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sábado, 22 de agosto de 2015

Três níveis de recordação: instinto, consciência e intuição (4ª parte)

Continuamos a tradução do artigo de Barend Voorham "Três níveis de recordação: instinto, consciência e intuição" retirado do nº3 da revista Lucifer de 2014. Recomenda-se a leitura da introdução publicada na parte 1.

Pensamento pessoal

A consciência instintiva do ser humano tornou-se no que atualmente é durante incontáveis fases de desenvolvimento, ou pelo menos no que deveria ser: um veículo apto para a verdadeira consciência humana. Mas, a consciência pensante passou ela própria por várias experiências, que estão nela armazenadas.

Contudo, as experiências do dia-a-dia não têm um caráter sustentável. São experiências pessoais, facilmente esquecidas. É por isso que a memória das experiências pessoais é realmente falível. Como a consciência pessoal normalmente dá crédito à realidade do mundo externo em contínua mudança, as suas impressões, são na maior parte das vezes de uma natureza transitória. Um ser humano não tem simplesmente capacidade para ver as suas experiências a partir de uma perspetiva correta.


Barend Voorham

Façamos a comparação com uma equipa de futebol que ganhou um jogo. Cada jogador recordar-se-á do jogo da sua própria perspetiva. O guarda-redes sabe que falhou na tentativa de evitar um golo e o avançado sabe que marcou. Contudo, o enquadramento mais abrangente está faltando. O treinador que estava junto à linha lateral tem uma visão mais geral. A sua memória parece ser mais exata. Neste exemplo, o treinador é a consciência humana superior e cada jogador representa a consciência pessoal.

Caraterísticas das memórias pessoais

Muitas vezes as pessoas dizem que a memória é falível. Isto é verdade quando falamos de impressões pessoais. Também sucede que a consciência pessoal está muitas vezes cega em relação ao seu próprio comportamento. Recordemos o caso da rapariga sonâmbula: ela fez algo de que a consciência pessoal nunca se recordou. Apenas quando ela se tornou idosa e pouco antes de falecer, quando a sua consciência pessoal se uniu temporariamente à sua consciência humana superior, é que se recordou subitamente do que havia feito. Reparem, a consciência superior é muito mais capaz de perceber essas impressões e de compreender a sua verdadeira importância.

Quando o homem pessoal se lembra de algo, dá um colorido a essas memórias consoante a consciência que desenvolveu até esse momento. Imagine que passou umas férias maravilhosas com um amigo, e que esse amigo maltrata-o posteriormente. A sua memória das férias será agora colorida com as desagradáveis experiências posteriores.

As impressões do homem pessoal não sobreviverão à morte. Dissolver-se-ão quando a consciência se retirar. Em cada novo nascimento uma nova personalidade será construída. Isto acontecerá com base nas qualidades que foram desenvolvidas nas vidas anteriores. Porém, estas impressões pessoais particulares de vidas anteriores não podem ser encontradas na nova personalidade. Com cada nova vida um novo cérebro é formado. Este cérebro, tal como o restante corpo físico, tem de praticar novamente, antes que possa funcionar de forma otimizada como um instrumento para pensar. Essa é a razão pela qual não se consegue rastrear as vidas passadas no cérebro nem na consciência pessoal.

Uma exceção a isto acontece quando uma pessoa morre na infância, pelo facto de não existirem experiências espirituais que pudessem ser processadas no Devachan. A personalidade de uma criança não se desintegrará e rapidamente encontrará uma nova oportunidade, com novos pais, para se manifestar. Essa é a razão por que em todo o mundo existem pessoas que morreram na sua infância na vida anterior e conseguem recordar-se dela. (2)

O prof. Ian Stevenson considerou
a hipótese da reencarnação como
explicação possível para as
memórias de vidas passadas.


Consciência

Felizmente, o homem pessoal também tem pensamentos espirituais. Ele tem interesses e ideais impessoais. Ele pensa sobre como viver a sua vida de uma boa maneira. Estes pensamentos também provocam impressões, que ele retém de uma vida para outra, e que assim é capaz de recordar.

Como nos lembramos deles? Quando estamos prestes a fazer alguma coisa que não devíamos. O nosso sentido ético alerta-nos nesse momento.

Estas memórias são chamadas de consciência. A nossa consciência compreende as experiências éticas e espirituais da nossa vida atual e das anteriores, das quais nos recordamos se pretendermos agir de um modo que estas experiências nos ensinaram a não fazê-lo. Portanto, a nossa consciência nunca nos aconselha de um modo afirmativo. Nunca nos diz o que fazer. Avisa-nos quando estamos prestes a fazer algo eticamente irresponsável.

A consciência é a qualidade mais nobre que o ser humano desenvolveu até ao presente. Tem vindo a ser formada pelas suas impressões mais sublimes. Reparem, não é o mais nobre que ele é, mas o que de mais nobre experienciou até ao momento. Podemos conceber a consciência como a ponte entre as consciências humanas pessoal e superior.

A nossa consciência não é infalível, pois a nossa experiência espiritual é limitada. Por vezes deparamo-nos com uma questão ética em relação à qual nunca nos confrontamos anteriormente e sobre a qual nunca refletimos. Consequentemente a nossa consciência permanecerá em silêncio. Se fizermos a escolha certa, então teremos somado uma experiência espiritual, mas se fizermos a escolha errada e experienciarmos as consequências que daí advêm, também aprenderemos uma lição ética. É através de novas experiências espirituais que a nossa consciência irá crescer.

Escutando a consciência

Diz-se que as pessoas cruéis não têm consciência. Julgo que elas têm consciência; simplesmente não a ouvem. Tornar-se surdo em relação à voz da nossa consciência é um processo gradual. Quando temos que fazer uma escolha ética e não escutamos a nossa consciência, ouvi-la-emos num tom mais baixo quando estivermos numa situação semelhante novamente. Se fizermos isso consecutivamente, a voz da nossa consciência irá se desvanecer até parecer que não existe.

A educação desempenha um papel importante nisto. Os pais podem estimular ou reprimir a consciência da criança. Uma vez ouvi um rapazinho dizer à sua mãe: “Olha o que eu roubei”, sem que a mãe desse uma resposta negativa de qualquer género. Não foi propriamente um incentivo a aprender a ouvir a consciência. Também conheço um caso de uma mãe que deixou o seu filho devolver um brinquedo que havia roubado. Esse é um modo de estimular a consciência da criança. Quando alguém age contra a sua consciência, irá se arrepender na primeira vez. Mas, quando ignoram esse remorso, a voz da consciência vai se tornando mais fraca, ou melhor, a sua voz ouve-se cada vez menos.

É isto que ouvimos em relação aos assassinos e criminosos; depois do seu primeiro crime a sua consciência entra em jogo. Eles não dormem, mas sofrem. Mas, depois da segunda, terceira ou quarta vez, torna-se um hábito. Eles não mais escutam a sua consciência a falar. É uma situação temporária, porque eles serão confrontados com as suas ações a certa altura.


A lição que se pode aprender daqui é a de escutar a consciência. Nós somos a nossa consciência. A nossa consciência é o portal para os aspetos superiores de nós próprios. Se não a escutarmos, fechamos o portal.


(2).  I. Stevenson, Reincarnation and Biology: A Contribution to the Etiology of Birthmarks and Birth Defects. Vol I and II. Praeger Publishers, Highlands Ranch (US) 1997. And: H. van der Pol, “Wetenschappelijk onderzoek vindt bewijzen voor reincarnatie” (“Scientific researchers find evidences for reincarnation”). Article in Lucifer, Vol. 27, October 2005, no. 5, p. 87.

Continuamos na próxima semana.

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