Recentemente circulou no Facebook um interessante texto do
site Shift, um site que foi criado por três
jovens com o objetivo de dinamizar a construção de um novo paradigma para a
sociedade.
O referido texto intitulava-se “Nove
maneiras de detetar um falso guru ou instrutor espiritual” e foi escrito
por Paul Lenda.
O artigo nasce da constatação de que existem alguns
espertalhões que estão a se aproveitar da necessidade que muitos que abraçaram
o caminho da espiritualidade manifestam, a de ter um guia espiritual, que lhes
indique o caminho. Embora haja cada vez mais pessoas que sentem a necessidade
de quebrar com os velhos paradigmas do sistema de crença e de controlo do
pensamento inculcado há séculos na humanidade, a verdade é que acabam não raras
vezes numa armadilha de natureza semelhante, ao encontrarem um guia espiritual
que muitas vezes impõe os antigos padrões, embora de forma dissimulada, fazendo
uso de artifícios que este artigo da Shift ajuda a identificar.
Contudo, já no passado o Lua em Escorpião abordou o caso de Osho.
Osho, antes conhecido por Rajneesh |
Este tipo de “espertalhões” sempre existiu ao longo da
história, embora pareça ter aumentado nos últimos anos. São os cursos completos
de Reiki num fim-de-semana ou a panóplia de cursos baseados na lógica d’”O
segredo”, o famigerado livro de Rhonda Byrne, que apenas incute maior desejo
pelo materialismo, estimulando o egoísmo. Tudo em troca de umas boas dezenas ou
centenas de euros, usando-se o eufemismo de “investimento”, para iludir os
incautos.
Infelizmente, quase sempre paga o justo pelo pecador. Assim,
quem faz trabalho honesto, dedicado e altruísta é também rotulado de charlatão
e metido no mesmo cesto dos espertalhões, apenas por se dedicar ao esoterismo.
No campo da Teosofia, não existem de momento grandes perigos.
Os maiores problemas são os de algum orgulho espiritual que leva a certo culto
de personalidade em pequenos grupos e de prolongamento de alguma ilusão que
deriva de alguns ensinamentos dos proponentes da chamada neo-teosofia.
O orgulho espiritual muitas vezes reflete-se na recusa em
aceitar críticas, um dos indicadores de alerta para os falsos gurus, que
facilmente ficam ofendidos e defendem-se sem olhar a meios quando são
criticados. Nunca olham para eles próprios e normalmente dizem aos outros “para
se verem ao espelho”.
O comportamento hipócrita é outro dos problemas de
muitos gurus, que pregam uma coisa e fazem outra. Pedem tolerância e são
intolerantes; falam contra os bens materiais e fazem acumulação dos mesmos. Dar
o exemplo é fundamental.
Consequentemente, alguns gurus estão focados em realizarem
os seus desejos egocêntricos, e há portanto que observar se o seu
comportamento indicia uma preocupação exagerada com dinheiro, sexo ou poder.
Alguns gurus têm a tendência de seduzirem os elementos do sexo feminino,
nalguns casos chegando ao extremo de abuso sexual, aproveitando-se da
credulidade alheia. Outros, embora não chegando a esse ponto, já na terceira
idade envolvem-se com mulheres bastantes jovens.
O materialismo
espiritual, a que já aludimos acima quando falámos n’”O segredo” foi
mencionado por Trungpa
Rinpoché (ele próprio vítima de algumas armadilhas
espirituais) num livro famoso nos anos 70 chamado “Cutting Through Spiritual Materialism” [Além
do materialismo espiritual]. Todos os cursos, ensinamentos, livros e workshops que estão
focalizados na Lei da Atração (esquecendo que existem outras leis como a da ação-reação)
e que têm como objetivo enriquecer-nos e fomentar a abundância material estão alicerçadas em
desejos materialistas e não têm absolutamente nada a ver com crescimento
espiritual.
A evolução espiritual poderá até nalguns
casos acarretar benefícios nesses domínios, pelo efeito de transformação que
ocorre no ser humano, contudo esse será um efeito secundário e não o propósito
final. Realce-se que contudo algumas das mensagens passadas nessas ambiências à
volta da lei da atração têm efeito positivo, pois aumentam a autoconfiança do
indivíduo que muitas vezes está atolado numa determinada situação por culpa
própria e pelo seu condicionamento mental. No entanto, é preciso cautela com o
passo seguinte, que se for mal dado desviará o indivíduo da espiritualidade
mais elevada.
Trungpa Rinpoché (1939-1987) |
O comportamento egoísta deveria ser
em grande medida ausente de uma alma espiritualmente avançada. A verdadeira espiritualidade não tem espaço para estrelas nem para o glamour. O foco
deverá ser as mensagens e ensinamentos e não o instrutor. Como é possível
tornarmo-nos mais conscientes se estamos focados no que é externo, neste caso o
instrutor, em vez de prestarmos atenção ao Eu interior?
Outra situação que já abordámos ao de leve
na introdução foi a das promessas para uma rápida auto-realização, muitas
vezes a troco de dezenas ou centenas de euros, por “x” horas ou dias, com
meditações ou iniciações acompanhados de uma forte dose de manipulação
psicológica.
Numa tradução direta do artigo da Shift:
“Sim, todos nós temos vidas muito ocupadas e sentimos que não há tempo para ser
dedicado ao nosso crescimento espiritual, mas sejamos realistas: é altamente
improvável que atinjamos a auto-realização num retiro de 3 semanas em Bali.”
Na verdade, “os processos de crescimento
espiritual, de auto-realização e de iluminação podem levar anos ou uma vida
inteira (há quem diga múltiplas vidas [NT: e terá provavelmente razão]). Diz-se
que Milarepa terá sido uma das exceções e que terá atingido a iluminação apenas
numa vida.
Gurus demasiado focados na iluminação poderão
ser um problema. Muitas referências a esta palavra poderão indiciar alguém que
está essencialmente preocupado com a sua própria iluminação e pouco com a dos
outros. Nesse caso eles não dão qualquer orientação sobre como avançar no
caminho, por isso corre-se o risco de não ter ajuda…e ficar sem dinheiro!
Isto conduz-nos ao próximo ponto que é o de
exatamente, cobrança de grandes quantidades de dinheiro. Muitos
autointitulados gurus, instrutores espirituais e afins pedem grandes
quantidades de dinheiro em troca de informação, conhecimento ou suposta
sabedoria. Conheço um caso de um guru com supostas ligações ao budismo tibetano
que cobrou 4 mil euros por uma série de tratamentos e que face à reclamação da
paciente pela ausência de resultados, culpou-a pela falta de confiança e de
persistência. Aliás, este mesmo guru organizou uma sessão “promocional” num
determinado espaço com fortes traços de cerimónia de culto da personalidade,
invectivando aqueles que devido à demora da mesma, iam saindo pela porta fora.
Alguns gurus também recorrem ao uso de títulos
imponentes, como mestres iluminados, lamas, iogues ou santos (situação às vezes exponenciada com o chamado complexo messiânico), o que deve
levantar suspeita, pois uma pessoa iluminada não tem necessidade de massajar o
ego. Não há benefício para aqueles que são instruídos, em ouvir milhentas vezes
e de diversas formas sobre as realizações de sucesso do seu mestre. Não há
necessidade de estabelecer hierarquias claras pois estamos todos no mesmo
comboio, apenas em diferentes carruagens, mas em direção ao mesmo destino.
Espera-se que este texto desperte um pouco
mais a atenção para este problema e ajude na deteção da “picaretagem espiritual”. Pena é que às vezes não se consiga passar
da teoria à prática…
Especially interesting is to pay attention to how you recognize a real teacher. I have some ideas so is he an example of what he teaches. He brings no new knowledge. He asked no money for it. He works in silence. Maybe others can give more ideas on that point.
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