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sábado, 21 de junho de 2014

A arte e o transcendente VI

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Está em mim... não sei o que é... mas sei que está em mim.

Desfigurado e suado... calmo e fresco torna-se o meu corpo,
Durmo... durmo longamente.

Não o conheço... não tem nome... é uma palavra não proferida,
Não vem em nenhum dicionário, expressão, símbolo.

Algo gira sobre algo maior do que a Terra sobre a qual giro,
Aí a criação é o amigo cujo abraço me desperta.
Talvez possa dizer algo mais. Noções! Imploro pelos meus irmãos e irmãs.

Vedes, ó irmãos e irmãs?
Não é o caos nem a morte... é forma, união, plano... é a vida eterna... é a Felicidade.


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Já disse que a alma não é mais do que o corpo,
E disse que o corpo não é mais do que a alma,
E nada, nem Deus, é maior para uma pessoa do que ela própria,
E quem caminha duzentos metros sem amar caminha amortalhado para o seu próprio funeral,
E eu ou tu que não possuímos um centavo podemos comprar o melhor que a Terra contém,
E olhar com um só olho ou mostrar um feijão na sua vagem desconcerta a aprendizagem de todos os tempos,
E não há ofício nem emprego em que um jovem não se possa converter em herói,
E não há delicado objecto que não possa servir de eixo às rodas do universo,

E digo a todos os homens e mulheres: que a tua alma permaneça tranquila e serena ante um milhão de universos.
E digo à humanidade: não sintas curiosidade por Deus,
Porque eu que tenho curiosidade por tudo não sinto curiosidade por Deus,
(Não há palavras que possam definir a paz que sinto em relação a Deus e à morte).

Escuto e contemplo Deus em cada objecto, ainda que não O entenda minimamente,
Nem entenda que possa existir alguém mais maravilhoso do que eu próprio.

Porque é que desejaria ver Deus melhor do que este dia?
Vejo algo de Deus em cada uma das vinte e quatro horas, e vejo-o em cada momento que passa,
Vejo Deus no rosto de homens e mulheres e no meu próprio rosto ao espelho,
Encontro cartas de Deus espalhadas pela rua, todas assinadas com o seu nome,
E deixo-as onde estão pois sei que vá para onde for,
Chegarão sempre outras pontualmente.



"Canto de Mim Mesmo"
 Walt Whitman
(tradução de José Agostinho Baptista)


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