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sábado, 16 de julho de 2016

A controvérsia sobre o quinto e sexto volumes de "A Doutrina Secreta" (6ª parte)

Prosseguimos com a tradução do artigo de Daniel H. Caldwell, “O mito do terceiro volume desaparecido de A Doutrina Secreta”. É fundamental ler os posts das semanas anteriores antes de prosseguir. Continuamos com o restante da parte 4 do texto de Caldwell.

29 de abril de 1889 – Archibald Keightley foi citado numa entrevista ao New York Times, p. 5
O terceiro volume de “A Doutrina Secreta” está em manuscrito pronto para impressão. Consiste principalmente de uma série de esboços de grandes ocultistas de todas as épocas e é um trabalho maravilhoso e fascinante. O quarto volume, que basicamente dará algumas pistas sobre ocultismo prático, já foi delineado, mas ainda não foi escrito…


Archibald Keightley


21 de novembro de 1889 – HPB escreve numa carta para N.D. Khandalavala (Theosophist, agosto de 1932, p. 626):

Fui capaz de escrever a minha D.S., a “Chave”, a “Voz” e preparei mais dois volumes da Doutrina S..

Fevereiro de 1890 – HPB escreveu numa carta para a sua irmã Vera (Path, dezembro de 1895, p. 268):

Tenho de pôr o terceiro volume da Doutrina [Secreta] em ordem, e o quarto – mal comecei, também.


Nesta foto, a irmã de Blavatsky, Vera, está à sua esquerda.
Em cima Olcott e o casal Johnston.


Dezembro de 1890 – Um relato (Theosophist, julho de 1891, p. 586-7) da palestra de Bertram Keightley “Teosofia no Ocidente” na convenção anual da S.T. em Adyar, Madras, Índia, incluía o seguinte:

HPB entregou-lhe [a B. Keightley] o manuscrito de “A Doutrina Secreta” com a solicitação de que o lesse na totalidade. Ele leu os dois volumes publicados e o terceiro ainda não publicado…o que agora será o 3.º volume da história do Ocultismo teria sido o primeiro volume, enquanto os tratados sobre Cosmogonia e a Génese do Homem constituiriam um conjunto posterior…Ele então esboçou um esquema com a ordem óbvia e natural, nomeadamente a Evolução do Universo e a Evolução do homem…O próximo passo…era reordenar…o manuscrito de acordo com o [novo] esquema.

7 de janeiro de 1891 – Claude Falls Wright escreveu (Path, Fevereiro 1891, 354):

Na última semana, HPB começou a reunir os manuscritos (escritos há muito) para o Terceiro Volume de A Doutrina Secreta; levará contudo uns bons doze meses a prepará-lo para publicação.


Claude Falls Wright (1867-1923)


Fevereiro de 1891 – Alice Leighton Cleather escreveu (Theosophist, Abril de 1891, p. 438):
HPB já começou no Vol. III.

18 de fevereiro de 1891 – A Condessa Wachtmeister escreveu numa carta para W.Q. Judge (citada em Report of Proceedings, Secret Doctrine Centenary, October 29-30, 1988, 1989, p. 86):
Quando o Volume 3 [de A Doutrina Secreta] sair este verão espero que haja nova procura pelos anteriores [dois] volumes.


Condessa Constance Wachtmeister
(1838-1910)


Abril de 1891 – HPB escreveu em Lucifer (CW 13:145-6):

Há dois anos, a autora prometeu em “A Doutrina Secreta”, Vol.II p. 798 [p.366 do volume IV da edição em português de “A Doutrina Secreta”], um terceiro e até um quarto volume deste trabalho. O terceiro volume (que está praticamente pronto) trata dos antigos Mistérios da Iniciação, dá esboços – do ponto de vista esotérico – de muitos dos mais famosos e historicamente conhecidos filósofos e hierofantes (todos eles considerados pela ciência como impostores), desde a antiguidade ate à era cristã, e rastreia os ensinamentos de todos estes sábios à mesma e única fonte de todo o conhecimento e ciência – a doutrina esotérica ou RELIGIÂO SABEDORIA. Nem é necessário referir que dos materiais lendários esotéricos usados no próximo trabalho, as suas afirmações e conclusões diferem grandemente e muitas vezes chocam irreconciliavelmente com os dados fornecidos por quase todos os orientalistas ingleses e alemães….O objetivo principal do Volume III de “A Doutrina Secreta” é provar, ao identificar e explicar os véus nas obras dos antigos indianos, gregos e outros filósofos de renome e também em todas as antigas Escrituras – a presença de um método e simbolismo alegórico e esotérico ininterruptos: mostrar, tanto quanto possível, que com as chaves da interpretação conforme ensinadas no Cânone do Ocultismo Hindu-Budista Oriental, os Upanixades, os Puranas, os Sutras, os poemas épicos da Grécia e da Índia, o Livro Egípcio dos Mortos, os Eddas escandinavos, bem como a Bíblia hebraica e ainda os escritos clássicos dos Iniciados (como Platão, entre outros) – tudo, do início ao fim, dão um significado bastante diferente dos seus textos em letra morta.

4 de maio de 1891 Annie Besant testemunhou a favor de HPB na ação desta contra Elliout Coues e o New York Sun (Michael Gomes, ed., Witness for the Prosecution: Annie Besant's Testimony on Behalf of H. P. Blavatsky in the N. Y. Sun/Coues Law Case, 1993, p.23):

Existe um outro trabalho dela [de HPB] que vi em manuscrito, ainda não publicado; um terceiro volume de “A Doutrina Secreta” que vejo com os meus próprios olhos que está agora a ser preparado para impressão. A Senhora Blavatsky também tem em preparação um glossário de Sânscrito e de línguas orientais; ambos estão em preparação; um deles está já datilografado e outro está quase pronto para sê-lo.

Elliott Coues, um dos mais ferozes
 inimigos de Blavatsky
(1842-1899)

8 de maio de 1891 – HPB morreu em Londres.

Das afirmações de 1890-1891 acima (quer escritas pela própria HPB ou pelos seus estudantes de Londres) uma conclusão razoável que pode ser retirada é a de que HPB finalmente decidiu publicar o terceiro volume de “A Doutrina Secreta” e estava, de facto, trabalhando no manuscrito do terceiro volume durante os meses que precederam a sua morte.

À luz desta conclusão, é difícil entender o que Boris de Zirkoff queria dizer quando escreveu (na SD Intro., p.71) que “nenhuma resposta positiva ou negativa em absoluto pode ser dada à recorrente questão sobre se um manuscrito completo dos volumes III e IV alguma vez existiu.”


Boris de Zirkoff


Deixando de lado a referência de de Zirkoff ao volume IV, não há qualquer razão para duvidar que um manuscrito do Volume III existiu durante os últimos anos da vida de HPB. Além do mais, tivesse ela vivido mais anos, provavelmente teria adicionado e eliminado material do manuscrito; provavelmente teria reescrito e reeditado o material ainda mais. Mas na altura da sua morte, este manuscrito estava tão “terminado” tanto quanto HPB podia. Que mais se poderia esperar?


No século XX, muitos estudantes de Blavatsky preferiram acreditar que o verdadeiro volume III não publicado de 1887-1891 (o anterior Volume I de 1886-1887) havia, de algum modo, desaparecido. Alguns sugeriram que o manuscrito ou foi destruído por HPB antes da sua morte, ou já depois disso, havia sido suprimido por Besant, “desmaterializado” pelos Mestres, ou ainda que teria desparecido de outro modo qualquer.


Parte 1 do documentário "The Annie Besant Story"

Continua na próxima semana.

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