Os vários excertos de HPB descrevem razoavelmente bem parte do
material no Volume III de 1897, como demonstram os títulos de alguns dos seguintes ensaios
que esse volume contém:
III. A Origem da Magia
IV. O Sigilo dos Iniciados
V. Razões para o Sigilo
XIII. Adeptos pós-cristãos e as suas Doutrinas
XIV. Simão e o seu Biógrafo Hipólito
XV. São Paulo, o Verdadeiro Fundador do Cristianismo atual
XVI. Pedro foi um Cabalista Judeu, mas não foi um Iniciado
XVII. Apolónio de Tiana
XVIII. Factos Subjacentes nas Biografias dos Adeptos
XIX. São Cipriano de Antioquia
XXVIII. A Origem dos Mistérios
XXX. O Mistério do “Sol da Iniciação”
XXXI. A Finalidade dos Mistérios
XXXII. Vestígios dos Mistérios
XXXIII. Os Derradeiros Mistérios na Europa
XXXIV. Os Sucessores Pós-Cristãos dos Mistérios
XLIII. O Mistério de Buddha
XLIV. “Reincarnações” de Buddha
XLIX. Tsong-kha-pa, Lohans na China
Este artigo está assente
em documentos de fontes primárias
(várias cartas, artigos e o manuscrito de Würzburg) escritos durante os anos
1885-1897.
A maior parte destes testemunhos foi dado durante o tempo em que
HPB escrevia e editava “A Doutrina Secreta” ou nos anos próximos dos
acontecimentos narrados, altura em que seria expetável que os envolvidos se recordassem
com precisão dos vários detalhes e do verdadeiro rumo dos acontecimentos.
Helena Blavatsky |
Foi feita uma tentativa para apresentar as provas por ordem cronológica de modo a que o
leitor possa discernir a torrente natural
de acontecimentos relacionados com a redação e edição do manuscrito de “A
Doutrina Secreta”.
O leitor também deve prestar atenção ao facto de existirem testemunhos
conflituantes com aqueles que são citados neste artigo. A maior parte das
provas contrárias foi dada quer por indivíduos que não estiveram diretamente
envolvidos na redação e edição do manuscrito da DS ou por testemunhas que
escreveram nos anos 20 e 30 do século passado (cerca de 30 a 40 anos depois dos
acontecimentos).
Não é de espantar que a recordação pessoal dos acontecimentos
passados algumas décadas antes contenha contradições e inconsistências. Quem
quiser examinar estes relatos conflituantes deve consultar a “Introdução
Histórica à Doutrina Secreta” de Boris de Zirkoff (especialmente as páginas 61,
63-6 e 71) bem como a sua análise ao terceiro volume (1897) nos Collected
Writings, vol. XIV (especialmente as pág. xxxi-xxxii, xxxiv-xl). Ver também o
apêndice a este artigo.
Um correspondente, ao ler o primeiro rascunho deste artigo,
escreveu-me em resposta:
"Tendo em consideração a inconsistência das afirmações feitas por
aqueles que conheciam o trabalho de HPB na altura, e a natureza contraditória,
às vezes auto-contraditória de alguns deles, não vejo como seja possível chegar
a uma conclusão sobre o volume III com base nestas afirmações, como você e
Boris [de Zirkoff] tentaram fazer."
Em resposta perguntei: quais os acontecimentos históricos, importantes
ou não, que não envolvam testemunhos inconsistentes e contraditórios?
Ponha-se em equação as declarações contraditórias (a favor e
contra) das pessoas que conheceram pessoalmente HPB e que fizeram afirmações
sobre os seus poderes psíquicos e sobre a existência dos seus Mestres. Emma
Coulomb, Richard Hodgson, Vsevolod Solovyov, Hannah Wolff e outros forneceram
relatos diferentes, contraditórios e negativos relativamente a HPB se
comparados com os relatos de Henry Olcott, Constance Wachtmeister,
William Judge, Annie Besant e outros que testemunharam o caráter genuíno das
alegações de HPB.
Hodgson foi quem investigou as atividades de Blavatsky e da ST para a Sociedade de Pesquisas Psíquicas |
Significa que estas
contradições impedem-nos de chegar a uma conclusão aceitável no que respeita ao
caráter genuíno ou não dos poderes psíquicos de HPB e à existência dos seus
Mestres? Uma investigação histórica é levada a cabo, para ao menos em parte,
tentar filtrar as evidências (a favor, contra e neutras) de um acontecimento ou
de uma série deles, escrutinar as fontes primárias, pesar as evidências (incluindo
contradições) e tentar chegar a conclusões razoáveis em relação ao que com
maior probabilidade aconteceu ou àquilo que não aconteceu.
Outro tópico que não foi
considerado neste artigo foi a “edição” do manuscrito de HPB do terceiro volume
para publicação. Annie Besant no prefácio do terceiro volume afirmou
claramente:
“Salvo a correção de erros
gramaticais e a eliminação de modismos de todo estranhos ao idioma inglês, os
textos permanecem tais como H.P.B. os deixou, a não ser uma ou outra alteração
expressamente assinalada. Em outros casos raros, procurei sanar lacunas; mas
todos estes acréscimos figuram entre colchetes, para distingui-los do texto.”
Não obstante, alguns
estudantes das obras de HPB têm expressado preocupação com a quantidade de
edições que Besant e os seus assistentes fizeram no manuscrito. Numa crítica ao
terceiro volume de “A Doutrina Secreta”, James M. Pryse (Theosophy, Nova Iorque, Setembro 1897, 314-6)
escreveu:
“Se tivesse sido impressa
tal como H.P.B. a escreveu, então os teosofistas em geral tê-la-iam recebido de
bom grado; mas como a Senhora Besant e outros a editaram, será alvo de uma
justa suspeição.”
(Note-se que, cerca de
trinta anos mais tarde, Pryse inverteu a sua perspetiva em relação a este
assunto.)
James Morgan Pryse (1859-1942) esta à esquerda na foto. Blavatsky e Mead também aparecem na foto. |
Outra estudante particular
de HPB, Alice Leighton Cleather (H.P. Blavatsky:
A Great Betrayal, l922, p.75)
dá o seu testemunho.
“Acontece que enquanto [o
volume III] estava sendo preparado [para publicação] eu consegui examinar uma
ou duas das longas folhas de papel almaço com que H.P.B. sempre preenchia com a
sua bela caligrafia miudinha. Estavam mutiladas ao ponto de estarem quase
irreconhecíveis, poucas das suas frases permaneciam intactas e existiam
“correções”.
Mais recentemente, Nicholas Weeks, que ajudou na preparação dos
manuscritos dos volumes XIII, XIV e XV dos “Collected Writings” de HPB,
expressou-me preocupações idênticas (correspondência privada):
“Quando estávamos trabalhando no volume XIV dos CW encontrámos
muitas diferenças ou alterações entre “o primeiro rascunho” [o manuscrito de Würzburg]
e o volume III da DS [1897]. Algumas das mais radicais estão incluídas no índice
do vol. XIV (ver "Würzburg MS Interpolations."
Nicholas Weeks e Dara Eklund, a sua esposa |
Nas p. 104 & 266-67
dos CW, vol. XIV estão dois exemplos das críticas cortantes à Igreja Católica
Romana que não surgem na “DS III”
[1897]. Não creio que HPB as tenha apagado ou aprovado a sua eliminação. Assim,
a questão vem ao de cima: quantas “correções” e “inovações” foram feitas que
não seriam autorizadas por HPB?... Sem o “manuscrito de Würzburg” não haveria
qualquer indício das alterações que ocorreram.
Este tema da edição do
manuscrito do Volume III (1897) precisa de ser cuidadosamente investigado no
futuro.
Voltando à minha tese,
concluo esta secção com uma citação importante de uma carta de Bertram
Keightley (escrita em Lucknow, Índia em 6 de dezembro de 1922 e dirigida a
Charles Blech, um teosofista francês):
"Quanto
às pretensões de H.P.B. relativamente a volumes futuros – para além dos dois
publicados sob sua própria supervisão – todo
este material foi publicado no terceiro
volume, que contém absolutamente tudo
aquilo que H.P.B. deixou em manuscrito. [citado em “The O.E. Library
Critic, 4 de julho de 1923]."
Interior da sede Sociedade Teosófica francesa. Charles Blech foi a presidente da Secção entre 1908 e 1934. |
Se há algum teosofista conhecedor dos conteúdos do terceiro volume de HPB, esse teosofista é Bertram Keightley.
Pelas
várias razões apresentadas neste artigo, estou inclinado a acreditar que o
volume III de “A Doutrina Secreta” conforme foi publicado em 1897 era o verdadeiro Volume III pretendido por HPB
durante a sua vida.
Continua na próxima semana.
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