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sábado, 1 de agosto de 2015

Três níveis de recordação: instinto, consciência e intuição (1ª parte)

O texto de que hoje se publica a primeira de cinco partes estava inicialmente reservada para outubro. Nesta altura do ano, o Lua em Escorpião costuma lançar um texto mais longo, tal como sucedeu o ano passado com "A Teosofia e as Sociedades Teosóficas" e há dois anos com "Mitos e Verdades do Conde de Saint-Germain". Infelizmente, por razões profissionais, não houve tempo para terminar a revisão final do texto (que será o mais longo desde que o blog foi criado) pelo que a sua publicação ficará adiada possivelmente para o início de outubro.

Em maio de 2014, a ISIS Foundation - ligada à Sociedade Teosófica de Point Loma - organizou um simpósio intitulado "Como a consciência muda o nosso cérebro". Os videos ainda estão disponíveis aqui.

As apresentações feitas no simpósio foram depois compiladas numa edição da excelente revista Lucifer, editada também pela ISIS Foundation (ISIS é a sigla para International Study-centre for Independent Search for truth) onde encontrei o artigo de Barend Voorham. Na verdade toda a revista merecia ser traduzida, mas é-me manifestamente impossível fazê-lo. De qualquer modo é altamente provável que muito proximamente o Lua em Escorpião publique mais textos dos teosofistas da Sociedade Teosófica Point Loma - BlavatskyHouse, uma das organizações mais ativas do movimento teosófico nos dias que correm.



Avancemos então para o texto:

Três níveis de recordação: instinto, consciência e intuição

por Barend Voorham

Uma vez ouvi uma menina perguntar à sua mãe se ela já alguma vez havia visto um carro branco. “Sim, já vi”, respondeu a mãe. “Eu também”, disse a menina, “mas foi há tanto tempo que já não me lembro”. Talvez esteja pensando, “ que curioso, como é possível se saber uma coisa da qual não nos recordamos?”

Porém, é possível! Existem casos que não conseguimos recordar, mas dos quais sabemos certamente alguma coisa. Bouke van den Noort contou-nos sobre um homem da Flandres que falou em Flamengo pela última vez quando tinha dois anos de idade, mas que se recordava deste idioma no leito da morte. Este caso foi relatado por um médico francês do século XIX.

Ele descreve uma história ainda mais notável: uma certa mulher à beira da morte costumava ser sonâmbula quando era uma menina. Era filha de um notário. Uma vez roubou um importante documento do seu pai enquanto estava sonâmbula e escondeu-o algures no escritório. O seu pai sofreu muitas perdas devido a isto. No leito da morte, a mulher subitamente gritou: “Eu roubei-o!” e recordou-se onde havia estado o documento durante todo esse tempo. Enquanto dormia, retirou o documento e escondeu-o, mas na sua consciência quotidiana, a mulher não tinha noção alguma do que havia feito. À beira da morte, ela subitamente recordou-se. (1)

A lucidez terminal é um daqueles mistérios da memória, que não pode ser explicada pela crença generalizada de que a memória está alojada no cérebro. Pelo contrário, só é possível clarificar estes casos notáveis se olharmos para os seres humanos como consciências compostas. Tentaremos elucidar.


  

Transmitindo e recebendo sinais que se imprimem na nossa consciência

A nossa consciência transmite sinais dos diferentes aspetos, ou “níveis” ou “camadas”, da sua natureza composta. Também recebe sinais. Está em sintonia com todos os tipos de seres conscientes e leva todos os outros seres conscientes a vibrar.

O que, por exemplo, observamos com os nossos sentidos – como imagens ou sons – provoca uma impressão no nosso corpo físico. Estes sinais são reencaminhados para os outros níveis da nossa consciência, mas primeiro afetam o corpo físico. Até a comida que comemos tem um efeito. Podemos nos recordar de todas estas impressões. Por exemplo, lembro-me sempre do cheiro do metropolitano quando penso em Paris.

Um desejo ou uma tendência produz uma impressão na nossa natureza animal. Por vezes esta impressão é tão poderosa que só muito dificilmente nos livramos dela. É o caso de um vício, por exemplo. A ideia de um cigarro pode ser muito forte; pode ser difícil tirá-la da cabeça.
Da mesma forma, pensamentos pessoais produzem uma impressão na consciência humana pessoal. Muitas vezes esquecemo-nos destas impressões inferiores.

As perceções e os pensamentos impessoais, que produzem uma impressão na nossa consciência humana superior são mais difíceis de experienciar porque não estamos frequentemente no estado de consciência superior. Por exemplo, quando compreendemos uma determinada lei matemática, essa perceção é impressa na nossa consciência.

As visões, a efetiva compreensão e a inspiração produzem impressões na nossa consciência espiritual. Por exemplo, se percebermos que matéria e consciência são em essência exatamente o mesmo, então este conceito fica gravado na nossa consciência espiritual. Na verdade já lá está – como se explicará mais adiante – mas a consciência humana pessoal consegue agora se sintonizar e observá-lo.


Finalmente existe a consciência divina que reverbera com as experiências de unidade. A maior parte das pessoas não teve estas experiências, mas se alguma vez tiver nunca mais a esquecerá.

(1) 1.  H.P. Blavatsky, “Memory in the dying”. H.P. Blavatsky Collected Writings. The Theosophical Publishing House, Wheaton 1990, Vol. 11, p. 446.

Continua na próxima semana.

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