Seguimos com a 3ª parte da tradução do artigo “Mahatmas
versus Ascended Masters” de Pablo D. Sender.
"O verdadeiro Mahatma é portanto primordialmente visto, como
um estado de consciência espiritual, e as formas assumidas pelo seu aspeto
pessoal são apenas sombras. Para ter a certeza, nós podemos encontrar
descrições do aspeto da “forma” dos Mahatmas na literatura teosófica, não
porque este aspeto seja importante em si mesmo, mas porque ele fornece algo
para ser apreendido e compreendido pelas nossas mentes limitadas. Mas este
aspeto pessoal é suposto ser transcendido e quem se satisfizer apenas com ele
está preso no mundo da ilusão.
O trabalho dos mestres pela Humanidade
Hoje em dia, milhares de pessoas alegam que estão a
canalizar Mestres Ascensos. É ponto assente que estes Mestres Ascensos têm a
sua atenção virada para este plano físico, fazendo pouco mais do que comunicar
connosco através de canais. Isto é, uma vez mais, outra diferença com os
ensinamentos teosóficos. Na Teosofia, assim como na maior parte das tradições
espirituais, este plano físico é visto como uma ilusão. O Maha Chohan, um dos
adeptos mais elevados, disse: “Ensine-se o povo a ver que a vida nesta Terra,
mesmo a mais feliz, é apenas um fardo e uma ilusão (…)” (Cartas dos
Mestres de Sabedoria, p.20). Este conceito faz eco dos ensinamentos de
Platão, que disse que este mundo é apenas uma sombra da Realidade. Também está
relacionado com a primeira Nobre Verdade que o Buda ensinou depois da sua
iluminação: “Tudo é dukkha (sofrimento)
neste mundo.”
Consequentemente, tal como disse Annie Besant dos Mestres,
“a menor parte do seu trabalho é feito aqui”
em conexão com o plano físico. Esta é a razão de eles viverem em
reclusão – a maior parte da sua atividade tem lugar nos planos superiores. Isto
é de facto, baseado num profundo conhecimento da estrutura do cosmos:
“Poderá ser facilmente observado por quem examina a natureza
da dinâmica oculta, que uma certa quantidade de energia despendida no plano
astral ou espiritual produz muito maiores resultados que a mesma quantidade
despendida no plano objetivo físico da existência.“ (HPB Collected Writings, 5:338-39).
Então, qual é o trabalho dos Mestres nestes planos?
Este complexo assunto está para lá do âmbito deste artigo.
Quando questionada sobre isto, Blavatsky respondeu: “ Você nunca entenderia, a
menos que fosse um Adepto. Mas eles mantêm viva a vida espiritual da
humanidade” (op.cit., 8:401).
Ao invés, comunicações canalizadas de Mestres Ascensos
mostram uma grande preocupação com as vidas físicas e os anseios dos seus
seguidores. A literatura dos Mestres Ascensos está cheia de promessas de
milagres mágicos de saúde, riqueza infinita e felicidade perfeita, e “decretos”
são fornecidos para permitir que as pessoas “manifestem” estas coisas nas suas
vidas. Esta atitude é exatamente a oposta à teosófica.
Mestre M, retrato da autoria de Schmiechen |
A Teosofia diz que o ego psicológico é falso, que a ideia de
que somos este corpo, emoções e mente é um erro de perceção e fonte de
sofrimento. Argumenta que a verdadeira felicidade vem como resultado de reduzir
e não aumentar o nosso apego e identificação com o pessoal. É por isto que
Blavatsky escreve que “O Ocultismo não é…a procura da felicidade tal como o ser
humano entende essa palavra, pois o primeiro passo é o sacrifício e o segundo a
renúncia” (op.cit, 8:14). K.H. concordava com isto quando escreveu: “Nós, os
criticados e mal-entendidos Irmãos, tentamos levar os homens a sacrificar a sua
personalidade – um relâmpago passageiro – pelo bem-estar de toda a humanidade
(…)” (Cartas dos Mahatmas para A.P.Sinnett, vol.I , p.344). Os
Mahatmas teosóficos nunca dariam atenção a desejos pessoais. Durante os
primeiros tempos da Sociedade Teosófica, alguns membros, completamente
equivocados sobre a natureza dos Mahatmas, levavam a HPB alguns pedidos
pessoais para lhes serem feitos. Numa carta, Blavatsky explicou:
“Os Mestres não se iriam inclinar por um só momento a
dedicar um momento de reflexão para o individual - assuntos privados
relacionados com uma ou até dez pessoas, o seu bem-estar, infortúnios e
felicidade neste mundo de Maya [ilusão] - por nada que não fosse de verdadeira
importância universal. Foram vocês teosofistas, que depreciaram nas vossas
mentes os ideais dos nossos Mestres. Vocês que inconscientemente e com a melhor
das intenções e completa sinceridade, profanaram-nos, pensando por um momento,
e acreditando que eles se incomodariam com os vossos assuntos mundanos, filhos
por nascer, filhas para casar, casas para serem construídas, etc, etc…”
(Jinarajadasa, The Early Teachings of the Masters).
Jinarajadasa |
E contudo, é exatamente com este tipo de coisas que os
Mestres Ascensos parecem estar preocupados.
Eles até ensinam supostos meios de
dissolver karma desagradável, um conceito que os Mahatmas teosóficos
enfaticamente se opuseram. K.H. escreveu:
“Especialmente, você tem que ter em mente que a mais leve
causa produzida, mesmo inconscientemente e com qualquer intenção, não pode ser
desfeita, nem é possível intercetar o progresso dos seus efeitos – nem com a
força combinada de milhares de deuses, demónios e homens.” (Cartas dos Mahatmas
para A.P.Sinnett, vol.I , p.141).
Continua na próxima semana…
Sem comentários:
Enviar um comentário