Seguimos com a tradução do artigo “Mahatmas versus Ascended
Masters” de Pablo D. Sender.
Pablo D. Sender |
“O facto dos Mahatmas manterem os seus corpos é de grande
importância. Eles são iogues iluminados, semelhantes em alguns aspetos àqueles
que são tradicionalmente conhecidos no Oriente. Mas existe uma diferença. Um
iluminado, depois de ter atingido a Verdade, ganhou o direito de se fundir com
o Todo num estado de pura bem-aventurança (chamado de moksha ou nirvana). Este
impede-o de estar em contacto com a humanidade, pois ele tem de abandonar os
veículos inferiores da consciência. Ao invés, os mestres teosóficos, por
compaixão, decidiram abdicar de entrar no nirvana para poderem ajudar-nos na
nossa luta para atingir a Verdade. (…)
Os Mahatmas são, neste respeito, aquilo a que os Budistas
Mahayana chamam de bodhisattvas. Eles escolhem manter o corpo, não por existir
alguma falha no seu desenvolvimento mas como um ato de auto-sacrifício. Possuir
um corpo físico sujeita os adeptos a inevitáveis limitações. Como disse
Blavatsky, “eles são homens vivos, nascidos da mesma forma que nós, e
condenados a morrer como todos os outros mortais.” [A Chave para a Teosofia, p.246]. Sendo
iogues perfeitos, eles aprenderam como tomar conta dos seus corpos para que
possam viver mais tempo que os seres humanos comuns. Não obstante, os corpos
têm, por fim, de morrer.
As Cartas dos Mahatmas têm várias passagens sobre as
limitações intrínsecas à existência física. Por exemplo, o Mahatma K.H.
escreveu: “Eu estava fisicamente muito cansado por cavalgar 48 horas sem
interrupção” (Cartas dos Mahatmas para A.P.Sinnett, vol.I I, p.241). Ele
também disse que ficava limitado aos seus sentidos físicos e às funções do
cérebro “quando sento para as minhas refeições, ou quando estou me vestindo,
lendo ou ocupado de outro modo (…)” (Cartas dos Mahatmas para A.P.Sinnett,
vol.II, p.37).
Mas o corpo físico é onde o desenvolvimento do Mestre é
menos notório. Diz-se que se vemos um Adepto no plano físico, podemos não
reconhecer nele nada mais que um homem bom e sábio. Contudo nos planos internos,
a sua natureza está para lá daqueles que são apanhados na ilusão. Nas suas
cartas, os Mahatmas diferenciam entre “homem interno” (o Eu espiritual do
adepto que é relativamente omnisciente e que está para além das limitações) e o
“homem externo”, que é uma expressão muito limitada do Eu espiritual
funcionando através da personalidade psicofísica. É por isto que K.H. escreve “Nós
não somos em todas as horas do dia, “Mahatmas” infalíveis, capazes de prever
tudo (…)”(Cartas dos Mahatmas para A.P.Sinnett, vol.I I, p.315). Tal
como ele explicou: “Um adepto – tanto o mais elevado como o mais inferior – é
adepto apenas durante o exercício dos seus poderes ocultos. (Cartas dos
Mahatmas para A.P.Sinnett, vol.I I, p.36).
Mestre KH, num retrato da autoria de Schmiechen |
Estes adeptos, então, não são como os Mestres Ascensos do
New Age, que se diz serem divinos, seres todo-poderosos que estão acima das
leis da Natureza. Nos seus ensinamentos, os Mahatmas até negaram que tais seres
existissem. K.H. escreveu: “Se
tivéssemos o poder do Deus Pessoal imaginário, e as leis universais e imutáveis
fossem apenas brinquedos nas nossas mãos, realmente nós poderíamos haver criado
condições que teriam transformado esta terra numa Arcádia de almas
elevadas.” (op.cit.,p.346).
Nas suas cartas os Mahatmas constantemente falavam das “leis imutáveis” do
Universo e dizem que só podem ajudar a humanidade dentro dos limites destas
leis. Não podem produzir uma Nova Era por magia; quer gostemos ou não, esse
trabalho é nosso.
Os proponentes dos Mestres Ascensos por vezes tentam
justificar estas discrepâncias alegando que quando a ST foi fundada a maior
parte dos Mestres teosóficos não tinham ainda ascendido. Isto deixa espaço para
demarcar os Mestres Ascensos das limitações que todos os Mahatmas, “os mais
elevados e os mais inferiores”, dizem ter. Mas de acordo com os ensinamentos
teosóficos, quanto mais elevado o adepto, menos provável é ouvirmos falar dele:
“Quanto mais espiritual se torna o adepto, menos pode ele
imiscuir-se com os assuntos mais grosseiros, mundanos e mais ele tem de se
confinar a um trabalho espiritual…Portanto, os Adeptos muito elevados, ajudam a
humanidade, mas apenas espiritualmente: eles são estruturalmente incapazes de
se imiscuir em assuntos mundanos (HPB Collected Writings, 6:247).
HP Blavatsky |
Outra característica dos ensinamentos dos Mestres Ascensos é
que eles estão principalmente preocupados com o aspeto da “forma” dos Mestres
(a sua aparência, nome, caráter, etc…). A visão teosófica, quando bem entendida
é muito diferente. Blavatsky escreveu “O mahatma verdadeiro não é o seu corpo
físico mas o Manas superior [a mente espiritual] que está inseparavelmente
ligada ao Atma [o Eu verdadeiro] e o seu veículo [a Alma espiritual] ”. E ela
acrescenta que quem quiser “ver” um Mahatma tem de elevar a sua perceção para
os planos espirituais, porque “as coisas mais elevadas podem ser percebidas
apenas pelo sentido que pertence a essas coisas mais elevadas”. Os planos
espirituais, onde as formas e a separação desaparecem e a unidade prevalece,
são muito mais elevadas que os planos psíquicos, que são aqueles a que tem
acesso os videntes naturais. Aqueles que atingirem o estado de consciência
elevado que transcenda todo o sentido de separabilidade “verão o Mahatma onde
quer que ele esteja, pois, estando fundidos com o sexto e sétimo princípios, que
são ubíquos e omnipresentes, pode-se dizer que os Mahatmas estão em toda a
parte” (op.cit, 6:239).
Continua na próxima semana…
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