Com esta 5ª parte, termina a tradução do texto "Râja and Hatha Yoga", da autoria de Barend Voorham, publicado na primeira edição em inglês da revista Lucífer, editada pela Theosophical Society Point Loma-Blavatsky House.
Os efeitos do Hatha
Ioga
No início, o Hatha Ioga pode
trazer ao praticante algum tipo de paz mental. Alguns pensamentos que torturam
o Ego Pessoal não são mais percecionados porque a “corrente descendente” está
fechada.
O Hatha Ioga não é isento de
risco, especialmente quando se pratica os exercícios obsessivamente e quando a
motivação é adquirir poderes psíquicos. Todo o “sistema energético” entre os
egos inferiores e superiores pode ser perturbado, resultando em todo o tipo de
problemas mentais e emocionais. Pode ocorrer instabilidade emocional. O Hatha-iogue
tornar-se-á demasiado sensível a muitas e diversas influências e ficará incapaz
de controlar os seus pensamentos.
Doenças físicas como a
tuberculose pode também ser um resultado
desta prática.
Finalmente – e estas são as
piores consequências – todo o tipo de problemas psicológicos podem-se manifestar;
em caso extremos, perturbações psiquiátricas graves.
Da perspetiva que o homem é um
ser composto, isto pode ser facilmente explicado. Os exercícios de controlo
respiratório perturbam os processos normais e naturais. As partes inferiores da
entidade composta tornam-se mais sensíveis às influências astrais e
instintivas, que são originadas a partir do Ego Animal e Pessoal. A “antena”,
por assim dizer, está afinada para os reinos astrais inferiores, o que permite a
todo o tipo de influências astrais entrarem sem controlo. Isto cria
perturbações nos processos psíquicos e também pode causar perturbações astrais
na mente inferior.
Isso explica porque estes
exercícios são perigosos para a saúde física e mental.
Pode-se argumentar que os
resultados do Hatha Ioga apenas diferem apenas um pouco do uso de álcool e
drogas. Ambos bloqueiam alguns aspetos das correntes de consciência fluindo dos
egos superiores para os inferiores, enquanto por outro lado as portas para os
egos inferiores, especialmente do Ego Animal, ficam abertas de um modo
incontrolado. Quando o Hatha Ioga conduz a um comportamento predominantemente
passivo, é mais que provável que os fluxos vitais estejam bloqueados: eles não
conseguem mais se manifestar. Quando todo o tipo de novos “sentimentos” surge,
provavelmente uma restrição natural foi levantada. De facto, esses sentimentos
e impressões não são novos. Eles já existiam no plano de consciência animal,
mas estavam ocultos ou mantidos sob controlo pelo Ego Pessoal.
Em alguns casos as pessoas podem
adquirir alguns poderes, que se designam agora por paranormais, pela prática do
Hatha Ioga e de um estilo de vida físico estrito e ascético. Isto é provocado
por uma sensibilidade crescente dos Egos Animal e Pessoal, que subsequentemente
são abertos para receber certas influências.
Para garantir que estas
influências são puras e espirituais, a mente deve ser impessoal e altruísta,
com uma visão universal e uma motivação compassiva.
Se não for esse o caso, o Hatha-iogue irá
desenvolver apenas um poder limitado de penetrar conscientemente no plano
astral com uma eficácia limitada. Não obstante possam estes poderes parecer
interessantes, eles são transitórios e desaparecem com a morte.
Considerando os perigos
envolvidos, podemos reconsiderar se aspirar a estes poderes é uma atividade que
valha a pena.
Hatha Ioga: um
remédio em casos raros
Podemos nos perguntar porque o
Hatha Ioga cresceu de forma tão popular apesar dos sérios perigos envolvidos.
Quer no Ocidente, quer na Índia, o número de pessoas praticando Hatha Ioga
ultrapassa de longe os que praticam Râja Ioga. Existem também escolas que
afirmam ensinar Râja Ioga, mas na verdade elas apenas praticam uma variante de
Hatha Ioga.
Uma explicação pode ser o facto
das pessoas presentemente serem mais atraídas pelos fenómenos
sensacionais e procurarem a excitação e alegria, em detrimento de seguirem de
forma séria os preceitos éticos e senso comum que são parte do sistema Râja
Ioga. As pessoas querem resultados rápidos, embora seja uma ilusão pensar que
através de um truque de magia, a consciência pode ser expandida. Esta ideia vem
dos anos 60 do último século, e embora se tenha provado errada muitas vezes, as
pessoas ainda acreditam nisso.
Isto conduz à questão de como um
sistema perigoso como o Hatha Ioga apareceu. A resposta a esta pergunta
leva-nos ao passado longínquo quando os Râja-iogues ainda ensinavam as pessoas
de modo mais ou menos aberto. Cada guru tinha os seus próprios chelas que praticavam
os ensinamentos. Muito ocasionalmente, um chela podia sofrer de problemas
físicos ou psíquicos, o que prejudicava o seu crescimento espiritual. Nessas
situações, o Instrutor prescrevia algumas práticas de Hatha Ioga, tal como um
médico prescreveria a um paciente um determinado remédio. Estes eram exercícios
específicos prescritos por um Mestre, dirigidos a um aluno específico e
praticados sob a sua supervisão. E a motivação do chela, era obviamente altruísta,
caso contrário um Mestre nunca o teria aceitado como seu aluno. Apenas naquelas
circunstâncias as práticas mencionadas poderiam ser benéficas e remover alguns
obstáculos no processo de crescimento.
Infelizmente, quando a autoridade
dos Râja-iogues diminuiu, as ideias do Hatha Ioga acabaram nas mãos de pessoas
menos sábias que pensavam que os exercícios seriam benéficos para toda a gente.
Mas quem iria a uma farmácia e pedir um grama de um remédio? Isto é o que
acontece exatamente quando um estudante ignorante pergunta a um instrutor
ignorante para lhe ensinar alguns exercícios de Hatha Ioga.
O caminho seguro
Como mencionado anteriormente,
existe uma relação entre a popularidade do Hatha Ioga e os pensamentos e
sentimentos turbulentos de que sofre muita gente hoje em dia. É um sinal
encorajador que estas pessoas não desistam por desespero, mas que tentem ativamente
fazer alguma coisa em relação aos seus problemas.
Na nossa opinião seria melhor se
eles olhassem primeiro para as causas da sua inquietação e stress. Elas irão descobrir que estes sentimentos e pensamentos são
sempre o resultado de uma visão pessoal limitada delas próprias e do mundo do
qual fazem parte. Quando uma pessoa se identifica completamente com o Ego
Pessoal, e vive na ilusão que está separada de uma grande corrente de vida,
haverá sempre turbulência, porque a separação não existe. Portanto, se vivermos
em desolação, pensando que não somos responsáveis pelos outros, podemos esperar
uma reação natural. A causa principal da nossa inquietação reside na visão
pessoal do mundo em que vivemos e de nós próprios. Todo o desejo egoísta –
incluindo um desejo pela calma interior – carrega em si próprio a semente da
inquietação.
Por essa razão seria muito melhor
dedicar a personalidade ao serviço de todos. Este é o princípio do Râja Ioga. O
estudante no caminho pode às vezes cair e ter sentimentos de deceção, mas saber
que ele é parte de onda de consciência sublime, fá-lo esquecer do desapontamento
e de cada movimento em falso, sempre o inspirando a seguir em frente. Este
Caminho Real é portanto o caminho seguro para a união com o Eu, um caminho que
todos podem percorrer.
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