Continuamos a tradução do artigo de Barend Voorham "Três níveis de recordação: instinto, consciência e intuição" retirado do nº3 da revista Lucifer de 2014. Recomenda-se a leitura da introdução publicada na parte 1.
Âkâśa
O espaço onde todas essas camadas
de consciência permaneciam e residiam não está vazio, mas cheio daquilo que em
Sânscrito se chama Âkâśa: substância viva universal. O Âkâśa é esse espaço.
Portanto, Âkâśa estende-se dos
domínios muito divinos e espirituais aos domínios físicos. Quando Âkâśa está
próximo dos reinos mais densos também é chamado de plano astral ou de Luz
Astral. Esta Luz Astral é um domínio que é de estrutura mais etérica que o
nosso mundo físico, e é por isso que não é percetível aos nossos sentidos.
A Luz Astral regista
infalivelmente o que acontece na Terra. Neste contexto o termo “galeria de
imagens” é por vezes usado. Todos os pensamentos, emoções e desejos são
gravados aqui.
Barend Voorham |
O Domínio Astral não está
separado de nós. Somos parte dele. Na nossa natureza emocional e animal somos
parte do astral. Nadamos, por assim dizer, através deste domínio, pois somos
parte dele como um peixe é parte do mar. Constantemente produzimos novas
impressões nele. Frequentemente percecionamos velhas impressões. Quando isto
acontece dizemos que nos lembramos.
Mas estas impressões não têm de
ser feitas por nós. Podem ser feitas originalmente por outros seres, ou por nós
em vidas anteriores. Certamente temos, embora vaga, uma conexão a elas, porque
de outro modo nós não as percecionaríamos.
Âkâśa superior e âkâśa inferior
De modo similar somos uma parte
integral do Âkâśa nos nossos aspetos superiores de consciência. Não notamos
isto habitualmente, porque ainda não aprendemos como nos focar neste estado de
consciência. Como já ouviram o Ruud Melieste dizer, o estado superior de
consciência é como um sono sem sonhos para nós. Temos ainda pouca afinidade com
ele.
Como podemos apenas percecionar
com a nossa própria consciência, é o nosso caráter – aquilo que somos – que
determina se nós percecionamos as regiões inferiores no domínio astral ou o
mais elevado do Âkâśa. É por isso que um ser apenas pode percecionar impressões
que se encaixem na sua própria consciência desenvolvida. Um animal não se pode lembrar
de pensamentos humanos, porque não pode ainda pensar e consequentemente não
teve experiências com eles. Da mesma forma, um ser humano não pode se lembrar
de assuntos divinos, isto é: ainda não.
Primeiro ele deve aprender como fazê-lo.
Ovo Áurico
Todas as partes da nossa
consciência estão envolvidas num veículo correspondente. A consciência física
envolve-se num corpo de matéria física, que é de facto a forma inferior do
astral. A consciência animal e pessoal molda-se ao veículo astral
correspondente, enquanto as formas superiores da nossa consciência revestem-se
nas camadas mais etéreas do Âkâśa. Todos estes diferentes veículos formam no
seu conjunto um agregado, algo a que chamamos de Ovo Áurico. Este Ovo Áurico é
onde estão contidas todas estas diferentes formas de consciência. Porque é que
às vezes precisamos de muito esforço para nos lembrarmos de determinada coisa,
enquanto outras vezes isso é feito sem esforço? Se a impressão é feita mais
próxima do nosso próprio Ovo Áurico, podemos alcançá-la mais facilmente e
recordaremos a impressão na nossa consciência mais rapidamente. Mas, algumas
impressões são apenas sinais vagos que captamos de outros seres. Estas
impressões dificilmente são feitas dentro de nós. São muito difíceis de lembrar.
Devemos olhar para isto desta
maneira: todas as experiências sobre as quais refletimos, que se encaixam no
nosso conhecimento e experiências, e sobre as quais pensamos regularmente,
tornam-se parte do nosso Ovo Áurico, a nossa própria natureza. Todas as outras
experiências, já não. Deixarão contudo, também uma marca, mas será necessário
muito mais esforço da nossa parte para seguir a marca e rastrear a origem.
Recordando em muitos níveis
De facto, a vida é uma recordação
constante: recuperar impressões para o nosso campo de perceção. Aprender é recordar.
Crescer é recordar. A nossa consciência pessoal aprende quando ativa as
perspetivas e o conhecimento que flui das formas mais elevadas de consciência.
Ativamo-las e desenvolvemo-las –
desdobramo-las – o que significa: lembramo-nos
delas. O crescimento vem de dentro. Mesmo fisicamente, uma planta ou uma flor
cresce de dentro para fora. Um corpo humano cresce da mesma maneira. Isto
aplica-se também à consciência. Todas as capacidades e faculdades estão no
interior, mas têm de fluir para o exterior.
Instinto
Como foi referido, experienciamos
impressões em todas as camadas da nossa consciência composta, sejam elas feitas
por nós próprios ou por outros seres. À memória da nossa natureza veicular, à
consciência física e animal chamamos de instinto.
Os biólogos descrevem o instinto
como um padrão de comportamento gravado, que ocorre sem que este comportamento
tenha sido aprendido ou experienciado antes. É suposto ter sido herdado
geneticamente. O instinto é encontrado tanto em seres humanos como em animais. Pense-se,
por exemplo, nos movimentos reflexos.
Também dizemos que o instinto é
herdado, contudo, não dos nossos antepassados mas de nós próprios. As
experiências ganhas neste nível animal em vidas passadas não se perdem quando
morremos. Contudo, não levamos estas experiências para o Devachan connosco,
porque como Bouke van den Noort vos disse, naquele estado de consciência apenas
revivemos e processamos as nossas experiências espirituais. Quando a consciência se manifesta novamente e começa a
construir um corpo físico, todos os agregados de qualidades ganhos no passado
tornar-se-ão ativos novamente.
Isso pode explicar as capacidades
miraculosas dos animais. Um belo exemplo é a borboleta monarca. Durante várias
gerações essas borboletas migram do México para o Canadá. As borboletas que
emergem no Canadá voltam de volta para o local do México onde os seus bisavôs
tinham nascido. Onde obtiveram o conhecimento para fazer essa enorme viagem? Para
aquele local específico? Da sua consciência, onde as experiências de
encarnações anteriores são preservadas.
A completa consciência física e
instintiva do ser humano é de facto a memória das experiências ganhas e
anteriormente processadas. Estas variam das atividades físicas específicas,
como o batimento cardíaco e a respiração, às reações instintivas e aos
estímulos sensoriais. Para nós, pensadores, estes são processos que acontecem
automaticamente. Mas, somos incapazes de influenciá-los com os nossos pensamentos.
Podemos, quando pensamos de modo
desarmonioso, até perturbar esses processos. Também podemos pôr essa nossa
consciência animal em uso. Podemos treiná-la. Podemos disciplinar a nossa
consciência instintiva de um modo tal, que nos seja possível, por exemplo,
digitar com dez dedos. Podemos concentrar-nos totalmente nos pensamentos e
palavras que queremos usar, enquanto nos nossos dedos encontram automaticamente
as teclas certas no teclado.
Continua na próxima semana.
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