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sábado, 9 de março de 2013

Mahatmas versus Mestres Ascensos (2ª parte)


Seguimos com a tradução do artigo “Mahatmas versus Ascended Masters” de Pablo D. Sender.

Pablo D. Sender

“O facto dos Mahatmas manterem os seus corpos é de grande importância. Eles são iogues iluminados, semelhantes em alguns aspetos àqueles que são tradicionalmente conhecidos no Oriente. Mas existe uma diferença. Um iluminado, depois de ter atingido a Verdade, ganhou o direito de se fundir com o Todo num estado de pura bem-aventurança (chamado de moksha ou nirvana). Este impede-o de estar em contacto com a humanidade, pois ele tem de abandonar os veículos inferiores da consciência. Ao invés, os mestres teosóficos, por compaixão, decidiram abdicar de entrar no nirvana para poderem ajudar-nos na nossa luta para atingir a Verdade. (…)

Os Mahatmas são, neste respeito, aquilo a que os Budistas Mahayana chamam de bodhisattvas. Eles escolhem manter o corpo, não por existir alguma falha no seu desenvolvimento mas como um ato de auto-sacrifício. Possuir um corpo físico sujeita os adeptos a inevitáveis limitações. Como disse Blavatsky, “eles são homens vivos, nascidos da mesma forma que nós, e condenados a morrer como todos os outros mortais.” [A Chave para a Teosofia, p.246]. Sendo iogues perfeitos, eles aprenderam como tomar conta dos seus corpos para que possam viver mais tempo que os seres humanos comuns. Não obstante, os corpos têm, por fim, de morrer.


As Cartas dos Mahatmas têm várias passagens sobre as limitações intrínsecas à existência física. Por exemplo, o Mahatma K.H. escreveu: “Eu estava fisicamente muito cansado por cavalgar 48 horas sem interrupção” (Cartas dos Mahatmas para A.P.Sinnett, vol.I I, p.241). Ele também disse que ficava limitado aos seus sentidos físicos e às funções do cérebro “quando sento para as minhas refeições, ou quando estou me vestindo, lendo ou ocupado de outro modo (…)” (Cartas dos Mahatmas para A.P.Sinnett, vol.II, p.37).

Mas o corpo físico é onde o desenvolvimento do Mestre é menos notório. Diz-se que se vemos um Adepto no plano físico, podemos não reconhecer nele nada mais que um homem bom e sábio. Contudo nos planos internos, a sua natureza está para lá daqueles que são apanhados na ilusão. Nas suas cartas, os Mahatmas diferenciam entre “homem interno” (o Eu espiritual do adepto que é relativamente omnisciente e que está para além das limitações) e o “homem externo”, que é uma expressão muito limitada do Eu espiritual funcionando através da personalidade psicofísica. É por isto que K.H. escreve “Nós não somos em todas as horas do dia, “Mahatmas” infalíveis, capazes de prever tudo (…)”(Cartas dos Mahatmas para A.P.Sinnett, vol.I I, p.315). Tal como ele explicou: “Um adepto – tanto o mais elevado como o mais inferior – é adepto apenas durante o exercício dos seus poderes ocultos. (Cartas dos Mahatmas para A.P.Sinnett, vol.I I, p.36).

Mestre KH, num retrato da autoria de Schmiechen

Estes adeptos, então, não são como os Mestres Ascensos do New Age, que se diz serem divinos, seres todo-poderosos que estão acima das leis da Natureza. Nos seus ensinamentos, os Mahatmas até negaram que tais seres existissem. K.H. escreveu:  “Se tivéssemos o poder do Deus Pessoal imaginário, e as leis universais e imutáveis fossem apenas brinquedos nas nossas mãos, realmente nós poderíamos haver criado condições que teriam transformado esta terra numa Arcádia de almas elevadas.”  (op.cit.,p.346). Nas suas cartas os Mahatmas constantemente falavam das “leis imutáveis” do Universo e dizem que só podem ajudar a humanidade dentro dos limites destas leis. Não podem produzir uma Nova Era por magia; quer gostemos ou não, esse trabalho é nosso.

Os proponentes dos Mestres Ascensos por vezes tentam justificar estas discrepâncias alegando que quando a ST foi fundada a maior parte dos Mestres teosóficos não tinham ainda ascendido. Isto deixa espaço para demarcar os Mestres Ascensos das limitações que todos os Mahatmas, “os mais elevados e os mais inferiores”, dizem ter. Mas de acordo com os ensinamentos teosóficos, quanto mais elevado o adepto, menos provável é ouvirmos falar dele:

“Quanto mais espiritual se torna o adepto, menos pode ele imiscuir-se com os assuntos mais grosseiros, mundanos e mais ele tem de se confinar a um trabalho espiritual…Portanto, os Adeptos muito elevados, ajudam a humanidade, mas apenas espiritualmente: eles são estruturalmente incapazes de se imiscuir em assuntos mundanos (HPB Collected Writings, 6:247).

HP Blavatsky


Outra característica dos ensinamentos dos Mestres Ascensos é que eles estão principalmente preocupados com o aspeto da “forma” dos Mestres (a sua aparência, nome, caráter, etc…). A visão teosófica, quando bem entendida é muito diferente. Blavatsky escreveu “O mahatma verdadeiro não é o seu corpo físico mas o Manas superior [a mente espiritual] que está inseparavelmente ligada ao Atma [o Eu verdadeiro] e o seu veículo [a Alma espiritual] ”. E ela acrescenta que quem quiser “ver” um Mahatma tem de elevar a sua perceção para os planos espirituais, porque “as coisas mais elevadas podem ser percebidas apenas pelo sentido que pertence a essas coisas mais elevadas”. Os planos espirituais, onde as formas e a separação desaparecem e a unidade prevalece, são muito mais elevadas que os planos psíquicos, que são aqueles a que tem acesso os videntes naturais. Aqueles que atingirem o estado de consciência elevado que transcenda todo o sentido de separabilidade “verão o Mahatma onde quer que ele esteja, pois, estando fundidos com o sexto e sétimo princípios, que são ubíquos e omnipresentes, pode-se dizer que os Mahatmas estão em toda a parte” (op.cit, 6:239).

Continua na próxima semana…

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