A semana passada demos início à
tradução do editorial
da responsabilidade de Jan Kind, o editor do site Theosophy Forward. Este teosofista
analisa criticamente algumas posições mais veementes contra a publicação do
livro “As Cartas de H.P. Blavatsky” (volume I).
A leitura da primeira parte,
especialmente da introdução, é fundamental para entender o contexto do que se
segue.
Continuando então, com a tradução
do texto de Kind:
"Pois bem, aqui têm, não há lugar
a dúvidas. Na edição de janeiro de 2013 do “Aquarian Theosophist”, o editor,
usando a sua reconhecida prosa, perseguiu John Algeo de um modo que certamente
não agradaria a HPB.
John Algeo (n. 1930) |
As críticas de que algumas cartas
incluídas na compilação de John Algeo, “The Letters of H.P. Blavatsky” [As
Cartas de H.P. Blavatsky], não deveriam ter sido publicadas nesse livro, ou
deveriam ter uma introdução mais clara, são legítimas. Mas elas foram-no, e temos
de conviver com os factos; nós podemos contudo, claramente aprender com esta
situação. Existia um consenso na altura entre os editores desse livro, que esta
publicação iria requerer alguma inteligência também da parte do leitor. Há cinco
anos, numa entrevista com Katinka Hesselink, John Algeo, respondendo ao
assunto, comentou-o da seguinte forma:
PERGUNTA:
2. Houve uma grande tempestade à
volta da publicação de “The Letters of H.P. Blavatsky”, em que você e a sua
mulher tanto trabalharam para criar. Esperava a tempestade e como pode explicar
aos meus leitores no que consistiu essa tempestade?
RESPOSTA:
O primeiro volume das Cartas de
HPB precisava, por várias razões, de sair rapidamente. Consequentemente, tem
várias falhas, a maior parte das quais nem foram alvo de comentário, mas temos
plena consciência delas. Estamos trabalhando agora de modo mais lento e
cuidadoso no volume II e esperamos que fique melhor. Por exemplo, teremos mais
cuidado em comentar assuntos que poderão incomodar alguns leitores. Contudo, adotámos
os seguintes princípios básicos nesta edição: vamos incluir todas as cartas que
foram com razoabilidade atribuídas a HPB, mesmo aquelas que alguns teosofistas
rejeitam porque não são consistentes com a sua perspetiva dela. De HPB,
poderíamos dizer o que Walt Whitman disse dele próprio em “Song of Myself”.
“Contradigo-me?/Pois bem, contradigo-me/ (Eu sou extenso, contenho multiplicidades).
HPB era demasiado grande para se
encaixar nas estreitas categorias, que nós, seus admiradores, imaginamos que ela
ocupa. A inclusão de uma carta no volume não é uma declaração de que
acreditamos que a mesma é genuinamente dela, mas antes, de que foi com razoabilidade
atribuída a ela. A maior parte das cartas que sobreviveram não são cópias
autografadas (ou seja, com a sua própria caligrafia), mas ao invés são
transcrições feitas por outros e muitas vezes “melhoradas” ou então alteradas
por quem as transcreveu. É impossível asseverar a autenticidade dos textos da
maior parte das cópias de cartas que sobreviveram. O nosso objetivo foi e será o
de incluir os textos mais antigos e autênticos que podemos encontrar de todas
as cartas que temos, que com algum grau de fundamento, foram atribuídas a HPB.
Os leitores são livres de decidir por eles próprios quais as genuínas e quanto
de uma determinada carta foi realmente escrito por ela. Nós vamos porém, tentar
fornecer aos leitores tanta ajuda quanto possível ao tomar essa decisão. Mas
essas decisões irão muitas vezes depender de um pré-julgamento de cada leitor
sobre o que é ou não característico de Blavatsky. Como diz o velho ditado, “de gustibus non disputandum est”, isto
é, gostos não se discutem, e portanto a decisão cabe a cada um.
PERGUNTA:
3. Teria gerido as coisas de modo
diferente se soubesse as reservas que as pessoas iriam ter com a publicação?
RESPOSTA:
Teríamos incluído mais admonições,
mas não teríamos alterado os princípios em que a edição se baseia, que estou em
crer ser a única base honesta para fazer uma edição do género.
Não há necessidade de mais
comentários. Que fique claro: poderia ter sido feito melhor, mas devido às
circunstâncias, o livro em que John e a sua esposa Adele trabalharam tão
duramente tornou-se perfeitamente numa “imperfeita” publicação. Para os
comentadores e editores seria mais do que suficiente avisar os futuros leitores
em serem cuidadosos na leitura deste livro. Não há necessidade de qualquer
género de “sabichões” ou proclamadores virem a terreiro emitir ultimatos
patéticos e atirar lama àquelas que pessoas que ganharam o apreço e o respeito
de milhares por todo o mundo.
Trabalhadores resolutos para a
causa teosófica são referidos como “amadores e eticamente ingénuos”, mas de
quem é que eles estarão a falar?
John Algeo é um bom homem, um
trabalhador incansável, sempre dedicado à causa. Ele tem a capacidade, única,
de admitir um erro e de compensá-lo. Agora, na casa dos oitenta anos, depois de
ter perdido a sua Adele e de ser confrontado com a deterioração do seu estado
de saúde, continua a trabalhar pela Teosofia o melhor que pode. Nos seus
oitenta e tal anos desta encarnação ele tem feito muito de bom e, SIM, cometeu
erros, mas quem os não comete…?
O seu respeito e amor por H.P.
Blavatsky e os seus escritos são indiscutíveis. Há cerca de treze anos, vi-o efetivamente
a trabalhar nos arquivos de Adyar com Adele, reunindo material para o livro. A
intenção e a dedicação são o que conta. Vê-los trabalhar tanto juntos, foi e
ainda é, um exemplo inspirador para mim.
Nós podemos abordar HPB do nosso
ponto de vista, a partir da nossa própria tradição. Algumas vezes é evidente
que existem grandes diferenças, mas não é isso ótimo? Não seria terrivelmente
aborrecido concordar em tudo?
Helena P. Blavatsky |
Então podemos nos perguntar: “É a
minha Blavatsky melhor do que a tua?” Temos de chegar a este ponto? É a Blavatsky
de John Algeo, Radha Burnier [NT: presidente da ST Adyar] ou de qualquer editor
melhor que a Blavatsky de outra pessoa? Claro que não. Vamos finalmente nos
mentalizar de que o nosso lar teosófico é grande o suficiente para todos nós, e
que em vez de nos perseguirmos uns aos outros, deveríamos realmente e por fim,
aprender a nos ouvir uns aos outros, para beneficiarmos o nosso planeta. Este é
apenas um exemplo de como fazê-lo:
Clique
aqui:”
Assim termina o texto de Jan Kind.
Já depois da publicação deste editorial, Daniel Caldwell mencionou no theos-talk uma carta de Geoffrey Farthing onde este reputado teosofista, pouco tempo antes de falecer falava favoravelmente das Cartas editadas por John Algeo. Do outro lado da barricada, estas alegações foram prontamente repudiadas...
Assim termina o texto de Jan Kind.
Já depois da publicação deste editorial, Daniel Caldwell mencionou no theos-talk uma carta de Geoffrey Farthing onde este reputado teosofista, pouco tempo antes de falecer falava favoravelmente das Cartas editadas por John Algeo. Do outro lado da barricada, estas alegações foram prontamente repudiadas...