IV. Enquanto os resíduos das idades não forem eliminados da mente dos Teósofos, a quem dedicamos estas páginas, é impossível que cheguem a compreender o ensinamento de caráter mais prático contido no terceiro volume.




Do acolhimento que os Teósofos e Místicos dispensarem aos dois primeiros volumes dependerá a publicação dos últimos dois volumes, embora estejam quase concluídos (2:797-8) [NT: com uma redação ligeiramente distinta, esta passagem está na p.366 do volume IV da edição em português de “A Doutrina Secreta”].

Estas descrições por parte de HPB, daquilo que estava no volume III não publicado de “A Doutrina Secreta”, têm uma boa correspondência com aquilo que ela diz nas suas cartas de 1886, nas quais descreve o volume I original.

Continua na próxima semana.


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