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sábado, 7 de junho de 2014

A controvérsia em torno do Glossário Teosófico (1ª parte)

Há poucos meses atrás, alguns associados do núcleo luso-brasileiro da Loja Unida de Teosofistas (LUT) criaram alguma controvérsia ao acusarem Mead de ter usado inapropriadamente o nome de Blavatsky como autora do Glossário Teosófico. A resposta a essas acusações – a informação de maior utilidade para o leitor – será apresentada na 2ª parte deste artigo. Nesta 1ª parte inclui-se uma pequena biografia de Mead, a opinião de um respeitado teosofista já falecido sobre o Glossário e as críticas ao mesmo por parte de Carlos Aveline.

Quem foi GRS Mead?

George Robert Stowe Mead nasceu em 1863 em Nuneaton, Inglaterra. Licenciou-se com distinção em Literatura Clássica na Universidade de Cambridge. Tomou contacto com a Teosofia através do livro de Alfred Percy Sinnett, “Budismo Esotérico” e filiou-se na Sociedade Teosófica (ST) em 1884. Encontrou-se pela primeira vez com Helena Blavatsky em 1887. Dois anos depois abandonaria o cargo que detinha numa escola pública para se tornar Secretário pessoal da “Velha Senhora”, a quem já tinha ajudado na edição de “A Doutrina Secreta”. Desempenhou cargos na ST – Secretário-Geral da Secção Europeia (1890) e também da Secção Britânica (1891-8). Recebeu a medalha Subba Row (atribuído a quem se destaca como autor de literatura teosófica) em 1898. Em 1899 Mead casou com Laura Cooper, que também tinha sido próxima de Blavatsky, tal como o marido.


Mead com Blavatsky


A relação entre Mead e Blavatsky é descrita na edição de janeiro de 1910 do Theosophist: “Desde aquela altura [1889] até à morte dela ele foi o seu secretário particular, e ajudou-a de todas as maneiras em que um jovem brilhante podia ajudar um génio heroico e turbulento.” Um erudito até ao tutano, estudante inato, dotado com uma diligência infatigável e com uma capacidade para um devoção profunda embora não demonstrada, ele serviu-a admiravelmente e de modo bastante útil durante cinco anos tumultuosos e de stress. “Mead! Mead!” ouvia-se por toda a casa num tom aceso, quando algum erro de impressão havia despertado a ira do Leoa da Teosofia. “Sim, Velha Senhora!”, chegava a resposta num tom calmo e Mead entrava lentamente com um cigarro na boca, papéis nas mãos, de semblante afável e iria explicar, acalmar ou zombar, de acordo com as circunstâncias e disposição.”


GRS Mead

Depois da morte de Blavatsky, Mead entrou em desacordo com Annie Besant e Charles W. Leadbeater e demitiu-se da ST depois deste último ter sido readmitido em 1908. Recorde-se que Leadbeater foi alvo em 1906 de um processo interno devido a denúncias feitas pela mãe de um dos jovens que Leadbeater instruía, nomeadamente devido à recomendação por parte deste de práticas masturbatórias como forma de libertar energias que atrapalhavam a concentração e a aprendizagem dos ensinamentos teosóficos.

Juntamente com a sua esposa, Mead começou uma nova Sociedade denominada “Quest” bem como uma revista com o mesmo nome, mas ambas as iniciativas foram descontinuadas após a sua morte em 1933. Tirando a descrição do episódio de Leadbeater, tudo o resto é retirado do verbete destinado a Mead na Enciclopédia Teosófica.


A investigação que Mead fez do Gnosticismo e do Esoterismo Ocidental resultou de uma sugestão de Blavatsky, que aconselhou Mead a se especializar nesta área. O trabalho de Mead teve profunda influência em Ezra Pound, W.B. Yeats, Hermann Hesse, Kenneth Rexroth, Robert Duncan e possivelmente em Carl Jung.

As considerações de Mead no prefácio do Glossário

No próprio prefácio do Glossário Teosófico (editado em língua portuguesa pela Editora Ground do Brasil), Mead admite que grande parte do volume é póstumo, ou seja a edição final foi feita pelo próprio Mead já depois de Blavatsky ter falecido. A autora, HPB, “pode ver apenas as primeiras trinta e duas páginas das provas tipográficas”. Não há dúvidas que a “obra teria alcançado dimensões muito superiores” caso HPB não tivesse falecido tão cedo.




O objetivo do Glossário era o de “proporcionar algumas informações sobre os principais termos sânscritos, pahlavis, tibetanos, pális, caldeus, persas, escandinavos, hebraicos, gregos, latinos, cabalísticos e gnósticos e também sobre os termos do Ocultismo geralmente utilizados na literatura teosófica”. Para o efeito, Blavatsky tinha usado várias obras disponíveis na altura, tendo também pedido ajuda a alguns especialistas, como por exemplo a W. Wynn Wescott, membro da Ordem Hermética da Aurora Dourada, que contribuiu com muitos dos verbetes ligados às doutrinas rosacruzes e herméticas.

Uma opinião favorável sobre o Glossário

Dallas TenBroeck, membro da LUT já falecido, tinha bastante apreço pelo Glossário, como mostra aqui e aqui.

Escreveu ele há mais de quinze anos atrás a um outro estudante:” Por favor não valorize a ideia de que o Glossário Teosófico de HPB seja inútil, devido à sua imprecisão. Longe disso. É uma ferramenta valiosa e nos casos em que HPB acrescentou definições que atribuiu à “Filosofia Esotérica ou Ocultismo” encontramos afirmações que não foram feitas em mais lado nenhum na Filosofia e são consistentes com a mesma.

Tenho-o usado e verificado quase todas as entradas com algumas das afirmações ou explicações feitas por HPB nos seus livros ou artigos.


HPB


Sim, existem alguns erros, mas nenhum é muito grave e poderão ter sido o resultado da [não] leitura das provas tipográficas.(…)

Por favor, não adotem as opiniões dos outros sem ter feito vocês mesmos uma investigação minuciosa. O estimado De Zirkoff [compilador de grande parte dos Blavatsky Collected Writings, um dos teosofistas mais importantes do séc.XX] não dedicou o tempo adequado ao Glossário Teosófico – se ele ainda estivesse vivo debateríamos vivamente esse assunto.”

As críticas de Aveline ao Glossário

O teosofista brasileiro considera que o livro não deveria ter a indicação de HPB como sua autora, observação que repete mais do que uma vez neste texto. O próprio Michael Gomes é alvo de críticas devido à edição de uma versão (muito) resumida de “A Doutrina Secreta” pelo mesmo motivo. Contudo na capa da edição em inglês, consta claramente que o responsável pela adaptação e anotações é o próprio Gomes.



 Para justificar a sua posição sobre o Glossário, Aveline pega em palavras de Olcott que criticou os muitos erros em Sânscrito que o Glossário tinha e num texto de Boris de Zirkoff eminente teosofista do séc. XX, que contou nos separadores de A a D, 40 erros de tradução em 300 possíveis.

Continua na próxima semana, com a resposta a esta visão sobre a validade do Glossário.

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