Confiança nos instrutores
A
Teosofia moderna foi dada à humanidade pela Sociedade Teosófica (S.T.), fundada
em 1875 em Nova Iorque por H.P. Blavatsky, Henry Steel Olcott, W.Q. Judge e mais
outros treze.
Henry Steel Olcott, um dos fundadores da Sociedade Teosófica (1832-1907) |
Contudo,
estes pioneiros – pelo menos três deles – alegavam que os verdadeiros fundadores eram os Mestres de Sabedoria e Compaixão.
Nos últimos 150 anos, existiram as especulações mais rebuscadas sobre quem eram
estes Mestres. Poucos os conheceram. De acordo com Blavatsky, são seres humanos
que estão muito acima da média dos humanos em termos de capacidades, sabedoria
e especialmente compaixão. Desde 1875, houve um dilúvio de ensinamentos
teosóficos, e apesar da maior parte destes ensinamentos poder ser encontrado
nos textos religiosos e filosóficos da Antiguidade, não raras vezes em
linguagem velada, são tão novos e estranhos para muita da moderna humanidade,
que para a parte maior dela será muito difícil compreender alguma coisa.
Viver
em 2015, 140 anos depois da fundação da S.T., torna muito mais fácil entender
alguns dos ensinamentos teosóficos. O karma e a reencarnação, por exemplo, são
hoje em dia, mais ou menos familiares e portanto muito mais fáceis de entender.
Mas no fim do século XIX tudo era novo e estranho.
Fazer
um estudo dos primeiros anos da Sociedade Teosófica pode ser muito inspirador.
As dificuldades que os pioneiros enfrentavam eram enormes. Existiam ataques
hostis do mundo externo: cientistas que alegavam que os ensinamentos teosóficos
eram superstição ultrapassada; a igreja Cristã, que não suportava o facto de a
S.T. ter muita estima pelo Budismo e pelo Hinduísmo; os espiritualistas, a quem
Blavatsky não negava os fenómenos, explicando-os contudo de forma muito diferente.
Os maiores confrontos e problemas nasceram porém de antigos colaboradores que
se opunham à S.T. e especialmente à sua principal fundadora, H.P. Blavatsky. O
facto de a S.T. ter sobrevivido a todas estas dificuldades é para muitos
estudiosos uma evidência de que a mesma foi de facto preservada pelos Mestres.
Durante esses primeiros anos foi também claro que Blavatsky foi o elo entre os
Mestres e a S.T.. É evidente que outras pessoas contribuíram significativamente
para o trabalho. Henry Steel Olcott, presidente-fundador, desempenhou um papel
muito importante na organização. Mas no que respeitava aos ensinamentos, H.P.
Blavatsky era a autoridade. Graças a ela, algumas pessoas ligadas à Teosofia
podiam se corresponder com os Mestres. Ela era conhecida como a “carteira
oculta”. Quando ela deixava de estar num certo local, a influência dos Mestres
perdia também vigor. Quando, forçada pelas circunstâncias, deixou a sede na
Índia, a influência dos Mestres desapareceu também. (4)
Sede da Sociedade Teosófica matriz - Adyar, Chennai, Índia |
Embora,
depois da sua morte, o seu trabalho não tenha sido devidamente estudado por
todos os teosofistas, ela permanecia como uma referência. Era a portadora da
luz. Mas serão os seus escritos a palavra definitiva?
Méritos intrínsecos
A
própria Blavatsky afirma num artigo que a Teosofia deve-se apoiar nos seus
méritos intrínsecos. (5) Fez esta declaração no contexto da
realização de fenómenos ocultos, com os quais ela tinha inicialmente tentado
suscitar interesse nos ensinamentos teosóficos. A certa altura ela deixou de
produzir estes fenómenos, porque não estimulavam o estudo da Teosofia, mas
apenas despertavam o sensacionalismo.
Esta
afirmação pode ser interpretada no sentido muito mais amplo: todos os
ensinamentos, todos os textos, os de H.P. Blavatsky bem como os de outros
autores teosóficos, devem provar-se por si mesmos. Não são verdade porque o
autor pode produzir fenómenos ocultos ou porque foram inspirados por um Mestre. A
prova é a convicção do pensamento. Chegamos a ela por pensar independentemente,
não por acreditar nos outros! Quando testamos os ensinamentos com as nossas verdades
já experienciadas e o teste confirma a doutrina, então podemos ter confiança na sua verdade.
A
Teosofia é por definição não dogmática. Não obstante estimemos e amemos
elevadamente H.P. Blavatsky, os seus textos devem ser abordados de modo tão
crítico como qualquer outro texto. A Teosofia apenas é benéfica para o ser
humano, se ele entender a verdade nela. Por outras palavras, uma atitude
crítica perante um ensinamento e o teste permanente, com as suas próprias
faculdades internas, é uma responsabilidade que não deve ser subestimada,
porque se assim não for, em quê é que estamos a basear a nossa confiança de que
Blavatsky era a mensageira dos
Mestres?
Helena P. Blavatsky (1831-1891) |
Claro
que H.P. Blavatsky não forneceu a completa e absoluta verdade. Ela indicou os princípios da Teosofia aos buscadores da
verdade, e deu um grande número de formulações dos mesmos com respeito à
humanidade e ao planeta, mas nunca pretendeu dar “A Sabedoria dos Deuses” na
totalidade, o que para já seria impossível. No final de “A Doutrina Secreta”
ela escreve que as suas “exposições estão longe de ser completas” e que apenas
quis “preparar o terreno”. (6) Os volumes III e IV de “A Doutrina
Secreta” já haviam sido planeados e a sua publicação dependeria da receção dos
volumes I e II, embora estivessem quase
completos. Nunca foram publicados [NT: Na sua versão original, “A Doutrina
Secreta” foi publicada em dois volumes, que correspondem, grosso modo, aos
primeiros quatro volumes da edição em língua portuguesa. Esta controvérsia sobre os volumes III e IV será em breve abordada no Lua em Escorpião]. (7)
Portanto
Blavatsky nunca deu a última palavra, mas antes a primeira, pelo menos no
impulso de 1875 da Loja da Sabedoria e da Compaixão. Os ensinamentos que ela
trouxe podem ser mais desenvolvidos e explicados. Ela também disse que no
século XX “algum discípulo mais bem informado e com qualidades mui superiores
poderá ser enviado pelos Mestres de Sabedoria para fornecer provas definitivas
e irrefutáveis de que existe uma Ciência chamada Gupta-Vidyâ; e de que, como as
nascentes do Nilo, outrora envoltas em mistério, a fonte de todas as religiões
e filosofias atualmente conhecidas permaneceu esquecida e perdida para a
Humanidade durante muitos séculos, mas foi finalmente encontrada.” (8)
Notas:
4. Ver: H.P. Blavatsky, ‘Why I do
not return to India’. Collected Writings,
The Theosophical Publishing House, Wheaton 1990, Vol. 12, p. 157-158.
5. H.P. Blavatsky, ‘What of Phenomena’. Collected Writings, Theosophical
Publishing House, Wheaton 1990, Vol. 9, p. 50.
6.
H.P. Blavatsky sempre foi muito clara sobre este assunto. Ver por exemplo: A
Doutrina Secreta, Vol I, p. viii [na versão original, p. 12 da edição em
português], onde ela escreve que a Doutrina Secreta merece ser considerada, não
porque invoque alguma autoridade dogmática, mas por se manter em íntima relação
com os factos da Natureza e seguir as leis da uniformidade e da analogia; e:
A Doutrina Secreta,
Vol. I, p. 20 [p.86 da edição em português], onde afirma que quando o leitor as
tiver compreendido claramente [às três proposições fundamentais], e percebido a
luz que espargem sobre todos os problemas da vida, mais nenhuma identificação
se tornará necessária; pois a verdade lhe saltará aos olhos, tão evidente como
a luz do Sol.
7. H.P. Blavatsky,The Secret
Doctrine, Vol. 2, p. 797-798 [vol. IV
da edição em português, p.365-366].
8.
Ver ref. 7, Vol. 1, p. xxxviii [p.61 da ed. portuguesa].
Continua na próxima semana.
Gostaria de seguir o site porque acho o conteúdo excelente. Mas esbarrei na senha. A que coloquei não coincidia com a que chamam verdadeira senha.Portanto, fico acompanhando as publicações sem ser um seguidor. Obrigado por trudo, irmão Régis.
ResponderEliminarRoberto, agradeço as suas palavras. Presumo que para receber os posts na sua caixa de correio eletrónico, bastará meter o endereço de e-mail onde diz seguir e-mail, no canto superior esquerdo
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