Há poucos meses atrás, alguns associados do núcleo
luso-brasileiro da Loja Unida de Teosofistas (LUT) criaram alguma controvérsia
ao acusarem Mead de ter usado inapropriadamente o nome de Blavatsky como autora
do Glossário Teosófico. A resposta a essas acusações – a informação de maior
utilidade para o leitor – será apresentada na 2ª parte deste artigo. Nesta 1ª
parte inclui-se uma pequena biografia de Mead, a opinião de um respeitado
teosofista já falecido sobre o Glossário e as críticas ao mesmo por parte de
Carlos Aveline.
Quem foi GRS Mead?
George Robert Stowe
Mead nasceu em 1863 em Nuneaton, Inglaterra. Licenciou-se com distinção em
Literatura Clássica na Universidade de Cambridge. Tomou contacto com a Teosofia
através do livro de Alfred Percy Sinnett, “Budismo Esotérico” e filiou-se na
Sociedade Teosófica (ST) em 1884. Encontrou-se pela primeira vez com Helena
Blavatsky em 1887. Dois anos depois abandonaria o cargo que detinha numa escola
pública para se tornar Secretário pessoal da “Velha Senhora”, a quem já tinha
ajudado na edição de “A Doutrina Secreta”. Desempenhou cargos na ST –
Secretário-Geral da Secção Europeia (1890) e também da Secção Britânica
(1891-8). Recebeu a medalha Subba Row (atribuído a quem se destaca como autor
de literatura teosófica) em 1898. Em 1899 Mead casou com Laura Cooper, que também
tinha sido próxima de Blavatsky, tal como o marido.
Mead com Blavatsky |
A relação entre Mead e Blavatsky é descrita na edição de
janeiro de 1910 do Theosophist: “Desde
aquela altura [1889] até à morte dela
ele foi o seu secretário particular, e ajudou-a de todas as maneiras em que um
jovem brilhante podia ajudar um génio heroico e turbulento.” Um erudito até ao
tutano, estudante inato, dotado com uma diligência infatigável e com uma
capacidade para um devoção profunda embora não demonstrada, ele serviu-a
admiravelmente e de modo bastante útil durante cinco anos tumultuosos e de
stress. “Mead! Mead!” ouvia-se por toda a casa num tom aceso, quando algum erro
de impressão havia despertado a ira do Leoa da Teosofia. “Sim, Velha Senhora!”,
chegava a resposta num tom calmo e Mead entrava lentamente com um cigarro na
boca, papéis nas mãos, de semblante afável e iria explicar, acalmar ou zombar,
de acordo com as circunstâncias e disposição.”
GRS Mead |
Depois da morte de Blavatsky, Mead entrou em desacordo com
Annie Besant e Charles W. Leadbeater e demitiu-se da ST depois deste último ter
sido readmitido em 1908. Recorde-se que Leadbeater foi alvo em 1906 de um
processo interno devido a denúncias feitas pela mãe de um dos jovens que
Leadbeater instruía, nomeadamente devido à recomendação por parte deste de
práticas masturbatórias como forma de libertar energias que atrapalhavam a
concentração e a aprendizagem dos ensinamentos teosóficos.
Juntamente com a sua esposa, Mead começou uma nova Sociedade
denominada “Quest” bem como uma revista com o mesmo nome, mas ambas as iniciativas
foram descontinuadas após a sua morte em 1933. Tirando a descrição do episódio
de Leadbeater, tudo o resto é retirado do verbete
destinado a Mead na Enciclopédia Teosófica.
A investigação que Mead fez do Gnosticismo e do Esoterismo
Ocidental resultou de uma sugestão de Blavatsky, que aconselhou Mead a se
especializar nesta área. O trabalho de Mead teve profunda influência em Ezra Pound, W.B. Yeats, Hermann Hesse, Kenneth Rexroth, Robert Duncan e possivelmente em Carl Jung.
As considerações de
Mead no prefácio do Glossário
No próprio prefácio do Glossário Teosófico (editado em
língua portuguesa pela Editora Ground do Brasil), Mead admite que grande parte
do volume é póstumo, ou seja a edição final foi feita pelo próprio Mead já
depois de Blavatsky ter falecido. A autora, HPB, “pode ver apenas as
primeiras trinta e duas páginas das provas tipográficas”. Não há dúvidas que a
“obra teria alcançado dimensões muito superiores” caso HPB não tivesse falecido
tão cedo.
O objetivo do Glossário era o de “proporcionar algumas
informações sobre os principais termos sânscritos, pahlavis, tibetanos, pális,
caldeus, persas, escandinavos, hebraicos, gregos, latinos, cabalísticos e
gnósticos e também sobre os termos do Ocultismo geralmente utilizados na
literatura teosófica”. Para o efeito, Blavatsky tinha usado várias obras
disponíveis na altura, tendo também pedido ajuda a alguns especialistas, como
por exemplo a W. Wynn Wescott, membro da Ordem Hermética da Aurora Dourada, que
contribuiu com muitos dos verbetes ligados às doutrinas rosacruzes e
herméticas.
Uma opinião favorável
sobre o Glossário
Dallas TenBroeck, membro da LUT já falecido, tinha bastante
apreço pelo Glossário, como mostra aqui e aqui.
Escreveu ele há mais de quinze anos atrás a um outro
estudante:” Por favor não valorize a ideia de que o Glossário Teosófico de HPB seja
inútil, devido à sua imprecisão. Longe disso. É uma ferramenta valiosa e nos
casos em que HPB acrescentou definições que atribuiu à “Filosofia Esotérica ou
Ocultismo” encontramos afirmações que não foram feitas em mais lado nenhum na
Filosofia e são consistentes com a mesma.
Tenho-o usado e verificado quase todas as entradas com
algumas das afirmações ou explicações feitas por HPB nos seus livros ou
artigos.
HPB |
Sim, existem alguns erros, mas nenhum é muito grave e poderão
ter sido o resultado da [não] leitura das provas tipográficas.(…)
Por favor, não adotem as opiniões dos outros sem ter feito vocês
mesmos uma investigação minuciosa. O estimado De Zirkoff [compilador de grande
parte dos Blavatsky Collected Writings, um dos teosofistas mais importantes do
séc.XX] não dedicou o tempo adequado ao Glossário Teosófico – se ele ainda estivesse
vivo debateríamos vivamente esse assunto.”
As críticas de
Aveline ao Glossário
O teosofista brasileiro considera que o livro não deveria
ter a indicação de HPB como sua autora, observação que repete mais do que uma
vez neste
texto. O próprio Michael Gomes é alvo de críticas devido à edição de uma versão
(muito) resumida de “A Doutrina Secreta” pelo mesmo motivo. Contudo na capa da
edição em inglês, consta claramente que o responsável pela adaptação e
anotações é o próprio Gomes.
Para justificar a sua
posição sobre o Glossário, Aveline pega em palavras de Olcott que
criticou os muitos erros em Sânscrito que o Glossário tinha e num texto de
Boris de Zirkoff eminente teosofista do séc. XX, que contou nos separadores de
A a D, 40 erros de tradução em 300 possíveis.
Sem comentários:
Enviar um comentário