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sábado, 26 de julho de 2014

A Teosofia e as Sociedades Teosóficas (2ª parte)

Continuamos esta semana com a tradução do excelente artigo do professor James A. Santucci, "A Teosofia e as Sociedades Teosóficas", iniciada na passada semana.


Durante a década de 80 do século XIX, quatro acontecimentos significativos ocorreram na história da Sociedade Teosófica: (1) o caso Coulomb (1884); (2) a formação da Secção Esotérica da Sociedade Teosófica a 9 de outubro de 1888, sob a direção de Madame Blavatsky; (3) a publicação em 1888, de A Doutrina Secreta – o trabalho seminal do Movimento Teosófico – e (4) o ingresso na Sociedade Teosófica em maio de 1889, de Annie Besant (1847-1933), a segunda presidente da Sociedade de Adyar e certamente a teosofista de Adyar mais proeminente do século XX.


William Quan Judge e Henry Steel Olcott


(1)   No que respeita ao Caso Coulomb, Emma Coulomb, uma governanta da sede de Adyar, acusou Blavatsky de ter produzido fenómenos psíquicos fraudulentos e de ter escrito cartas em nome dos seus Mestres ou Mahatmas. Ela foi investigada por Richard Hodgson em nome da Sociedade de Investigação Psíquica (S.I.P.), cujo relatório de 1885 (que foi o segundo relatório publicado pela S.I.P. sobre Blavatsky, sendo que o relatório preliminar de 1884 era mais neutral) acusou-a de ter cometido esses delitos, pondo assim em causa a alegação de que os Mestres ou Adeptos realmente existiam.
Embora o relatório Hodgson tenha sido aceite pela S.I.P. na sua reunião geral realizada a 26 de junho de 1885, nunca foi a opinião oficial e institucional daquela organização. Hodgson escreveu a maior parte do relatório, mas o mesmo foi o produto de um comité que consistia não só de Hodgson mas também de E. Gurney, F.W.H. Myers, F. Podmore, H. Sidgwick, J. H. Stack e da Sra. H. Sidgwick. Pelo facto de o Relatório Hodgson nunca ter sido oficialmente aceite, a S.I.P. não poderia remover um relatório que nunca foi publicado. O que fez, ao invés, foi publicar uma declaração para “compensar por qualquer ofensa que [a S.I.P.] possa ter feito”, como declarado na nota editorial do artigo de Vernon Harrison “J’Accuse” (Journal of the Society for Psychical Research 53.803 (abril 1986): 286. O artigo começa com uma afirmação forte: “O Relatório do Comité designado para investigar fenómenos relacionados com a Sociedade Teosófica (chamado habitualmente de Relatório Hodgson) é o mais conhecido e controverso de todos os relatórios publicados pela Sociedade de Investigação Psíquica. Faz julgamento à Madame H.P. Blavatsky …; e a frase final em Declaração e Conclusões do Comité tem sido citada em livro atrás de livro, enciclopédia atrás de enciclopédia, sem qualquer indicação de que possa estar errada. Reza assim: “Da nossa parte não a consideramos como a representante de videntes ocultos, nem como uma vulgar aventureira. Julgamos que ela deverá ser para sempre recordada como uma das mais habilidosas, engenhosas e interessantes impostoras da história”. Harrison prossegue demonstrando que o “caso contra Madame Blavatsky no Relatório Hodgson NÃO ESTÁ PROVADO“. O dano contudo, estava feito. Enferma à data, Madame Blavatsky partiu de Adyar.

(2)    Blavatsky acabou por se instalar em Londres, onde estabeleceu – por sugestão de W. Q. Judge – a Secção Esotérica (ou S.E.) sob a sua direção como Líder Externo (os Líderes Internos eram os Mahatmas), conforme declarado num documento anónimo (mas provavelmente escrito por Annie Besant) “A Escola Oriental da Teosofia: Esboço Histórico” reimpresso no Theosophical History 6.1 (janeiro 1996):11, publicado originalmente na revista de Madame Blavatsky Lucifer 3.14 (15 de outubro de 1888). A S.E. era uma organização destinada a “promover os interesses esotéricos da Sociedade Teosófica através do estudo mais profundo da filosofia esotérica” (vide “A Secção Esotérica da Sociedade Teosófica”, 9 de outubro de 1888). Embora não tenha nenhuma ligação institucional com a S.T., a S.E. está apenas aberta a membros da S.T.; além do mais, todos os ensinamentos e atividades são conduzidas de forma privada.


A Doutrina Secreta, de Helena
Petrovna Blavatsky

(3)    O trabalho principal de H.P. Blavatsky, A Doutrina Secreta (1888), estabelece três proposições que servem como base da Teosofia para a maior parte dos teosofistas: (1) a existência de um princípio ou realidade absoluta e infinita, (2) a natureza cíclica ou periodicidade do universo e de tudo o que nele está contido, e (3) a identidade fundamental da alma individual com a alma-superior universal e a peregrinação de todas as almas através do ciclo de encarnações de acordo com a lei cármica. A Teosofia, neste sentido, é uma perspetiva da realidade última não-dualista ou monista, que se manifesta ou emana numa complementaridade dinâmica e progressão evolucionária.


(4)    O papel ativista de Olcott foi seguido pela segunda presidente da S.T., Annie Besant, que se envolveu em numerosas atividades dentro e fora da Sociedade, incluindo atividades tão diversas como investigações de ocultismo, educação, política, reforma social e a introdução do ritualismo dentro da Sociedade. Dentro das suas várias contribuições, Besant foi fundamental na fundação do Colégio Central Hindu em Benares em 1898, tornando-se ativa na política Indiana, servindo como Presidente do Congresso Nacional Indiano, formando a Liga do Autogoverno e mais tarde desenhando a Lei do Autogoverno (1925). Dentro da Sociedade Teosófica, ela fundou a Ordem Teosófica de Serviço em 1908, com a intenção de cumprir o primeiro objetivo da Sociedade - formar um núcleo de fraternidade universal da humanidade – levando a cabo trabalhos de compaixão e de alívio do sofrimento, incluindo atividades como doação de bens, remédios, roupas, etc… aos necessitados e a abolição da crueldade sobre os animais.

Annie Besant
Continua na próxima semana.

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