Foi já no passado ano que recebi um conjunto de e-mails de
Daniel Caldwell com uma série de considerações sobre algumas imagens alegóricas
ligadas à Cosmogénese e a que “A Doutrina Secreta” de Helena Blavatsky alude.
Na altura disse que ia tentar traduzir o material que foi partilhado e tentar
organizá-lo da melhor maneira. Infelizmente, por falta de tempo não foi possível
fazê-lo mais cedo.
Já antes, o Lua em Escorpião falou de Daniel Caldwell e
traduziu textos dele [ver aqui
e aqui,
por exemplo]. Teosofista norte-americano, sedeado em Tucson, no Arizona,
Caldwell é mais conhecido no mundo de língua portuguesa pelo livro editado no
Brasil pela Madras, intitulado “O Mundo Esotérico de Madame Blavatsky”. No meio
de língua inglesa, Caldwell é figura relevante, pois é editor do portal de internet com
mais recursos sobre Blavatsky e Teosofia, o Blavatsky
Study Center. Lançou em 2012 o livro “Mrs. Holloway and the
Mahatmas” e tem um artigo seu “O Mito do Volume desaparecido de A Doutrina
Secreta” no chamado Manuscrito de Wurzburg recentemente editado pelo casal
Reigle, o qual pode ser acedido aqui.
De referir que este artigo de Caldwell está presentemente a
ser traduzido por mim e deverá integrar um artigo maior a publicar numa longa
série no próximo verão.
Avancemos então para as considerações de Caldwell –
expressas no seu estilo particular - sobre um tema muitas vezes difícil de
apreender e que desafia as capacidades de compreensão humana. Grande parte do artigo são citações de HPB, retiradas de "A Doutrina Secreta". Salvo um ou outro caso, as imagens foram também fornecidas por Caldwell.
Repare-se na seguinte ilustração de Vishnu repousado sobre Ananta [a serpente].
Esta imagem é uma representação do que a Doutrina Secreta
ensina sobre a cosmogénese, mormente do que está contido nas estâncias de
Dzyan.
O oceano ou águas cósmicas sobre as quais Ananta e Vishnu
estão repousados ou flutuam representam O ABSOLUTO. O oceano cósmico representa
o ESPAÇO, as águas do Espaço, dito de outra forma, a fonte da vida, a MATRIZ ou
o VENTRE no qual o universo manifestado surge…
As águas cósmicas representam as TREVAS conforme definidas
em “A Doutrina Secreta”...o plano sem limites….ESPAÇO…o absoluto.
A serpente Ananta representa de certa forma o círculo na simbologia oculta…a serpente mordendo a sua cauda…
Pense na serpente flutuando no oceano cósmico…o círculo flutuando no grande oceano das TREVAS, no absoluto.
A serpente pode representar um aspeto do Oceano começando a se manifestar… a se solidificar…a se materializar.
Pense na serpente flutuando no oceano cósmico…o círculo flutuando no grande oceano das TREVAS, no absoluto.
A serpente pode representar um aspeto do Oceano começando a se manifestar… a se solidificar…a se materializar.
Escreve HPB:
“Shesha ou Ananta, o Infinito, um nome de Vishnu e o seu
primeiro Vâhana, ou veículo, sobre as Águas Primordiais.
(…)
Shesha ou Ananta, o “Leito de Vishnu” é uma abstração
alegórica, simbolizando o Tempo infinito no Espaço, que contém o Germe e dele
lança periodicamente a eflorescência (o Universo manifestado).” (“A Doutrina
Secreta, vol.I, p.131)
“Que é Ananta? Tal como Shesha, é o Ciclo Manvantárico de
Tempo, de duração quase infinita; e ao próprio Tempo Infinito se dá o nome de
Ananta, a grande Serpente de Sete Cabeças, sobre a qual repousa Vishnu, a
Eterna Divindade, durante a inatividade do Pralaya.” (op.cit. vol.III, p.113)
“Ananta, a Serpente da Eternidade… conduz Vishnu durante todo o Manvantara” (op.cit., vol.II p.115)
Então a forma de Vishnu é o próximo estádio neste processo e como diz HPB pode representar o primeiro Logos…tudo isto estando ainda não manifestado.
A palavra Vishnu significa permear…conotada com o princípio universal…o absoluto que tudo permeia.
Não devemos ter uma abordagem muito literal com estes símbolos mas tentar perceber os seus sentidos mais subtis…ligações…um símbolo funde-se no seguinte…a substância cósmica, a energia, a vida, flui ao longo destes estádios, destes símbolos…um símbolo ou estádio funde-se no seguinte…
Na verdade, Vishnu e Ananta são de uma certa forma as águas cósmicas ou dito de outra forma…eles emergem da água como emanações, ou projeções ou reflexões…
Então a partir do umbigo de Vishnu cresce ou brota uma flor de lótus.
O umbigo de Vishnu representa o ponto no círculo…
Do umbigo de Vishnu surge…o lótus…Brahma…o universo manifestado.
O caule cresce e depois expande-se abrindo-se o lótus para revelar Brahma, o criador…o universo manifestado.
Usando a terminologia da Biologia, uma semente é plantada no solo…ou no meio ambiente…o solo e todo o ambiente EXTERIORES à semente representa a matriz universal ou ventre no qual a semente é alimentada e apoiada…então a semente tem este impulso interior…de se expandir…de se manifestar…
A semente germina e a partir dela surgem brotos, caules, raízes, desabrochando a sua natureza interior…vemos esta dinâmica através do reino da BIO…ou seja do reino de todas as coisas vivas…
Em todas as criaturas existe esta dinâmica interior para se movimentar, expandir, crescer.
O mesmo ciclo pode ser visto no ciclo de crescimento de uma árvore.
A bolota do carvalho expande-se, tornando-se num carvalho adulto.
A semente é “o ponto”…a mónada…o Logos.
Novamente HPB na “sua” Doutrina Secreta:
“O lótus, que encerra Brahma, o Universo, é representado saindo do umbigo de Vishnu, Ponto Central das Águas do Espaço Infinito” (op.cit., vol.IV, p.39)
“Vishnu (…) é representado com um lótus saindo do seu umbigo
– ou o Universo de Brahmâ nascendo do ponto central” (op.cit., vol. III, p.47)
“Caos, Theos e Kosmos
são apenas os três símbolos da sua síntese: o Espaço…
Caos, Theos e Kosmos estão identificados por toda a
Eternidade como o Espaço Uno Desconhecido…
“Brahmâ é Theos, que se desenvolve do Caos ou Grande “Mar”,
as Águas, sobre as quais o Espírito ou o Espaço, que se personifica por ayanas
(períodos) – o Espírito movendo-se sobre a face do Cosmos futuro e ilimitado –
plana silenciosamente na primeira hora do redespertar. É ainda Vishnu, que
repousa sobre Ananta-Shesha, a grande Serpente da Eternidade...
É o primeiro Triângulo ou Tríade pitagórica, o “Deus dos
três aspetos”, antes de se converter, por meio da quadratura perfeita do
Círculo Infinito, no Brahmâ de “quatro faces”. (op.cit., Vol.II,
p.51)
“Nos Purânas hindus, Vishnu, o Primeiro Logos, e Brahmâ, o
Segundo, ou o Criador Ideal e o Criador Prático, são os que se acham
representados: um manifestando o Lótus, o outro dele surgindo. “(op.cit.,
Vol.II, p.88)
Nas “Cartas dos Mahatmas para A.P. Sinnett” diz o Mestre M:
a serpente de sete cabeças Ananta de Vishnu, o Nag que rodeia o Buda---o grande
dragão da eternidade morde com a sua cabeça ativa a sua cauda passiva, de cujas
emanações nascem os mundos, seres e coisas….TUDO é Maya, com a exceção daquele
princípio uno que só descansa durante os maha-pralayas, “as noites de Brahm”…o
Nag desperta. Ele exala o seu hálito poderoso, que é enviado como um choque
elétrico através de todo o fio que rodeia o Espaço.
(Carta 13, vol I, p.200).
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Continua na próxima semana.
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