Terminei esta semana a leitura de
“A Vida Antes da Vida – Uma Investigação Científica das Memórias Infantis de
Vidas Anteriores”, de Jim B. Tucker. O livro, originalmente publicado em 2005
nos EUA, foi editado em Portugal pela Sinais de Fogo dois anos mais tarde, tal
como sucedeu no Brasil, mas pela mãos da Editora Pensamento.
Capa da edição portuguesa |
O Dr. Tucker é um pedopsiquiatra
que trabalha na Divisão de Estudos de Personalidade da Universidade da
Virgínia, continuando o trabalho feito pelo falecido pelo Prof. Ian Stevenson,
cujas investigações sobre as memórias de crianças sobre pretensas vidas
passadas constituem ainda um marco notável.
De referir que a unidade a que
Tucker pertence, desenvolve também investigações sobre as experiências de
quase-morte (EQM) e mediunidade, através do Dr. Bruce Greyson e da Drª Emily
Kelly, respetivamente.
Prof. Ian Stevenson (1918-2007) |
Como foi lançado em 2005, o livro
beneficia ainda do contributo direto de Stevenson (que morreria dois anos mais
tarde aos 98 anos de idade) através do prefácio. Ele escreveu: “Podemos
facilmente pensar em objeções à reencarnação: a escassez de pessoas que
realmente afirmam lembrar-se de uma vida passada, a fragilidade das memórias, a
explosão populacional, o problema da relação mente-corpo, a fraude e outras.
Jim Tucker aborda estas questões uma por uma e minuciosamente. O seu livro não
se assemelha a qualquer outro porque não há nenhum precedente deste tipo. (…)
Ele pede, quase exige, que os leitores avaliem com ele à medida que escreve e
discute cada objeção à ideia de reencarnação.”(p.11 da edição portuguesa).
Efetivamente o livro segue uma
abordagem de tipo científico, muita rigorosa e meticulosa. Por vezes, o leitor
verá repetidos argumentos, tal é o cuidado que Tucker põe na análise das
diversas explicações para os casos que apresenta.
Capa da edição brasileira |
Na introdução, o pedopsiquiatra
refere: “Desde há mais de quarenta anos que os investigadores pesquisam os
relatos dessas crianças. Estão registados mais de 2 500 casos nos arquivos da Divisão
de Estudos de Personalidade da Universidade da Virgínia. Algumas das crianças afirmaram
ter sido membros falecidos da sua família, e outras descreveram vidas
anteriores como estranhos. Num caso típico, uma criança muito pequena começa a
descrever memórias de outra vida. A criança é persistente e frequentemente pede
para ser levada para a sua outra família, num local diferente. Quando a criança
fornece nomes ou pormenores suficientes sobre o local, a família dirige-se em
muitos casos a esse local e descobre que as declarações da criança correspondem
à vida de uma pessoa que morreu num passado recente.” (p.16).
Memórias espontâneas versus regressões
A descrição anterior é um resumo
perfeito dos casos apresentados no livro, ou seja, estamos perante memórias
espontâneas das crianças, que não são estimulados por qualquer processo de
hipnose, em relação à qual Tucker considera tratar-se “de uma ferramenta pouco
fiável, quer seja usada para descobrir memórias da vida presente, quer das
vidas anteriores. A hipnose pode levar a memórias notáveis da vida presente,
mas pode também produzir material de fantasia. Sob hipnose, o espírito tende a
preencher os espaços em branco.” (p.265). O mesmo sucederá com certeza com as
vidas passadas, pelo que se torna difícil discernir o que é real do que é
fantasia. A razão principal do recurso à terapia regressiva a vidas passadas faz-se
para tentar solucionar problemas de saúde, não se interessando a maior parte
dos terapeutas pelo rigor histórico das descrições. Mas há exceções e em breve
escreverei sobre isso, quando a abordar a obra deixada pela psicóloga e
professora universitária norte-americana Helen Wambach.
Dr. Jim B. Tucker |
Paralelismos com a Teosofia
O capítulo 1 inicia-se com a
história de William, uma criança que alegava ser a reencarnação do avô, polícia
morto a tiro cinco anos antes do nascimento de William. A criança tinha várias
memórias sobre a educação da própria mãe, ministrada pela sua anterior personalidade.
Sobre o período entre vidas referiu: “Quando morremos, não vamos diretamente
para o Céu. Passamos por níveis diferentes - aqui, depois ali, depois ali”, uma
afirmação curiosa para quem conhece a literatura teosófica sobre o período
entre vidas. Note-se que o pouco tempo entre uma morte por acidente e a
encarnação seguinte – outra confirmação do que ensina a teosofia – é algo
transversal aos casos de morte violenta ou acidental que constituem a maior
parte dos episódios descritos no livro de Tucker.
Outro aspeto interessante do
livro de Tucker e que era também uma realidade na investigação do prof. Ian
Stevenson tem a ver com as marcas e defeitos de nascença, pois “(…) muitos dos
sujeitos dos (…) casos nascem com marcas (…) ou defeitos de nascença que
correspondem a ferimentos no corpo da personalidade anterior, normalmente
ferimentos fatais.” Num dos casos, a parte posterior do crânio da criança “(…) apresentava
uma depressão parcial, e no mesmo local tinha uma marca de nascença. Quando começou
a falar, afirmou que tinha sido um moleiro que morrera quando um cliente
zangado [o] tinha assassinado.” (p.30). Obviamente que este tipo de descrições
é depois confirmado e são vários os casos de crianças com este género de marcas
normalmente resultantes de mortes violentas em vidas anteriores. Existe um
caso, que foi investigado pelo prof. Stevenson onde uma marca foi encontrada no
couro cabeludo de uma criança, marca essa nunca detetada pelos pais e que o
eminente professor localizou na sequência da descrição feita pela criança sobre
a sua própria morte.
As crianças normalmente começam a
falar sobre as vidas passadas aos três anos e deixam de o fazer aos seis, sete
anos (o que é curioso, dado que segundo HPB, “o corpo astral e físico existem
antes do desenvolvimento da mente e antes do despertar de Atma. Isto ocorre
quando a criança tem sete anos de idade” (Collected Writings W, Vol. X, p.218).
Em resumo, o livro é altamente
recomendável, permitindo ao leitor obter informação sobre as investigações
científicas num campo que é cuidadosamente evitado pela maior parte dos
cientistas. Além do mais, permitirá
o domínio de uma série de argumentos dificilmente rebatíveis relativamente à
reencarnação.
Tucker, conforme anunciou no
final desta obra, queria dedicar mais tempo à investigação de casos em
território dos EUA. O resultado será novo livro a lançar em dezembro deste ano,
que se intitulará “Return
to Life: Extraordinary Cases of Children Who Remember Past Lives“. Podem
ver uma entrevista do Dr. Tucker no video abaixo:
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