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sábado, 12 de julho de 2014

Três tipos de Karma (2ª parte)

Continuamos a tradução do texto "Três tipos de karma" da revista "The Theosophical Movement", iniciada na semana anterior.


B.P. Wadia, fundador da revista
"The Theosophical Movement"

"Isto também implica que a pessoa que fez, de forma sincera, um voto para purificar a sua natureza irá experienciar bons e maus efeitos súbitos, que de outro modo espalhar-se-iam durante muitos mais dias ou anos sob a forma de vários pequenos acontecimentos.

Agami é aquele karma que estamos a construir na vida atual, cujos efeitos serão sentidos nesta ou em futuras encarnações. É gerada pelos nossos pensamentos, sentimentos, palavras e ações, no quotidiano. Prarabdha karma é a porção ou aspeto do karma que está em operação na vida e corpo presentes, desde o nascimento, trazendo consigo todas as circunstâncias e mudanças. O Destino é o karma que amadureceu, não podendo, a sua expressão, ser evitada ou adiada. Por exemplo, não podemos mudar o sexo, família, nação ou raça na qual nascemos. O karma que é irreversível pode ser chamado de destino. O Sr. Judge define o Destino desta forma:

"Destino é a palavra aplicada a um karma tão forte e avassalador que a sua ação não pode ser contrariada por outro karma; mas no sentido em que todos os acontecimentos são dependentes do karma, tudo o que acontece está destinado."

O Destino é o karma em ação. (imagem examiner.com)

Na ausência do conhecimento da lei do karma descrevemos certos acontecimentos inevitáveis referindo: “Isto estava destinado”. Mas o destino é apenas a operação de determinadas causas poderosas, de modo a que nenhuma ação nossa ou qualquer outro karma possa evitar ou modificar o resultado. Para um karma deste género podemos afirmar, “o que não pode ser resolvido, deve ser suportado.” Experienciamos os efeitos do karma desta vida, bem como de vidas anteriores. O que experienciamos é o resultado do balanceamento de diversas causas kármicas.

O karma não opera sob o princípio de uma causa produzir um efeito; várias causas podem ser precipitadas em simultâneo. Da mesma forma, uma causa poderosa pode produzir efeitos em mais do que uma direção. Existe a lei do paralelograma das forças, onde as boas e más causas podem contrabalançar-se completa ou parcialmente e o que experienciamos é o resultante. Assim, atos de amor podem, até certo ponto, mitigar a severidade das consequências kármicas.

Temos ainda a doutrina da anulação do karma. De acordo com a bem conhecida lei da física, duas forças equivalentes opondo-se mutuamente, equilibram-se. “Uma pessoa pode ter na sua conta-corrente kármica uma causa muito desagradável e ao mesmo tempo uma causa de característica oposta. Se se manifestam ao mesmo tempo, poderão se contrariar mutuamente, nenhuma será visível e o equilíbrio será a compensação de ambas”, explica o Sr. Judge. Ele acrescenta que não é necessário que sintamos cada parcela de karma com o mesmo detalhe com que foi produzida, porque diversos tipos de karma podem se precipitar em simultâneo numa altura da vida, e o seu efeito combinado produz um resultado que, embora como um todo represente de forma precisa todos os elementos presente nele, ainda assim é um karma diferente de cada componente particular.

William Quan Judge, um dos
fundadores da Sociedade Teosófica

Existem três categorias de karma, porque o karma opera nos planos físico, psíquico e moral. Uma pessoa deformada com uma boa mente tem karma desagradável operando no seu corpo, estando karma positivo a ser experienciado na sua natureza intelectual. Para entender a anulação do karma devemos nos recordar que como não se podem somar libras e euros, ou libras e dólares, da mesma forma, ao contrariar karma negativo com karma positivo é essencial que ambos os tipos de karma sejam compatíveis. Dessa forma, parece que os resultados de ações feitas principalmente no plano mental não podem ser mitigados ou obliterados por ações produzidas no plano físico. Por exemplo, uma pessoa que passou muitos anos da sua vida torturando mentalmente outro ser humano não pode esperar anular esse ato dando grandes quantias de dinheiro aos pobres. Caridade feita a partir de um excedente, sem nenhuma preocupação particular pelos pobres, ou ainda pior, apenas com a intenção de ganhar mérito (punya), não pode trazer aperfeiçoamento do caráter moral.

Também é verdade que o karma manifesta-se em harmonia com o plano do desejo. Quando temos desejo por dinheiro, fama, reconhecimento, etc… - centrado no plano inferior, criamos um “centro de atração” nesse plano. Isto irá causar que o karma passado se manifeste nesse plano. Por outro lado, no caso de uma pessoa que tem desejos mais puros e que aspira ao mais elevado, fixa o “centro de atração” no plano superior. As energias no plano inferior são para aqui atraídas, o que resulta num aumento de espiritualidade. Assim, por exemplo, se gerámos bom karma dando grandes donativos em vidas passadas, e se o nosso coração está determinado em adquirir conhecimento espiritual então o mesmo bom karma do passado no plano físico irá manifestar-se no plano superior e podemos dar-nos conta de que somos ajudados, conseguindo o tipo certo de livros, um lugar calmo para meditação e estudo, e assim por diante.

O destino de hoje (prarabdha) resulta das nossas escolhas no passado. A escolha de hoje tece o nosso destino futuro. Se um homem toma a decisão de ir na direção correta, avança, se acontece o contrário, retrocede. O destino é tecido nas mentes dos homens com bons e maus pensamentos. Com o Agami Karma sendo gerado agora, podemos mudar o saldo do nosso karma acumulado. Além disso, quando o karma amadureceu e começou a se precipitar, podemos experienciar os seus efeitos com a atitude certa. Contudo, “aceitação” não deve ser equivalente a passividade ou impotência. Se formos capazes de mudar a situação, devemos fazer tudo o que está ao nosso dispor para modificá-la. Não é suposto permanecermos pobres, deficientes, ignorantes, fracos, oprimidos, ou em qualquer outra situação de sofrimento. Podemos usar a situação como matéria-prima e extrair as lições necessárias. Pode consistir em aprender as lições de firmeza e simpatia, ou desprendimento e paciência, e assim por diante. Um dos aforismos sobre o karma assinala que na vida presente podemos tomar medidas para reprimir tendências erradas e eliminar defeitos. Quando são feitos esforços intensos, a influência da tendência kármica é diminuída. O karma coloca-nos onde temos que estar, mas não nos prende."

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