Concluímos hoje a publicação de um conjunto de excertos de
mensagens do conhecido teosofista filipino, Vicente Hao Chin, Jr. em resposta
ao grupo liderado por C.C. Aveline. Para perceber todo o contexto é
imprescindível ler as mensagens anteriores, que podem ser acedidas aqui e aqui.
Vicente Hao Chin, Jr |
No dia seguinte a ter colocado a mensagem que foi traduzida
no post da semana passada, Hao Chin,
Jr. prosseguiu na sua paciente “epístola”. O assunto é o mesmo, a cura, embora
salpicado por um tema transversal a todas as mensagens - o modo correto de
dialogar.
“Quando você faz um post
para o grupo, assume-se que é para discussão, não uma afirmação unidirecional.
Portanto, quando pedimos uma clarificação, você deseja se opor? Se você não quer
que sejam colocadas questões, então não coloque mensagens aqui.
O tema da cura é significativo, pois muitos teosofistas
estão envolvidos num ou noutro tipo de cura. Quando (…) se opõe às práticas de
cura e alega que “a cura não é ensinada na teosofia” então ele deve defender
isto, pois é um assunto de interesse central em termos teosóficos. Como se vê,
é ele quem parece ter falhado no entendimento da teosofia de HPB e dos Mahatmas
sobre a cura.
Helena P. Blavatsky |
Você declara que as curas de Olcott usavam “o magnetismo direto dos Mestres”. Isto é,
estou em crer, incorreto. Em primeiro lugar, o próprio Olcott fica fraco quando
cura (Old Diary Leaves, III, 23), portanto é o seu próprio magnetismo [que usa].
Em segundo lugar, HPB explicitamente escreveu que quando uma pessoa pratica
cura mesmérica é o magnetismo do operador que está sendo usado:
“Aqueles que podem…sentir um chamamento para curar os
enfermos, devem ter presente que todo o magnetismo curativo que é conduzido
pela vontade para os corpos dos seus pacientes, sai dos seus próprios sistemas.
O que eles têm, podem dar; não mais do que isso.” (CW
IV, 385).
(…) abordou a causa da doença, que é o karma. Não tenho
problema com esta perspetiva e estou em concordância total com ela. Mas este é
um tópico diferente e não obvia o facto de que ele tem uma noção errada da
atitude da teosofia (HPB/Mahatmas) para com a cura.
No seu post, (…)
[você] traz à luz outras coisas que não estão relacionadas à partida com este
assunto. Dá-me a impressão que você está outra vez a mudar o tópico.(…)
Para concluir: HPB e
os Mahatmas claramente mostraram um interesse ativo em práticas de cura,
particularmente na cura mesmérica, e de facto encorajaram pessoas a aprendê-la
e assim a ajudar outros. Assim é incorreto (…) condenar radicalmente qualquer
apoio dado à cura, como no caso de Hodson.
Quatro dias depois, Hao Chin prosseguiu, mas o tema desta
vez era o ritualismo religioso…
“A própria citação que você fez das Cartas dos Mahatmas
contém uma das respostas à sua questão sobre o porquê de algumas pessoas
estarem ainda envolvidas em religião e cerimónias. Aqui está a citação completa
de uma carta do Mahatma KH:
“Dentro de cerca de uma semana – novas cerimónias
religiosas, novas bolhas resplandecentes para divertir os bebés, e mais uma vez
estarei ocupado noite e dia, pela manhã, ao meio-dia e no início da noite. Às
vezes sinto um sentimento passageiro de tristeza pelo facto de que os Chohans
não tenham tido a feliz ideia de permitir-nos o “luxo” de possuir um pouco de
tempo livre.” (Cartas dos Mahatmas, carta 68, Vol.I, p.317-8).
Esta passagem mostra que o próprio Mahatma KH está
pessoalmente envolvido em tais cerimónias religiosas “para divertir os bebés”,
e por causa disso ele estaria ocupado dia e noite. Precisamos de nos perguntar:
para alguém que acabou de condenar a religião de modo tão veemente (Carta 88)
porque está ele ainda envolvido em tais rituais religiosos? Porque ele não
abole todos os rituais ou simplesmente se recusa a participar nos mesmos? As
mesmas palavras que você usa para criticar Hodson relativamente ao envolvimento
deste com o Cristianismo também se aplicam ao Mahatma KH. Está você preparado
para dirigir a mesma crítica contra o Mahatma? Se não, porquê?
Eu tenho as minhas especulações sobre a razão pela qual o
Mahatma KH ainda está envolvido com rituais externos e você poderá ter as suas,
mas isto apenas mostra que devemos ser cuidadosos em não julgar ou condenar
alguém precipitadamente, especialmente almas avançadas, que ainda podem estar
envolvidas com a religião de uma forma ou de outra, seja no Tibete, Europa ou
Índia.
O Mahachohan (assim como o Mahatma KH) escreveu que “a
Sociedade Teosófica foi escolhida como a pedra angular, o alicerce da religião
futura da humanidade” (carta de
1900). Fortes e curiosas palavras. Significa que o que os Mahatmas tinham
em mente não era a abolição da religião mas antes uma radical transformação
daquilo que habitualmente chamamos de religião. Daquilo que eu entendo de
outras partes da carta do Mahachohan, é uma religião mística que eles estão a
defender, seja ela a do Cristianismo místico ou do Budismo místico (ver a carta
do Mahachohan que eu citei antes). Isto era, como já referi antes, o que Hodson
advogava no Cristianismo.”
Três dias depois, Hao Chin escreveu…
(…) Enquanto um Mahatma é tolerante em relação a cerimónias,
[vocês] rapidamente rotulam as pessoas que se ocupam com cerimónias, de
pseudo-teosofistas e de fraudes piedosas. Se são coerentes, então devem também
rotular o Mahatma KH de pseudo-teosofista e fraude piedosa, algo que eu sei que
vocês não se atrevem a fazer. Assim a vossa posição é contraditória e
inconsistente. Quando algo é feito por alguém como Hodson, vocês dizem
“fraude”, mas quando a mesma ação é feita por um Mahatma vocês dizem “não é
fraude”. Isto é, claramente, preconceito.
Quadro do Mahatma KH pintado por H. Schmiechen |
Então o que podemos retirar daqui? Isto: cuidado ao chamar
aqueles que discordam de você de “fraudes piedosas” ou “pseudo-teosofistas”,
porque vocês estariam a incluir entre estas fraudes os Mahatmas (como já
salientei a vocês diversas vezes). É o auge do dogmatismo e intolerância. Vocês
estabeleceram-se como a autoridade para julgar sobre aquilo que é a verdadeira
teosofia e o que não é. Este é precisamente o aviso de Judge contra alguém
criar a ortodoxia teosófica [NT: Hao Chin refere-se a este texto, que está já traduzido para português e será colocado no blog na próxima semana]. O vosso grupo frequentemente acusa Adyar de ser um
“papado” quando parece que o vossos grupo estabeleceu-se como um dos maiores
“papados” no movimento teosófico.
Podemos entrar em desacordo, se tiver que ser. Mas vamos
abster-nos de chamar uns aos outros de pseudo-teosofistas, fraudes ou falsos. Temos discutido este ponto desde há um ano e
nunca ninguém demonstrou que a palavra “fraude” fosse justificada – apenas [existem]
erros. Vocês devem honrar as definições precisas destas duas palavras e não
devem misturá-las, pois estarão cometendo uma injustiça. Um erro não é uma
fraude. Vocês também têm feito erros nas vossas mensagens neste grupo, mas
nenhum de nós os rotulou de fraudes.”
A tentativa de entrada de textos da mesma natureza no
excelente fórum de discussão Theosophy
Nexus também não teve grande sucesso, como se pode ver aqui.
Gerry Kiffe escreveu: “Quanto ao destino de caluniar, podemos deixar isso ao
cuidado do karma”.
No início de outubro, a insistência em misturar a política com a teosofia levou à expulsão de um dos colegas de C.C. Aveline do grupo "Theosophists Around the World". Esse teosofista, após ter sido explicitamente avisado para não colocar textos sobre a política interna e externa norte-americanas, desrespeitou a ordem dada pelo moderador, e consequentemente foi removido (repetindo assim a expulsão já verificado no grupo da ST Filipinas). Mais um episódio evitável.
Não tem qualquer ligação direta com estas discussões, mas para
expressar a minha opinião sobre alguns aspetos do que foi partilhado com os leitores durante as últimas três semanas ficam duas mensagens colocadas não há muito tempo pelo perfil Biosofia
CLUC, no Facebook, e que já tive oportunidade de partilhar nesta rede social.
“(…) as grandes referências
foram, e são, os escritos de Helena P. Blavatsky e As Cartas dos Mahatmas.
Nessas fontes se encontra uma síntese magistral e amplíssima da Sabedoria
Eterna e Universal. Por outro lado, depois da morte de Helena Blavatsky, em
1891, tanto nas gerações seguintes de teósofos, como em outros movimentos
“esotéricos”, houve equívocos, ilusões, desvios indesejáveis – é preciso
reconhecê-lo e pela nossa parte o fazemos. Não podemos, por isso, acusar
ninguém pessoalmente. O que está em causa são enganos, não são pessoas. Seria
leviano ou pretensioso alguém dizer que, nas mesmas circunstâncias, não teria
cometido esses ou outros erros; e não se pode esperar ou exigir perfeição ou
infalibilidade de um estudante ou investigador de esoterismo (ou do que seja).
Entretanto, persistir no erro ou recusar-se a admiti-lo ou corrigi-lo é que não
tem sentido. Assim, preconizamos uma revisão e reavaliação criteriosa de tudo o
que se sustentou depois de 1891. Não foi tudo mau; não houve só erros. E houve
decerto boas intenções. Necessitamos, porém, de rejeitar o joio e eleger o
trigo".
“No CLUC [Centro Lusitano de Unificação Cultural, com sede em Lisboa e que dissemina Teosofia, entre outras atividades, ver o site aqui] sempre incentivámos a
liberdade de buscar e investigar. Nunca escondemos obras ou autores de
qualidade, antes os divulgamos quanto pudemos. Nunca quisemos fechar ninguém na
nossa redoma, nem criar clima de venerações ou de condicionamentos que impeçam
alguém de procurar e avaliar por si. Sempre defendemos e incentivámos a
abertura de horizontes, em vez de especializações(zinhas)” .
Sábias palavras...
Sábias palavras...
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