Continuamos com a tradução (adaptada) do texto “O Conde deSt. Germain” de David Pratt.
12. Cagliostro e Mesmer
Saint-Germain, Cagliostro e Mesmer foram todos mensageiros
da Fraternidade Himalaia durante o séc. XVIII, assim como H.P.Blavatsky foi sua
mensageira no séc. XIX. KH diz que Saint-Germain e Cagliostro foram ambos
“cavalheiros da mais alta educação e das mais elevadas realizações, e
presumivelmente europeus” mas que eram olhados na altura e posteriormente como
“impostores, cúmplices, trapaceiros” [Cartas dos Mahatmas para A.P. Sinnett,
vol.II, carta nº92, p.85]. Ele condena a “presunção e obscurecimento mental”
dos académicos que “perseguiram Mesmer e que classificaram Saint-Germain como
um impostor”. [op.cit, vol.I, Carta XX, p.132].
Nascido na Alemanha em 1734, Franz Anton Mesmer estudou na
Universidade de Viena e tornou-se doutor em medicina em 1766. Em 1773 ele
começou a tratar pacientes com ímanes, mas passados alguns anos deixou de usar
ímanes, acreditando que as curas envolviam a transferência de um fluido subtil
ou força vital, que ele chamava de magnetismo animal. Em 1777 ele deixou Viena
e no ano seguinte montou o seu consultório em Paris. A sua fama cresceu
rapidamente e passados alguns anos Mesmer estava tratando vários milhares de
pacientes ao ano e com grande sucesso.
O seu sucesso enfureceu a comunidade médica, e como a sua
clientela provinha da classe média-alta ele foi acusado de lhes extrair
dinheiro por explorar a sua ingenuidade. Em 1784 uma comissão composta por
membros da Faculdade Francesa de Medicina e da Academia Real das Ciências
declarou que as suas curas eram inteiramente atribuídas à imaginação dos seus
pacientes, isto apesar de se terem dado ao trabalho de entrevistar Mesmer
durante a sua investigação. Ele faleceu em 1815, ressentido do facto da sua
descoberta não ter sido oficialmente reconhecida e por alguns dos seus
discípulos terem distorcido os seus ensinamentos. A prática comum de fazer
equivaler o mesmerismo ao hipnotismo é um grande erro.
Helena Blavatsky descreve Mesmer da seguinte forma:
“Famoso médico que redescobriu e aplicou praticamente ao
homem aquele fluido magnético, que foi designado pelo nome de “magnetismo
animal” e, desde então, “mesmerismo”.(…) Era membro iniciado da Fraternidade dos
Fratres Lucis [Irmãos da Luz] e de Lukshoor (ou Luxor) ou o ramo egípcio desta
última. O Conselho de Luxor elegeu-o – segundo as ordens da “Grande
Fraternidade”- para atuar, no séc. XVIII, como explorador comum, enviado no
último quarto de cada século para instruir na ciência oculta uma pequena parte
das nações ocidentais. O Conde de Saint-Germain, neste caso, inspecionou o desenrolar dos
acontecimentos e, mais tarde, Cagliostro foi comissionado para prestar seu
concurso. Porém, tendo cometido uma série de erros mais ou menos fatais, foi destituído
do seu cargo. Mesmer fundou a “Ordem da Harmonia Universal” em 1783, na qual,
como era de se supor, ensinava-se apenas o magnetismo animal, porém, na
realidade, expunham-se as doutrinas de Hipócrates, os métodos dos antigos Asclepieia, os Templos de cura e, muitas
outras ciências ocultas. [Glossário Teosófico, p.372].
Franz Anton Mesmer (retirado de marilynkaydennis.files.wordpress.com) |
Não há provas seguras que Mesmer tivesse conhecido
Saint-Germain.
Cagliostro (pronuncia-se Calli-ostro) foi um ocultista,
maçon, filantropo e curador. HPB chama-o de “famoso adepto” cuja “verdadeira
história ninguém nunca contou”.
“Sua sorte foi aquela de todo ser humano que dá provas de
saber mais do que os seus semelhantes. Foi apedrejado até à morte através de
perseguições, calúnias e acusações infames e, apesar disso, era amigo e conselheiro
de personagens poderosas de todos os países que visitava. Finalmente, foi
processado e sentenciado, em Roma, como herege, e diz-se que morreu durante a
sua permanência num calabouço [em 1795]”
Conde Alessandro di Cagliostro (retirado de sil.si.edu) |
A inquisição ligou o seu passado a um famoso ladrão nascido
na Sicília de nome Giuseppe Balsamo, algo que parece ter sido feito com a
intenção de denegrir Cagliostro.
Nos seus relatos pessoais, Cagliostro diz não saber o local
do seu nascimento e a identidade dos seus pais. Ele diz que sob o nome de
Acharat, passou a sua infância em Medina na Arábia, no palácio do Mufti
Salahayn, o líder dos muçulmanos. O seu tutor, Althotas ensinou-lhe botânica,
química e outras ciências.
Althotas disse a Cagliostro que ele tinha sido
deixado órfão com três meses de idade e que os seus pais eram Cristãos da
classe nobre. Com doze anos, ele acompanhou Althotas a Meca, onde ficou três
anos. Ele então viajou para o Egito onde, por volta dos seus dezoito anos,
visitou os principais reinos de África e da Ásia.
Em 1766, Cagliostro acompanhou o seu tutor à ilha de Malta
onde haveria de assumir o nome de Conde Cagliostro. Quatro anos depois
desposaria Seraphina Feliciani, uma devota católica, analfabeta. Viajou por
grande parte da Europa, incluindo Portugal, tendo por vezes usado outros nomes.
Passava o seu tempo ajudando os pobres, curando os doentes e tendo encontros
com pessoas importantes da sociedade, além de desenvolver trabalho maçónico.
Parecia ter uma fonte inesgotável de dinheiro.
Ainda no campo da maçonaria, estabeleceu o seu próprio Rito
Egípcio e fundou várias lojas de Maçonaria Egípcia, com sucesso variável.
Contrariamente aos costumes maçónicos, estas lojas admitiam mulheres. A sua
missão era purificar e elevar a Maçonaria e “enxertá-la” com a filosofia
Oriental. Sem essa união, dizia Blavatsky “a Maçonaria Ocidental seria um
cadáver sem alma”. Por vezes produzia fenómenos ocultos, mas ele percebeu que
isto só conduzia a cada vez mais pedidos para mais maravilhas. Há testemunhas
que Cagliostro terá produzido ouro mais do que uma vez, graças aos seus
conhecimentos de alquimia.
Entre 1780 e 1783 e durante os três anos que passou em
Estrasburgo, na Alsácia, a sua casa estava constantemente cercada pelos
enfermos e por gente em sofrimento. Ele tratou 15 mil pacientes, dos quais
apenas três morreram. Nunca cobrou um tostão e muitas vezes dava dinheiro aos
pacientes pobres para que estes pudessem comprar comida e pagar as suas
dívidas. Muitos desses casos tinham sido declarados incuráveis pelos médicos da
ortodoxia. Cagliostro terá curado casos de gangrena, contudo foi catalogado de
charlatão e todos os esforços foram feitos para minar o seu trabalho.
Cagliostro preparava os seus próprios medicamentos e elixires e também conhecia
o magnetismo animal. Um elemento crucial no seu sucesso era a sua capacidade
para instilar esperança e confiança naqueles que tratava.
O seu trabalho inevitavelmente levantava oposição de
pessoas, invejosas, gananciosas e sem escrúpulos.
Diz-se que terá sido um discípulo de Saint-Germain, mas não
há provas efetivas disso. Entretanto, viu-se envolvido numa intriga palaciana e
acabou preso na Bastilha. Mais tarde escreveria uma carta ao povo francês sobre
a injustiça de ser detido numa prisão sem grandes provas e apenas por ordem do
Rei, o que se diz terá ajudado a espoletar a Revolução Francesa. Deste modo,
Cagliostro terá tido um papel mais relevante naquele desfecho do que o próprio
Saint-Germain.
Continua na próxima semana…
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