Continuamos a tradução do artigo de Barend Voorham "Três níveis de recordação: instinto, consciência e intuição" retirado do nº3 da revista Lucifer de 2014. Recomenda-se a leitura da introdução publicada na parte 1.
Pensamento pessoal
A consciência instintiva do ser
humano tornou-se no que atualmente é durante incontáveis fases de
desenvolvimento, ou pelo menos no que deveria ser: um veículo apto para a
verdadeira consciência humana. Mas, a consciência pensante passou ela própria
por várias experiências, que estão nela armazenadas.
Contudo, as experiências do
dia-a-dia não têm um caráter sustentável. São experiências pessoais, facilmente
esquecidas. É por isso que a memória das experiências pessoais é realmente falível.
Como a consciência pessoal normalmente dá crédito à realidade do mundo externo
em contínua mudança, as suas impressões, são na maior parte das vezes de uma
natureza transitória. Um ser humano não tem simplesmente capacidade para ver as
suas experiências a partir de uma perspetiva correta.
Barend Voorham |
Façamos a comparação com uma
equipa de futebol que ganhou um jogo. Cada jogador recordar-se-á do jogo da sua
própria perspetiva. O guarda-redes sabe que falhou na tentativa de evitar um
golo e o avançado sabe que marcou. Contudo, o enquadramento mais abrangente
está faltando. O treinador que estava junto à linha lateral tem uma visão mais
geral. A sua memória parece ser mais exata. Neste exemplo, o treinador é a
consciência humana superior e cada jogador representa a consciência pessoal.
Caraterísticas das memórias pessoais
Muitas vezes as pessoas dizem que
a memória é falível. Isto é verdade quando falamos de impressões pessoais.
Também sucede que a consciência pessoal está muitas vezes cega em relação ao
seu próprio comportamento. Recordemos o caso da rapariga sonâmbula: ela fez
algo de que a consciência pessoal nunca se recordou. Apenas quando ela se
tornou idosa e pouco antes de falecer, quando a sua consciência pessoal se uniu
temporariamente à sua consciência humana superior, é que se recordou
subitamente do que havia feito. Reparem, a consciência superior é muito mais
capaz de perceber essas impressões e de compreender a sua verdadeira
importância.
Quando o homem pessoal se lembra
de algo, dá um colorido a essas memórias consoante a consciência que desenvolveu
até esse momento. Imagine que passou umas férias maravilhosas com um amigo, e
que esse amigo maltrata-o posteriormente. A sua memória das férias será agora
colorida com as desagradáveis experiências posteriores.
As impressões do homem pessoal
não sobreviverão à morte. Dissolver-se-ão quando a consciência se retirar. Em
cada novo nascimento uma nova personalidade será construída. Isto acontecerá
com base nas qualidades que foram desenvolvidas nas vidas anteriores. Porém,
estas impressões pessoais particulares de vidas anteriores não podem ser
encontradas na nova personalidade. Com cada nova vida um novo cérebro é
formado. Este cérebro, tal como o restante corpo físico, tem de praticar
novamente, antes que possa funcionar de forma otimizada como um instrumento
para pensar. Essa é a razão pela qual não se consegue rastrear as vidas
passadas no cérebro nem na consciência pessoal.
Uma exceção a isto acontece
quando uma pessoa morre na infância, pelo facto de não existirem experiências espirituais
que pudessem ser processadas no Devachan. A personalidade de uma criança não se
desintegrará e rapidamente encontrará uma nova oportunidade, com novos pais,
para se manifestar. Essa é a razão por que em todo o mundo existem pessoas que
morreram na sua infância na vida anterior e conseguem recordar-se dela. (2)
O prof. Ian Stevenson considerou a hipótese da reencarnação como explicação possível para as memórias de vidas passadas. |
Consciência
Felizmente, o homem pessoal
também tem pensamentos espirituais. Ele tem interesses e ideais impessoais. Ele
pensa sobre como viver a sua vida de uma boa maneira. Estes pensamentos também
provocam impressões, que ele retém de uma vida para outra, e que assim é capaz
de recordar.
Como nos lembramos deles? Quando
estamos prestes a fazer alguma coisa que não devíamos. O nosso sentido ético
alerta-nos nesse momento.
Estas memórias são chamadas de consciência. A nossa consciência
compreende as experiências éticas e espirituais da nossa vida atual e das anteriores,
das quais nos recordamos se pretendermos agir de um modo que estas experiências
nos ensinaram a não fazê-lo.
Portanto, a nossa consciência nunca nos aconselha de um modo afirmativo. Nunca
nos diz o que fazer. Avisa-nos quando estamos prestes a fazer algo eticamente
irresponsável.
A consciência é a qualidade mais
nobre que o ser humano desenvolveu até ao presente. Tem vindo a ser formada
pelas suas impressões mais sublimes. Reparem, não é o mais nobre que ele é, mas
o que de mais nobre experienciou até ao momento. Podemos conceber a consciência
como a ponte entre as consciências humanas pessoal e superior.
A nossa consciência não é
infalível, pois a nossa experiência espiritual é limitada. Por vezes
deparamo-nos com uma questão ética em relação à qual nunca nos confrontamos
anteriormente e sobre a qual nunca refletimos. Consequentemente a nossa
consciência permanecerá em silêncio. Se fizermos a escolha certa, então teremos
somado uma experiência espiritual, mas se fizermos a escolha errada e
experienciarmos as consequências que daí advêm, também aprenderemos uma lição
ética. É através de novas experiências espirituais que a nossa consciência irá
crescer.
Escutando a consciência
Diz-se que as pessoas cruéis não
têm consciência. Julgo que elas têm consciência; simplesmente não a ouvem.
Tornar-se surdo em relação à voz da nossa consciência é um processo gradual.
Quando temos que fazer uma escolha ética e não escutamos a nossa consciência,
ouvi-la-emos num tom mais baixo quando estivermos numa situação semelhante
novamente. Se fizermos isso consecutivamente, a voz da nossa consciência irá se
desvanecer até parecer que não existe.
A educação desempenha um papel
importante nisto. Os pais podem estimular ou reprimir a consciência da criança.
Uma vez ouvi um rapazinho dizer à sua mãe: “Olha o que eu roubei”, sem que a
mãe desse uma resposta negativa de qualquer género. Não foi propriamente um
incentivo a aprender a ouvir a consciência. Também conheço um caso de uma mãe
que deixou o seu filho devolver um brinquedo que havia roubado. Esse é um modo
de estimular a consciência da criança. Quando alguém age contra a sua
consciência, irá se arrepender na primeira vez. Mas, quando ignoram esse
remorso, a voz da consciência vai se tornando mais fraca, ou melhor, a sua voz
ouve-se cada vez menos.
É isto que ouvimos em relação aos
assassinos e criminosos; depois do seu primeiro crime a sua consciência entra
em jogo. Eles não dormem, mas sofrem. Mas, depois da segunda, terceira ou
quarta vez, torna-se um hábito. Eles não mais escutam a sua consciência a
falar. É uma situação temporária, porque eles serão confrontados com as suas
ações a certa altura.
A lição que se pode aprender
daqui é a de escutar a consciência. Nós somos
a nossa consciência. A nossa consciência é o portal para os aspetos superiores
de nós próprios. Se não a escutarmos, fechamos o portal.
(2). I.
Stevenson, Reincarnation and Biology: A Contribution to the
Etiology of Birthmarks and Birth Defects. Vol I and II. Praeger
Publishers, Highlands Ranch (US) 1997. And: H. van der Pol, “Wetenschappelijk onderzoek
vindt bewijzen voor reincarnatie” (“Scientific researchers find evidences for
reincarnation”). Article in Lucifer, Vol. 27,
October 2005, no. 5, p. 87.
Continuamos na próxima semana.
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