Numa conferência internacional
realizada na Grécia no passado mês de Julho, intitulada “Tradições Esotéricas
no Mundo Antigo e Moderno”, assinalam-se várias palestras como sendo de
especial interesse, sendo que uma delas, da responsabilidade de Brett Forray,
foi já abordada no post sobre “O Caso Judge”.
Podemos ainda mencionar a
comunicação não presencial de K. Paul Johnson sobre a relação entre a Sociedade
Teosófica (ST) e a Irmandade Hermética de Luxor (a quem esteve intimamente
ligado Max Théon).
Max Théon |
Há uns anos, K. Paul Johnson
concebeu uma teoria pouco fundamentada para identificar os mestres próximos de
Helena Blavatsky, gerando forte oposição de Daniel Caldwell e de David Pratt.
Apesar de disparatada, devido ao excesso de suposições sem qualquer base, esta
comunicação sobre a ligação entre a ST e Irmandade de Luxor é interessante e
tal como escreveu Blavatsky, as ideias devem ficar de pé ou não, consoante o
seu mérito e sou de opinião que ninguém deve ser proscrito por apresentar uma
tese menos feliz.
Marc Demarest, que tem à sua
guarda o material de Emma Hardinge Britten, uma inglesa que esteve muito
próxima da ST nos seus primórdios até se incompatibilizar com Blavatsky, falou
sobre Godfrey Higgins, o autor de Anacalypsis, um livro obscuro que é citado
por Blavatsky nas suas obras e em relação ao qual Blavatsky confirma muitas
referências. Na altura, o jornal “New York Herald” escreveu na sua crítica a “Ísis sem
Véu” que este livro seria o suplemento a Anacalypsis. O título da palestra de
Marc Demarest é o “O Ocultista de Sofá: Higgins, Anacalypsis e o Ocultismo Moderno” e é também bastante interessante.
Capa de Anacalypsis |
Mas o tema deste post será a
conferência de April Hejka-Ekins sobre como está definida a ética nos escritos
de Helena Blavatsky.
Mais para o final da sua vida e
com certeza desiludida com o comportamento de muitos teosofistas, HPB começou a
carregar um pouco mais a nota sobre a necessidade de um comportamento e acção
adequadas por parte dos seres humanos e em particular daqueles que se
comprometiam a ser altruístas e a trabalhar para que a humanidade se tornasse
mais fraterna.
Em termos do que sucedeu na
altura, o esforço de HPB foi de certo modo inglório, pois acabaria por morrer a
8 de Maio de 1891, no que por exemplo Alice Leighton Cleather interpreta como
resultado do falhanço dos seus alunos mais próximos (que constituam o Grupo
Interno da Secção Esotérica) em praticar o altruísmo. Em “H.P. Blavatsky as I Knew Her” (“H.P. Blavatsky tal como a conheci”), que foi publicado em 1923,
Cleather reconhece que havia competição e ciúmes entre os poucos membros
daquele Grupo. Esperava-se que HPB ficasse entre os vivos mais alguns anos pelo
menos até o encerramento do ciclo que terminaria em 1897/98.
Não obstante, nestes 121 anos que
passaram desde a morte de HPB muitos puderam beneficiar destes ensinamentos mais
práticos deixados pela “Velha Senhora”. Os livros “A Chave para a Teosofia” e
“A Voz do Silêncio”, bem como algumas das instruções de cariz privado dadas aos
seus alunos (que entretanto foram publicadas por exemplo em “The Esoteric Papers of Madame Blavatsky”) são bastante ricos em ensinamentos sobre como
ultrapassar as armadilhas que derivam das deficiências, ou melhor
insuficiências do nosso “Eu Inferior”.
Mas vejamos de forma breve, o que
diz April Hejka-Ekins. Esta teosofista começa por referir que a ética
blavatskiana faz a ponte entre a teoria (conhecimento) e a prática, sendo
essencial para a transformação pessoal. No fundo ela é a base para trazer para
a nossa vida quotidiana a sabedoria de viver.
Ela usa a metáfora que a vida
espiritual é como um um banco de 3 pernas: conhecimento, prática e ética. Esta
última faz a ponte entre as duas primeiras.
Para Hejka-Ekins ética é a forma
como agimos uns para com os outros, sendo que apresenta 4 dimensões: mundivisão,
código moral, virtude e motivação.
Esta teosofista refere que todas
as pessoas têm uma mundivisão, umas são inconscientes disso, outras não, e é
com base nessa mundivisão que vão agir.
A partir daí desenvolvem um
código moral (valores e princípios) baseado no que acreditam. Sem honestidade e
confiança não há base para o humanismo. A igualdade de tratamento, coragem e
preocupação por todos os seres são a rocha básica dos relacionamentos. Uma regra de ouro é tratar os
outros como gostaríamos de ser tratados.
A palestrante fala também na
virtude que relaciona com o cultivo das nossas qualidades e com o balanceamento
dos pontos fortes e fracos da nossa personalidade. O desenvolvimento da virtude
exige esforço.
Enquanto que as duas dimensões
acima referidas são basicamente do foro cognitivo, esta terceira já tem a ver
essencialmente com o carácter humano.
A existência de modelos de
virtude é bastante importante, pois inspiram as pessoas e ajudam a desenvolver
a virtude em cada um de nós.
Ela dá exemplos sobre no que
consiste o balanceamento acima referido. Demasiada coragem pode levar a
imprudência. Ao invés, pouca é cobardia. O excesso de virtude pode levar a um
exagero. São citados como exemplos Gandhi, que era muito duro para com a sua
família, e também a Madre Teresa de Calcutá que tinha uma autoridade excessiva para
com aqueles que trabalhavam com ela.
Gandhi |
Para além da mundivisão, dos
valores e do sentido de virtude, a motivação é outro dos factores que influi na
ética do ser humano, sendo necessário perceber o que nos move.
Hejka-Ekins, na segunda metade da
sua palestra cita directamente Blavatsky e serão esses excertos que veremos na
próxima semana, na 2ª parte de “ A ética de HPB”.