Continuamos esta semana com a tradução do excelente artigo do professor James A. Santucci, "A Teosofia e as Sociedades Teosóficas", iniciada na passada semana.
Durante a década de 80 do século XIX, quatro acontecimentos significativos ocorreram na história da Sociedade Teosófica: (1) o caso Coulomb (1884); (2) a formação da Secção Esotérica da Sociedade Teosófica a 9 de outubro de 1888, sob a direção de Madame Blavatsky; (3) a publicação em 1888, de A Doutrina Secreta – o trabalho seminal do Movimento Teosófico – e (4) o ingresso na Sociedade Teosófica em maio de 1889, de Annie Besant (1847-1933), a segunda presidente da Sociedade de Adyar e certamente a teosofista de Adyar mais proeminente do século XX.
William Quan Judge e Henry Steel Olcott |
(1) No que respeita
ao Caso Coulomb, Emma Coulomb, uma governanta da sede de Adyar, acusou
Blavatsky de ter produzido fenómenos psíquicos fraudulentos e de ter escrito
cartas em nome dos seus Mestres ou Mahatmas. Ela foi investigada por Richard
Hodgson em nome da Sociedade de Investigação Psíquica (S.I.P.), cujo relatório
de 1885 (que foi o segundo relatório publicado pela S.I.P. sobre Blavatsky,
sendo que o relatório preliminar de 1884 era mais neutral) acusou-a de ter
cometido esses delitos, pondo assim em causa a alegação de que os Mestres ou
Adeptos realmente existiam.
Embora o
relatório Hodgson tenha sido aceite pela S.I.P. na sua reunião geral realizada
a 26 de junho de 1885, nunca foi a opinião oficial e institucional daquela
organização. Hodgson escreveu a maior parte do relatório, mas o mesmo foi o
produto de um comité que consistia não só de Hodgson mas também de E. Gurney,
F.W.H. Myers, F. Podmore, H. Sidgwick, J. H. Stack e da Sra. H. Sidgwick. Pelo
facto de o Relatório Hodgson nunca ter sido oficialmente aceite, a S.I.P. não
poderia remover um relatório que nunca foi publicado. O que fez, ao invés, foi
publicar uma declaração para “compensar por qualquer ofensa que [a S.I.P.]
possa ter feito”, como declarado na nota editorial do artigo de Vernon Harrison
“J’Accuse” (Journal of the Society for Psychical Research 53.803 (abril 1986):
286. O artigo começa com uma afirmação forte: “O Relatório do Comité designado para investigar fenómenos relacionados
com a Sociedade Teosófica (chamado habitualmente de Relatório Hodgson) é o
mais conhecido e controverso de todos os relatórios publicados pela Sociedade
de Investigação Psíquica. Faz julgamento à Madame H.P. Blavatsky …; e a frase
final em Declaração e Conclusões do
Comité tem sido citada em livro atrás de livro, enciclopédia atrás de
enciclopédia, sem qualquer indicação de que possa estar errada. Reza assim: “Da
nossa parte não a consideramos como a representante de videntes ocultos, nem
como uma vulgar aventureira. Julgamos que ela deverá ser para sempre recordada
como uma das mais habilidosas, engenhosas e interessantes impostoras da
história”. Harrison prossegue demonstrando que o “caso contra Madame Blavatsky
no Relatório Hodgson NÃO ESTÁ PROVADO“. O dano contudo, estava feito. Enferma à
data, Madame Blavatsky partiu de Adyar.
(2) Blavatsky acabou por se instalar em Londres, onde estabeleceu
– por sugestão de W. Q. Judge – a Secção Esotérica (ou S.E.) sob a sua direção
como Líder Externo (os Líderes Internos eram os Mahatmas), conforme declarado
num documento anónimo (mas provavelmente escrito por Annie Besant) “A Escola
Oriental da Teosofia: Esboço Histórico” reimpresso no Theosophical History 6.1 (janeiro 1996):11, publicado originalmente
na revista de Madame Blavatsky Lucifer
3.14 (15 de outubro de 1888). A S.E. era uma organização destinada a “promover
os interesses esotéricos da Sociedade Teosófica através do estudo mais profundo
da filosofia esotérica” (vide “A Secção Esotérica da Sociedade Teosófica”, 9 de
outubro de 1888). Embora não tenha nenhuma ligação institucional com a S.T., a
S.E. está apenas aberta a membros da S.T.; além do mais, todos os ensinamentos
e atividades são conduzidas de forma privada.
A Doutrina Secreta, de Helena Petrovna Blavatsky |
(3) O
trabalho principal de H.P. Blavatsky, A
Doutrina Secreta (1888), estabelece três proposições que servem como base
da Teosofia para a maior parte dos teosofistas: (1) a existência de um
princípio ou realidade absoluta e infinita, (2) a natureza cíclica ou
periodicidade do universo e de tudo o que nele está contido, e (3) a identidade
fundamental da alma individual com a alma-superior universal e a peregrinação de
todas as almas através do ciclo de encarnações de acordo com a lei cármica. A
Teosofia, neste sentido, é uma perspetiva da realidade última não-dualista ou
monista, que se manifesta ou emana numa complementaridade dinâmica e progressão
evolucionária.
(4) O papel ativista de Olcott foi seguido pela segunda
presidente da S.T., Annie Besant, que se envolveu em numerosas atividades dentro
e fora da Sociedade, incluindo atividades tão diversas como investigações de
ocultismo, educação, política, reforma social e a introdução do ritualismo
dentro da Sociedade. Dentro das suas várias contribuições, Besant foi fundamental
na fundação do Colégio Central Hindu em Benares em 1898, tornando-se ativa na
política Indiana, servindo como Presidente do Congresso Nacional Indiano,
formando a Liga do Autogoverno e mais tarde desenhando a Lei do Autogoverno
(1925). Dentro da Sociedade Teosófica, ela fundou a Ordem Teosófica de Serviço
em 1908, com a intenção de cumprir o primeiro objetivo da Sociedade - formar um
núcleo de fraternidade universal da humanidade – levando a cabo trabalhos de
compaixão e de alívio do sofrimento, incluindo atividades como doação de bens,
remédios, roupas, etc… aos necessitados e a abolição da crueldade sobre os
animais.
Annie Besant |
Continua na próxima semana.