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sábado, 18 de maio de 2013

Râja e Hatha Ioga (1ª parte)


Tem sido prática do Lua em Escorpião publicar textos de teosofistas ligados às diferentes tradições, ou seja, das ramificações que resultaram da Sociedade Teosófica (ST) matriz, fundada por Olcott, Blavatsky e Judge em 1875. Nos arquivos do blog encontrarão por exemplo textos de David Pratt (ST Pasadena), Odin Townley (Loja Unida de Teosofistas) e Pablo Sender (ST Adyar). Também já puderam aqui ler textos publicados em plataformas independentes, como o “Theosophy Forward” de Jan Kind.

Além da ST Adyar, ST Pasadena e LUT, existe uma outra organização que tem estado muito ativa na divulgação da Sabedoria Antiga. É a Theosophical Society Point Loma – Blavatsky House, que a partir de Haia na Holanda, além de organizar palestras e de difundir Teosofia através da sua página de internet, foi ainda responsável (através da ISIS Foundation) pela publicação recente dos Comentários da Doutrina Secreta, transcritos e anotados por Michael Gomes. Neste livro podem encontrar as atas das reuniões da Loja Blavatsky na sua forma mais original, sendo notórias as diferenças com a versão muito editada, publicado sob o título de “Transactions of the Blavatsky Lodge”. Essas atas foram descobertas no espólio de B. P. Wadia, um dos mais importantes líderes da LUT.



Mas a Blavatsky House também publica uma revista desde o final dos anos 70 chamada Lucifer, que a partir de 2013 passou também a ser editada em inglês. Foi na 1ª edição nesta língua que encontrei um texto bastante interessante intitulado “Râja and Hatha Yoga” da autoria de Barend Voorham. É esse artigo que durante as próximas quatro semanas será postado no Lua em Escorpião.

Barend Voorham

Uma nota final para referir que com a publicação deste texto da Lucifer (quem está a ler estes posts, com certeza já sabe que nada há de demoníaco neste nome, bem pelo contrário, significa portador de luz), o Lua em Escorpião, em cerca de um ano conseguiu publicar textos das várias tradições, provando assim que é possível encontrar nas diferentes sociedades e fora delas artigos de valor, que estão em concordância com a Sabedoria Perene. Não há pois razão, para atitudes exclusivistas, de altivez e de intolerância que certos “donos da verdade” gostam de manifestar.



Râja e Hatha Ioga, por Barend Voorham




Para a maior parte das pessoas no mundo ocidental a prática do ioga é uma forma popular de exercício físico e de controlo da respiração. Este sistema particular de ioga é conhecido como Hatha Ioga. Contudo, existem muitos outros sistemas de ioga, como o Râja Ioga. Este artigo debruça-se especialmente sobre estes dois – por vezes contraditórios – sistemas de ioga.

Muitas pessoas, neste mundo caótico, estão à procura de paz e tranquilidade na sua vida. Elas necessitam de tranquilidade mental e emocional para manterem o controlo sobre a sua vida turbulenta.

Por essa razão, a prática do ioga tem sido popular entre os ocidentais desde há muitos anos. Em quase todas as cidades ou vilas podemos fazer um curso de ioga. Existem milhões de pessoas que praticam ioga. Mas será que os instrutores destes cursos e os seus próprios alunos compreendem o propósito essencial do ioga e que energias todas estas disciplinas físicas podem evocar?

O que é o ioga?

Ioga é uma palavra sânscrita que se tornou parte do vocabulário de quase todas as línguas modernas, mas a explicação nos dicionários está na maior parte dos casos limitada a um único sistema de ioga: o Hatha Ioga. Contudo na antiga Índia um grande número de outros sistemas de ioga sempre existiram. No Bhagavad-Gitâ – uma escritura sagrada que é muito prezada no Oriente e Ocidente, e cujo conteúdo é quase totalmente sobre ioga – vários sistemas de ioga são descritos.

Literalmente ioga significa “jugo”. Metaforicamente significa disciplina, portanto praticar ioga significa seguir uma disciplina. Um jugo, contudo, une dois bois para funcionarem como um. É por isto que o ioga pode ser explicado como união. Ao praticar um tipo de disciplina nós atingimos a união.

Na Índia antiga a escola de Ioga era uma das seis escolas filosóficas ou Darsanas. Acredita-se que esta escola foi fundada pelo sábio Patanjali. Tal como qualquer outra escola, a escola de Ioga não poderia existir sem instrutores ou gurus. As pessoas tinham permissão para praticar os exercícios de ioga apenas sob instrução de um guru. Isto é de grande importância, pois, como já se referiu antes, existem vários sistemas de ioga, e apenas um verdadeiro instrutor é capaz de reconhecer o método correto para cada um dos seus alunos.

Bhagavad-Gitâ: Diferentes formas de ioga

O Bhagavad-Gitâ explica claramente estes vários sistema de ioga. Dos dezoito capítulos, dezasseis deles (as exceções são os capítulos um e onze) lidam com os vários sistemas de ioga. Embora as diferenças entre todas estas práticas de ioga sejam muito subtis para o ocidental, elas são sem dúvida mais do que contorção do corpo, posturas e exercícios respiratórios. Dificilmente encontraremos qualquer referência a exercício físico no Bhagavad-Gitâ. Na antiga Índia, os caminhos do ioga estavam associados com os quatros tipos principais de consciência humana. Ao praticar um tipo específico de ioga, que corresponda ao seu estado de consciência no momento, o iogue atinge a união.

A forma mais simples de ioga é o Karma Ioga, que tem como objetivo atingir a união pela ação. Devemos agir apenas por uma questão de correção da ação em si e não pelo resultado. As pessoas que praticam Karma Ioga ficarão perto da união ao servirem altruisticamente para aliviar o sofrimento, sem terem a esperança ou expetativa de receber algo em troca.

Bhakti Ioga é a prática do ioga através da devoção. Embora hoje em dia, na Índia, a devoção seja direcionada para deuses antropomórficos pessoais externos ao homem, o Bhagavad-Gitâ ensina de forma clara a concentrar a nossa devoção no nosso deus interior (representado por Krishna) e no nosso ideal espiritual. No capítulo 10, sloka 20, do Gitâ, Krishna diz: ”Eu sou Atman, Eu sou o Eu [I am the Self, no original]. O meu lugar é no coração de todos os seres”.

A prática do Raja Ioga resulta no domínio completo de todos os poderes inatos no homem, com o objetivo de usá-los para o benefício da humanidade.

Finalmente, o Jñâna Ioga tem como objetivo a união pela prática da sabedoria em cada situação.
Estes quatros sistemas por ordem consecutiva, requerem do iogue uma disciplina crescente. O Brâhmana, o tipo mais elevado de consciência, não deve por exemplo, apenas praticar Jñâna Ioga, assumindo-se que domina as outras três formas de ioga como pré-requisito. A forma mais elevada de ioga é uma combinação de todos os quatro tipos das disciplinas de ioga.

Continua na próxima semana.

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