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sábado, 22 de junho de 2013

É a minha Blavatsky melhor do que a tua? (1ª parte)


As diferenças de opinião têm sido frequentes no meio teosófico. Quando extremadas, por vezes dão lugar a tomadas de posição mais duras, que são o rastilho para acesas discussões. Esse tipo de situações, é às vezes pouco compreendida por alguns teosofistas e especialmente por quem olha de fora e vê que o primeiro objeto da Sociedade Teosófica é o altruísmo. Com certeza ficam a pensar que os teosofistas têm dificuldades de passar da teoria à prática. Mas essa realmente acaba por ser uma maneira muito simplista de ver as coisas.

O texto desta semana é a primeira de duas partes de um editorial de Jan Kind, divulgado em março passado. Ela aborda uma das grandes controvérsias no meio teosófico já deste século, a edição de um livro sobre as cartas de H.P. Blavatsky (o primeiro volume dos quatro que foram planeados). Nesta obra foram colocadas cartas espúrias, falsamente atribuídas à “Velha Senhora”. Em relação a esse facto não há dúvidas. A edição desta obra já tinha passado por várias mãos, começando por Boris de Zirkoff (que viria a falecer quando começou a trabalhar nas cartas), passou para o australiano John Cooper (que alguns anos depois de receber essa empreitada viria a falecer subitamente), acabando nas mãos de John Algeo, que trabalhou intensamente no projeto conjuntamente com a sua esposa Adele, que entretanto faleceria já depois do livro ter saído. Parece mesmo uma maldição.

Boris de Zirkoff (1902-1981)

Apesar do livro já ter saído em 2003, a inclusão de cartas falsas no mesmo sem o devido aviso é um tema reavivado de vez em quando, como sucedeu na edição de janeiro de 2013 do “Aquarian Theosophist”, de um modo que não agradou ao editor do Theosophy Forward, o holandês Jan Kind. A revista Biosofia em 2004, no seu número 23, já havia publicado um texto muito crítico para a edição das cartas, precedido de um outro no número anterior que está também disponível online.

Jan Kind

Na internet é muito fácil aprofundar o tema. O fórum de discussão theos-talk está cheio de mensagens sobre o assunto, como por exemplo esta.

Ao ler o texto do Aquarian e o editorial de Jan Kind, ficamos informados da posição de cada um deles e esse choque de opiniões é importante para podermos fazer a síntese sobre o assunto em questão.

As questões que suscitam são: há limites para denunciar uma determinada situação? Onde é traçada a linha que separa a denúncia da ofensa? É legítimo perseguir alguém durante anos por um erro cometido? Esse erro foi produto de descuido ou propositado? A edição de modo académico de uma obra significa que se devam incluir cartas que são consideradas de forma generalizada como espúrias, só para dar uma imagem de imparcialidade? Há efetivamente um complot de alguns teosofistas para denegrir H.P. Blavatsky?

Refira-se ainda que John Algeo foi candidato às controversas eleições da Sociedade Teosófica de Adyar em 2008, ganhas pela Presidente em exercício desde 1980, a Srª Radha Burnier.

John Algeo

Segue-se a tradução do editorial de Jan Kind:

“Parece que dentro dos nossos círculos, elementos da linha dura estão ainda tentando provar que inventaram a roda. Alguns dividiram o panorama teosófico entre aqueles que sabem e aqueles que mentem. Existem aqueles que estão exclusivamente ligados à verdade, qualquer que seja essa verdade, e aqueles que andarão sempre desligados.

Numa das redes sociais da internet, os participantes estão constantemente a ser tratados de forma paternalista e expostos cruamente por um moderador que aparentemente se auto-designou como a consciência da Sociedade Teosófica de Adyar, enquanto noutro lado alguns autores e editores de websites têm a tendência de proclamar o que lhes apetece. Os seus artigos e editoriais estão cheios de verbos modelo como “dever”, “ser preciso” e “ter de”. Eles apresentam-se como os bons pastores guardando o seu rebanho.

É como se os fariseus tivessem falando connosco novamente. Nós recebemos instruções sobre o que é certo ou errado e tudo sob a bandeira de aprovação de H.P. Blavatsky. Mas quem dá essa aprovação? É a própria H.P.B, ou alguns que se consideram habilitados para falar em seu nome?

Tendo estudado esse maravilhoso fenómeno russo por muitos anos, inclino-me a pensar que ela aprovaria um maior desenvolvimento do que trouxe ao nosso mundo. Ela veio com a sua própria mensagem singular e deu-nos a oportunidade para pensar e perceber aquilo que ela nos legou. Eu não acredito por um momento que ela quisesse ser a “mensageira suprema”, e esse não foi com certeza o seu ponto de partida.

Alguns acreditam que representam a sua singularidade e esplendor, ao afirmarem que aqueles que podem ter pontos de vista ou interpretações ligeiramente diferentes não são mais que falsificadores ou até conspiradores, com um único objetivo: destruir tudo o que a Teosofia representa. Onde está a tolerância e a abertura que tão claramente defendeu a própria HPB?

Helena Blavatsky (1831-1891)


Numa recente publicação na internet, John Algeo foi uma vez mais atacado e caluniado como se fosse a pior escória deste planeta. O que escreveu a própria HPB sobre tais ataques?

“É a denúncia um dever?

[Lucifer, Vol.III, N.16, Dezembro de 1888, p. 265-73]

Não condenem ninguém na sua ausência, e quando for necessário reprovar alguém, façam-no na sua presença, mas de forma gentil e com palavras cheias de caridade e compaixão, pois o coração humano é como a planta Kusuli: o seu cálice abre-se com o doce orvalho matinal e fecha-se antes de uma grande chuvada.”

“De facto, o dever de defender um companheiro vítima de uma língua venenosa durante a sua ausência, e se abster, em geral, de “condenar outros” é a própria vida e alma da Teosofia prática, pois tal ação é a serviçal que nos conduz até o caminho da “vida superior”, aquela vida que nos conduz ao objetivo que todos almejamos atingir.”

Continua na próxima semana.

1 comentário:

  1. Amigos, o tema é estimulante.

    John Algeo pretende ressuscitar ou exumar V. Soloviof e outros antigos autores de falsidades contra o movimento.

    Sugiro a leitura do artigo, em inglês, "A Masterpiece of Editorial Forgery", disponível em: http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=944#.Ucw-7vnVDUU .

    Para uma visão mais ampla do processo da falsidade, sugiro também a leitura do informe especial "O Movimento Depois de HPB", disponível em: http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=904#.Ucw--PnVDUU .

    Obrigada :)

    Fraternalmente, Joana

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