Em maio de 2014, a ISIS Foundation - ligada à Sociedade Teosófica de Point Loma - organizou um simpósio intitulado "Como a consciência muda o nosso cérebro". Os videos ainda estão disponíveis aqui.
As apresentações feitas no simpósio foram depois compiladas numa edição da excelente revista Lucifer, editada também pela ISIS Foundation (ISIS é a sigla para International Study-centre for Independent Search for truth) onde encontrei o artigo de Barend Voorham. Na verdade toda a revista merecia ser traduzida, mas é-me manifestamente impossível fazê-lo. De qualquer modo é altamente provável que muito proximamente o Lua em Escorpião publique mais textos dos teosofistas da Sociedade Teosófica Point Loma - BlavatskyHouse, uma das organizações mais ativas do movimento teosófico nos dias que correm.
Avancemos então para o texto:
Três níveis de
recordação: instinto, consciência e intuição
por Barend Voorham
Uma vez ouvi uma menina perguntar
à sua mãe se ela já alguma vez havia visto um carro branco. “Sim, já vi”,
respondeu a mãe. “Eu também”, disse a menina, “mas foi há tanto tempo que já
não me lembro”. Talvez esteja pensando, “ que curioso, como é possível se saber
uma coisa da qual não nos recordamos?”
Porém, é possível! Existem casos
que não conseguimos recordar, mas dos quais sabemos certamente alguma coisa. Bouke
van den Noort contou-nos sobre um homem da Flandres que falou em Flamengo pela
última vez quando tinha dois anos de idade, mas que se recordava deste idioma no
leito da morte. Este caso foi relatado por um médico francês do século XIX.
Ele descreve uma história ainda
mais notável: uma certa mulher à beira da morte costumava ser sonâmbula quando
era uma menina. Era filha de um notário. Uma vez roubou um importante documento
do seu pai enquanto estava sonâmbula e escondeu-o algures no escritório. O seu
pai sofreu muitas perdas devido a isto. No leito da morte, a mulher subitamente
gritou: “Eu roubei-o!” e recordou-se onde havia estado o documento durante todo
esse tempo. Enquanto dormia, retirou o documento e escondeu-o, mas na sua consciência
quotidiana, a mulher não tinha noção alguma do que havia feito. À beira da
morte, ela subitamente recordou-se. (1)
A lucidez terminal é um daqueles
mistérios da memória, que não pode ser explicada pela crença generalizada de
que a memória está alojada no cérebro. Pelo contrário, só é possível clarificar
estes casos notáveis se olharmos para os seres humanos como consciências
compostas. Tentaremos elucidar.
Transmitindo e recebendo sinais que se imprimem na nossa consciência
A nossa consciência transmite
sinais dos diferentes aspetos, ou “níveis” ou “camadas”, da sua natureza
composta. Também recebe sinais. Está em sintonia com todos os tipos de seres
conscientes e leva todos os outros seres conscientes a vibrar.
O que, por exemplo, observamos
com os nossos sentidos – como imagens ou sons – provoca uma impressão no nosso
corpo físico. Estes sinais são reencaminhados para os outros níveis da nossa
consciência, mas primeiro afetam o corpo físico. Até a comida que comemos tem
um efeito. Podemos nos recordar de todas estas impressões. Por exemplo,
lembro-me sempre do cheiro do metropolitano quando penso em Paris.
Um desejo ou uma tendência produz
uma impressão na nossa natureza animal. Por vezes esta impressão é tão poderosa
que só muito dificilmente nos livramos dela. É o caso de um vício, por exemplo.
A ideia de um cigarro pode ser muito forte; pode ser difícil tirá-la da cabeça.
Da mesma forma, pensamentos
pessoais produzem uma impressão na consciência humana pessoal. Muitas vezes
esquecemo-nos destas impressões inferiores.
As perceções e os pensamentos
impessoais, que produzem uma impressão na nossa consciência humana superior são
mais difíceis de experienciar porque não estamos frequentemente no estado de
consciência superior. Por exemplo, quando compreendemos uma determinada lei
matemática, essa perceção é impressa na nossa consciência.
As visões, a efetiva compreensão
e a inspiração produzem impressões na nossa consciência espiritual. Por
exemplo, se percebermos que matéria e consciência são em essência exatamente o
mesmo, então este conceito fica gravado na nossa consciência espiritual. Na
verdade já lá está – como se explicará mais adiante – mas a consciência humana pessoal consegue agora se sintonizar e
observá-lo.
Finalmente existe a consciência
divina que reverbera com as experiências de unidade. A maior parte das pessoas
não teve estas experiências, mas se alguma vez tiver nunca mais a esquecerá.
(1) 1. H.P.
Blavatsky, “Memory in the dying”. H.P.
Blavatsky Collected Writings. The Theosophical Publishing House, Wheaton 1990,
Vol. 11, p. 446.
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