A semana passada iniciámos a tradução de uma série de
mensagens do respeitado teosofista Vicente Hao Chin, em resposta ao grupo
liderado por C.C. Aveline. É fundamental, para perceber o contexto deste post, ler a mensagem da semana anterior.
Vicente Hao Chin, Jr. à direita de Tim Boyd, presidente da Sociedade Teosófica na América |
Dois dias depois da mensagem que Hao Chin havia dirigido ao
grupo, ele acrescentou:
“Meu amigo, se você
não está em posição de defender as acusações que você faz contra alguém, então
eu sugiro que não faça essas alegações e acusações. Tão simples quanto isso.
Não se pode acusar a plenos pulmões que alguém foi uma
fraude, e quando o assunto é levado a tribunal, o acusador diz que não tem
tempo e vai-se embora.
Não pode ser caro irmão. É injusto e indelicado. Não é
teosófico. Você está prejudicando alguém, meu amigo, e a honorabilidade dita
que você se defenda ou se retrate. (…) Um ponto adicional. Vocês acusam alguns
“membros de Adyar” de serem centrados em personalidades. Isso é curioso, porque
essa é a mesma ideia que tenho de você e de Carlos – vocês centram-se em
personalidades muito mais do que em ideias. Em vez de olhar para provas a favor
ou contra ideias ou escritos sobre teosofia, vocês parecem estar fixados em
Leadbeater ou Besant. Tudo o que eles fazem é olhado como fraudulento ou falso,
tendo eles se tornado no vosso constante e inconsciente saco de boxe. Tal
obsessão em personalidades parece evitar que vejam as coisas de modo objetivo e
justo.(…) Lembrem-se que um deles chegou a ser um chela do Mahatma Koot Hoomi e
isso é informação suficiente para todos nós sermos cuidadosos sobre os nossos
julgamentos (…).
C.W. Leadbeater (1847? - 1934) |
Seguiram-se mais dois meses de respostas e contra-respostas,
até que o coordenador do grupo decidiu expulsar três elementos, na sequência da
solicitação de vários membros do TS in Philippines. Entretanto, nessa altura já
muitos teosofistas de fora das Filipinas se tinham juntado ao mesmo para
acompanhar a discussão. A contínua colocação de textos considerados ofensivos e
difamatórios levou a essa decisão radical.
Mas a discussão continuou no grupo “Universal Teachings” e a
18 de setembro, Hao Chin aborda o tema da cura.
“Desculpe, mas uma vez mais você não respondeu à minha
questão. É difícil comunicar quando o nosso correspondente precisa de adivinhar
o sentido da sua resposta.
Por exemplo, você simplesmente responde: “A cura não é
ensinada na Teosofia”. O que você quer dizer com isto? Que os teosofistas não
devem praticar a cura de todo? E você se
refere à Terceira
Mensagem à [Convenção] Americana [da Sociedade Teosófica] onde HPB alertou
as pessoas contra as emergentes práticas de cura na América. (…)
H.P. Blavatsky (1831-1891) |
Se é isto que você quer dizer, então receio que possa ter
interpretado mal o termo “teosofia” ou H.P. Blavatsky em relação a este
assunto. O facto é que Blavatsky encorajou as lojas a estabelecerem ambulatórios
onde se praticasse a cura mesmérica [sobre a origem do termo ver aqui
ou um excelente texto da Biosofia, aqui]. HPB
escreveu: “Se em cada uma das nossas extensões fossemos capazes de estabelecer
um dispensário homeopático juntamente com a cura mesmérica, tal como já havia
sido feito com grande sucesso em Bombaim, poderíamos contribuir no sentido de
colocar a ciência da medicina neste país em bases mais sólidas, sendo um meio
de benefício incalculável para o povo em geral (CW
VI, 335-6).
HPB de facto referiu que Olcott ensinava o público sobre como fazer cura mesmérica:
“Enquanto curava os enfermos na sua volta por Bengala, o
Cor. Olcott delineou o objetivo de ensinar publicamente o mesmerismo aos
respeitados médicos e a outros membros das nossas várias Sociedades, e ainda
instruiu naquela área qualificados outsiders.”
(CW
IV, 600).
H.S. Olcott (1832-1907) |
Além do mais, Blavatsky salienta que a atividade curadora de
Olcott foi levada a cabo por ordens do seu Mestre: “O Cor. Olcott produziu várias maravilhosas
curas de velhas paralisias, de forma instantânea, com simples passes
mesméricos…Isto foi feito por ordem direta do seu Mestre.” (CW
IV, 379).
O próprio Mahatma KH encorajou A.P. Sinnett a tentar curar,
e até escreveu que o curador psíquico não precisa de ser “absolutamente puro”.
(Cartas das Mahatmas, Carta 111, Vol.II, p.210, da edição em português).
E agora (…) você ainda diz que a cura não é promovida pela
Sociedade Teosófica? Continua você a condenar as atividades de cura ou cura à
distância de Hodson? Porque não chama Carlos de “iludida” a HPB também?
Portanto, assim se vê que as condenações radicais (…) de
práticas de cura são injustificadas e não são suportadas [pelas afirmações] de
Blavatsky, Olcott ou dos Mahatmas.
Mas eu concordo 100% que a cura deverá ser praticada com
cuidado e que deve ser ligada à ética e espiritualidade. De facto gostaria de
acrescentar que pessoalmente não subscrevo completamente as recomendações de HPB
que cada loja teosófica deva praticar cura mesmérica em razão dos riscos e
perigos colaterais da prática mesmérica, em relação aos quais ela própria
escreveu noutros artigos. O problema tem apenas a ver parcialmente com a
própria prática mesmérica, a outra parte tem a ver com os praticantes – quantos
deles estarão mesmo prontos e qualificados para o fazer de forma segura? De
facto, a cura à distância de Hodson é de longe mais segura que a cura mesmérica
direta. “
Continua na próxima semana…
Amigo,
ResponderEliminarParabéns por levantar questões que a meu ver são tão pertinentes.
Porém, não me admira que a suposta alegação de que a equipe de Carlos Aveline não tenha paciência para certos tipos de diálogo seja verdadeira. Poderíamos ignorar a opinião de Gandhi, Krishnamurti , de Carlos e tantos outros teosofistas e ficarmos apenas com os próprios livretos de Leadbeater e os artigos de Besant e ainda assim teremos uma amostra significativa do mais alto grau de alucinação mediúnica e falta de bom senso social ideológico que até hoje foi publicado na era moderna. Ou seja, cada um dos dois praticamente condena a si próprio a cada parágrafo que escreveram.
Aqueles que não podem diferenciar entre indivíduos envolvidos em suas próprias criações mentais e verdadeiros Chelas e Adeptos invariavelmente pagam por sua ignorância. Sempre foi assim. De forma que um estudante iniciante das Cartas dos Mahatmas, ou mesmo alguém que nunca teve contato com a Teosofia Original, mas tem o mínimo de discernimento facilmente distinguiria o joio do trigo em casos como estes.
Matar índios na América do Sul como alega ter feito Leadbeater – algo que na verdade nunca chegou a acontecer fora de sua mente - e ao “ver” suas “auras” dizer que estes são uma raça inferior e invejosa deveria ser motivo suficiente para ficar com um pé atrás em relação a esse senhor. Nesse caso, de início já se constata a total falta de compreensão do principio da aura humana, para não falar no desprezo que se tem pela própria vida dos nativos. Da mesma forma vemos Besant dizer que alcançou o adeptado quando antes de ter sua comunicação interrompida pelos Mahatmas foi alertada seguidamente por eles a respeito do caminho equivocado e ilusório que estava seguindo.
São fatos tão extremos, de tremendo mau gosto e criados a partir de ideias muitas vezes tão esdrúxulas que fica até difícil saber por onde começar. A falta de contado de ambos - Leadbeater e Besant – com a realidade é evidente e me surpreende que ainda hoje sejam tidos em alta conta por determinadas pessoas e grupos teosóficos.
Penso que se às vezes deveríamos ter maior compaixão pelas personalidades de ambos, não podemos dizer que deveríamos ter a mesma tolerância com seus equívocos que ainda hoje passam por verdadeira Teosofia em alguns círculos.
Não posso afirmar que o caminho e a postura adotada por Carlos Aveline e o grupo da LUT no Brasil seja o mais adequado, mas a meu ver é de longe o mais coerente com o ideal dos Mahatmas e HPB se comparado às outras frentes que ainda atuam no movimento teosófico.
Penso que se alguns grupos de teosofistas ainda insistem em evidenciar a falsidade envolvendo Leadbeater e Besant deve-se simplesmente ao fato - já comentado anteriormente - de que suas publicações ainda têm destaque em muitas lojas, ocupando mais espaço do que as publicações de HPB e das Cartas dos Mahatmas, por exemplo. É até de se compreender, pois livros leves e fantasiosos são mais atraentes para crianças espirituais, e afinal, as lojas precisam pagar suas contas.
Se a verdade não for defendida, ou ao menos colocarmos um “selo de advertência” em publicações como os livros e textos desses indivíduos, então a Teosofia perdeu, pois a verdade não tem qualquer valor.
Entre outras coisas o movimento surgiu para desmascarar a falsificação espiritual, esse é um ponto que deve ser mantido em evidência.
Nem sempre se pode ser delicado quando se trata de fazer esse trabalho, afinal, trata-se de serviço teosófico e não de uma companhia de dança com inclinação para o balé clássico.
Entendo que Hao Chin seja um grande homem, prestador de muitos serviços essenciais ao movimento teosófico, mas quando se trata de certos assuntos o vemos mais como um dialogador-apaziguador de ânimos e que prefere aceitar uma inverdade ao arranhar a imagem de defuntos equivocados que para ele deveriam ser deixados em paz.
Fraternalmente,
Tales
Penso que certas coisas não ficaram claras, sobre a natureza deste post. Em primeiro lugar, avisei claramente que era preciso ler o post da semana passada. Nesse post, eu refiro que a minha posição sempre foi crítica de Leadbeater (e de Besant) oferecendo um link para o texto que mais circulou do blog e que se intitula "Os falsos profetas da Teosofia". "O confronto de pontos de vista" tem essencialmente dois propósitos: mostrar que determinadas posições não devem ser tomadas com base em profissões de fé e evidenciar qual deve ser a natureza de um diálogo entre membros de um movimento cujo objetivo principal é a fraternidade universal. Realmente tive dúvidas em colocar este artigo online, não porque tivesse medo de melindrar ninguém, apenas porque para fielmente descrever tudo o que de interessante foi referido naquelas discussões precisaria de posts até ao final de 2013. Após este preâmbulo, passo a analisar os seus argumentos: "não ter paciência para certo tipo de diálogos", é uma desculpa pobre. Isto porque os contra-argumentos de Hao Chin, não eram provocatórios, mas extremamente pertinentes, como se vê nalgumas passagens da minha tradução. A ausência de resposta em muitas situações era uma evidência de falta de argumentos e o que era alegado era "falta de tempo". A expulsão de grupos de discussão deve-se não às críticas a este ou àquele teosofista, mas ao não cumprimento de regras na discussão de temas, ou seja, por comunicação unilateral, por vezes entendida como propaganda. Também tenho a opinião de que Leadbeater não era um bom homem e não sou apreciador dos seus livros, nem dos caminhos que aponta. Não concordo com a ligação da ST à Igreja Católica Liberal e acho determinadas práticas de cariz sexual do Velho Bispo profundamente lamentáveis. Mas essa é a minha opinião.
Eliminar(cont) Contudo não posso dizer que toda a clarividência de Leadbeater é falsa. Os livros sobre chakras e auras que hoje pululam têm conceitos idênticos aos de Leadbeater e mesmo a descoberta de Krishnamurti é um facto notável.Se agimos como um político que habilmente aponta todos os defeitos ao adversário e nunca fala das suas qualidades, então o que nos diferencia a nós, teosofistas, desses políticos? Acresce ainda dizer que a popularidade de Leadbeater hoje é muito menor, fruto essencialmente da biografia de Tillett, publicada nos anos 80 e que trouxe à luz as fraquezas de CWL (disponível aqui:http://www.leadbeater.org/). Se o balanço da ação de Leadbeater é extremamente negativo, o de Besant é um pouco melhor, mas ainda assim negativo na minha opinião. Há livros dela que são bem razoáveis como "Cristianismo Esotérico" e a "Sabedoria Antiga", mas obviamente que a influência que sofreu de CWL acabou por manchar em muito o seu percurso. No entanto, há vários pontos em Besant positivos e inatacáveis e devemos saber ouvi-los e respeitá-los.O caminho adotado pelos seus amigos, Tales, não é nem de perto nem de longe o mais aceitável na minha opinião e não só, pelo que sei e leio. Até dentro da própria LUT (com exceção da estrutura de língua portuguesa), penso que são mais os que discordam do que os que concordam. Devo lhe dizer que conheço muito poucos teosofistas que prestem muita atenção a Leadbeater. O movimento teosófico nasceu para combater o dogmatismo, isto segundo Judge, como poderá ler daqui a 2 semanas no blog, onde o texto "Dogmatismo na Teosofia" será colocado. É um texto muito revelador escrito por um dos co-fundadores da Sociedade Teosófica. Quando à delicadeza posso citar HPB: "Não condenem ninguém na sua ausência, e quando for necessário reprovar alguém, façam-no na sua presença, mas de forma gentil e com palavras cheias de caridade e compaixão, pois o coração humano é como a planta Kusuli: o seu cálice abre-se com o doce orvalho matinal e fecha-se antes de uma grande chuvada.”. Não tenho dúvidas que Hao Chin é um grande homem e um grande teosofista, eu e outros temos aprendido bastante com ele, apesar de mantermos sempre o sentido crítico. Já outros, por mais que escrevam, estão condenados à mediocridade...
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