Esta semana, prosseguimos com a 3ª parte, recomendando-se naturalmente a leitura das anteriores.
Herman Vermeulen-um dos autores do artigo e líder da ST Point Loma-Blavatskyhouse |
Prova
Podem
estas ideias teosóficas centrais ser provadas? Podemos estar convencidos da sua
verdade?
Neste ponto
temos de ser realistas. A forma mais elevada de prova é perceber, reconhecer,
entender e experienciar a verdade por nós próprios. A maior parte das pessoas
não é ainda capaz de experienciar muita da Teosofia. O PRINCÍPIO Omnipresente,
Eterno, Ilimitado e Imutável, que é o ponto de partida de todo o sistema
teosófico, não pode ser experienciado nem mesmo pelos deuses. Se algum ser experienciar o Ilimitado, dá expressão a
ISSO e não é mais um ser ou em ego, porque um ser, por maior que possa ser, é
sempre limitado. É por essa razão que nenhuma entidade é por definição capaz de
entender completamente o Ilimitado.
A
maioria das pessoas também não é capaz de experienciar a reencarnação
conscientemente. Quando caímos no sono perdemos a nossa autoconsciência. Tal
como quando adormecemos, passamos pelo processo de morrer e nascer
inconscientemente e não podemos adquirir conhecimento em primeira mão.
Mas no
domínio da confiança nós podemos conseguir completamente um
certo grau de prova. Podemos considerar os princípios teosóficos como hipóteses
e testá-las com as verdades que já experienciámos. Além disso, podemos examinar
se eles coincidem com aquilo que percecionamos à volta de nós. Avaliamos de
modo crítico se as ideias teosóficas são consistentes e lógicas e respondemos a
todo o tipo de questões.
Desta forma,
com base na razão e na lógica, podemos formar a ideia do Ilimitado.
É claro
que esta ideia não é perfeita. Como seria isso possível? Mas ao menos iremos
entender que a finitude é ilógica por natureza e contrária às observações
humanas, pois nem no microcosmos, nem no grande universo nos deparamos com
limites. Não apontam os factos científicos sobre o átomo e o universo na
direção da infinitude? Ficamos portanto confiantes de que o conceito do
ilimitado esteja correto?
Com
respeito à reincarnação, também podemos dizer que é uma doutrina lógica. Em
toda a natureza existem ciclos. Podemos encontrá-los ciclicamente quer na nossa
vida quer nas civilizações humanas.
Além disso, muitos fenómenos psicológicos
são elucidados e explicados com o conceito da ciclicidade.
Também
podemos acreditar na Teosofia. Não
raciocinamos por nós próprios, mas cremos nos outros.
Talvez tenhamos fé nela
porque o nosso companheiro diz-se teosofista, ou porque achamos os teosofistas
boas pessoas e de confiança. Esta crença é obviamente a forma mais fraca de
convicção, porque se nosso o companheiro nos desiludir ou se perdermos os
nossos amigos teosofistas, a base da nossa crença desaparece também.
Pistis: confiança espiritual
As
provas efetivas de uma doutrina devem portanto ser encontradas na nossa própria
consciência. Não podem ser fornecidas por outrem, por mais sábio que seja. Não
obstante, podemos ter uma enorme confiança naquele que proclama uma doutrina.
Talvez
pareça que chegámos tortuosamente ao ponto em que devemos aceitar uma doutrina
baseada na autoridade de outrem. Estamos aqui a nos contradizer? Antes de mais,
temos de entender que todos nós assumimos certas posições porque confiamos
noutras pessoas. Poucos leitores já alguma vez pisaram o Pólo Norte. Contudo, a
maior parte assume que o mesmo existe. Têm confiança nos relatos sobre esta
região inóspita e assumem que as imagens daqueles mantos de gelo não são
manipuladas.
Contudo,
esta confiança não é uma crença cega. É mais um reconhecimento, baseado na
lógica e na nossa própria experiência, da correção da perspetiva de outros, que
aplicamos como uma hipótese útil.
A nossa
sociedade não pode existir sem esta confiança. Afinal, se não confiássemos no
eletricista, no condutor de autocarros, no médico e no padeiro não poderíamos
viver juntos harmoniosamente. Pela mesma razão podemos ter fé nos instrutores
espirituais.
Quando
esta confiança tem mais a ver com temas espirituais, pode ser chamada, tal como
na Grécia antiga de Pistis. Esta
palavra pode ser traduzida como “fé” ou às vezes como “crença”. Contudo, é
baseada na razão e em saber intuitivamente que algo é verdade. Não é crença
cega. É um conhecimento interno, livre de preferências pessoais. É-nos
familiar, porque corresponde com as nossas próprias experiências e identifica-se
com o fundamento do nosso ser.
A Pistis pode certamente ser útil para
nós na nossa busca pela verdade. Como dissemos, as provas são a convicção do
nosso pensamento. Portanto, a verdade não vem do exterior, mas deve ser
desenvolvida a partir do interior. Ou melhor, deve ser reconhecida ou relembrada. A Pistis é a confiança em nós próprios. Somos capazes de encontrar a
verdade, porque ela está dentro de
nós.
Platão escreveu sobre isso. Qualquer conhecimento, qualquer verdade, dizia
este antigo filósofo grego, está dentro de nós. Para prová-lo, reflete em “Fédon”
da seguinte maneira. Vendo um objeto – uma lira, por exemplo - podemos nos
recordar de outra coisa. Ver uma rosa, pode evocar a consciência do belo.
Portanto, o conceito de “belo” – Platão fala da ideia do belo – já está dentro de nós, mas nós não nos apercebemos.
A rosa externa foi o que espoletou a recordação do conhecimento interno da
ideia de belo. (3) De facto, este é um despertar; a nossa fé em algo
é sublimada até à compreensão da verdade. Vamos desde a “cabeça” ao “coração”.
Platão (427 (?) a.C-347 (?) a.C) |
Isto
também funciona com certos ensinamentos. O conhecimento já está dentro de nós.
Através de um mito, de um símbolo, de um argumento ou de uma dissertação
ficamos conscientes da verdade no nosso Eu. Somos parte de um todo infinito e
um pouco mais de infinito também é infinito.
Notas:
3. Platão, Fédon, 72e-77a.
Continua na próxima semana.
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