Continuamos com a tradução (adaptada) do texto “O Conde de
St. Germain” de David Pratt.
2. Em Inglaterra
“O primeiro traço histórico do Conde de Saint-Germain parece
ser uma carta escrita a 22 de Novembro de 1735 em Haia por alguém que assina
‘P.M. de Saint-Germain’.(…) Um francês com o nome de Morin, então embaixador em
Haia, disse que tinha lá conhecido Saint-Germain em 1735, e que tornou a
encontrá-lo em França antes de 1760, tendo ficando surpreso pelo facto de
Saint-Germain não parecer ter envelhecido mais do que ano.
Saint-Germain aparece depois em 1745, em Inglaterra, onde
foi preso por suspeita de ser um espião. “ Foi neste ano que um jovem político
Whig, chamado Horace Walpole escreveu uma carta a um compatriota:
“Há dias prenderam um estranho homem, que dá pelo nome de
Conde de St. Germain. Ele está cá há dois anos, e não nos diz quem é nem de
onde vem, mas professa duas coisas maravilhosas, que o nome pelo qual é
conhecido não é o verdadeiro e que nunca teve um relacionamento com qualquer
mulher – e nem com um sucedâneo [substituta]. Ele canta, compõe, toca
maravilhosamente violino, é louco e não muito sensato.
Dizem que é italiano,
espanhol, polaco, alguém que casou com uma grande fortuna no México e fugiu com
as suas jóias para Constantinopla. Dizem ainda que é um padre, um violinista,
um grande nobre. O Príncipe de Gales tem manifestado uma curiosidade insaciável
sobre ele, mas em vão.”
Num relatório datado de 21 de dezembro de 1745, um diplomata
francês em Londres declarava que Saint-Germain “conhece todas as pessoas em
altas posições, incluindo o Príncipe de Gales. Fala diversas línguas, francês,
inglês, alemão, italiano, etc… é muito bom músico e toca vários instrumentos. Diz-se
ser siciliano e de grande riqueza. O que tem levantado suspeitas sobre ele é o
facto de deixar boa imagem aqui, recebendo grandes somas de dinheiro e
liquidando todas as contas com tal rapidez que nunca precisa de ser recordado
do facto. Ninguém imagina que um homem que era simplesmente um senhor, possa
dispor de tão vastos recursos, a menos que ele trabalhe como espião. Ele foi
deixado no seu apartamento sob guarda de um “State Messenger”, mas não se
encontraram documentos na sua residência ou nele próprio que forneçam o mínimo
de provas contra. Foi interrogado pelo Secretário de Estado [o duque de
Newcastle], a quem ele não fornece uma explicação sobre si próprio que seja
satisfatória, persistindo na recusa em declarar o seu verdadeiro nome, título
ou ocupação, a não ser ao próprio Rei, pois como ele diz, o seu comportamento
não tem sido de nenhum modo contrário às leis deste país, e é contra o direito
comum privar a um estrangeiro honesto da sua liberdade sem formular uma
acusação.
Pouco tempo depois foi libertado livre de acusações.”
Após 1745, nos doze anos seguintes o paradeiro preciso de
Saint-Germain e as suas atividades são de natureza incerta. As suas próprias
declarações indicam que ele estava provavelmente a desenvolver técnicas manufatureiras
na Alemanha, principalmente na área do tingimento. Em 1755 ele esteve envolvido
na promoção de uma máquina inventada por um francês para assoreamento e aumento
da profundidade de portos, estuários e canais aquáticos, tendo feito uma viagem
a Haia no fim de 1755 ou inícios de 1756.
(…)
Saint-Germain entra em França durante o verão ou nos inícios
do outono de 1757. Nessa altura França era governada por Luís XV.(…)
Saint-Germain tinha ligações a pessoas próximas da Coroa francesa. Ao irmão da
Mme de Pompadour (grande amiga do rei e sua antiga amante) ofereceu as suas
técnicas de tinturaria e outras mais que providenciassem emprego, aumentassem a
riqueza nacional e aliviassem a cobrança de impostos aos pobres.
Em Maio de 1758 tinha sido concedido a Saint-Germain o uso
do Castelo de Chambord , a residência mais magnífica do Rei depois de
Versalhes. Também foi-lhe concedido o uso de três cozinhas no rés-do-chão (para
o processo de tingimento) e alguns dos seus anexos (para alojar a mão-de-obra).
O trabalho não se havia iniciado pois tudo teria de vir da Alemanha. Ele
conheceu o Rei e Mme. De Pompadour em Versalhes, tornou-se um convidado
frequente nas ceias de Mme. De Pompadour e passou muitas noites com o Rei e a
família real.
(…) Naquela altura, Luís XV parecia ser uma das poucas
pessoas – a outra pode ter sido o Duque de Newcastle – a quem Saint-Germain
tinha revelado o seu segredo. Luís não recebia homens abaixo de uma determinada
posição na nobreza, e não se teria permitido a sofrer a imposição de um
charlatão. Vale a pena referir que o predecessor de Luís XV e bisavô Luís XIV
(o “rei Sol”) tinha sido um bom amigo do pai de Saint-Germain, o príncipe
Francisco II Rákóczy.
Luís XV (foto wikipedia) |
A hostilidade do Duque de Choisel para com Saint-Germain foi
revelada durante uma refeição na sua casa. O duque perguntou à sua esposa
porque ela não estava bebendo, e ela respondeu que estava seguindo o regime
recomendado por Saint-Germain, e com grande sucesso. O duque proibiu-a
imediatamente de “seguir as loucuras de um homem tão equivocado” e continuou
alegando que sabia a verdade sobre Saint-Germain: “Ele é filho de um judeu
português, que se impõe pela credulidade da cidade e da Corte.” Choiseul estava
simplesmente a repetir boatos, embora seja provavelmente verdade que Saint-Germain tenha passado algum tempo em Portugal, pois
falava a língua fluentemente.
O Duque de Choiseul (foto wikipedia) |
Nas suas memórias, Mme. De Genlis (então conhecida como
Stéphanie-Felicité du Crest) relata que durante o verão de 1759, quando tinha
13 anos, ela via Saint-Germain virtualmente todos os dias e às vezes, enquanto
cantava, ele acompanhava-a de ouvido com o cravo. Ela descreve Saint-Germain
como um bom médico e um grande químico. Ela também diz que ele pintava com
óleos, e alegava que pintava quadros em que as pessoas usavam joalharia, que
devido a um pigmento especial que ele havia descoberto, brilhava e refletia luz
como se fosse feito de pedras verdadeiras. Saint-Germain era certamente um
conhecedor de pinturas, mas se ele próprio fosse pintor, teríamos com certeza
ouvido isso de outros escritores. Ela também escreve:
“A conversa de Saint-Germain era instrutiva e divertida, ele
tinha viajado bastante e conhecia história moderna com extraordinário detalhe,
que o fazia falar de povos antigos como se ele tivesse vivido com eles… Os seus
princípios eram dos mais elevados, ele cumpria com os deveres externos da
religião com precisão, era muito caridoso e toda a gente concordava que a sua
moralidade era a mais pura.”
Contudo ela persistia em chamá-lo de charlatão. (…)
Não sabemos se Saint-Germain possuía poderes paranormais ou
não, e não parecem haver relatos de testemunhas confiáveis de demonstrações
disso, havendo no entanto relatos confiáveis de outros ocultistas importantes
(como por exemplo Cagliostro e H.P. Blavatsky).
Continua na próxima semana…
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