Tem sido prática do Lua em
Escorpião publicar textos de teosofistas ligados às diferentes tradições, ou
seja, das ramificações que resultaram da Sociedade Teosófica (ST) matriz,
fundada por Olcott, Blavatsky e Judge em 1875. Nos arquivos do blog encontrarão
por exemplo textos de David Pratt (ST Pasadena), Odin Townley (Loja Unida de Teosofistas) e Pablo Sender (ST Adyar). Também já puderam aqui ler textos publicados
em plataformas independentes, como o “Theosophy Forward” de Jan Kind.
Além da ST Adyar, ST Pasadena e
LUT, existe uma outra organização que tem estado muito ativa na divulgação da
Sabedoria Antiga. É a Theosophical Society Point Loma – Blavatsky House, que a
partir de Haia na Holanda, além de organizar palestras e de difundir Teosofia
através da sua página de internet, foi ainda responsável (através da ISIS
Foundation) pela publicação recente dos Comentários da Doutrina Secreta, transcritos
e anotados por Michael Gomes. Neste livro podem encontrar as atas das reuniões
da Loja Blavatsky na sua forma mais original, sendo notórias as diferenças com
a versão muito editada, publicado sob o título de “Transactions of the
Blavatsky Lodge”. Essas atas foram descobertas no espólio de B. P. Wadia, um
dos mais importantes líderes da LUT.
Mas a Blavatsky House também
publica uma revista desde o final dos anos 70 chamada Lucifer, que a partir de
2013 passou também a ser editada em inglês. Foi na 1ª edição nesta língua que
encontrei um texto bastante interessante intitulado “Râja and Hatha Yoga” da
autoria de Barend Voorham. É esse artigo que durante as próximas quatro semanas
será postado no Lua em Escorpião.
Barend Voorham |
Uma nota final para referir que
com a publicação deste texto da Lucifer (quem está a ler estes posts, com
certeza já sabe que nada há de demoníaco neste nome, bem pelo contrário,
significa portador de luz), o Lua em Escorpião, em cerca de um ano conseguiu
publicar textos das várias tradições, provando assim que é possível encontrar
nas diferentes sociedades e fora delas artigos de valor, que estão em
concordância com a Sabedoria Perene. Não há pois razão, para atitudes exclusivistas,
de altivez e de intolerância que certos “donos da verdade” gostam de manifestar.
Râja e Hatha Ioga, por Barend Voorham
Para a maior parte das pessoas no mundo ocidental a prática do ioga é
uma forma popular de exercício físico e de controlo da respiração. Este sistema
particular de ioga é conhecido como Hatha Ioga. Contudo, existem muitos outros
sistemas de ioga, como o Râja Ioga. Este artigo debruça-se especialmente sobre
estes dois – por vezes contraditórios – sistemas de ioga.
Muitas pessoas, neste mundo
caótico, estão à procura de paz e tranquilidade na sua vida. Elas necessitam de
tranquilidade mental e emocional para manterem o controlo sobre a sua vida
turbulenta.
Por essa razão, a prática do ioga
tem sido popular entre os ocidentais desde há muitos anos. Em quase todas as
cidades ou vilas podemos fazer um curso de ioga. Existem milhões de pessoas que
praticam ioga. Mas será que os instrutores destes cursos e os seus próprios
alunos compreendem o propósito essencial do ioga e que energias todas estas
disciplinas físicas podem evocar?
O que é o ioga?
Ioga é uma palavra sânscrita que
se tornou parte do vocabulário de quase todas as línguas modernas, mas a
explicação nos dicionários está na maior parte dos casos limitada a um único
sistema de ioga: o Hatha Ioga. Contudo na antiga Índia um grande número de
outros sistemas de ioga sempre existiram. No Bhagavad-Gitâ – uma escritura
sagrada que é muito prezada no Oriente e Ocidente, e cujo conteúdo é quase
totalmente sobre ioga – vários sistemas de ioga são descritos.
Literalmente ioga significa
“jugo”. Metaforicamente significa disciplina, portanto praticar ioga significa
seguir uma disciplina. Um jugo, contudo, une dois bois para funcionarem como
um. É por isto que o ioga pode ser explicado como união. Ao praticar um tipo de
disciplina nós atingimos a união.
Na Índia antiga a escola de Ioga
era uma das seis escolas filosóficas ou Darsanas. Acredita-se que esta escola
foi fundada pelo sábio Patanjali. Tal como qualquer outra escola, a escola de
Ioga não poderia existir sem instrutores ou gurus. As pessoas tinham permissão para
praticar os exercícios de ioga apenas sob instrução de um guru. Isto é de
grande importância, pois, como já se referiu antes, existem vários sistemas de
ioga, e apenas um verdadeiro instrutor é capaz de reconhecer o método correto
para cada um dos seus alunos.
Bhagavad-Gitâ: Diferentes formas de ioga
O Bhagavad-Gitâ explica
claramente estes vários sistema de ioga. Dos dezoito capítulos, dezasseis deles
(as exceções são os capítulos um e onze) lidam com os vários sistemas de ioga.
Embora as diferenças entre todas estas práticas de ioga sejam muito subtis para
o ocidental, elas são sem dúvida mais do que contorção do corpo, posturas e
exercícios respiratórios. Dificilmente encontraremos qualquer referência a
exercício físico no Bhagavad-Gitâ. Na antiga Índia, os caminhos do ioga estavam
associados com os quatros tipos principais de consciência humana. Ao praticar
um tipo específico de ioga, que corresponda ao seu estado de consciência no
momento, o iogue atinge a união.
A forma mais simples de ioga é o
Karma Ioga, que tem como objetivo atingir a união pela ação. Devemos agir apenas
por uma questão de correção da ação em si e não pelo resultado. As pessoas que
praticam Karma Ioga ficarão perto da união ao servirem altruisticamente para
aliviar o sofrimento, sem terem a esperança ou expetativa de receber algo em
troca.
Bhakti Ioga é a prática do ioga através
da devoção. Embora hoje em dia, na Índia, a devoção seja direcionada para
deuses antropomórficos pessoais externos ao homem, o Bhagavad-Gitâ ensina de
forma clara a concentrar a nossa devoção no nosso deus interior (representado
por Krishna) e no nosso ideal espiritual. No capítulo 10, sloka 20, do Gitâ,
Krishna diz: ”Eu sou Atman, Eu sou o Eu [I am the Self, no original]. O meu
lugar é no coração de todos os seres”.
A prática do Raja Ioga resulta no
domínio completo de todos os poderes inatos no homem, com o objetivo de usá-los
para o benefício da humanidade.
Finalmente, o Jñâna Ioga tem como
objetivo a união pela prática da sabedoria em cada situação.
Estes quatros sistemas por ordem
consecutiva, requerem do iogue uma disciplina crescente. O Brâhmana, o tipo
mais elevado de consciência, não deve por exemplo, apenas praticar Jñâna Ioga,
assumindo-se que domina as outras três formas de ioga como pré-requisito. A
forma mais elevada de ioga é uma combinação de todos os quatro tipos das
disciplinas de ioga.
Continua na próxima semana.
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