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sábado, 9 de abril de 2016

Como provar a Teosofia? - H.P. Blavatsky e os seus sucessores (4ª parte)

Esta semana continuamos com a publicação da quarta e penúltima parte do artigo de Barend Voorham e Herman Vermeulen saído na edição de março de 2015 da revista Lucifer, da Sociedade Teosófica de Point Loma- Blavatskyhouse. Recomenda-se naturalmente a leitura das anteriores partes ( ).


Confiança nos instrutores

A Teosofia moderna foi dada à humanidade pela Sociedade Teosófica (S.T.), fundada em 1875 em Nova Iorque por H.P. Blavatsky, Henry Steel Olcott, W.Q. Judge e mais outros treze.


Henry Steel Olcott, um dos fundadores
da Sociedade Teosófica (1832-1907)


Contudo, estes pioneiros – pelo menos três deles – alegavam que os verdadeiros fundadores eram os Mestres de Sabedoria e Compaixão. Nos últimos 150 anos, existiram as especulações mais rebuscadas sobre quem eram estes Mestres. Poucos os conheceram. De acordo com Blavatsky, são seres humanos que estão muito acima da média dos humanos em termos de capacidades, sabedoria e especialmente compaixão. Desde 1875, houve um dilúvio de ensinamentos teosóficos, e apesar da maior parte destes ensinamentos poder ser encontrado nos textos religiosos e filosóficos da Antiguidade, não raras vezes em linguagem velada, são tão novos e estranhos para muita da moderna humanidade, que para a parte maior dela será muito difícil compreender alguma coisa.

Viver em 2015, 140 anos depois da fundação da S.T., torna muito mais fácil entender alguns dos ensinamentos teosóficos. O karma e a reencarnação, por exemplo, são hoje em dia, mais ou menos familiares e portanto muito mais fáceis de entender. Mas no fim do século XIX tudo era novo e estranho.

Fazer um estudo dos primeiros anos da Sociedade Teosófica pode ser muito inspirador. As dificuldades que os pioneiros enfrentavam eram enormes. Existiam ataques hostis do mundo externo: cientistas que alegavam que os ensinamentos teosóficos eram superstição ultrapassada; a igreja Cristã, que não suportava o facto de a S.T. ter muita estima pelo Budismo e pelo Hinduísmo; os espiritualistas, a quem Blavatsky não negava os fenómenos, explicando-os contudo de forma muito diferente. Os maiores confrontos e problemas nasceram porém de antigos colaboradores que se opunham à S.T. e especialmente à sua principal fundadora, H.P. Blavatsky. O facto de a S.T. ter sobrevivido a todas estas dificuldades é para muitos estudiosos uma evidência de que a mesma foi de facto preservada pelos Mestres. Durante esses primeiros anos foi também claro que Blavatsky foi o elo entre os Mestres e a S.T.. É evidente que outras pessoas contribuíram significativamente para o trabalho. Henry Steel Olcott, presidente-fundador, desempenhou um papel muito importante na organização. Mas no que respeitava aos ensinamentos, H.P. Blavatsky era a autoridade. Graças a ela, algumas pessoas ligadas à Teosofia podiam se corresponder com os Mestres. Ela era conhecida como a “carteira oculta”. Quando ela deixava de estar num certo local, a influência dos Mestres perdia também vigor. Quando, forçada pelas circunstâncias, deixou a sede na Índia, a influência dos Mestres desapareceu também. (4)

Sede da Sociedade Teosófica matriz - Adyar, Chennai, Índia

Embora, depois da sua morte, o seu trabalho não tenha sido devidamente estudado por todos os teosofistas, ela permanecia como uma referência. Era a portadora da luz. Mas serão os seus escritos a palavra definitiva?


Méritos intrínsecos

A própria Blavatsky afirma num artigo que a Teosofia deve-se apoiar nos seus méritos intrínsecos. (5) Fez esta declaração no contexto da realização de fenómenos ocultos, com os quais ela tinha inicialmente tentado suscitar interesse nos ensinamentos teosóficos. A certa altura ela deixou de produzir estes fenómenos, porque não estimulavam o estudo da Teosofia, mas apenas despertavam o sensacionalismo.

Esta afirmação pode ser interpretada no sentido muito mais amplo: todos os ensinamentos, todos os textos, os de H.P. Blavatsky bem como os de outros autores teosóficos, devem provar-se por si mesmos. Não são verdade porque o autor pode produzir fenómenos ocultos ou porque foram inspirados por um Mestre. A prova é a convicção do pensamento. Chegamos a ela por pensar independentemente, não por acreditar nos outros! Quando testamos os ensinamentos com as nossas verdades já experienciadas e o teste confirma a doutrina, então podemos ter confiança na sua verdade.

A Teosofia é por definição não dogmática. Não obstante estimemos e amemos elevadamente H.P. Blavatsky, os seus textos devem ser abordados de modo tão crítico como qualquer outro texto. A Teosofia apenas é benéfica para o ser humano, se ele entender a verdade nela. Por outras palavras, uma atitude crítica perante um ensinamento e o teste permanente, com as suas próprias faculdades internas, é uma responsabilidade que não deve ser subestimada, porque se assim não for, em quê é que estamos a basear a nossa confiança de que Blavatsky era a mensageira dos Mestres?

Helena P. Blavatsky (1831-1891)


Claro que H.P. Blavatsky não forneceu a completa e absoluta verdade. Ela indicou os princípios da Teosofia aos buscadores da verdade, e deu um grande número de formulações dos mesmos com respeito à humanidade e ao planeta, mas nunca pretendeu dar “A Sabedoria dos Deuses” na totalidade, o que para já seria impossível. No final de “A Doutrina Secreta” ela escreve que as suas “exposições estão longe de ser completas” e que apenas quis “preparar o terreno”. (6) Os volumes III e IV de “A Doutrina Secreta” já haviam sido planeados e a sua publicação dependeria da receção dos volumes I e II, embora estivessem quase completos. Nunca foram publicados [NT: Na sua versão original, “A Doutrina Secreta” foi publicada em dois volumes, que correspondem, grosso modo, aos primeiros quatro volumes da edição em língua portuguesa. Esta controvérsia sobre os volumes III e IV será em breve abordada no Lua em Escorpião]. (7)


Portanto Blavatsky nunca deu a última palavra, mas antes a primeira, pelo menos no impulso de 1875 da Loja da Sabedoria e da Compaixão. Os ensinamentos que ela trouxe podem ser mais desenvolvidos e explicados. Ela também disse que no século XX “algum discípulo mais bem informado e com qualidades mui superiores poderá ser enviado pelos Mestres de Sabedoria para fornecer provas definitivas e irrefutáveis de que existe uma Ciência chamada Gupta-Vidyâ; e de que, como as nascentes do Nilo, outrora envoltas em mistério, a fonte de todas as religiões e filosofias atualmente conhecidas permaneceu esquecida e perdida para a Humanidade durante muitos séculos, mas foi finalmente encontrada.” (8)

Notas: 

4. Ver: H.P. Blavatsky, ‘Why I do not return to India’. Collected Writings, The Theosophical Publishing House, Wheaton 1990, Vol. 12, p. 157-158.
5. H.P. Blavatsky, ‘What of Phenomena’. Collected Writings, Theosophical Publishing House, Wheaton 1990, Vol. 9, p. 50.
6. H.P. Blavatsky sempre foi muito clara sobre este assunto. Ver por exemplo: A Doutrina Secreta, Vol I, p. viii [na versão original, p. 12 da edição em português], onde ela escreve que a Doutrina Secreta merece ser considerada, não porque invoque alguma autoridade dogmática, mas por se manter em íntima relação com os factos da Natureza e seguir as leis da uniformidade e da analogia; e:
A Doutrina Secreta, Vol. I, p. 20 [p.86 da edição em português], onde afirma que quando o leitor as tiver compreendido claramente [às três proposições fundamentais], e percebido a luz que espargem sobre todos os problemas da vida, mais nenhuma identificação se tornará necessária; pois a verdade lhe saltará aos olhos, tão evidente como a luz do Sol.
7. H.P. Blavatsky,The Secret Doctrine, Vol. 2, p. 797-798 [vol. IV da edição em português, p.365-366].
8. Ver ref. 7, Vol. 1, p. xxxviii [p.61 da ed. portuguesa].

Continua na próxima semana.

2 comentários:

  1. Gostaria de seguir o site porque acho o conteúdo excelente. Mas esbarrei na senha. A que coloquei não coincidia com a que chamam verdadeira senha.Portanto, fico acompanhando as publicações sem ser um seguidor. Obrigado por trudo, irmão Régis.

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    1. Roberto, agradeço as suas palavras. Presumo que para receber os posts na sua caixa de correio eletrónico, bastará meter o endereço de e-mail onde diz seguir e-mail, no canto superior esquerdo

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