H.P. Blavatsky em 1887 |
A Loja Blavatsky foi formada na sequência de uma reunião realizada a 19 de maio de 1887, no local onde esteve alojada Blavatsky depois de chegada a Inglaterra – a casa de Mabel Collins. O objetivo da Loja era o de “espalhar os ensinamentos teosóficos e a fraternidade através do trabalho individual e coletivo dos seus membros”. Os relatos de doze das sessões foram publicados em 1890 e 1891 sob o nome “Transactions of the Blavatsky Lodge” [Atas da Loja Blavatsky]. Em 1992, foram descobertas, na documentação deixada por B.P. Wadia (um dos mais proeminentes líderes da Loja Unida dos Teosofistas - LUT), folhas datilografadas com as atas de 21 reuniões, realizadas entre janeiro e junho de 1889. Um achado verdadeiramente fenomenal. Após sucessivas tentativas para que o material fosse partilhado com todo o universo de teosofistas (e muito crédito deverá ser dado a Daniel Caldwell pela persistência, conforme podemos ver aqui), a I.S.I.S. Foundation, ligada à Sociedade Teosófica de Point Loma - Blavatsky House tomou em mãos a publicação das atas, ficando a edição dos textos a cargo do experiente e respeitado historiador Michael Gomes, diretor do Emily Sellon Memorial Library de Nova Iorque e autor de vários livros bem conhecidos no meio teosófico.
“The Secret Doctrine Commentaries – The Unpublished 1889 Instructions” foi colocado à venda em 2010, mas por um preço bastante elevado, o que conduziu a críticas por parte de alguns teosofistas. Este ano, a loja de Phoenix da LUT decidiu colocar os textos online e tempos depois a Blavatsky House (cuja sede é na Holanda) fez o mesmo.
Capa do livro editado pela I.S.I.S. Foundation |
Grande parte das discussões da
Loja Blavatsky a que temos acesso girava à volta d’ “A Doutrina Secreta” que
havia já sido publicada à data, mas também de “A Chave para a Teosofia”,
provavelmente o livro mais acessível escrito por Helena Blavatsky e aquele que
é mais recomendado para a introdução à Sabedoria Perene.
O texto que abaixo se traduz está
relacionado com a discussão sobre a duração do período entre vidas, que é
abordado n’ “A Chave para a Teosofia”. Aí Blavatsky escreveu que 1 500 anos era
o tempo médio entre encarnações (p.122 da edição em português). Nas cartas dos
Mahatmas é referido que este período pode ir de 1000 a 3000 anos, às vezes
mais. Contudo, como a população já aumentou quase mais de 4 vezes desde o tempo
em que as cartas foram escritas (na primeira metade dos anos 1880 a população não
chegava aos 1,5 milhões) e tendo em conta outras fontes credíveis (vamos
deixar as regressões de lado, por serem mais controversas), como por exemplo, as
crianças que se lembram espontaneamente da sua vida anterior (sendo que nem
todas morreram novas na sua vida passada, uma situação que a acontecer conduz a
reencarnação quase imediata), muitos teosofistas, nos quais me incluo,
consideram que vivemos um período “especial” e que as médias dos intervalos
entre encarnações são menores. Até um artigo já foi publicado por David Bishai defendendo
esta perspetiva no Journal
of Scientific Exploration, cujo resumo pode ser encontrado aqui (resumo este que provavelmente
será, num futuro não muito distante, traduzido para português e colocado aqui
no Lua em Escorpião).
No entanto, como se vê pelo texto
abaixo - um excerto da 15ª reunião, que teve lugar a 18 de abril de 1889 - já Blavatsky
e os seus estudantes, na altura, discutiam o assunto…
“Yates: A população mundial não
se altera.
Mme. Blavatsky: As mónadas não
sofrem alterações desde meados da quarta raça.
Bertram Keightley: Você pode ter
qualquer número de mónadas no Devachan e assim por diante.
Bertram Keightley (1860-1945) Foto retirada de Fundácion Blavatsky |
Mme. Blavatsky: Não se altera. De
outro modo, não existiriam possibilidades kármicas de ajustamento.
Yates: Pegue em qualquer altura
da história mundial e compare-o com qualquer outro período de 3 000 anos.
Deverão existir, é claro, variações, mas mesmo assim, de acordo com essa
teoria, a população mundial era então a mesma de agora.
Mme. Blavatsky: Você não sabe
nada sobre população. O que se passou, e o que eu aprendi, é que a população
era quase o dobro do que é agora – quase duas vezes maior. Não havia um canto
no globo que não fosse habitado, e é por isso que às vezes alguns de vós têm de
ser afogados. Reparem na China, aquelas ondas gigantescas são obra da
Providência.
Bertram Keightley:
E no tempo da Atlântida a população era o dobro do que é agora a da China.
Mme. Blavatsky: Não duas vezes,
muito mais vezes do que agora. Eu lembro-me de uma coisa: houve um tempo em que
África era toda habitada (tempos depois de ter emergido do oceano). E agora, porquê,
quantas partes de África são habitadas? Eu suponho que nem uma vigésima parte.
(…)
Bertram Keightley: Uma população
muito escassa…Mas a questão de Yates é curiosa.
Mme. Blavatsky: Eles dizem que os
continentes eram maiores. Olhem para o Continente que ia da Índia à Austrália.
Era um continente só, e agora é apenas mar e mais mar.
Bertram Keightley: Onde eu quero
chegar é: olhem para a população da Terra neste momento. A população da Terra
então era muito maior. Nesta lógica, um grande número de Mónadas que estavam
então na Terra no período Atlante, encarnadas, estão ainda no Devachan [um
estado de bem-aventurança dos Egos na maior parte do período entre-vidas].
Sinnett: Eu não acho que seja
assim. Assuma por um momento que o período devachânico era de 200 anos, em vez
de 2 000. Uma alteração no estado de coisas em que se passasse dos 200 para os
2 000 anos, reduziria a população para um décimo do que era, sem dar a nenhuma
Mónada um período mais longo que 2 000 anos.
Kingsland: Isso é dizer, que o
período então era menor do que é agora.”
William Kingsland (1855-1936) Foto retirada de Fundácion Blavatsky |
Infelizmente Blavatsky não
produziu mais qualquer comentário sobre esta questão e o tópico da discussão
mudou. O excerto traduzido (aproveito para agradecer uma vez mais ao Ivan
Silvestre pela revisão do texto) foi retirado das páginas 462 a 464 da edição
da I.S.I.S. Foundation.
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