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sábado, 30 de julho de 2016

A controvérsia sobre o quinto e sexto volumes de "A Doutrina Secreta" (8ª parte)

Prosseguimos com a tradução do artigo de Daniel H. Caldwell, “O mito do terceiro volume desaparecido de A Doutrina Secreta”. É fundamental ler os posts das semanas anteriores antes de ler o post desta semana.





Os vários excertos de HPB descrevem razoavelmente bem parte do material no Volume III de 1897, como demonstram os títulos de alguns dos seguintes ensaios que esse volume contém:

III. A Origem da Magia

IV. O Sigilo dos Iniciados

V. Razões para o Sigilo

XIII. Adeptos pós-cristãos e as suas Doutrinas

XIV. Simão e o seu Biógrafo Hipólito

XV. São Paulo, o Verdadeiro Fundador do Cristianismo atual

XVI. Pedro foi um Cabalista Judeu, mas não foi um Iniciado

XVII. Apolónio de Tiana

XVIII. Factos Subjacentes nas Biografias dos Adeptos

XIX. São Cipriano de Antioquia

XXVIII. A Origem dos Mistérios

XXX. O Mistério do “Sol da Iniciação”

XXXI. A Finalidade dos Mistérios

XXXII. Vestígios dos Mistérios

XXXIII. Os Derradeiros Mistérios na Europa

XXXIV. Os Sucessores Pós-Cristãos dos Mistérios

XLIII. O Mistério de Buddha

XLIV. “Reincarnações” de Buddha

XLIX. Tsong-kha-pa, Lohans na China


Este artigo está assente em documentos de fontes primárias (várias cartas, artigos e o manuscrito de Würzburg) escritos durante os anos 1885-1897.

A maior parte destes testemunhos foi dado durante o tempo em que HPB escrevia e editava “A Doutrina Secreta” ou nos anos próximos dos acontecimentos narrados, altura em que seria expetável que os envolvidos se recordassem com precisão dos vários detalhes e do verdadeiro rumo dos acontecimentos.


Helena Blavatsky


Foi feita uma tentativa para apresentar as provas por ordem cronológica de modo a que o leitor possa discernir a torrente natural de acontecimentos relacionados com a redação e edição do manuscrito de “A Doutrina Secreta”.

O leitor também deve prestar atenção ao facto de existirem testemunhos conflituantes com aqueles que são citados neste artigo. A maior parte das provas contrárias foi dada quer por indivíduos que não estiveram diretamente envolvidos na redação e edição do manuscrito da DS ou por testemunhas que escreveram nos anos 20 e 30 do século passado (cerca de 30 a 40 anos depois dos acontecimentos).

Não é de espantar que a recordação pessoal dos acontecimentos passados algumas décadas antes contenha contradições e inconsistências. Quem quiser examinar estes relatos conflituantes deve consultar a “Introdução Histórica à Doutrina Secreta” de Boris de Zirkoff (especialmente as páginas 61, 63-6 e 71) bem como a sua análise ao terceiro volume (1897) nos Collected Writings, vol. XIV (especialmente as pág. xxxi-xxxii, xxxiv-xl). Ver também o apêndice a este artigo.




Um correspondente, ao ler o primeiro rascunho deste artigo, escreveu-me em resposta:

"Tendo em consideração a inconsistência das afirmações feitas por aqueles que conheciam o trabalho de HPB na altura, e a natureza contraditória, às vezes auto-contraditória de alguns deles, não vejo como seja possível chegar a uma conclusão sobre o volume III com base nestas afirmações, como você e Boris [de Zirkoff] tentaram fazer."

Em resposta perguntei: quais os acontecimentos históricos, importantes ou não, que não envolvam testemunhos inconsistentes e contraditórios?

Ponha-se em equação as declarações contraditórias (a favor e contra) das pessoas que conheceram pessoalmente HPB e que fizeram afirmações sobre os seus poderes psíquicos e sobre a existência dos seus Mestres. Emma Coulomb, Richard Hodgson, Vsevolod Solovyov, Hannah Wolff e outros forneceram relatos diferentes, contraditórios e negativos relativamente a HPB se comparados com os relatos de Henry Olcott, Constance Wachtmeister, William Judge, Annie Besant e outros que testemunharam o caráter genuíno das alegações de HPB.


Hodgson foi quem investigou as atividades de
Blavatsky e da ST para a Sociedade
de Pesquisas Psíquicas


Significa que estas contradições impedem-nos de chegar a uma conclusão aceitável no que respeita ao caráter genuíno ou não dos poderes psíquicos de HPB e à existência dos seus Mestres? Uma investigação histórica é levada a cabo, para ao menos em parte, tentar filtrar as evidências (a favor, contra e neutras) de um acontecimento ou de uma série deles, escrutinar as fontes primárias, pesar as evidências (incluindo contradições) e tentar chegar a conclusões razoáveis em relação ao que com maior probabilidade aconteceu ou àquilo que não aconteceu.

Outro tópico que não foi considerado neste artigo foi a “edição” do manuscrito de HPB do terceiro volume para publicação. Annie Besant no prefácio do terceiro volume afirmou claramente:

“Salvo a correção de erros gramaticais e a eliminação de modismos de todo estranhos ao idioma inglês, os textos permanecem tais como H.P.B. os deixou, a não ser uma ou outra alteração expressamente assinalada. Em outros casos raros, procurei sanar lacunas; mas todos estes acréscimos figuram entre colchetes, para distingui-los do texto.”

Não obstante, alguns estudantes das obras de HPB têm expressado preocupação com a quantidade de edições que Besant e os seus assistentes fizeram no manuscrito. Numa crítica ao terceiro volume de “A Doutrina Secreta”, James M. Pryse (Theosophy, Nova Iorque, Setembro 1897, 314-6) escreveu:

“Se tivesse sido impressa tal como H.P.B. a escreveu, então os teosofistas em geral tê-la-iam recebido de bom grado; mas como a Senhora Besant e outros a editaram, será alvo de uma justa suspeição.”
(Note-se que, cerca de trinta anos mais tarde, Pryse inverteu a sua perspetiva em relação a este assunto.)


James Morgan Pryse (1859-1942) esta à esquerda na foto.
Blavatsky e Mead também aparecem na foto.

Outra estudante particular de HPB, Alice Leighton Cleather (H.P. Blavatsky: A Great Betrayal, l922, p.75) dá o seu testemunho.

“Acontece que enquanto [o volume III] estava sendo preparado [para publicação] eu consegui examinar uma ou duas das longas folhas de papel almaço com que H.P.B. sempre preenchia com a sua bela caligrafia miudinha. Estavam mutiladas ao ponto de estarem quase irreconhecíveis, poucas das suas frases permaneciam intactas e existiam “correções”. 

Mais recentemente, Nicholas Weeks, que ajudou na preparação dos manuscritos dos volumes XIII, XIV e XV dos “Collected Writings” de HPB, expressou-me preocupações idênticas (correspondência privada):

“Quando estávamos trabalhando no volume XIV dos CW encontrámos muitas diferenças ou alterações entre “o primeiro rascunho” [o manuscrito de Würzburg] e o volume III da DS [1897]. Algumas das mais radicais estão incluídas no índice do vol. XIV (ver "Würzburg MS Interpolations." 


Nicholas Weeks e Dara Eklund, a sua
esposa


Nas p. 104 & 266-67 dos CW, vol. XIV estão dois exemplos das críticas cortantes à Igreja Católica Romana que não surgem na “DS III” [1897]. Não creio que HPB as tenha apagado ou aprovado a sua eliminação. Assim, a questão vem ao de cima: quantas “correções” e “inovações” foram feitas que não seriam autorizadas por HPB?... Sem o “manuscrito de Würzburg” não haveria qualquer indício das alterações que ocorreram.

Este tema da edição do manuscrito do Volume III (1897) precisa de ser cuidadosamente investigado no futuro.

Voltando à minha tese, concluo esta secção com uma citação importante de uma carta de Bertram Keightley (escrita em Lucknow, Índia em 6 de dezembro de 1922 e dirigida a Charles Blech, um teosofista francês):

"Quanto às pretensões de H.P.B. relativamente a volumes futuros – para além dos dois publicados sob sua própria supervisão – todo este material foi publicado no terceiro volume, que contém absolutamente tudo aquilo que H.P.B. deixou em manuscrito. [citado em “The O.E. Library Critic, 4 de julho de 1923]."



Interior da sede Sociedade Teosófica francesa.
Charles Blech foi a presidente da Secção
entre 1908 e 1934.


Se há algum teosofista conhecedor dos conteúdos do terceiro volume de HPB, esse teosofista é Bertram Keightley.


Pelas várias razões apresentadas neste artigo, estou inclinado a acreditar que o volume III de “A Doutrina Secreta” conforme foi publicado em 1897 era o verdadeiro Volume III pretendido por HPB durante a sua vida.

Continua na próxima semana.

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