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sábado, 2 de abril de 2016

Como provar a Teosofia? - H.P. Blavatsky e os seus sucessores (3ª parte)

Nas duas semanas anteriores, publicamos a e partes deste artigo de Barend Voorham e Herman Vermeulen publicado na revista Lucifer, da Sociedade Teosófica de Point Loma- Blavatskyhouse.

Esta semana, prosseguimos com a 3ª parte, recomendando-se naturalmente a leitura das anteriores.


Herman Vermeulen-um dos autores do artigo e líder da ST
Point Loma-Blavatskyhouse

Prova

Podem estas ideias teosóficas centrais ser provadas? Podemos estar convencidos da sua verdade?

Neste ponto temos de ser realistas. A forma mais elevada de prova é perceber, reconhecer, entender e experienciar a verdade por nós próprios. A maior parte das pessoas não é ainda capaz de experienciar muita da Teosofia. O PRINCÍPIO Omnipresente, Eterno, Ilimitado e Imutável, que é o ponto de partida de todo o sistema teosófico, não pode ser experienciado nem mesmo pelos deuses. Se algum ser experienciar o Ilimitado, dá expressão a ISSO e não é mais um ser ou em ego, porque um ser, por maior que possa ser, é sempre limitado. É por essa razão que nenhuma entidade é por definição capaz de entender completamente o Ilimitado.

A maioria das pessoas também não é capaz de experienciar a reencarnação conscientemente. Quando caímos no sono perdemos a nossa autoconsciência. Tal como quando adormecemos, passamos pelo processo de morrer e nascer inconscientemente e não podemos adquirir conhecimento em primeira mão.

Mas no domínio da confiança nós podemos conseguir completamente um certo grau de prova. Podemos considerar os princípios teosóficos como hipóteses e testá-las com as verdades que já experienciámos. Além disso, podemos examinar se eles coincidem com aquilo que percecionamos à volta de nós. Avaliamos de modo crítico se as ideias teosóficas são consistentes e lógicas e respondemos a todo o tipo de questões.

Desta forma, com base na razão e na lógica, podemos formar a ideia do Ilimitado.

É claro que esta ideia não é perfeita. Como seria isso possível? Mas ao menos iremos entender que a finitude é ilógica por natureza e contrária às observações humanas, pois nem no microcosmos, nem no grande universo nos deparamos com limites. Não apontam os factos científicos sobre o átomo e o universo na direção da infinitude? Ficamos portanto confiantes de que o conceito do ilimitado esteja correto?




Com respeito à reincarnação, também podemos dizer que é uma doutrina lógica. Em toda a natureza existem ciclos. Podemos encontrá-los ciclicamente quer na nossa vida quer nas civilizações humanas. 

Além disso, muitos fenómenos psicológicos são elucidados e explicados com o conceito da ciclicidade.

Também podemos acreditar na Teosofia. Não raciocinamos por nós próprios, mas cremos nos outros. 

Talvez tenhamos fé nela porque o nosso companheiro diz-se teosofista, ou porque achamos os teosofistas boas pessoas e de confiança. Esta crença é obviamente a forma mais fraca de convicção, porque se nosso o companheiro nos desiludir ou se perdermos os nossos amigos teosofistas, a base da nossa crença desaparece também.


Pistis: confiança espiritual

As provas efetivas de uma doutrina devem portanto ser encontradas na nossa própria consciência. Não podem ser fornecidas por outrem, por mais sábio que seja. Não obstante, podemos ter uma enorme confiança naquele que proclama uma doutrina.

Talvez pareça que chegámos tortuosamente ao ponto em que devemos aceitar uma doutrina baseada na autoridade de outrem. Estamos aqui a nos contradizer? Antes de mais, temos de entender que todos nós assumimos certas posições porque confiamos noutras pessoas. Poucos leitores já alguma vez pisaram o Pólo Norte. Contudo, a maior parte assume que o mesmo existe. Têm confiança nos relatos sobre esta região inóspita e assumem que as imagens daqueles mantos de gelo não são manipuladas.

Contudo, esta confiança não é uma crença cega. É mais um reconhecimento, baseado na lógica e na nossa própria experiência, da correção da perspetiva de outros, que aplicamos como uma hipótese útil.

A nossa sociedade não pode existir sem esta confiança. Afinal, se não confiássemos no eletricista, no condutor de autocarros, no médico e no padeiro não poderíamos viver juntos harmoniosamente. Pela mesma razão podemos ter fé nos instrutores espirituais.

Quando esta confiança tem mais a ver com temas espirituais, pode ser chamada, tal como na Grécia antiga de Pistis. Esta palavra pode ser traduzida como “fé” ou às vezes como “crença”. Contudo, é baseada na razão e em saber intuitivamente que algo é verdade. Não é crença cega. É um conhecimento interno, livre de preferências pessoais. É-nos familiar, porque corresponde com as nossas próprias experiências e identifica-se com o fundamento do nosso ser.

A Pistis pode certamente ser útil para nós na nossa busca pela verdade. Como dissemos, as provas são a convicção do nosso pensamento. Portanto, a verdade não vem do exterior, mas deve ser desenvolvida a partir do interior. Ou melhor, deve ser reconhecida ou relembrada. A Pistis é a confiança em nós próprios. Somos capazes de encontrar a verdade, porque ela está dentro de nós. 

Platão escreveu sobre isso. Qualquer conhecimento, qualquer verdade, dizia este antigo filósofo grego, está dentro de nós. Para prová-lo, reflete em “Fédon” da seguinte maneira. Vendo um objeto – uma lira, por exemplo - podemos nos recordar de outra coisa. Ver uma rosa, pode evocar a consciência do belo. Portanto, o conceito de “belo” – Platão fala da ideia do belo – já está dentro de nós, mas nós não nos apercebemos. A rosa externa foi o que espoletou a recordação do conhecimento interno da ideia de belo. (3) De facto, este é um despertar; a nossa fé em algo é sublimada até à compreensão da verdade. Vamos desde a “cabeça” ao “coração”.


Platão (427 (?) a.C-347 (?) a.C)

Isto também funciona com certos ensinamentos. O conhecimento já está dentro de nós. Através de um mito, de um símbolo, de um argumento ou de uma dissertação ficamos conscientes da verdade no nosso Eu. Somos parte de um todo infinito e um pouco mais de infinito também é infinito.

Notas:

3. Platão, Fédon, 72e-77a.

Continua na próxima semana.

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